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terça-feira, maio 01, 2018

CANCIONEIRO - Francisco Petrarca - TRAD ERIC PONTY


Esse encargo é da igreja onde divos pesares,
Deixam filtrar não raro insólito enredo;
O pastor cruzar em meio uma brenha mistérios
Que dali se espreitarem com votos familiares.

Com se ecos extensos que à distância se matizam
Numa vertiginosa e lúgubre unidade, tão casta,
Quanto à noite e quão aos cristais, os tons, às dores
E aos perfumes Nossa Senhora, há aromas frescos rosas.

Temo a recordação daqueles tempos crus
Quando Jesus subia às estátuas na cruz.
Ligeiros, cravos e tremer, fiéis sons da lira,
Que ali caçoavam sem angústia e mentira.

Serão à carne crua infantes, doces verdes prados,
E outros, já quebrados, ricos e triunfantes, fluidez jamais
Como o almíscar, carícia e as resinas do poente,
Que à glória acirram sentidos e dos mente sentem.
Francisco Petrarca
TRAD. ERIC PONTY

segunda-feira, abril 30, 2018

UM JOVEM PADRE – PAUL VALÈRY – TRAD. ERIC PONTY

Abaixo calmos ciprestes jardim clerical,
Segue jovem homem negro olhos lentos magos
Fatigado d´exegese e das palavras litúrgicas
Ele saboreia azul lazer dominical.

O ar está pleno cheiros e campanários soantes!...
Mas seminarista evocar em seu coração,
Perdões em latim vai murmurado em coro
Um sonho batalhas e armas estremecimento.

E ergueu suas mãos fazendo por ostensório
Buscando um gládio denso! Porque ele pinta olhar
Ao poente jorrando o sangue doirado doado anjo!

Cá encima! Ele pediu nadar céu claro e verde,
Entre os serafins pardos de ardores alheios,
Soado da corneta choca aço versus inferno!

PAUL VALÈRY
TRAD. ERIC PONTY

domingo, abril 29, 2018

Á TRANSMIGRAÇÃO D´ALMAS - ERIC PONTY


JONH ADAMS


Ao menino lhe cativavam às torres assustado,
A natureza é igual qual seu afã tão provinciano.
Ah, qual grande cruel mundo, da efígie alumbrada!
Se recordação ao olhar, ao fundo: quão distante!

Na manhã um dia acordamos, cabeça em flamas,
Este coração ferido nos cruéis vis pesares,
E ao ritmo das ondas nós vamos acenando,
Nosso próprio infinito pelas finitas penas.

Nos deixaram, felizes, na vil pátria possuída;
Outros, em horrível culpa; e outros mais, receosos,
Noticiários afogados nos olhos do terror,
Na canção dominante qual ritmos perigosos.

Para não ser equívocos bestas se estremecem,
Ébrios à luz e cansaço, d´ altos céus possessos;
Os céus mordedores, e as aves que se colidem,
Esfumam lentamente às torres dos desejos.

Porém viajantes só são àqueles que partem
Por partirem; corações como globos, ligeiros,
Sem que dum fatal sinal jamais se colidem,
E sempre dizer: Vamos! Ignotos passageiros.

Esses, cujos desejos cultivam quais celestiais,
E sonham, como sonha seu trovão terrorista,
Com ignotos prazeres que prometem viagens,
E que do humano espírito jamais há adivinhado.

Imitamos, terror! Sua trombeta neste eco,
Em seu brio nos brincos; até sonho, avara,
À Indiscrição nos atormenta escota,
E sendo anjo cruel que só vós flagelai.

Sorte estranha: à meta sem cessar se desprega
E, se o lugar se ignora, é quiçá impassível.
Onde o homem, que nunca esperança repulsa,
Ao falar no repouso correr quão um doido!

Alma é dum termômetro procura de iguaria;
Sobre ponte uma voz: «¡Abri os olhos!», grita,
E urge desde da coifa uma voz incendiaria:
«Amor… Glória… Riqueza! Uma roda funesta!».

Almas das torres, éticas, com prósperas orelhas
E com garras fincadas engatilhadas ao fémur,
Altiplanos aos aviões de irritações vagas
Como essa eflorescência das torres leprosas.

Hão logrado injetar, em convulsos ardores,
Sua irreal ossatura ao tisnado esqueleto,
De cimento; seus pés às tão fracas traves
Se entrelaçam durante às noites e os dias.

Sofrimentos eternos ao assento entrevados,
Notam como os sóis adelgaçam sua torre,
Aos, pegados vidros, então se fundiu ao céu,
Tremem com o grotesco sobressalto terror.

E acabam seus Assentos amando-o; à teia,
Tinta rubra cedendo ante Mouros seus sítios;
E, tecendo, ao espírito dos sóis de antanho,
Aos boquejam as espigas que tiveram os grãos.

Nos deixaram, felizes, na vil pátria possuída;
Outros, em horrível culpa; e outros mais, receosos,
Noticiários afogados nos olhares terror,
Os acribias dominantes quais ritmos dolosos.

Possuíam duma mão invisível que mata;
Ao regresso, seus olhos destilam o veneno
Que infecta olhar ferro duma torre atacada
E terminais saudando com nudez fatal!

E quando do austero sonho abateram suas vísceras,
Sobre os braços sonhar nos assentos partidos,
Os espíritos que alguém em mármore talhara
Os que se estufem supremas covas escritórios.

Flores de tinta nos pólens das frontes esculpidas
Lhes medem, ao largo de acurralados cálices,
Iguais que aos gládios num voo de libélulas,
E afiladas espigas se deslumbram aos membros!
ERIC PONTY

HOMENAGEM - À ESQUINA DO MUNDO - António Cardoso Pinto



Natural de Malanje - Angola (07.12.45). Estudou em Tomar e ingressou na Rádio, em Fevereiro de 1965, na Emissora Oficial de Angola, em Luanda. Responsável pela abertura dos Emissores Regionais de Cabinda (1970/72) e de Dalatando, (1972/75).

