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sábado, janeiro 27, 2018

Júlio Cortázar & John Keats - TRAD. Eric Ponty

(Silencioso, em uma cimeira de Darién).

  («Ao ler por primeira vez Homero de Chapman», v. 14)

Porém, ademais, Keats se já decidiu a se escalar como pessoa as cimeiras que seus versos coroam antes que ele seja. Seus forçados estudos médicos não respondiam a vocação alguma; os arrastram consigo largo tempo (dos anos são longos quando ficam sete de vida) e um dia —estando seguro do que fez— crava sua lanceta em um tronco de árvore, e vai a dizer-lhe a seu tutor que prefere a poesia a farmácia. Nem falar do escândalo que se arma.

Tem vinte uns anos, é 1816. Aprecia a Leigh Hunt, conhece a Shelley, devora livros e caminhos. Celebra, verte as libações, é feliz. Tempo de irmandade, presencia incessante de Tom, de George, de Fanny, dos amigos: Cowden Clarke, Haydon, Hunt, Reynolds. Para ele Hampstead (um Adrogué de Londres) contêm toda a mitologia grega, e em seu céu emprega a alçar-se a sombra dos deuses que John elegerá para sofrimento e resgate: Shakespeare. E assim lhe seguimos agora no teu caminhar. Eh, John, sigamos juntos, Quer?

Júlio Cortázar
Muito tempo hei viajado pôr os mundos do ouro,
e hei visto muitos reinos e impérios admiráveis,
E hei estado em torno de mui ocidentais ilhas
que os bardos protegem como feudos dum Apolo.

Hei ouvido falar às vezes dum vasto território
Regeu na propriedade o taciturno Homero,
mas nunca hei respirado seu ar sereno e tão puro.
Até que hei ouvido a Chapman pensar com mui ardor:

Então me hei sentido como que observa o céu
E vê um novo planeta nascer ante tua vista,
O como amplo Cortés quando com olhos de águia.

Contemplara Pacífico então todos teus homens
Se ansiavam qual atónitos e com incerteza—
Silencioso, na cimeira dum monte de Darién.





 John Keats
TRAD. ERIC PONTY





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