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quarta-feira, abril 18, 2018

Don Francisco de Quevedo y Villegas - TRAD. ERIC PONTY

Sem ser um juiz deste estrago,
Ao julgar às faltas me agrada,
Não podendo haver carregadas,
Que tenha mais, se nota trago,
Pois sem existir de ser sido
Um cronista, me hei de metido
A expurgar alienadas vidas.
Conserta-me destas medidas.

À outra louca de eternal,
Aprecia-se envolta nos trapos,
De se ter boas baixas farrapos,
Que duma igrejinha Real.
De pernas é seu caudal
Toda é pernas, julgam a rês,
branca com o fundo em pés
E das fascinações curtidas,
Conserta-me dessas medidas.

O doutor que em medicina,
mais esperto e mais bizarro,
É duma condição de carruagem,
que não são úteis, se buzina.
Ao pulso da mão se inclina,
e anseia (vê-se que invenção!)
que se tem do belo dobrão,
pelas infernais das bebidas.
Conserta-me dessas medidas.

Que sua limpeza se exagere,
porque anda ao mundo de um revés,
comer de um porco não quer,
que lagarto rubro lhe espere,
que algum de espera ao Senhor,
o que conteve por favor
as aspas tão descoloridas.
Conserta-me dessas medidas.

Culpa àquele valente dá,
na pendência, que se fez roda,
a sua espada que se tão queda,
sendo que dele que carrega.
E como da virgem está
à espada que se vê desnuda,
de honesta se viu, e tão muda
Nesta clausura das feridas.
Conserta-me dessas medidas.

Coragem é que sua mulher,
vê maridinho falso querer,
Ser vestido ele não expõe,
Outro expôs por haver lhe põs.
Que nos queira fazer-nos crer,
Sem justiça, ou sem razão,
Que não sendo dum Santo Antão,
Um corvo se traí suas comidas.
Conserta-me dessas medidas.
Don Francisco de Quevedo
 TRAD. ERIC PONTY

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