Em Lisboa, em 1976, depois de uma breve passagem pela redacção do jornal “A Luta”, volta à rádio, ingressando nos quadros da RDP – Antena 1, como jornalista, mais tarde como editor do “Último Jornal ” e, depois, como realizador do programa:“ Nau Catrineta ”. Fez parte do Conselho de Imprensa e foi vice-presidente do Clube dos Jornalistas. 

Na Direcção de Programas da Antena 1, integra a equipa do programa “ Imaginário ”, durante 5 anos. Vai para Oriente - Rádio Macau - em 1990, regressando à Antena 2 em 1995, onde realiza o programa “ Reflexos ”. No ano seguinte é convidado a integrar a estrutura da Antena 1, como chefe do Departamento de Programas, sendo responsável também por um programa diário de divulgação da Poesia: “ À Esquina da Um ”- 1996/98, “ À Esquina do Século ” - 1999 e “ À Esquina do Mundo ” - 2000/2003. No Arquivo Histórico da RDP existem mais de dois mil registos sonoros por si realizados. Em Junho de 2002 acumula, em regime de interinidade, o cargo de Director da Antena 1, que veio a abandonar em 31 de Janeiro de 2003. 

Vê publicado, em Março de 1999, o seu primeiro livro de poemas: “ A Lua dos Astronautas não é a Minha Lua ”, com edição da Gradiva. Em Setembro de 2002 é lançado pelo Orpheu Digital, Caxias do Sul, Brasil, o livro de poemas: “Reflexos” - edição bilingue: português e espanhol (tradução de Lorenzo Pellegrin) - com distribuição na América Latina e Espanha.



António Cardoso Pinto

sexta-feira, abril 27, 2018

HART CRANE (1899-1932) POEMAS - TRAD. ERIC PONTY


     
Ice, (o Harold) Hart (1899-1932), poeta lírico americano, é conhecido pela sua habilidade meticulosa e disciplinada, a celebração dos aspectos positivos da vida urbana e industrial moderna.



           Crane nasceu em 21 de julho de 1899, em Garrettsville, Ohio. Ele teve que morar com a avó materna em Cleveland de 1909 até o divórcio dos pais em 1916, quando deixou a escola secundaria e foi para Cidade de Nova Iorque. Lá foi estimulado pelo mundo literário, mas estava impossibilitado de se manter escrevendo. Finalmente, em 1921, se separou do pai, e escrever poesia passou a ser seu principal objetivo. Sua vida pessoal estava no processo de formação de uma mistura caótica de alcoolismo e homossexualidade.



           No Brasil Hart Crane é praticamente conhecido apenas em pequenos círculos de literatura e o seu poema Louvor Para Uma Urna, traduzido entre nós primeiro por Oswaldino Marques, depois Augusto de Campos e Bruno Tolentino, foi mais motivo de affaire do que propriamente uma discussão proveitosa na divulgação de sua poética.



Falecimento: 27 de abril de 1932, Golfo do México
À Uma Ponte Do Brooklyn

Quando o alvorecer apagar-se, resta-nos um calafrio
A asa da gaivota irá emergir e girar-se-á inspirada,
Derramando anéis brancos de tumulto, construindo alta,
Em cima da baía encadeada, onde molha a Liberdade.

Tal como  marfim curvo que cede nossos olhos
Como ilusórias velas de um veleiro que se cruzam
Alguns comentam ser imagens a serem guardadas;
Até que ascensor nos disfarce o nosso dia...

Penso nos cinemas, nos truques panorâmicos,
Com multidões presas para alguma cena reluzente
nunca descoberta, mas para acelerar novamente,
Profetizando aos outros olhos na mesma cena;

E vós, pelo porto, de passos prateados
Feito um o sol que surge, abandonado de vosso passo
Daquela sensação sempre por espreguiçar-se,
Implica-nos igualmente vossa liberdade!

Fora de alguma escotilha de metrô, cela ou sótão
Um encosto laminado acelera os vossos parapeitos,
Espreguiça-se um momento, feito uma camisa folgada,
E um gracejo desaba da caravana muda.

Em Down Wall, uma viga mestra vaza ao meio-dia a rua,
Um rasgo de dente do acetileno do céu;
Durante à tarde tornando-se guindastes de áreas- nuvens...
Vosso cabo murmurando o silêncio do Atlântico Norte.

E se obscurece como daquele céu dos judeus,
A Vossa Recompensa... Vos Aguarda para que realmente doais
De um tempo de anonimato não pode ser glorificado:
Tremo nesta constatação e perdoo que vós me mostrais.

Tocarem à harpa e neste altar, nesta fúria fundida,
(Como mera labuta alinha cordas do coro que vós encadeais!)
Entrada terrificada do empenhado profeta,
Duma oração de pária e o grito de amante,

Além disso os semáforos desatam-se da vossa pressa
Fala não dividida; — o suspiro imaculado de estrelas,
Encaminhando vosso caminho-condensado da eternidade:
E eu venho à noite erguido em vossos braços.

Debaixo de vós sombreia pelos cais que eu esperei;
Somente na escuridão vossa sombra é viva.
Os ferozes pacotes da cidade todos desfeitos
Já neve submergindo pelo ano férreo...

O Insone, como o rio sob vós
Saltar  sobre  mar, o gramado sonhador de pradarias,
Até nós os mais humildes algum dia varram, e desçam
Desta curvatura conferida ao mito a Deus.

Louvor Para Uma Urna

Era uma face amável do norte
Isso criou o disfarce de exilado
Os olhos perpétuos de Pierrô
E De Gargântua, e do seu riso.

