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quinta-feira, setembro 26, 2024

UM SONETO À MODA DE QUEVEDO - ÉRIC PONTY

 Quantos forjares mais ferros ao fado
 de mi esperança, tantos oprimidos
 arrastareis cantando, e seu ruído
 instrumento a mi voz será acordada.

Jovem mal da inveja perdoado,
da cadeia tarde tão redimido,
de quem é pôr não amável foi vendido,
por falar- te vendido fui adorado.

Que pedra se lhe abuso ao soberano
poder, qualificada há de real zelo,
que o remédio frustrasse aquele espera?

Conduzido alimenta, de um camelo,
 um a outro profeta. nunca em vão
 foi do esperar, para um entre tantas feras.

Éric Ponty

ÉRIC PONTY - POETA- TRADUTOR- LIBRETTISTA

domingo, setembro 22, 2024

Perfumes de Bérgamo - Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty

 Ó aroma perfumado
 Invade os meus sentidos!
 Doce e louco deleite
 Permeia o ar roubado.


 Desejo enfim alegre
 Alegrias há muito olvidadas:
 Ó aroma perfumado
 Intoxica-me de novo.


 A minha melancolia dissipa-se:
 Pela minha janela iridescente
 Volto a ver os campos azuis
 Para lá do horizonte infinito.
 Ó aroma perfumado

Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty

 
POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

sexta-feira, setembro 13, 2024

ária de Sémiramis - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

 À alva, caros raios, minha testa sonha com teu diadema!
Assim que se ergue, ele vê com dum olho que dormes,
Sobre mármore absoluto, o tempo de palidez é pintado,
A hora sobre mim desceu e cresceu até ao ouro.

... "Exista! ... Sejas a ti mesma afinal! diz a Alvorada, ,
Ó grandeza alma, é tempo de formar um corpo!
Apressar a propuser vós um dia digno de rebentar,
Entre tantos outros fogos, os vossos tesouros imortais!

Já, contra a noite, a trombeta amargar luta,
Com um lábio vivo atacar o ar gelado;
Ouro puro, de volta em volta, rebenta si próprio,
Recordar todo espaço pra os esplendores do ido!

Voltem ao aspecto real! Saiam das vossas sombras,
E como o nadador, nesta plenitude do mar,
Calcanhar todo-poderoso expulsa-o das águas escuras,
Deixem monstros do teu sangue gerarem na sua cama!

Venho do Oriente para agradar os seus caprichos!
E venho para vos oferecer minha mais pura comida;
Que a tua chama se alimente do espaço e do vento!
Venha juntar-se ao brilho do meu presságio"!

- Respondo! Saio desta minha profunda ausência!
O meu coração puxa-me mortos contra quais meu sono,
Estes versos grandes águia rebentam com o poder,
Leva-me para longe! ... Voo até ao sol!


Levo apenas uma rosa e fujo... A bela seta,
Para flanco!... Minha cabeça dá à luz multidão de passos.
Suba, O Semíramis, dona de uma espada,
Que de coração sem amor brota a única honra!

Seu olhar imperial tem sede do grande império,
A quem o seu ceptro duro faz sentir felicidade.
Atreve-te ao abismo!.... Passe última ponte de rosas!
Aproximo-me de si, por perigo! Mais orgulho zangado!

Estas formigas são minhas! Estas urbes são minhas coisas,
Estas passagens são atributos da minha autoridade!
O meu reino é uma vasta pele de uma besta!
Matei então o leão que usava está pele;

Mas ainda do cheiro do fantasma feroz,
Flutuar com morte, e guardar o meu rebanho!
Enfim, ofereço ao sol segredo dos meus encantos!
Nunca tinha dourado num limite tão gracioso!

Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY POETA TRADUTOR LIBRETISTA

terça-feira, agosto 27, 2024

N GRUPO DE COMUNICAÇÃO NOVEMBRO - PORTUGAL

 

 

Bom dia,

parabéns pelo envio dos seus poemas, em forma soneto.
Ora melancólicos, ora passionais, humanistas e filosóficos

Teremos gosto em colaborar nesta edição.

Deve o autor garantir por si ou através de patrocínio, a aquisição de 100 exemplares, numa 1ª edição de 200 exemplares, com o PVP de 15€, com desconto de 30%.
As reedições serão da inteira responsabilidade da editora, mediante acordo do autor.
Os livros à venda no lançamento, desde que não seja no mercado livreiro, serão os adquiridos pelo autor.

