Pesquisar este blog

sexta-feira, janeiro 26, 2018

Amor Inoportuno - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Das duas em que lhe escolher
Tenho, não sei das quais prefira,
Pois vós sentis não querias
E eu sentiria em querer.

Com que si de qualquer lado
Quero inclinar-me, forçoso
ficar nesse um forçado
Que outro fique alterado.

Com que si a qualquer lado
Quero inclinar, sendo forçoso
ficando há um já forçado
Que outro fique descansado.

E não julgo que fará quem
Aprovando sentença tal,
Como que me trate mal
Por tratara-os a vós bem.

Mas por outra parte sinto
Que é também muito rigor
Que o que devo em amor
Pague em aborrecimento.

Há um irracional parece
Este rigor, pois se infere,
Se agonio há quem me quer
Que farei quem aborreço?

E há um irracional semelha
Este rigor, pois se infere,
Si aflijo há quem me queira
Que farei com quem aflijo?

Porém dar um meio justo
Nestas duvidas pretendo,
Pois não querendo, os ofendo,
E querendo eu me desgosto.

E sendo está a sentencia,
Porque não podeis queixar,
Que entre afligir e amar
Se raio a diferencia.

E seja esta a sentença,
Porque não os podeis queixar,
Que entre aborrecer e amar
Se raio a diferencia.

Este o discurso lhe aconselha,
Pois com esta conveniência
Nem eu fico com violência
Nem vós os apartais com queixas.

E que estaremos ínferos
Forçosos com ofereço;
Vos de ver não lhes aborreço,
Eu de saber que não quero.

Só este meio és bastante
A ajustarmos, si os contenta,
Que vos me logreis atenta
Sem eu vós passeis ao amante.

E assim fico em me entender
Esta vez bem com os dois;
Com o agradecer, com vós;
Comigo, com o não querer.

Que ao nada chegasse a dar-se
Neste desejo foi-se cumprido,
Ver que é igual ao partido
Servirá para resignar-se.

TRAD.ERIC PONTY

Nenhum comentário: