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segunda-feira, fevereiro 05, 2018

Garcilaso de La Vega - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

Soneto I

Quando me paro comtemplar meu espaço,
E ao ver nesses passos pôr do que hão traído,
Falo, segundo pôr donde andar perdido,
Que o maior mal pudera haverá chegado.

Mas quando do caminho isto olvidado,
Há tanto mal que não sei por hei chegado,
Sei que me acabo e mais eu sentido,
Ver-me acabar comigo meu cuidado.

Eu me acabarei, que me entreguei sem arte,
Há quem saberá perdesse e acabar-se,
Se o quiseres há um saberás querê-lo.

Que, pois, minha vontade pode matar-me,
A tua, que não és tanto de minha parte,
Podendo, que farás, porém, fazê-lo.

Soneto II

Enfim das vossas mãos me hei chegado,
Do sei que hei de morrer já tão apertado
Que um aliviar com queixas do meu cuidado
Como remédio me és já defendido.

Minha vida não sei em que há sustentado,
Se não és em haver sido eu guardado,
Para que só que em mim fosse provado
Quando corta uma espada em um rendido.

Minhas lágrimas hão sido derramadas,
Donde houvera secura e da sua aspereza,
Deram meu fruto delas, e minha sorte.

Bastem as que por vós tenho choradas,
Não vingueis mais com minha fraqueza,
Ela os vingará, senhora, com minha morte.  

Soneto III

No mar em meio as terras hei desejado,
De quando bem, cuidado eu vós o tinha,
E indo me aleijando de cada dia das Gentes,
Dos costumes, Das línguas do passado.

Já de desandar estou desconfiado,
Pensar remédios em minha fantasia,
E que mais certo espero é aquele dia,
Que acabarás vida e deste cuidado.

De qualquer mal poderá socorrer-me,
Com veros eu, senhora, do esperá-lo-ei  
Se esperá-lo pudera sem percebê-lo.

Mas de não veros já para valer-me,
Se não é um morrer nenhum remédio falo,
Se, isto é, um tampouco poderei fazê-lo.

Soneto IV

Um instante se levanta de esperança,
Mas cansado de haver-se levantado,
Torna a cair, mas deixa ao mal meu agrado,
Livre desse lugar da desconfiança.

Quem sofrerá tão áspera mudança,
Do Bem do Mal? Ô coração cansado,
Esforça em sua miséria de teu estado,
Que traz fortuna, só em haver bonança!

Mesmo eu empreenderei força dos braços,
Romper vós monte que outro não rompera,
De mim inconveniente muito espesso.

Morte prisão não podem, nem embaraços,
Pagar-me de ir ao vero como queira,
Nu em espírito o homem de carne e osso. 

Soneto V

Escrito esteve minh´alma vosso gesto,
E quando eu escrever de vosso desejo,
Vós só o escreveis; que eu não o leio 
Tão somente um de vós me aguarda-vos nisto.

Nisto estarei e estarei sempre posto,
Que ao que não cabe em meu quanto em vós vejo,
De tanto bem o que não entendo creio,
Tomando já essa fé por pressuposto.

Não nascendo senão para querê-los,
Minha alma os há cortado a tua medida,
Por hábito, d´alma mesma vós quereis.

Quando tenho confesso que eu deveis
Por vós nasci, por vós tenho à vida,
Por vós hei de morrer, por vós morrei.

Soneto VI

Por ásperos caminhos me hei chegado,
À parte que do medo não me movo,
Em si mudar-me a dar um passo prova,
Ali pelos cabelos sou eu tornado.

Mas tal estou que com a morte ao teu lado,
Buscando meu viver dum conselho novo,
E conosco o melhor e o pior aprovo,
O por costume mal o por mim dado.

Por outra parte, o breve tempo meu,
E o errado processo de meus anos,
Em teu primo princípio e teu meio.

Minha inclinação com quem já não porfio,
A certa da morte no fim de meus danos,
Me fizeram descuidar de meu remédio.

Soneto VII

Não perdas mais quem há tanto perdido,
Bastante amor o que há por mim pesado,
Vaga-me ora jamais haver provado,
Ao defender-me de o que hás querido.

Teu templo e Tuas paredes hei vestido,
De minhas molhadas roupas e adornado
Como acontece há quem há já escapado,
Livre desta tormenta em que ei me visto.

Havendo jurado nunca mais meter-me,
Ao poder meu e ao meu consentimento
Em outro tal perigo como está vão.

Mas do que vem não poderei valer-me,
E nisto no vou contra o juramento,
Que nem é como outros nem minha mão.

Soneto VIII

Daquela vista pura e tão excelente,
Saem espíritos vivos incendiados,
E sendo meus olhos tão recebidos,
Que nos passam até onde o mal sente.

Entram-se no caminho facilmente,
Pelos meus, de tal calor tão movidos,
Saem fora de mim como perdidos,
Chamados daquele bem que está presente.

Ausente da memória eu o imagino,
Meus espíritos pensando que há viam
Se movem e se incendem sem medida.

Mas não falando fácil ao caminho,
Que dos teus entrando derretiam
Reinventam por sair do não há saída.

Soneto IX

Senhora minha, si eu de vós ausente,
Nesta vida dura em que não me morro,
Parece-me que ofendo ao que os quero
E ao bem de que gozava em ser presente.

Trazendo logo sento outro acidente,
Que és ver que si de vida desespero,
Eu perco quando bem de vós espero,
Assim ando no que sinto diferente.

Nesta diferença de meus sentidos,
Estão em vossa ausência em porfia,
Não sabendo falar-me do em mal tamanho.


Nunca entre sem vê-los senão contrária,
De tal arte lutam noite e do dia
Que só se concertam neste meu dano.

Soneto X

Ô doces prendas por mim mal faladas,
Doces e alegres quando Deus querias,
Juntas estais em memória minha
E com ela em minha morte conjuradas!

Quem me dissera quando das passadas,
Horas que tanto bem por vós me via
Que me haveis de ser de algum dia,
Com tão grande dor representadas?

Pois em uma hora junto me levantais,
Tudo bem que por términos me dizes,
Levar-me junto ao mal que me desejais.

Se não suspeitarei de que me pões,
Em tanto bens porque desejais,
Ver-me morrer entre memórias tristes.

Soneto XI

Formosas ninfas, que ao rio metidas,
Contentas hábeis de suas moradas,
Das reluzentes pedras fabricadas,
Em colunas de vidro suspendidas.

Agora estais lavrando embebecidas,
Tecendo de tuas telas delicadas,
Agora umas com outras apartadas,
Contando-nos os amores e vidas.

Deixas dum momento labor alçando,
Vossas rubras cabeças ao mirar-me,
E não desteteis muito segundo ando.

Que não podeis de lástima escutar-me,
Que convertido em água aqui chorando
Podeis até despacho consolar-me.

Soneto XII

Se para refreares este desejo,
Louco impossível vão temeroso,
E guarecer dum mal tão perigoso,
Que és dar-me entender eu que não creio.

Não me aproveitas verme qual me vejo,
O muito aventurado o muito medroso,
Em tanta confusão que nunca ouço,
Fiar ao mal de mim que lhe possuo.

Que me há aproveitar ver a pintura,
Daquele que com às asas derretidas,
Caindo fama do nome ao mar hás dado.

E a de que teu fogo e tua loucura,
Chora entre aquelas plantas conhecidas
E apenas em que n´água há resfriado.   

Soneto XIII

A Dafne já aos braços lhes cresciam,
Em longos ramos volto demostravam
Em verdes folhas vi que se tornavam
Os cabelos que douro escureciam.

De áspera casca eles que se cobriam,
Os ternos membros que um bulindo estavam,
Os brancos pés na terra se fincavam
E em torcidas das raízes se volviam.

Aquele sendo a causa de tal dano,
A força de chorar crescer havia,
Este cedro com lágrimas regava.

Ô miserável estado, Ô mal tamanho,
Que com chorá-la cresças cada dia,
A causa e a razão por que choravas.

Soneto XIV

Como duma terna mãe, que é dolente,
Filho que está com lágrimas pedindo,
Alguma coisa qual está comendo
Sabendo há dobrar-se ao mal se sente.

E aquele piedoso amor não lhe consente,
Que se considere ao dano que havendo
O que pedem houve vá já correndo
E aplaca o plano e dobrar acidente.

Assim mim enfermo e louco pensamento,
Que em seu dano os me pede eu queria,
Pagar-te este mortal suscentamento.

Mas pede-me e chorando cada dia,
Tanto que quanto querer consentimento
Olvidando sua morte há uma minha.


Soneto XV

Se queixas e lamentos podem tanto,
Que se enfrentaram o curso dos rios,
Em diversos montes e já tão sombrios,
As árvores moveram com teu canto.

Se converteram escutar teu canto,
Os feros tigres e penhascos frios,
Se enfim com menos casos que dos meus
Se baixaram aos reinos deste espanto.

Por quê dirás minha trabalhosa,
Vida em miséria e lágrimas passadas,
Um coração comigo endurecido?

Com mais pena devia ser escutada,
A voz do que se chora por perdido
Que haver perdido e chorando outra coisa.

Soneto XVII

Pensando que teu caminho ia direito,
Vim a parar em tanta desventura,
Que imaginar-me não posso há loucura
Algo que deste instante satisfeito.

Larga campina que me parece estreito,
A noite clara para mim é escura,
A doce companhia amarga e dura,
E duro campo de batalha ao leito.

Deste sonho se há alguma aquela parte,
Só que és ser efígie desta morte
Se avém com desta alma fatigada.

Enfim o que, qual queria estou de arte,
Que julgar já por hora menos forte
Ao que nela me vi, está é pesada.

TRAD.ERIC PONTY

A PAISAGEM DE BRETÓN - OLIVERIO GIRONDO - TRAD. ERIC PONTY

Douarnenez,
Num golpe de balde,
Pântano
Entre suas casas correram os dados,
Dum pedaço do oceano,
Com um odor de sexo que desmaia.
Embarcações feridas, no seco, com as asas pregadas!

Tabernas que cantam com uma voz de orangotango
Sobre as nascentes,
Mercurizado pela pesca,
Marinheiros que se agarram aos braços
Para aprender a caminhar,
 E partiram a estrear-se
 Com um envio que seja
 Nas paredes;
 Mulheres salobres,
 Entoadas,
 Dos olhares aquáticos, de cabeleiras de alga,
Que se repassam nas redes penduradas dos tetos
Como os véus nupciais.

O campanário da igreja,
São refúgio de prestidigitação,
Atirados de sua campainha
Num rebanho de pombas.
Enquanto os vice-versa,
Com suas gorras de dormir,
Entram na embarcação
Para se espatifarem de orações,
E para que do silêncio
Deixem de roer por um instante
Os Narizes de pedra dos santos.
  Douarnenez, julho, 1920.

TRAD. ERIC PONTY

sábado, fevereiro 03, 2018

8 Lust Songs: I Sonetti Lussuriosi - Michael Nyman - Pietro Aretino - TRAD. Eric Ponty

            «Os Modi» são dezesseis desenhos que arquitetam múltiplas posturas amorosas que Giulio Romano (artista próximo de Rafael) fez em Roma até 1524.

              Quase logo foram pintados na gravação em metal por Marco Antônio Raimondi, e o intrépido escritor Pietro Aretino escreveu uns sonetos erótico-burlescos para seguir essas efígies.

A Edição Original extinta Ordem Papal só nos chegou o exemplar mutilado duma tosca edição do século XVI e das cópias que se fizeram em XIX para Conde de Waldeck.

       8 Lust Songs: I Sonetti Lussuriosi é uma paisagem de Michael Nyman, compositor inglês que determinou o movimento Musical de Minimalismo com 8 peças duma coleção de poesia erótica de I Sonetti Lussuriosi de Pietro Aretino.

       As músicas retratam desejos sexuais dum homem e duma mulher em distintos contextos. Marie Angel estreou a peça, espalhando personagens varões e mulheris, incluindo uma velhista, com a Orquestra de Santa Cecilia, conduzida pelo compositor, em 4 de outubro de 2007 no Arsenale, em Veneza, Itália, em uma comissão da Bienal de Veneza.

       A gravação estúdio com Michael Nyman Band foi lançada no disco compacto 29 de julho de 2008. Na música erudita essa composição é considerada uma raridade.

1- Questo cazzo vogl'io, non un tesoro!

No caralho vou eu querer, não um tesouro!
Nisso que já me podeis fazer feliz!
Esta é caralho para Imperatriz!
Amparar mais gema montão doiro:
Ai, me auxilie, pica minha, pois sofro,

Dai-me bem do prazer desta matriz:
Que da bunda pequena se decide
Se minha xota quer cursar na prudência.
Senhora minha, fato é quanto diz;

Quem tem pica anã e fodeu na xoxota
Mereceu-me d´agua fria laxativa.
Quem pouco fodeu no cu noite e dia:
Mas quem do qual eu tinha cruel fera
Sempre xoxota desafoga suja.

Por ser verdade, porém somos da pica
Glutões, retrocedamos pica tão ledos
Que até detrás queremos torre inteira!


2 - —Fottiamci, anima mia, fottiamoci presto,

Fodamos, minh´alma, mas fodamos já,
Todos nós os fodidos termos surgidos;
No caralho tu adoras e amas manar
Mundo sem isso nem figa vale algo.

E assim post mortem foder fosse mui honesto,
Nos narrariam: —Foder nós morreríamos;
Ainda mais Adão e Eva até foderam,
Nos falaram dentre si morrer injusto.

— É vero nos falaram, entre si os patifes
Há não comerem fruto tão traiçoeiro
Ardentia desses amantes não teriam.

Mas falseiem palavreado, até no peito,
Cravar caralho, feixe há alma se exalta,
Me parto, pica morrer clama estar viva!


3- Io 'l voglio in cul. —Tu mi perdonerai,

Eu no cu vou querer —Me perdoarás,
Dona, mas ater-me não amar tal culpa,
Pois é qual há comida do Prelado,
E com gosto arruinado estará sempre.

—Mete-la aqui! —Não fareis—. Farás, sim.
— Por que? Não se vivias já do outro lado,
Na xota id est? —Sim, porém mui mais grato
Meter pica não frente, senão detrás.
— Vós quereis deixar-me aconselhar;
Tua a pica és, e se lhes gostar tanto,
Qual a serva, assim deveis ordenar.

—Aceitar, carinho; empurrá-la ao canto
Acima abaixo, e sem corrente agir.
Ô pica corré, santíssima piroca!

—Remou-vela tanto se é tua vontade.
—Dentro movo com um prazer tão grão
Sobre ela um ano me sentaria ao ponto.


4- Tu pur a gambe in collo in cul me l'hai

Tuas puras minhas pernas junto ao cu, fazem,
Me hei estado bem: No embate, dum fanfarrão!
Nesta armação qual me apoio nessa cama,
Ai, me esvaneço prazer é deste teu me dás!

evolver-me nesta cama, da qual me arranjas
Rompendo pendente aqui cabeça abaixada,
Na Dor de filhos, merda que gratifica passa.
Da crueza Amor, é onde me fizesses estar!

Pensas tu faras? Que te dera tensão.
Tua língua dar-me um pouco, sulco d´ alma minha:
Assaz pensa quem sirva bem de quem se silencia.

A xoxota dum pouco de prazer me queria,
E, pois, do cu senão não teria dado à paz.
Atropela, padrinho, que se já partiu a pica!



5- Dammi la lingua,appunta i piedi al muro

Dai-me língua, me aponte sola pés parede;
Espremei coxas é apertada, me estreitai;
Vai-te virar um pouco a pouco na cama,
Só haverá ter gozado ganhar haver me dado.

Ai, pérfido! Que caralho tão duro tens!
E Ô, Como! Que gostosa xoxota dás!
Um dia no cu tu metas eu ti prometas
E me asseia ao tirar-lhe o que ti asseguro.

Agradeço vós, ô querida Lorenzina,
Encorajar servir-te, porém isso me impele,
Empuxando qual saber fazer Ciabattina.

Terminarei já quando tu haver terminado?
—Agora! Dei-me dessa toda tua linguinha.
Que ao padecer! —E eu sou dessa tua razão;

Assim que já tu findas e assim tu terminares?
 —Já, depressa haveria d´alguma, aí senhoril meu.
—Já o disse a mim. —E sendo aí Senhor e meu Deus!

6 - E saria pur una coglioneria

A Burrada seria de agora uma estupidez,
O de temer haver ganhado foder-te agora,
Ter nessa xoxota dum caralho foi metido,
E cu vago ficarás algo tão desconsolado.

E terminasse em mim essa minha descendência!
Pois eu vou foder-te atrás dum jeito muito baixo,
Iras diferenciarás o olho da greta igual,
Deste vinho de aguado dá o que do maldizer.

—Foda-me está a fazer comigo o que queiras,
Na xoxota no cu não me importando com nada
E donde faças que tu deverias fazer devas.

Que eu na xoxota o fogo cu que eu tenho em mim,
Quantas picas houvera duma vaca há mula
Não me diminuiu sendo grande meu desejo.


8 - Apri le coscie, acciò ch'io vegga bene il tuo bel culo

Abre teus lábios, afim eu olhar bem
Do teu formoso cu e xota de frente;
Cu altera de opinião trocar de pica!
A Xoxota o coração destilar veias!

Enquanto galanteio, elogios me chegam
Lhe beijando tudo isto num só improviso,
Pareço-me ser ainda Belo Narciso
Num cristal está minha pica fogosa.

Aí farsante, velho; Da cama do chão!
Se bem te observo, puta, ao se preparar-te
De tua costela te irrompa eu teu peito.

Em ti me achego, afrancesada velha,
É, pois, pelo prazer mais que perfeito
E sem cântaro em um poço me poria.

PIETRO ARETINO 
             (Arezzo, 20 de abril de 1492 - Veneza, 21 de outubro de 1556) sendo um poeta, escritor e dramaturgo italiano.
             Versado principalmente por seus escritos devassos (sobre todo por seus Sonetos luxuriosos), também assegurou com obras moralizantes que lhe congraçaram com o ambiente cardinalício do qual este convivia.
           É um dos intelectuais mais representativos do espírito renascentista italiano e uma das figuras que melhor demostram a superação da visão teológica e ética medievais. Seus escritos sobre arte e sobre Tizianismo especialmente, ao propiciarem múltiplos empregos e o incentivarem no prestigio internacional deste pintor.


TRAD.ERIC PONTY

domingo, janeiro 28, 2018

TRÊS POEMAS de JORGE LUIZ BORGES - TRAD. ERIC PONTY

O SUL

Desde um de teus pátios hei havido olhado
As antigas estrelas,
Desde banco de sombra haver olhado
Essas luzes dispersas,
Que minha ignorância não aprendeu notar
Nem ao ordenar constelações,
Haver sentido o círculo d´agua
No secreto aljire,
O odor de jasmim e madressilva,
O silêncio de pássaro dormido,
O arco do saguão, a humidade
–essas coisas, acaso, são o poema.

UM PÀTIO
Com à tarde
Se cansaram os dois os três cores do pátio.
Esta noite, a lua, o claro círculo,
Não domina seu espaço.
Pátio, céu canalizado.
O pátio é o declive
Pelo qual se derrama o céu na casa.
Serena,
A eternidade espera na encruzilhada de estrelas.
Grato é viver na amizade escura
De um saguão, duma videira e duma cisterna.


Arte Poética
Admirar o rio feito de tempo e água
E recordar que o tempo é um outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como água.
Sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar e que a morte
Que teme nossa carne é essa morte
De cada noite, que se chama sonho.
Observar no dia e no ano um símbolo
Dos dias do homem e de seus anos,
Converter o ultraje dos anos
Em uma música, um rumor e um símbolo,
Ver na morte o sonho, no ocaso
Um triste ouro, tal é a poesia
Que é imortal e pobre. A poesia
Retornar como aurora e ocaso.
A vezes nas tardes uma cara
Nos observa desde fundo dum espelho;
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela nossa própria cara.
Contam que Ulisses, farto de prodígios,
Chorou de amor ao avistar sua Ítaca
Verde e humilde. A arte é essa Ítaca
De verde eternidade, não de prodígios.
Também é como o rio interminável
Que passa e fica e é cristal dum mesmo
Heráclito inconstante, que é o mesmo
E é outro, como o rio interminável.

TRAD.ERIC PONTY

TRÊS POEMAS DE César Vallejo - TRAD. ERIC PONTY

AUSENTE
Ausente! Na manhã em que me vai
Mais distante que longínquo ao Mistério
Como seguindo inevitável limite
Teus pés resvalaram o cemitério.

Ausente! A manhã em que na praia
Do mar da sombra do silenciado império
Como um lúgubre pássaro que me vai 
Será o branco panteão teu cativeiro.

Se terás feito noite em seus olhares
E sofreras e tomarás então
Penitentes brancuras laceradas.

Ausente! E em teus próprios sofrimentos
Há de chorar entre um tremor de bronzes
Uma matilha de remorsos.

Meia luz
Hei sonhado com uma fuga. E hei sonhado
Teus encaixes dispersos na alcova.
Ao largo de um delicado alguma mãe.
E seus quinze anos dando um senso de hora.

Hei sonhado com uma fuga. Uma “para sempre”
Suspirado na escala duma proa
Hei sonhado com uma mãe
Uns frescos arbustos de verdura
Enxoval constelado de uma aurora.

Ao largo de um delicado....
E ao largo de um colo que se afoga.

Bordas do céu  
Venho verte passar todos os dias,
Fumaça encantada sempre longínquos
Teus olhos são vermelhos capitais
Teu lábio é um brevíssimo pano
Zinho Vermelho que ondeia em adeus de sangue!

Venho verte passar, até que um dia,
Embriagado pelo tempo e de crueldade
Fumaça encantada sempre longínquos
A estrela da tarde partirá!

Equipamento vento que tracionam ventos
De mulher que passou!
Teus frios capitães lhe darão ordem
E que se farás perdido serei eu...!  

TRAD.ERIC PONTY

Emissários Negros - César Vallejo - Trad. Eric Ponty

Há golpes na vida tão fortes.... Eu é que sei!
Golpes como o ódio de Deus; como se ante eles
Ressaca do todo sofrido
Se imporá na alma.... Eu é que sei!

São poucos, porém são.... Abrem vagas obscuras
No rosto mais feroz e no lombo mais forte.
Serão talvez os potros de bárbaros. Atilas,
Os emissários negros que nos manda a morte.

São ruinas fundas dos Cristos d´alma,
De alguma fé adorável que traz o destino
São esses rudes golpes de explosões súbitas
De alguma almofada douro fundiu sol maligno.

E o homem, pobre homem…pobre! Volta seus olhos como
Quando sobre o ombro nos chama numa palmada;
Volta os olhares loucos e todo vivido
Se empoçam como um charco de culpa no olhar.
Há golpes na vida tão forte! ... Eu é que sei!

TRAD.ERIC PONTY


A SINFONIA DO BERÇO - NICANOR PARRA - Trad. Eric Ponty

Uma vez andando
Por um parque inglês
Com um angelorum
Sem querer me falei.

Bons dias, digo lhe,
Eu lhe contestei,
Não falou em castelhano,
Mas em francês.

Dites moi, don ángel,
Comment va monsieur.

Ele me deu a mão,
Eu lhe tomei o pé
Há que ver, senhores,
Como um anjo é!

Fátuo como o cisne,
Frio como um riel,
Gordo como um pavo,
Feio como você.

Assustou-me deu um pouco
Porém não me afastei.
No bosque das plumas,
As Plumas localizei,
Duras como o duro
Casca de ostra dum pez.

Bom com que houvera
Sido Lúcifer!

Se enojou comigo,
Me tirou um revés
Com sua espada de oro,
Eu que me acocorei.

Anjo mais absurdo
Não regressarei a ver.

Morto dando risada
Diz good bye sir,
Siga seu caminho,
Que lhe leve bem,
Que ao pisar asfalto,
Que o mate o trem.

Já se acabou o conto,
Um, dois e três.


TRAD.ERIC PONTY









A Defesa da Árvore - NiCANOR PARRA - Trad. Eric Ponty

Por que te entregas a essa pedra
Menino de olhos ameloados
Com um impuro pensamento
De derramara-la contra à árvore.

Quem não faz nunca dano a nada.
Não se merece tão maltrato.
Já seja salgueiro pensativo
Já melancólica laranjeira.

Deve ser sempre pôr o homem
Bem apontado e respeitado:
O Menino perverso que o fira
Fere a seu pai e ao seu irmão.

Não lhe compreendo, lealmente,
Como é possível que um menino
Tenha este gesto tão indigno
Sendo tão loiro e delicado.
Seguramente que tua mãe
Não sabe corvo que haver criado.

Te acedei um homem correto,
Penso todo o contrário agora:
Creio que não há em todo Chile
Um Menino tão mal-intencionado.

Por que te confias a essa pedra
Como a um punhal envenenado,
Tu que o compreendes claramente
A grande pessoa que é uma árvore!

Ela é a fruta deleitosa
Más que o leite, mais que o nardo;
Cheia de ouro no inverno,
Sombra de planta em que verão
E, o que é mais que todo junto,
Cremos os ventos e os pássaros.

Pensando bem e quem a reconhece
Que não há amigo como árvore,
Onde tu quer que te volvas
Sempre a encontras a teu lado.

Sigas pisando a terra firme
O móvel mar alborotado,
Estes medir em um berço
O bem dum dia agonizando,
Mais fiel que o vidro do espelho.

É mais submissa que um escravo.
Meditando um pouco o que fazes
Veja que Deus está ti olhando,
Rogai ao Senhor que te perdoe
De tão gravíssimo pecado
Nunca mais a pedra ingrata
seja atirada de sua mão.



TRAD.ERIC PONTY

sábado, janeiro 27, 2018

Júlio Cortázar & John Keats - TRAD. Eric Ponty

(Silencioso, em uma cimeira de Darién).

  («Ao ler por primeira vez Homero de Chapman», v. 14)

Porém, ademais, Keats se já decidiu a se escalar como pessoa as cimeiras que seus versos coroam antes que ele seja. Seus forçados estudos médicos não respondiam a vocação alguma; os arrastram consigo largo tempo (dos anos são longos quando ficam sete de vida) e um dia —estando seguro do que fez— crava sua lanceta em um tronco de árvore, e vai a dizer-lhe a seu tutor que prefere a poesia a farmácia. Nem falar do escândalo que se arma.

Tem vinte uns anos, é 1816. Aprecia a Leigh Hunt, conhece a Shelley, devora livros e caminhos. Celebra, verte as libações, é feliz. Tempo de irmandade, presencia incessante de Tom, de George, de Fanny, dos amigos: Cowden Clarke, Haydon, Hunt, Reynolds. Para ele Hampstead (um Adrogué de Londres) contêm toda a mitologia grega, e em seu céu emprega a alçar-se a sombra dos deuses que John elegerá para sofrimento e resgate: Shakespeare. E assim lhe seguimos agora no teu caminhar. Eh, John, sigamos juntos, Quer?

Júlio Cortázar
Muito tempo hei viajado pôr os mundos do ouro,
e hei visto muitos reinos e impérios admiráveis,
E hei estado em torno de mui ocidentais ilhas
que os bardos protegem como feudos dum Apolo.

Hei ouvido falar às vezes dum vasto território
Regeu na propriedade o taciturno Homero,
mas nunca hei respirado seu ar sereno e tão puro.
Até que hei ouvido a Chapman pensar com mui ardor:

Então me hei sentido como que observa o céu
E vê um novo planeta nascer ante tua vista,
O como amplo Cortés quando com olhos de águia.

Contemplara Pacífico então todos teus homens
Se ansiavam qual atónitos e com incerteza—
Silencioso, na cimeira dum monte de Darién.





 John Keats
TRAD. ERIC PONTY





JUAN DEL ENCINA - Mais vale trocar/Prazer por dores - Trad. Eric Ponty

(Salamanca?, 1468 - León, 1529)
Mais vale trocar
Prazer por dores
Que estar sem amores.
Onde é agradecido
5eus doces ao morrer;
Viver no olvido,
Daquele não é viver;
Melhor é sofrer
Paixão e dores
Que estar sem amores.
É vida perdida.

Viver sem amar
É mais é que vida
Saberia empregar;
Melhor é penar
Sofrendo dores
Que estar sem amores.

A morte é a vitória
Do que vive pretensão,
Que espera haver glória
Quem sofre paixão;
Mais vale pressão
De tais dores
Que estar sem amores.

O que é mais pesado
Mais goza de amor,
Que o muito cuidado
Lhe paga ao temor;
Assim que é melhor
Amar com dores
Que estar sem amores.

Não temendo tormento
Quem ama com fé,
Se seu pensamento
Sem causa não foi;
Havendo por que,
Mais valem dores
Que estar sem amores.

FIM

Amor que não sofre
Não pede prazer,
Pois já lhe condena
Seu pouco querer;
Melhor é perder
Prazer por dores
Que estar sem amores.

TRAD. ERIC PONTY







Cogita-me sem prevenção - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Cogita-me sem prevenção
Amor, astuto e já tirano:
com capa desse cortesão
se me penetrou no coração.

Descuidada da razão
e sem armas destes sentidos,
deram à porta inadvertidos;
E por lograr seus enojos,
enquanto suspendia seus olhos
me atravessei entre aos ouvidos.

Desfraldado entrou tão manhoso;
mas já que adentrou se observou
desse Paládio,  já saiu
daquele disfarce enganoso;
E, com ânimo já tão furioso,
tomando as armas em fogo,
se descobriu sendo astuto Grego
que, as iras brotando e com furores,
matando todos defensores,
passou a toda Sua Alma em fogo.

E procurando suas violências
nela ao preamos ainda mais forte,
deu ao Entendimento de sua morte,
que era Rei dessas potências;
E sem fazer diferencias
deste real a plebeia grei,
fazendo-se de geral lei
aglomeram aos punhais
os seus discursos racionais
porque eram filhos desse Rei.

A Cassandra sua o fizera
buscou, e com modos tiranos,
atou à Razão com as suas mãos,
que era da Alma de princesa.
Nos cárceres sua beleza
dos soldados já atrevidos,
lamentava eram não crentes
desastres que adivinhou,
pois por mais vozes que deu
Não ouvirão os seus sentidos.

Todo o palácio abrasado
se notou, todo destruído;
Deifobo ali malferido,
aqui Paris foi maltratado.
Prende também seu cuidado
Dessa modéstia em Polixena;
No meio de tanta aflição,
De tanta morte e confusão,
Dessa ilícita aflição
só reservada em Elena.

Já a Cidade, que vencia
Indo ao Céu, de tanto arder,
só guardava deste seu ser
os vestígios, em sua ruina.
Todo o amor que extermina;
E com o ardente furor,
só se ouve, dentre o rumor
com que sua crueldade se apoia:
"Aqui faz-se uma Alma já Troia
Sendo Vitoria por Ao Amor!"

TRAD.ERIC PONTY

ANTI AUSÊNCIA - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad.Eric Ponty

Divino dono meu,
se no tempo de partir-me
tem-me meu amante peito
alentos de queijar-se,
ouça minhas penas, olha meus maus.

Atentasse essa dor,
se pode lamentar-se,
E a vista de perder-te
meu coração exale
canto a terra, queixas ao ar.

Apenas teus favores
quiseram coroar-me,
desdenhoso mais que todos,
felizes como nada,
quando os gostos foram os pesares.

Sem dúvida o ser feliz
é da culpa mais grave,
pois minha fortuna adversa
disponha que me pague
com que aos meus olhos em tuas luzes faltem.

Aí, dura lei de ausência!
Quem poderá derrotar-te,
si onde eu não quero
me levas, sem levar-me,
com alma morta, vivo cadáver?

Será de teus favores
só o coração encarcerado
por ser mais um silencio
se quero que os guarde,
custodio indigno, sigilo frágil?

E aposto que me ausento,
por último vale
te prometo rendido
meu amor e fé constante,
sempre querer-te, nunca te esquecer.

TRAD.ERIC PONTY

sexta-feira, janeiro 26, 2018

Soneto I - Garcilaso de La Vega - Trad. Eric Ponty

Quando me paro comtemplar meu espaço,
E ao ver os passos pôr do que hão traído,
Falo, segundo pôr donde andar perdido,
Que o maior mal pudera haver chegado.

Mas quando do caminho isto olvidado,
Há tanto mal que não sei por hei chegado,
Sei que me acabo e mais eu sentido,
Ver acabar comigo do meu cuidado.

Eu acabarei, que me entreguei sem arte,
Há quem saberá perdesse e acabar-se,
Se quiser e há um saberá querê-lo.

Que, pois, minha vontade pode matar-me,
A tua, que não és tanto de minha parte,
Podendo, que farás, porém, fazê-lo.

TRAD.ERIC PONTY





Soneto - Francisco de Quevedo - Trad. Eric Ponty


 Representa-se a concisão do que se vive e qual nada semelha o que se viveu.


Ah dessa vida!… Nada que me responde?
Aqui dos ancestrais de que hei vivido!
A Fortuna meus tempos há morrido,
Horas minha loucura as se esconde.

Que sem poder saber como nem onde!
A saúde e a idade se esvaem na fuga!
E faltando a vida, assiste esse vivido,
E não há calamidade que não me ronde.

Haver se foi; manhã não hei chegado;
Hoje se está vendo sem parar um ponto:
Sou um foi e um será e um será cansado.

Nele hoje e amanhã e haverá, junto
Fraldas e mortalha, e hei me tornado
Presentes sucessões desse defunto.

Trad. Eric Ponty

Amor Inoportuno - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Das duas em que lhe escolher
Tenho, não sei das quais prefira,
Pois vós sentis não querias
E eu sentiria em querer.

Com que si de qualquer lado
Quero inclinar-me, forçoso
ficar nesse um forçado
Que outro fique alterado.

Com que si a qualquer lado
Quero inclinar, sendo forçoso
ficando há um já forçado
Que outro fique descansado.

E não julgo que fará quem
Aprovando sentença tal,
Como que me trate mal
Por tratara-os a vós bem.

Mas por outra parte sinto
Que é também muito rigor
Que o que devo em amor
Pague em aborrecimento.

Há um irracional parece
Este rigor, pois se infere,
Se agonio há quem me quer
Que farei quem aborreço?

E há um irracional semelha
Este rigor, pois se infere,
Si aflijo há quem me queira
Que farei com quem aflijo?

Porém dar um meio justo
Nestas duvidas pretendo,
Pois não querendo, os ofendo,
E querendo eu me desgosto.

E sendo está a sentencia,
Porque não podeis queixar,
Que entre afligir e amar
Se raio a diferencia.

E seja esta a sentença,
Porque não os podeis queixar,
Que entre aborrecer e amar
Se raio a diferencia.

Este o discurso lhe aconselha,
Pois com esta conveniência
Nem eu fico com violência
Nem vós os apartais com queixas.

E que estaremos ínferos
Forçosos com ofereço;
Vos de ver não lhes aborreço,
Eu de saber que não quero.

Só este meio és bastante
A ajustarmos, si os contenta,
Que vos me logreis atenta
Sem eu vós passeis ao amante.

E assim fico em me entender
Esta vez bem com os dois;
Com o agradecer, com vós;
Comigo, com o não querer.

Que ao nada chegasse a dar-se
Neste desejo foi-se cumprido,
Ver que é igual ao partido
Servirá para resignar-se.

TRAD.ERIC PONTY

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Liberdade - Paul Éluard - Trad. Eric Ponty

Em meus cadernos escolares
Na minha mesa e árvores
Na areia na neve
Eu escrevo o seu nome

Em todas as páginas a ler
Em todas as páginas brancas
papel sangue pedra ou cinzas
Eu escrevo o seu nome

A efígie de ouro
guerreiros com armas
Na coroa dos reis
Eu escrevo o seu nome

Selva e deserto
Dos ninhos sobre a vassoura
No eco da minha infância
Eu escrevo o seu nome

Sobre as maravilhas da noite
No pão branco de dias
Em estações das noivas
Eu escrevo o seu nome

Em meus trapos azuis
No sol antiquado na lagoa
Na lua viva no lago
Eu escrevo o seu nome

 Em campos no horizonte
Nas asas de pássaros
E a fábrica de sombras
Eu escrevo o seu nome

Cada respiração ao Amanhecer
Em navios no mar
Na montanha demente
Eu escrevo o seu nome

Sobre a espuma das nuvens
O suor da tempestade
Na chuva grossa e sem graça
Eu escrevo o seu nome

Em formas de piscar olhar
Em sinos coloridos
Na verdade física
Eu escrevo o seu nome

Em trilhas de vigília
Implantado em estradas
Vidraças transbordantes
Eu escrevo o seu nome

A lâmpada que ilumina
A lâmpada é extinta
Em minhas casas combinadas
Eu escrevo o seu nome

A fruta cortada ao meio
Espelho e meu quarto
Na minha cama de concha vazia
Eu escrevo o seu nome

Em meu cão ganancioso e tenro
Em suas orelhas eretas
Em sua perna desajeitada
Eu escrevo o seu nome

No trampolim de minha porta
Em objetos familiares
O fluxo do fogo abençoado
Eu escrevo o seu nome

Em toda a carne concedida
Na frente dos meus amigos
Em cada mão estendida
Eu escrevo o seu nome

Sobre o vidro surpresas
Nos lábios atentos
Bem acima do silêncio
Eu escrevo o seu nome
Em meus abrigos destruídos
Desabou sobre meus faróis
Nas paredes do meu tédio
Eu escrevo o seu nome

A ausência sem desejo
Na solidão nua
Em marchas da morte
Eu escrevo o seu nome

Sobre a saúde de volta
O risco que desapareceu
Na esperança sem memórias
Eu escrevo o seu nome

E pelo poder de uma palavra
Estou iniciando minha vida
Eu nasci a conhecê-la
Para nomear a si mesma
Liberdade.

TRAD.ERIC PONTY

Manhã - Cem Sonetos de Amor - Pablo Neruda - Trad. Eric Ponty

I Matilde, nome de mármore e vinho

Matilde, nome de mármore e vinho,
do que apareceu desta terra e dura,
palavra cujo crescimento amanhece,
em cujo estio estala à luz dos limões.

Nesse nome correm navios madeireiros,
rodeados enxames fogo azul marinho,
e essas escritas são d´agua dum rio
desemboca em meu cerne calcinado.

Ô nome aberto embaixo uma trepadeira,
com à porta dum túnel desconhecido
comunica com fragrância do mundo!

Ô invada-me com tua boca abrasadora,
indaga-me, quer, teus olhos noturnos,
porém teu nome deixa-me cruzar-te dormida.

II - Amor, quantos caminhos até chegar há um beijo

Amor, quantos caminhos até chegar há um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens só rodeados com à chuva.
Em Taltal não amanhece algo primavera.

Porém tu e eu, amor meu, estarmos juntos,
juntos desde a roupa das raízes,
juntos de outono, d´agua, de cadeiras,
até ser só tu, só eu juntos.

Pensar que custaram tantas pedras que leva ao rio,
a desembocadura d´agua da Boroa,
pensar que separados por trens e nações.

Tu e eu tínhamos que simplesmente amarmos,
com todos confundidos com homens e mulheres,
com à terra que implanta e educam à rosas.  

III - Áspero amor, violeta coroada de espinhos

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
matagal entre tantas paixões irizadas,
lança às dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste à minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de pronto, entre às folhas frias de meu caminho?
Quem ti ensinou os passos que até mim te levaram?
flor, que pedra, que humos mostraram minha morada.

Ao certo é que teme-o à noite pavorosa,
árvore levo todas às copas com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,

Contudo que cruel amor acercava sem trégua
até que lançando-me com espadas e espinhos,
abriu em meu coração um caminho ardente.

V - Não te toque à noite nem ar nem aurora

Não te toque à noite nem ar nem aurora,
só à terra, a virtude dos jacintos,
os ciprestes que crescem ouvindo água pura,
o barro e as resinas de teu país fragrante.

Desde Quinchamali donde fizeram teus olhos
até teus pés criados para mim na Fronteira
eras a greta escura que conheço:
Em tuas cadeiras toco de novo o trigo.

Talvez tu não sabias, araucana
que quando antes de amar-te me olvidei de teus beijos
meu coração ficou recordando tua boca.
e fui como ferido por estas ruas,

até que que compreendi que havia encontrado
amor, meu território de beijos e vulcões.

VI - Nos bosques perdidos, cortei um ramo escuro

Nos bosques perdidos, cortei um ramo escuro,
e os lábios, cedendo, levantei seu sussurro:
era talvez à voz da chuva chorando,
um companhia toca seu coração cortado.

Algo que desde tão distante me parecia
oculto gravemente coberto pela terra,
um grito ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e humildo nervos da folha.

Por ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou dentro minha boca
errante odor trepou por meu critério.

Como se me buscaram de pronto às raízes.
que abandonei, à terra perdida com minha infância,
e me detive ferido pelo aroma errante.  

VII – "Atarás comigo", disse, sim que nada supera

"Atarás comigo", disse, sim que nada supera
donde e como latia meu estado doloroso,
e para mim não havia planta nem barcarola,
nada senão uma ferida  por amor aberta.

Repeti: Vem comigo, como se eu morrera,
e nada via em minha boca à lua que sangrava
nada via aquele sangue que suba ao silêncio.
Oh amor, agora olvidemos à estrela com espinhos!

Por isso quando ouço que tua voz repetia,
"Atarás comigo", foi como se desataras
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado.

que desde sua bodega submergida subiria
e outra vez em minha boca senti sabor de chama,
de sangue e de plantas, de pedra e queimadura.

VIII - Se não fora porque teus olhos têm cor de lua,

Se não fora porque teus olhos têm cor de lua,
de dia com argila, com trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fora porque eres uma semana de âmbar.

Se não fora porque eres o momento amarelo
em que outono sobe pelas enredadeiras
e eres algum pão que lua fragrante
elabore passeando seu polvo pelo céu.

Ô, bem-amada, eu não te amaria!
Em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, árvore da chuva,

e todo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso vê-lo todo:
vejo em tua vida todo vivente.  

IX - O golpe da onda contra pedra indócil

O golpe da onda contra pedra indócil
à claridade estala e estabelece sua rosa
no círculo do mar se reduz a um buquê,
a uma só gota de sal azul que cai.

Oh radiante magnólia desatada pela espuma,
magnética viajadora cuja morte floresce
e eternamente volve a ser e ao não ser nada:
sal, deslumbrante movimento marinho.

Juntos tu e eu, amor meu, selamos o silêncio
então destrói o mar suas constantes estátuas
e derruba suas torres de furor e brancura.

Porque na trama destes tecidos invisíveis,
d´agua desbocada, de incessante areia,
sustentamos a única e acossada ternura. 

X – Suave é bela como se música e madeira

Suave é bela como se música e madeira,
ágata, telas, trigo, durarmos transparentes,
houveram erigido a fugitiva estátua.
Para onda dirige sua contrária frescura.

O mar molha negros pés copiados
a forma recém trabalhada na areia
e és agora seu fogo feminino de rosa
uma bolha que o sol e o mar combatem.

Ai, que nada te toque fado ao sal do frio!
Que nem amor destrua à primavera intacta.
Formosa, reverbero de indelével espuma.

Deixar que tuas cadeiras imponham n´água,
uma medida nova de cisne o de nenúfar
e navegue tua estátua pelo cristal eterno.

XI – Tenho fome de tua boca, de tua voz de teu pelo

Tenho fome de tua boca, de tua voz de teu pelo,
e pelas ruas vou nutrindo-me, calado,
não me sustenta o pão, alva me decompõe,
busco o som líquido de teus pés no dia.

Estou abrindo de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso granjeiro
tenho fome de pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta uva.

Quero comer o raio queimado em sua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de teus semblantes.

e esfomeado venho e vou indagando ao crepúsculo
buscando-te, procurando teu coração carente
como uma pluma de solidão de Quitratúe.

XII - Plena mulher macieira carnal, lua cadente.

Plena mulher macieira carnal, lua cadente,
espesso aroma de algas, lodo e luz manchados,
que escura claridade se abre entre tuas colunas?
Que antiga noite homem toca com seus sentidos?

Aí, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar afogado e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos
e dois corpos por um só mel derrotados.

beijo ao beijo recorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoadinhos,
e o fogo genital transformado em delícia.

corre para delgados caminhos do sangue
até precipitar-te como uma erva noturna,
até ser e não ser senão um raio na sombra.

XIII A luz que de teus pés sobe à tua cabeleira.

A luz que de teus pés sobe à tua cabeleira,
a turgência envolve tua forma delicada,
não é de nácar marinho, nunca de planta fria:
é de pão, de pão amado pelo fogo.

A farinha levantou seu celeiro contigo
cresceu incrementada pela idade venturosa,
quando os cereais multiplicaram seu peito
meu amor, era carvão trabalhando na terra.

Oh, pão tua frente, pão tuas pernas, pão tua boca,
pão devorado e nascente com luz cada manhã,
bem amada, bandeira das padarias,

Uma lição de sangue teu Deus o fogo,
da farinhas aprendeste a ser sagrada,
e do pão o idioma e o aroma. 
XIV Me falta tempo para celebrar teus cabelos

Me falta tempo para celebrar teus cabelos,
um por um devo cortá-los e elogiá-los:
Outros amantes querem viver com certos olhos,
e eu só quero se tua cabeleira.

Na Itália te batizaram Medusa
por a encrespada e alta luz de tua cabeleira.
Eu te chamo enredada minha emaranhada:
meu coração conhece as portas de teu pelo.

Quando tu te extravias em teus próprios cabelos,
não me olvide, acordar-te que te amo,
não me deixes perdido ir sem tua cabeleira.

por o mundo sombrio de todos caminhos,
que só tem sombras, transitórias dores,
até que o sol sobe a torre de teu pelo.

TRAD.ERIC PONTY

quarta-feira, janeiro 24, 2018

Dois Poemas de Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

As Varandas
Mãe das memórias, da amante desses amantes,
Ó tu todos meus gozos, minhas dívidas de amor!
Atrele à mente o toque gentil nossa carícia,
A doçura desse cerne, o encantador céu arriba,
Mãe de memórias, da amante desses amantes!

Noites fulguram pelo ardor desse carvão,
E na varanda, a rosa que trazem sublimes;
Doce teu peito a mim, quão amável é a tua alma!
Mui vezes nós dizíamos de coisas tão duráveis,
Noites fulguram pelo ardor desse carvão,

Quão lindos são sóis! Quentes teus feixes noturnos!
Infinito é o sítio! Cerne, quão forte e bom!
Se curvar teu mando, ó amado, ó, minha rainha,
Pensei que poderia respirar odor teu sangue.
Lindos são sóis! Quente teus feixes noturnos!

Então, nós seríamos reclusos noite espeçaste,
Sombra meus olhos predisseram teus olhos fundos,
E eu tomaria a respiração, veneno, deleite!
Minhas mãos fraternas, teus pés iam dormir,
Quando seríamos reclusos noite espeçaste.

Tenho a arte de chamar os tempos felizes,
Ver mais advindo lá curva dentro teus joelhos.
Onde devo buscar graça, langue e sublime,
Se não jaz teu cerne asseado, corpo em teu caso.
Eu tenho a arte de chamar os tempos felizes!

Esses votos, perfumes doces, beijos infinitos,
Será abrolharam golfo não podemos soar,
Grau sóis recém-nascidos levam voos celestiais
Tendo sido abluída oceanos, rica e profunda?
-Os votos! Doce perfume! Os beijos infinitos!

LXXVII – SPLEEN

Eu até poderia ser rei das terras chuvosas -
Ricos e jovens, mas inúteis e ancestrais,
Quem desapoia a trupe protetores teus pés
E vadiar com teus mastins e outras bestas.

Nada poderia animá-lo apostas ou falcoaria-
Nem mesmo temas fenecendo em tua porta.
Os jograis cômicos do Buffon do tribunal
Não divertiria esta cruel maldade.

Tua cama régia não passaria duma tumba,
E as cortesãs, dotam qualquer príncipe,
Já não tem palhaças ou usam roupas
Obter riso a partir deste jovem uno ossos.

O alquimista que o fez ouro não pode
Avisar que tua alma se extirpe a falha;
Nem naqueles banhos sangue romanos trouxeram
Versaria a força juvenil do corpo dum velho.