Fico ao dispor.
Cumprimentos,

Avelina Ferraz
editora|produtora cultural|promotora cultural da Lusofonia
CEO Founder Grupo de Comunicação Novembro

quinta-feira, agosto 15, 2024

A MENINA DE OTAHEITE - VICTOR Hugo - TRAD. ERIC PONTY

Olvidar? Poderei olvidar o hálito perfumado
Das brisas, suspirando por ti, no meu ouvido;
O estranho despertar de um sonho de morte,
A súbita emoção de te encontrar a chegar?
As nossas cabanas estavam desertas, e longe
Ouvi-te chamar-me durante todo o dia,
Ninguém te tinha visto passar,
Tremendo eu vim. Ai de mim!
Poderei olvidar?

Dantes eu era bela; os meus encantos de donzela
Morreu com a dor que do meu peito caiu.
Ah! viajante cansado! descansa nos meus braços amorosos!
Que não haja pesar nem despedida!
Aqui de tua mãe doce, onde as águas correm,
Aqui da tua pátria sussurramos baixinho;
Aqui, música, louvor e oração
Encheram o ar alegre do verão.
Posso olvidar?

Olvidar? O meu velho e prezado lar tenho de olvidar?
E vaguear e ouvir o meu povo a chorar,
Longe dos bosques onde, quando o sol se põe,
sem medo, mas cansado, para os teus braços eu rastejo;
Longe das flores vivazes e do gemido das palmeiras
Eu não poderia viver. Aqui, deixa-me descansar sozinho!
Vai! Devo seguir-te de perto,
Contigo estou condenado a morrer,
Nunca te olvides.

 VICTOR Hugo - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

GENIUS - ViCTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 (DEDICADO Para CHATEAUBRIAND.)

Ai dele, o filho desta terra de puras tristezas,
que, num mundo conturbado, injusto e cego,
carrega o Génio - tesouro de nascimento celestial,
Dentro de tua alma solitária, consagrada.
Ai dele, porque as dores da inveja são impuras,
feitos os abutres imortais, serão impelidos
Em teu nobre coração, que deve suportar
Que, por cada triunfo, se aflige; e, ainda não perdoado,
Sofrerá a censura de Prometeu, que enlevou o fogo do Céu.

Ainda que o seu destino na terra seja
A dor e a injustiça; quem não suportaria
Com alegre calma, cada agonia oferecida;
Poderia ele assegurar assim o prémio do Génio?
Que sentimento mortal acendeu em sua alma
Sobre a qual nem o tempo nem a morte podem ter controlo,
Que, em prazeres inglórios, se desvia
De um sofrimento cuja recompensa é a Imortalidade?
Não! embora os clamores da multidão invejosa
Que o filho do Génio, por mais que o faça, se erguerá.

Do torrão monótono, suportado por um ânimo orgulhoso
Para além do alcance das inimizades vulgares.
É assim a águia, com os teus pinhões estendidos,
Que, de uma altura, se debruça sobre a tempestade
Que, se a vida não é um sonho, não é um sonho,
Enquanto ele, regozijando-se no teu voo tranquilo,
Mais para cima se eleva sublime na luz eterna do céu.

 ViCTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY - POETA TRADUTOR- LIBRETTISTA

SULTANA FAVORITA - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 ("N'ai-je pas pour toi, belle juive.")
[XII., Oct. 27, 1828.]


Para te agradar, judia, joia!
Eu reduzi o meu harém!
Cada flerte do teu leque
Pressagiar um grito de morte?

Graça para as donzelas ternas
Que têm medo de ouvir o vosso riso,
Pois raramente a alegria ilumina os vossos lábios
Mas o sangue que quereis beber.

Em ciúmes tão zelosos,
Nunca houve mulher pior;
Não teríeis rosas senão as que crescem
Sobre algum cadáver enterrado.

Não estou bem preso?
Por que me irrito se a porta
Repugna a cinquenta garotas
Que em vão ali imploram?

Deixa-os viver para invejar
Minha própria imperatriz do mundo,
A quem todo Istambul como um cão
Deita-se nos chinelos enrolado.

A vós, meus heróis, baixai
Os emblemas com cicatrizes que ninguém intimidou;
Para vós, os seus turbantes estão deprimidos
Que noutros lugares marcham tão orgulhosos;

A ti Bassoura oferece
O seu respeito, e Trebizonde


Os seus tapetes de rico trabalho, e especiarias
E pedras preciosas, de que sois apreciadores.

Para vós os templos de Chipre
Não se atrevem a fechar as portas;
Para vós o poderoso Danúbio envia
O mais belo dos seus mantimentos.

Temei as donzelas gregas,
lírios pálidos das ilhas?
Ou o roedor de areia de olhos ardentes
Das pilhas de massa de Baalbec?

Comparado com o teu, oh, filha
Do Rei Salomão, o grande,
O que são redondos seios de ébano,
"E as sobrancelhas altas da costa de Hélas?

Não estais branqueada nem enegrecida,
Pois a vossa tonalidade de azeitona é clara;
Os vossos lábios são de cereja madura,
Sois reto como uma lança árabe.