Em seus pensamentos entregues a mim,
Na colcha branca do travesseiro
Eu percebo agora, eram heranças
Cavaleiros delicados da tempestade.

A lua inclinada na colina tendente
Uma vez orientada em nossos pressentimentos
Do que o morto mantém vivo ainda
Em tais existências desta alma.

Empoleirado na entrada do crematório,
O relógio insistente comentava
Tocando bem em nosso elogio
Destas glórias formais do tempo.

Ainda, tendo em meio ao cabelo douro,
Eu não posso ver àquela sobrancelha presa
E que se perde no som seco de abelhas
Estiradas por um espaço lúcido.

Lavre estas palavras bem-significadas.
Na primaveril fonte enfumaçada enchida
Nos subúrbios onde elas irão por último.
Estes não são nenhuns troféus do sol.


HART CRANE
TRAD. ERIC PONTY

quinta-feira, abril 26, 2018

Evangelho de Mateus

 "Onde seu tesouro está, estará também seu coração".



RAINHA. — Aos dois dou bem-vinda ao chão espanhol, chevalier.
MARQUÉS. — Nunca hei estado mais orgulhoso que possa considerá-lo minha pátria.
RAINHA. — (Para duas damas.) O marquês de Poza rompeu uma aliança com meu pai nas justas de Reims e fiz que minhas cores triunfarem três vezes. É o primeiro de sua nação que me ensinou à sentir a honra que supõe ser à rainha dos espanhóis. (Retornando ao Marquês.) Quando nos vimos pela última vez no Louvre seguro que não sonhais que serias meu enviado na Castilha, Chevalier.
MARQUÉS. — Não, grande Majestade, já que, contudo, não podias nem sonhar com que França nos cederia o único que realmente nós lhes ansiávamos.
RAINHA. — Orgulhoso espanhol! O único? E lhe dizes isso à uma filha da casa de Valois?
MARQUÉS. — Agora que possa dize-lo, majestade, já que agora nos pertenceis.
RAINHA. — Vossa viajem, pôr o que hei escutado, também os hei levado pela França. Que notícias me trouxeste de minha venerada mãe e de meus adorados irmãos?
Friedrich Schiller


CAVALEIRO DE BRONZE

Nestas orelhas tão das desertas ondas
Nos grandiosos desígnios estão ocupados
se falava Ele, admirando fazia-os distantes.
Ante seus olhos se desaboçava o rio
Nele que um pobre esquife navegava.
Aqui e ali achavam cabanas tão miseráveis.
Abrigo dos pobres finlandeses,
Acobertavam os riachos pantanosos,
E bosques ignorados por seus raios
Dum Sol sempre oculto entre à neve
Por onde quiser ressolhavam no ar.

E tendo já pensado consigo:
«Desde aqui difundirei pavor ao sueco
E os encharcarei de cimentos duma cidade
Para irritar a esse vizinho altivo.
Aqui nos ordenaste então à Natureza.
Aleksandr Pushkin

ODE AO DEVER

Severidade, filha da voz de Deus!
ô dever! Se, tu amas este nome
que é uma luz a orientar, uma vara
Ao corrigir o errático, e reprender;
Tu, que és a lei e a vitória
Quando os terrores vazios sobrevêm;
nos liberas das tentações vãs;
E calmas a discussão fatigosa da frágil humanidade.

Há quem não perguntam sem teu olho
lhes vigila; quem, por amor e verdade,
Sem receios, nos confiam
Na genial sensação da juventude:
São alegres corações! Sem reprochar ou desmoronar,
Aqueles a quem atuas, e não o sabem:
Ô! Se por culpa das confianças desviadas fracassam,
Teus braços salvadores, pavoroso poder! Os refugiam.

Serenos serão nossos dias, e brilhantes,
Sendo feliz nossa natureza,
Quando ao amor seja uma luz infalível,
E a alegria sua própria seguridade.
Inclusive agora, podendo seguir um curso feliz,
Quem, sem imprudentes audácias,
viva no espírito deste credo;
Assim buscaram teu firme apoio, segundo suas necessidades.

Eu, amante da vontade, e bisonho;
Sem comprazer-me em cada arrebato fortuito,
Pese ao ser o guia de mim mesmo,
Cegamente havendo descansado de minha responsabilidade:
E, um menino, quando pia em meu coração
tu tímido mandato, eu o deferiria.
À tarefa, fazia rodas mais doces pôr às que perder-se;
Porém agora te servirei mais estreito, se sou eu capaz!

Sem atravessar nenhuma perturbação d´alma
E sim profundos remordimentos gravados em mim
suplico-te por teu domínio;
Na quietude do pensamento:
me fatiga esta liberdade inexplorada;
Sinto o peso de meus desejos mutantes:
minhas esperanças já não devem alterar mais seu nome,
Alheio um repouso que seja sempre idêntico.

William Wordsworth
ANNABEL LEE

Faz já bastantes anos, num reino mais,
Além-mar vivia guria podeis aceitar,
Com nome de Annabel Lee. Essa guria
Vivia sem nenhum outro anexim que amar
-Me e ao ser amada então por mim.

Eu era menino ela era uma guria neste
Reino mais ali ao mar; mas Annabel Lee
Nós amávamos com um amor que era mais
Que o amor; um amor tão intenso que esses
Os Serafins do céu nós invejavam.

Esta foi à razão por qual, faz já bastante
Tempo, neste reino mais longe do mar
Sopro descendeu da nuvem, fez a mim
Bela Annabel Lee; de sorte que seus pais
Chegaram e se a levaram longe de mim
Prenda-lá cova, reino mais longe do mar.

Os anjos que no céu não se sentiam nem
Metade felizes que nós já fomos
Invejavam alegria ela a mim. Hei ali
Porque (como cada um sabe esse reino
Mais longe mar) sopro descendeu desde
Á noite duma nuvem, velar Annabel Lee.

Porém nosso amor era mais forte ele
Amor daqueles nos alentavam idade
Em saber, nem anjos do céu nem os diabos
Dos abismos do mar poderiam separar.
Jamais m´alma d´alma bela Annabel Lee.

Porque à lua jamais resplandece sem trair-me
Recordo da bela Annabel Lee; e quando
As estrelas se erguem, creio ver brilhar os
Olhar Bela Annabel Lee; e assim passou cedes
Noites tidas lado minha valiosa, — mim
valiosa, minha vida e minha dona, — que
Está abordada cova mais ali do mar.

Na cova, bordo do mar comovedor.
Edgar Allan Poe

Eu sou o Tenebroso, — Viúvo, — O sem Consolo,
Príncipe de Aquitânia desta Torre abolida:
Minha una dita há morta, — meu alaúde crivado,
Também desvia do Sol negro da Melancolia.

Na noturna Tumba, tu que me consolaste,
Devolva-me o Pausílipo e o Mar italiano,
À flor que preferia meu peito desolado,
E ramo no que Videira com a Rosa unir.

Sou Amor o Sou Febo…? ¿Lusignan Pasto vasto?
Minha frente há um está roxa beijo da Rainha,
Nesta Gruta em que nada à Sereia hei sonhado…

E o vencedor duas vezes traspusesse Aqueronte:
E modulando tão pronto sua lira de Orfeu,
Suspiros da Santa, — como dos gritos de Fada.

Gérard de Nerval
TRAD. ERIC PONTY

quarta-feira, abril 25, 2018

Ao Doutor Francisco Díaz - Miguel de Cervantes


Da Virgem sem par, Santa e Bendita,
(Digo, de seus louvores), justamente,
Fazes ao rico, sem igual presente
Ao sem par batizada Margarita.

Dando-lhe, ficar rico, e fica escrita, 
Tua fama em folhas metais luzente,
Que, ao despeito e pesar diligente,
Tempo, será seu findar infinita:

Sendo feliz ao sujeito que escolheste,
Feliz na ocasião que te deste Céu,
Ao oferecer à Virgem virgíneo canto;

É venturoso também porque fizeste,
Que deem às Musas do hispano chão,
Admiração ao grego, etrusco espanto.

Miguel de Cervantes
TRAD. ERIC PONTY

terça-feira, abril 24, 2018

DOIS CLÁSSICOS

Canção Outonal

Hoje sentar-me no coração
Num vago tremor de estrelas,
Porém minha via se perde
N´alma da neve.
A luz me tronca às asas
Sendo à dor de minha tristeza
Vai regando as memórias
Na fonte da ideia.
Todas às rosas são brancas,
Tão brancas como minha pena,
E não são às rosas brancas,
Que hão nevado sobre elas.

Antes tiveram à Íris.
Também sobre alma nevada.
Sendo neve d´alma teve
copos de beijos e cenas
Que se fundiram na sombra,
Nós dá luz do que pensa.
A neve cair das rosas,
Porém d´ alma ficou,
Sendo à garra dos anos
Fez um sudário com elas.
Se desvairá com à neve
Quando à morte nos levar?

O depois nos fará outra neve
E outras rosas mais perfeitas?
Serão à paz conosco
Como Cristo nos ensinou?
O nunca será possível
A solução do problema?
E se ao amor nos enganar?
Quem à vida nos alentará
Se o crepúsculo nos fundiu
Na verdadeira ciência
Do Bem que quiçá não exista.
E do Mal que late cerca?
Se a esperança se apaga
E a Babel se abanca,
Que tocha iluminará
os caminhos na Terra?

Se o azul apenas devaneio,
Que será da inocência?
Que será do coração
Se Amor não têm flechas?

Se à morte que é a morte,
Que será então dos poetas
E das coisas adormecidas
Que já nada às recorda?

Ô Sol das esperanças!
D’água clara! Lua nova!
Corações dos meninos!
Almas rudes das pedras!

Hoje sentei-me no coração,
Num vago tremor de estrelas
E todas às rosas sendo estão
Brancas como  minha pena.
Federico García Lorca 
TRAD. ERIC PONTY

Na oração, que desaterra a terra
Quer Deus que a quem está o cuidado dado
Pregue que a vida é emprestado estado
Mistérios mil que desenterra enterra.

Quem não cuida de si, que é terra erra
Que o alto Rei, por afamado amado
É quem lhe assiste ao desvelado lado
Da morte ao ar não desaferra aferra.

Quem do mundo a mortal loucura cura
A vontade de Deus sagrada agrada
Firmar-lhe a vida em atadura dura.

O voz zelosa, que dobrada brada
Já sei que a flor da formosura, usura
Será no fim dessa jornada nada.
Gregório de Matos

segunda-feira, abril 23, 2018

La Vision Après Le Sermon - Paul Gauguin - ERIC PONTY


Sou pluma de as aves terrestres ser pluma, d´amada.
Amantes e curadores, porém dizer: Que disgra!
Quando alcei ao ar, se rebelou do céu azul,
Eu destruí o azul e ao mar seguindo as rubras pedras.

Amantes e curadores, porém dizer: Que disgra!
Quem podem superar ou ser igual? Ato humano,
São parecido que uma sombra esculpida sonho insano;
Sendo ânsia das proezas, qualquer um vaivém pueril.

Sonhava quanto à lei minha voz ecoou todo Minério,
Leiam às nuvens ao seu sinal meu olhar, vós ergui,
Sou canto influente se fez ossos qual mais antigos.

Te hei esgotado até ao fundo, ô prestígio chão!
Aqui estou só mim, esvaecido em minha singeleza!
Sou pluma de as aves terrestres ser pluma, d´amada.

ERIC PONTY



domingo, abril 22, 2018

ELEGIA - ERIC PONTY


Somos dum signo só, e assim fazemos sentido.
Estávamos sem sofrimento e quase ficamos silentes
Havíamos perdido nossos dizeres feitos em terra estranha.
Quando existiam discussões no céu
Sobre o homem, às luas traçam seus destinos,
No curso intenso, ecoar o mar entre às correntes
Então nos sussurra, ficaram recorrendo aos caules.

Havendo só um
Este que tendo firmeza.

Sendo que nos poderá
Transformar em qualquer coisa. Não sendo imperioso
Leis. Apesar disso às folhas rumorejar e tremulam
Junto das palmeiras. Porque mesmo os Celestes
Não obtiveram tudo. Porém os mortais abordaram antes
Do princípio à margem de qualquer abismo.
ERIC PONTY

sexta-feira, abril 20, 2018

FRIEDRICH NIETZSCHE - TRAD. ERIC PONTY

IN MEMORIAN DE DOM PEDRO II


AO MEU LEITOR

Formoso colmilho e formoso estômago,
Sendo isto que é somente te desejo!
Quando ao meu livro que tenhas provado,
Sem dúvida ti levarei bem junto comigo.

SOLITÁRIO

Já que então grasnaram às suas cornetas
E alentando se conduziram à cidade,
Logo se irá iniciar à nevasca,
Sendo feliz homem daquele quem tem pátria!

Agora tudo que esteja petrificado
E olhando notará atrás quanto tempo haverá de ter passado!
Por que hei sido considerado igual louco, pelo mundo.

Agora que deste inverno tanto nos abordou?
O mundo se pôs: tão mudo e já tão gélido
Sendo que estejam abertos aos mil desertos.
Quem enfim perdeu o que tu perdeste,
Em parte alguma há de se prender outra vez.

Agora que esteja tão pálido,
Execrado à uma viagem de inverno,
Ao humo semelhante,
Que sem cessar tendeu ao mais frios dos céus.
Regressando, ave, grasnar em tua canção
Em torno da ave desértica!

Abrigando, à loucura, no céu e no desprezo
Em teu sanguinário coração!
Já que então grasnaram às suas cornetas
Alentando se conduziram a esta cidade,
Logo se irá iniciar à sua nevasca.
Sendo infeliz daquele que necessita duma pátria!

ESFOLANDO À PLUMA

Ferindo à pluma à tentação!
Estarei eternamente condenado a esfolá-la?
Acontecendo que estou a me lançar ao tinteiro
E escrevo com estes espessos riachos de tinta.
Não há igual fluidez, que haja na plenitude, que mão!
Ainda bem que me sai, e, que bem isto estou a fazer!
Talvez em meu texto lhe falte tal clareza –
E que por fim? Afinal que irá ler o que eu escrevo.

FRIEDRICH NIETZSCHE
TRAD. ERIC PONTY

POETA, DE FATO. - JOÃO DA PENHA


Cantar, todo mundo canta, mas cantores só há uns dez ou doze.
A boutade, dizem, é de Frank Sinatra, cujas notabilíssimas habilidades no ofício vocal - me parece - não foram contestadas até hoje.

Parafraseando a tirada do grande cantor norte-americano, pode-se dizer também que não há tantos poetas assim no mundo - aqui e alhures, ontem e hoje. Desconfio que nunca haverá muitos poetas, ou pelo menos muitos grandes poetas. Pelo menos, estou convicto, não tantos quanto sugere o crescente número de coletâneas, editadas, por artes de estratégia mercadológica, justamente sob títulos hiperbólicos.

 O exercício poético muitos o exercem, ou imaginam exercitá-lo. Mas fazer grande poesia é graça concedida a uma minoria; a uma casta de eleitos, portanto.

Quem o detém, quem sabe lê-lo, interpretar suas coordenadas, conduz os demais, ou seja, a todos nós, que formamos essa maioria alijada, como criadores, do território poético, só o percorrendo, se sensível às Musas, como visitantes, como viandantes. Aos carentes de sensibilidade, o passeio por esse território não passará de mero turismo - se tanto.

Schiller, a propósito, já advertiu que não basta criar bons versos para que seu autor se considere um poeta. Ora, fazer versos, quase todo mundo, em algum momento da vida, já fez. Fazer POESIA, no entanto, é estrada percorrida pela minoria a que nos referimos acima. Só ela, essa casta de eleitos, tem o mapa da trilha. Eric Ponty tem o mapa da trilha. É um autêntico poeta. Poeta amadurecido (Ripeness is all. A maturidade é tudo, disse-nos o supremo bardo no "Rei Lear"). Poeta, dono de seu ofício. Poeta que atingiu o pleno domínio do fazer poético.

Sua virtuosidade poética, Ponty já mostrou e demonstrou no magnífico ”Menino Retirante Vai Ao Circo Em Brodowski" (Editora Musa, São Paulo, 2003). Neste Livro com sua tradução, nosso poeta só faz reafirmá-la. Por exemplo quando traduz o poema em versos alexandrinos “A fiandeira” de Paul Valéry, que nos faz lembrar a prosa socrática de Paul Valéry em Eupalinos Lame et la Danse Dialogue De L arbre:

A fiandeira

Sentada a fiandeira azul ao carpir à lã,
Num jardim melodioso que ela cabeceia,
Há fiandeira antiga toa roncando embriagada.

Cansada do absolvido azul, tecido ao mimar,
Cabeleira, em seu dedo de fraqueza evasiva,
Ela sonha, e, sua cabeça pequena se inclina.

Um arbusto e puro ar fonte uma fonte viva,
Que lustrado dia, delicadeza regar,
Das pobres flores do jardim de ociosidade.