A ciência estudiosa traz à vida dum morto
Com a água podre de Leté em tuas veias.

TRAD. ERIC PONTY









terça-feira, janeiro 23, 2018

TRÊS Poemas - Charles Baudelaire - Trad. Eric Viegas

Epigrafe para um livro condenado

Leitor gentil, ser – como só tu o conheces
Homem de saberes não foram corrompidos,
deixe de lado esse humor brusco, razinza, arcaico 
tão orgástico quanto abjeto que tu escondes mim.

Ao menos tu tenhas correto da escola Satã
(Satã dum pedagogo!), os poemas serão gregos
a ti, então tu me farás idiota mais aloucado.

Se, no entanto, teu olho apático pode mergulhar.
Nos abismos em cada página, continue lendo,
Meu amigo: tu vais aprenderes amar-me ainda.

Buscando alma, corréu sofredor em busca, mesmo
Aqui, teu próprio Paraíso, tenha pena de mim,
Se não, Inferno como tu, eu retornarei a vê-lo.

Ao Leitor

A tolice, o erro, o pecado, a sovinice, 
Empatando nossos espíritos e corpos, 
Que nos alimentam nossos amáveis remorsos, 
Como pedintes nutrem seus parasitas. 

Pecados são teimosos arrependimentos, 
Nós fazer pagar muita nossa confissão 
Nossas voltas contentes lodosos caminhos
Crentes vis choros lavar todas nossas nódoas.

Sobre orelha do mal do Satã Trismegisto, 
Que iluda longamente nossa alma encantada, 
E o rico metal tinir de nossa vontade 
É tudo vaporiza por sábio tão químico. 

Este diabo que tem filhos que nos agitam! 
Aos objetos repugnantes que nós acharmos 
Cada dia versa inferno nossos decaídos passos 
São horrores defeitos das trevas que fedem. 

Como um escárnio pobre sexual comido, 
A teta martirizada antiga meretriz, 
Nossas fugas passagens prazeres clandestinos 
Nos incitarmos bem fortes qual velha laranja. 

Abraçando formigar como milhão vermes, 
Em nosso cérebro bródio um povo demónios, 
Quando nós respiramos Morte em nossos pulmões, 
desça ao rio invisível com as surdas queixas. 

Se fereza, veneno, punhal, incêndio, 
Não fazem passar borda de agradáveis desenhos, 
Nas telas banais dos lastimáveis destinos, 
Nossa alma, hélas não está passar suficiente ousada. 

Mas entre meio dos chacais, panteras, os linces, 
Macacos, escorpiões, abutres, as serpentes, 
Monstros estridentes urrar, rosnar, rastejantes 
Em mendicidades infames de nossos vícios. 

Não sendo mais feio, mais perverso, mais imundo, 
Ainda ele nem empurre grão gestos nem grão gritos, 
Não tenha de boa vontade da terra um caco 
E em bocejo tão tíbio engolindo o mundo. 

Este é tédio! _ Olhar carrega choro involuntário, 
Sonha cadafalso fumegante assovio cachimbo 
Tu conheces leitor, este mostro delicado 
_. Hipócrita leitor – meu semelhante – meu irmão! 


Convite à viagem

Meu filho, minha irmã,
Pense do arrebatamento
Para ir lá a viver juntos!
Para amar no lazer,
Amor e morte
Na terra que é quão a ti!

Os sóis aquosos
Desses céus nublados
Para a minha alma encantada
Tão misteriosa
De teus olhos astutos,
Faiscando por meio de tuas lágrimas.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Reluzentes móveis,
Polido pelos anos,
Ornamento nosso quarto;
As flores mais raras
Misturando teus odores
O ligeiro aroma de âmbar,
Os tetos ricos,
Os espelhos profundos,
O esplendor oriental,
Todos falam lá
Na alma secreta
Sua língua índia doce.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Veja nos canais
Dormir estes vasos
Cujo humor é errante;
Esta é satisfazer
Seu menor desejo
Eles vêm dos confins do mundo.
- Os sóis de adaptação
Vestir os campos,
Os canais, a urbe finda,
Com jacinto, de ouro;
O mundo adormece
Em uma luz quente.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

TRAD.ERIC VIEGAS


segunda-feira, janeiro 22, 2018

Quatro Sonetos de Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Há uma passante    

A rua ensurdecedora à volta do meu uivo,
Longa fina em grande mortal dor majestosa
Uma mulher passa de uma mão faustosa
Erguendo, balançando festão e debrum.

Ágil e com nobreza sua perna de estátua,
Meu eu bebe crispado como um extravagante
Em seu olhar, céu lívido onde brota furação.
A dor que te fascina e o prazer te mata.

Um clarão.... Pois à noite! -   fugitiva beleza
Onde olhar me faz súbito renascer
Nem te verei eu mais que uma eternidade?

Alhures longe aqui! Bem tarde! Jamais será!
Porque ignoro onde vais, tu não sabes onde vou
Ô tu que possuis amada. Ô tu que sabes!

Beleza 

Eu sou bela ô mortais! Como um sonho duma pedra,
Meu seio onde cada está a magoar volta em volta
E fez para inspirar o poeta um amor
Eternal e mudo que assim que à matéria.

Me sento no azul como esfinge incompreendida,
Eu uno-me coração negro na alvura dos cisnes,
Eu odeio movimento que desloca das linhas
E jamais eu nem choro e jamais eu nem sorrio.

Poetas em frente de minhas grandes atitudes,
Que empresto aos mais vaidosos monumentos,
Calcinar seus dias em austeros estudos.

Tenho para fascinar estes dóceis amantes,
Puros espelhos fazem todas coisas mais belas
Meus olhos, meus largos olhos claros eternos.


Ideal

Nós nem seremos nunca estes belos vigores,
Produtos avaria nado de um século vadio,
Estes pés borzeguim os dedos castanholas
Que sabem satisfazer um coração como meu.

Eu deixo Gavarni, poeta destas cloroses,
Seus rebanhos chilreiam belos hospitais,
Pois que eu nem encontro entre pálidas rosas
Uma flor que se assemelha ao meu rubro ideal.

Esta que faz do coração um profundo abismo,
Estais vós Lady Macbeth alma intenso crime,
Sonho de Esquilo florindo ao clima dos suões.

Ou tu grande noite, filha de Miguel Ângelo,
Retorcerem pacíficos em um pôr bizarro
Teus dons formam as bocas dos titãs!  


A vida Anterior

Por longo tempo eu vivia sob vastos pórticos
Que os sóis dos oceanos acesos com mil cores,
Os pilares quais, altos, retos e majestosos,
Fê-los, à noite, como grutas basálticas.

As ondas que embalaram a imagem do céu
Misturam, de maneira solene e mística,
Onipotentes acordes ricos consensos
Cores do pôr-do-sol refletem meus olhos.

Foi lá que eu vivi em uma calma voluptuosa,
Em um esplendor, entre do azul e o mar,
Fui atendido por escravas, nuas, perfumadas,

Quem abanou minha fronte com tuas palmas
E cuja única tarefa era de entender
Doloroso segredo me fez afundar!

TRAD.ERIC PONTY