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sábado, janeiro 27, 2018

Cogita-me sem prevenção - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Cogita-me sem prevenção
Amor, astuto e já tirano:
com capa desse cortesão
se me penetrou no coração.

Descuidada da razão
e sem armas destes sentidos,
deram à porta inadvertidos;
E por lograr seus enojos,
enquanto suspendia seus olhos
me atravessei entre aos ouvidos.

Desfraldado entrou tão manhoso;
mas já que adentrou se observou
desse Paládio,  já saiu
daquele disfarce enganoso;
E, com ânimo já tão furioso,
tomando as armas em fogo,
se descobriu sendo astuto Grego
que, as iras brotando e com furores,
matando todos defensores,
passou a toda Sua Alma em fogo.

E procurando suas violências
nela ao preamos ainda mais forte,
deu ao Entendimento de sua morte,
que era Rei dessas potências;
E sem fazer diferencias
deste real a plebeia grei,
fazendo-se de geral lei
aglomeram aos punhais
os seus discursos racionais
porque eram filhos desse Rei.

A Cassandra sua o fizera
buscou, e com modos tiranos,
atou à Razão com as suas mãos,
que era da Alma de princesa.
Nos cárceres sua beleza
dos soldados já atrevidos,
lamentava eram não crentes
desastres que adivinhou,
pois por mais vozes que deu
Não ouvirão os seus sentidos.

Todo o palácio abrasado
se notou, todo destruído;
Deifobo ali malferido,
aqui Paris foi maltratado.
Prende também seu cuidado
Dessa modéstia em Polixena;
No meio de tanta aflição,
De tanta morte e confusão,
Dessa ilícita aflição
só reservada em Elena.

Já a Cidade, que vencia
Indo ao Céu, de tanto arder,
só guardava deste seu ser
os vestígios, em sua ruina.
Todo o amor que extermina;
E com o ardente furor,
só se ouve, dentre o rumor
com que sua crueldade se apoia:
"Aqui faz-se uma Alma já Troia
Sendo Vitoria por Ao Amor!"

TRAD.ERIC PONTY

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