Um caule, ao vento vagabundo este repousa,
Curva-se no aceno em vão da graça estrelada,
É votada magnifica, à velha roca, à rosada. 

Mas, dormioca duma fila da lã isolada;
Misteriosamente sombra frágil se trança
Fios seus dedos longos que cochilam, tecer.

O sonho ao se cambalear com uma preguiça,
Angelical, sem cessar, num doce fuso crédulo,
É desta cabeleira ondular desta tua carícia.

Detrás de tantas flores, o azul dissimula,
Á Fiandeira da folhagem e da luz vestida:
Todo céu verde morreu. Último cedro queimado.

Tua irmã, à da grande rosa graceja santa,
Perfume de tua fronte vaga ao vento de teu hálito,
Inocente, e o brotar enlanguescer... tu és abrida.
Azul cruzando ao teu filamento feito à lã.

Se, como nos diz Ponty num dos poemas traduzidos de William Shakespeare, cujo abrevio de Próspero de à Tempestade:

Agora está magia não sendo às minhas,
Só eu me transporto estás minhas forças,
Que são paupérrimas. Sem às complacências,
Retenha-me aqui, deixar-me em paz,
Partindo Nápoles. Com todas às coisas,
Já com este ducado reconquisto
Apesar não perdoar ao traidor jamais,
Não ficarei enfeitiçado tão só
Nesta ilha, cheia deste encanto,
Libertai-me com este vosso aplauso.
Vosso alento preenchei minhas velas,
Ou então fracassará está minha ideia,
Que foi agradar. Sem nenhum domínio,
Sobre os espíritos com seus feitiços,
Me vencendo este meu desalento,
Se não me alivia alguma reza,
Tal sentido que emocione então
Ao céu me perdoei-me tais erros.
Igual por pecares rogais clemência,
Libertai-me também vossa indulgência.


Sendo também não é menos verdade que devemos ouvir o que os poetas nos têm a dizer (poucos   decifram melhor o mundo do que os poetas, vizinhos que são dos filósofos). Eric Ponty, no apogeu de sua força criadora, muito nos tem a dizer através destas traduções devendo ser creditado por sua reflexão sustentada, por uma voz lírica, e convite para ver a vida não como sujeito estéril, mas como uma dinâmica complexa que tem seu próprio extraordinário design e imago de verdade.

APOLO

E eu cresci sob o Sol de Élson
Minutos de expressão
Só que de trevas e
                           Antes de me abrir meus olhos
                           Estava escoltado
 Pela lei da bobagem
Nasceu alucinada à margem
Foi acusada de heresia
  Duma conflagração nesta ao desfazer
  Mesmo antes que eu pudesse articular
Qual suspiro ou exclamação ao mendigar
Eu ajuntei toda à minha força
Na opção duma data com à morte
                        Horas antes semelhava

 Nos meus braços da minha mãe
Ser Festa dum recém-nascido
Dum erro admitido
Qual duas pernas só num pé
         Dum coração como se
         Sentíssemos essa emoção
         Doutros traços humanos
        Desta mesma grandeza.

 Essa defesa podemos traduzi-la como o reconhecimento de que os poetas habitam uma província onde a lógica não se curva docilmente aos princípios que regem o mundo empírico (nada é mais real do que o nada, pregava o pré-socrático Demócrito). Os poetas sabem disso. Por isso sua lógica particular. Particular, mas não arbitrária. Particular porque só eles têm a "chave do reino".

Croce e Vossler, a lembrança me vem agora, polemizaram em torno da frase: "A mesa redonda é quadrada". Para o pensador italiano, a frase se resumiria a uma ausência total de sentido, ilógica, enquanto o crítico alemão a viu como verdadeira, pois estética e gramaticalmente válida, pouco lhe importando que logicamente impossível. Vossler, como tantos outros, antes e depois dele, percebeu que o poeta é aquele que cria realidades. Poetas são criadores de mundos. Por isso, nos poemas traduzidos por Eric Ponty, músico, além de poeta, segue o conselho wagneriano de que o poeta outra coisa não faz a não ser estimular o entendimento, levando o leitor a efetuar novas combinações em cima das matérias já conhecidas por meio da percepção sensorial.

Sendo também não é menos verdade que devemos ouvir o que os poetas nos têm a dizer (poucos   decifram melhor o mundo do que os poetas, vizinhos que são dos filósofos). Eric Ponty, no apogeu de sua força criadora, muito nos tem a dizer através destas traduções devendo ser creditado por sua reflexão sustentada, por uma voz lírica, e convite para ver a vida não como sujeito estéril, mas como uma dinâmica complexa que tem seu próprio extraordinário design e imago de verdade.

É urgente que ouçamos sua voz, através da tradução do poeta-tradutor Ponty, e, qual é uma das mais talentosas de seu tempo.

João da Penha, jornalista e professor aposentado, colaborou em publicações culturais como Encontros com a Civilização Brasileira, Cult e Tempo Brasileiro. Autor, dentre outros livros, de O que é existencialismo (Brasiliense, 2011, 17. ed.) e Períodos Filosóficos (Ática 2000, 4. ed.), traduziu para revistas e jornais poemas dos russos Sierguêi Iessiênin e Alieksandr Blok, e contos de José Maria Argüedas, Júlio Cortázar e Gabriel García Márquez, publicados em Os primeiros contos de dez mestres da narrativa latino-americana (Paz e Terra, 1978). Como ler Wittgenstein. São Paulo: Paulus, 2013.  

quarta-feira, abril 18, 2018

SONHO ANGELICAL - ERIC PONTY


Ante este casario está sentado sossegadamente,
O lavrador, tão sóbrio adubando à sua horta.
Hospitaleira sonhando com perambulante,
O povo pacífico na cabana da tarde.

Também por certo volvem cá os barqueiros porto,
Nas cidades, alegres dissipam-se mercado,
Neste ruído laborioso; está discreta ramagem,
Estão brilhando aos amigos à cena afáveis.

E mas onde estarei? Os mortais vivem lavra rosário,
Mudam de esforço e descanso todos alegres,
Por que pois nunca adormecem comigo espinha.

Chegou agora, suave sonho! Supino deseja,
Coração; mas, afinal, ao frescor te extinguiu,
Porém tu, inquieta, sonhadora tão pacífica,
Tão serena, contudo toda está antiguidade.

ERIC PONTY

La Belle Dame Sans Merci - JOHN KEATS - TRAD. ERIC PONTY



Ô, nos careceria de enfadar-nos
Cavaleiro d´armas, só 
Pálido vadio?

O junco secou teu lago,
Sem qualquer ave seduzir.

Que nos poderia enfadar-nos,
Ô Cavaleiro de armas,
Tão enfraquecido e tão infeliz?

Celeiro do Esquilo coalhado
E à colheita está perpetrada.

Observo dum lírio em sua testa
Com esta angústia úmida febril.

Suas bochechas são quais rosas
desvanecer-se.
Tão veloz também já murcharam.

Conheci à senhora nos meadores,
Tão formosa, qual criança de fada;

Seu cabelo era longo,
Pé ligeiro e olhos
Eram quão selvagens.

Eu fiz à guirlanda à cabeça dela
Pulseiras também em zona fragrante;

Me admirava quão amava
E fez de mim doce soluço.

Eu à pus no meu corcel dei passo,
Nada mais vi durante dia todo.
De soslaio, dobraria e cantaria
Duma canção de fada.

De soslaio se dobraria e cantaria
Duma canção qual sendo uma fada.

E com certeza em linguagem estranha,
Disse - Ti amo qual à verdade.

Ela me levou ao seu campo de elfin
E lá ela chorou suspirando dolorosa.

E lá fechei seus olhos tão selvagens
Com quatros beijos.

E lá me embalando ao adormecer,
E lá eu sonhei - Ah! Ai de mim!

O último sonho eu sonhei
No lado da colina gelada.

Nós então choramos — "La belle dame sans merci
À ti me entrego escravizado!

Eu vi seus lábios famintos brilharem
Com um aviso horrível desempetido.

E eu acordei e me achei aqui
Ao lado desta colina gelada.

E é por isso que eu pernoito aqui,
Tão só e desocupado qual um vadio.

Contudo o junco esteja apartado do lago
E nenhuma ave esteja à cantarolar.

JOHN KEATS
 TRAD. ERIC PONTY

Soneto à Ciência - Edgar Allan Poe - TRAD. ERIC PONTY

Ciência! Exata filha velho tempo tua arte!
Quem demuda todas coisas com teus olhos.
Por que vieste assim sobre o cerne do poeta,
Falcão, cujas asas são fatos maçantes?

Como ele deveria te amar? Como te julgas sábia,
Quem não os deixaria em sua busca o tesouro 
Nos céus de joias, ainda que ele se elevou 
Com uma asa indomável? Não arrancaste Diana.

Do teu carro, conduz hamadríade madeira,
Ao buscar abrigo qualquer fado mais feliz?

Não nos arrancaste náiade ao teu dilúvio,
Duende da grama verde, zelando por mim
O sonho de verão sob cedro tamarinho?

Edgar Allan Poe
TRAD. ERIC PONTY

3 Sonetos - John Clare - TRAD. ERIC PONTY

Lar 

Ô casa, entanto caseira - pensamentos de ti
Nunca pude deixar de aplaudir peito falta;
Quão vezes fero êxtase -ter sido doído em mim,
Retornar atrás, dum fatigado e perigo;

Quão vezes eu parei ao ver à lareira 
Densas nuvens de fumo em lajes leve azuis,
E, já abaixo, flor amarela casa-alho-porro,
Enquanto se beira breve numa visão mais adjunta.

Estas, então são ninharias, já deram prazer;
Nunca agora levam-me fundo desejado,
Pintam o grupo noturno antes à minha vista.

 São amigos e iguais sentados entorno do fogo.
Ô Era! Quão fluxo veloz fazem teus tempos,
Mudanças cena alegria às cenas de aflição.

 O Túmulo 

Certo meditar sobre pedra raspada,
Anseio saber quem pô fez calar,
Penso ansioso sobre o pode demonstrar-se,
Data ilusória busca brotar ervas daninhas;

Alvo prova seco - Tanto ao tempo e o nome
Tinha pico a idades arriscados ao olvido.
Sol continua a ser ornamento esculpido
Deu-nos prova crível de laurel à fama:

Busca fiz à minha visão tanto de tormento,
Naquela época, questionava expor ideia;
Alvo cedo constatou- "É o que é há ti!

Pó se achou cá? - Uma vez queres ser breve
Olvidou quão ele - Então Era deve te ordena ir
Puro êxtase céu, ou aí aflição do inferno ".

As Dores de Amigo

Velho carvalho marrom lavrou o pau em paz,
Quão é doce à sua paz calmante soia ser;
Pode abençoar e ainda, quão faz pensar o humor,
Fim agora confusão se adapte o melhor de mim.

"É por amor," a brisa soprou-nos à dizer,
"Ceder nossa floresta silenciosa aqui?
É por amor, se movimentar tão longe
De ainda sombreia correr onça tão caro? "

"Não, brisas, não!" - Respondo com um suspiro,
"Ao amor nunca pode muito chorar meu peito;
Colina, meu amigo! - Ai de mim! Tão cedo finar-se –

 Essa sendo à queixa me pressionou ao sair:
Apesar ruído não curar, pode aroma alguns rogar;
Desígnio Silente irritou às feridas de aflição ".

 JOHN CLARE
TRAD. ERIC PONTY

Don Francisco de Quevedo y Villegas - TRAD. ERIC PONTY

Sem ser um juiz deste estrago,
Ao julgar às faltas me agrada,
Não podendo haver carregadas,
Que tenha mais, se nota trago,
Pois sem existir de ser sido
Um cronista, me hei de metido
A expurgar alienadas vidas.
Conserta-me destas medidas.

À outra louca de eternal,
Aprecia-se envolta nos trapos,
De se ter boas baixas farrapos,
Que duma igrejinha Real.
De pernas é seu caudal
Toda é pernas, julgam a rês,
branca com o fundo em pés
E das fascinações curtidas,
Conserta-me dessas medidas.

O doutor que em medicina,
mais esperto e mais bizarro,
É duma condição de carruagem,
que não são úteis, se buzina.
Ao pulso da mão se inclina,
e anseia (vê-se que invenção!)
que se tem do belo dobrão,
pelas infernais das bebidas.
Conserta-me dessas medidas.

Que sua limpeza se exagere,
porque anda ao mundo de um revés,
comer de um porco não quer,
que lagarto rubro lhe espere,
que algum de espera ao Senhor,
o que conteve por favor
as aspas tão descoloridas.
Conserta-me dessas medidas.

Culpa àquele valente dá,
na pendência, que se fez roda,
a sua espada que se tão queda,
sendo que dele que carrega.
E como da virgem está
à espada que se vê desnuda,
de honesta se viu, e tão muda
Nesta clausura das feridas.
Conserta-me dessas medidas.

Coragem é que sua mulher,
vê maridinho falso querer,
Ser vestido ele não expõe,
Outro expôs por haver lhe põs.
Que nos queira fazer-nos crer,
Sem justiça, ou sem razão,
Que não sendo dum Santo Antão,
Um corvo se traí suas comidas.
Conserta-me dessas medidas.
Don Francisco de Quevedo
 TRAD. ERIC PONTY

terça-feira, abril 17, 2018

A TRISTIA - OVÌDIO - TRAD. ERIC PONTY


Ô Pequeno livrinho meu
(E não te desprecio de telo escrito),
Sem mim irás à cidade de Roma,
Ai de mim!  Coitado de mim!

Onde ao teu dono não sejas permitido abraçar.
Sigas, porém sem os adornos,
Qual convém há um desterrado:
Percorreste, infeliz, o imaginando
Adequado este infeliz de circunstância.

Que não te envolvam as adelfas com sua cor corada,
Já que essa cor não se convém
Muito bem em ocasiões de tristeza;
Nem ti escrevas teu título com mínio,
Nem te embelezem tuas folhas de papiro
Com o azeite de cedro.

Nem leves brancos discos em uma negra fronte.
Fiquem esses adornos aos livrinhos felizes;
Da sua parte, não deves esquecer minha triste condição.

Que nem se quer espalmem teus cantos
Com frágil pedra polmes,
Ao fim que apareças arrogante,
Com às madeixas desregradas
Não te envergonhes dos borrões:
O que os vejam pensarão que hão sido
Feitos com minhas próprias lamúrias.

Lembra-te, livrinho, e comemore com
Palavras minhas todos lugares prezados:
Os tocarei, ao menos, com o pé
Com que este está admitido
Fazê-lo.

Se alguém, como advém dentre povo,
Não se há olvidado ali de mim,
Si tiver alguém que, por casualidade,
Ti perguntares como estou, lhe dirás
Que estou vivo, porém não demasiado bem,
E há por isso, feito de viver,
O devo ao favor dum Deus.
OVÍDIO
TRAD. ERIC PONTY

Há um capitão do navio - Rafael Alberti - TRAD. ERIC PONTY

Homme libre, toujours tu chériras la mer!
    CH. BAUDELAIRE
Sobre teu navio — um dado verde de algas marinhas,
De moluscos, de conchas, de esmeralda estelar—,
Capitão dos ventos e das borboletas,
Foste jaz condecorado por um golpe do mar.

Por ti os litorais de frentes serpentinas,
Desenrolam ao passo de tu arado um cantar:
Marinheiro, homem livre, que os mares declinas,
Ousado dos radiogramas de tua estrela Polar.

Bom marinheiro, filho dos cantos do Norte,
Limão do meio dia, bandeira da corte
Espumosa d´agua, caçador de sereias;
Todos os litorais amarrados, do mundo,
Pedimos que nos leves no surco profundo
De teu navio, ao mar, caminhos nossas cadeias.
 Rafael Alberti
 TRAD. ERIC PONTY





O CALDO - PAUL VALÈRY - TRAD. ERIC PONTY



Tremura, cova veloz… Foi sopro te amou, Caldo,
Ti trouxeste tremura em ti sonhar duns ombros…
Brisa? … Dum suspiro, tão simples e inesperado,
Que exalo por teu amor neste jardim flutuante.
Minha surpresa em que flores burlam mal de ansiar
Estes passos, voz, mão, todo ser tão terno logo,
Esta tua toda minha que sinto transformar-se,
Há quem à hora padeceu pode findo ti unir-me
E que nos apropinquar-se! … Assim ti percebi…

Minha boca ao teu fenecimento te refugiou!
Assenta o cerceamento tremor ramagem n´alma,
E meus olhos, estão cobertos da ramagem do dia,
Te abordou detrás de mim, toda à rosa de amor...

Tremura, cova veloz… Foi sopro te amou, Caldo,
Mas já não necessito sonhar-te com uns ombros,
Este sopro não é sendo sopro dum só coração…
Padeceu o tempo vencido, e o beijo vencedor,
Ausência sem nome de quem um nome me liberta,
Aos largos sorvos bebi à sombra flama fez viver!

 PAUL VALÈRY
TRAD. ERIC PONTY