Por isso, não lanceis mais raios
Sobre estes nossos pobres escravos.
Por que o vosso fluxo de lágrimas se iguala
Pelas suas chuvas de sangue vital?

Pensem só nos nossos banquetes
Trazidos e servidos por raparigas encantadoras,
Pois belezas os sultões devem adornar
Como os punhais as pérolas.

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

quarta-feira, agosto 14, 2024

MEIA NOITE DA LUA - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

Brilhavam os alegres raios de luar que dançavam sobre a onda;
Na fresca porta da janela, aberta à brisa da noite,
A Sultana inclina-se e deleita-se a ver a maré,
Com o Teu brilho prateado, as ilhotas entorpecidas se movem.

Da Tua mão, ao cair, vibra a guitarra leve.
Ela ouve - o som que ecoa baixo e sem brilho.
Será o bater no Arquipélago
De algum longo remo de galé, de Scio para longe?

São os corvos-marinhos, cujas asas negras, uma a uma,
Cortam a onda azul que sobre se quebrou em pérolas líquidas?
É algum duende que paira com um grito assobiante que lança
Que, de uma velha torre, lança para o fundo uma pedra solta?

Quem é que assim perturba a maré perto do seraglio?
Não são corvos-marinhos escuros que flutuam na ondulação,
"Não é um penacho de pedra, nem remos de barco turco,
Que, com o teu ritmo compassado, se arrasta na água.

São sacos pesados, carregados cada um por escravos escuros sem voz;
E se ousásseis sondar as profundezas dessa maré escura,
algo como uma forma humana se agitaria no teu interior.
O que é que se passa?

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

50 POEMAS ESCOL.HIDOS PELO AUTOR - GALLO BRANCO POR GAIO SOBRINHO

 

GAIO SOBRINHO

terça-feira, agosto 13, 2024

I. Há quatro mil anos que ele estava a cair no abismo - Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

Ainda não foi capaz de agarrar um pico,
nem elevou uma única vez a tua enorme sobrancelha.
Afundou-se na sombra e na névoa, assustado,
Sozinho, e atrás dele, na noite eterna,
As penas das tuas asas caíam mais lentamente.
Foi atingido por um lampejo, sem brilho e em silêncio,
Triste, com a boca aberta e os pés voltados para o céu,
O horror do abismo estampado em teu rosto lívido.
Gritou: "Morte! com os punhos abertos para a sombra vazia.
Mais tarde, esta palavra transformou-se em homem e chamou-se Caim.
Ele estava a cair. De repente, uma pedra bateu-lhe na mão;
Ele abraçou-a, como um homem morto abraça a tua sepultura,
e parou.
Alguém lá de cima gritou-lhe: "Cai!
Os sóis apagar-se-ão à tua volta, maldito!
E a tua voz perdeu-se no imenso horror.
E, pálido, olhou para a eterna aurora.
Os sóis estavam longe, mas ainda brilhavam.
Satanás ergueu a cabeça e disse, levantando o braço:
Esta palavra tornou-se mais tarde a alma de Judas.
Como os deuses de bronze que se erguem sobre as tuas pilastras,
Esperou mil anos, com o olhar fixo nas estrelas.
Os sóis estavam longe, mas continuavam a brilhar.
Depois, um relâmpago ressoou nos céus frios e surdos.
Satanás riu-se e cuspiu para o lado do trovão.
A imensidão, preenchida com a sombra visionária,
tremeu. Essa saliva era depois Barrabás.
Um sopro que passava fazia-o cair mais baixo.

Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA
 

segunda-feira, agosto 12, 2024

Dorso de Apolo - Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

Quão, por vezes, por meio ramos ainda não frágeis
Pelos ramos que de uma manhã que já é
primaveril: assim não há nada na tua cabeça
nada que possa impedir o esplendor.

De todos poemas nos chegaria quase fatal;
porque ainda não há uma sombra no teu olhar,
as tuas têmporas são ainda alto frescas pra o louro
e só mais tarde essas sobrancelhas.

No jardim de rosas ergue-se mais alto ainda,
de onde as folhas, únicas, soltas farfalham
vão-se arrastar pra a boca trémula no prado,

que ainda está em silêncio hoje, nunca usou e piscou
e só bebe alguma coisa com o teu sorriso
porque se o teu canto lhe tivesse sido incutido.

Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

PAUL VALÉRY - TRAD. ERIC PONTY

Treme, túmulo de luz... Um sopro te ama, Sauce,,
que faz tremer em ti o sonho dos ombros...
Sorriso?.... ou este suspiro, tão simples e repentino
que exalo por amor a este jardim flutuante.
O meu olhar nas suas flores zomba do mal da espera
passos, voz, mão, todo o ser tão terno então,
que Tu és todo meu que eu sinto transformar,
a quem a hora que morre pode de repente unir-me
e que vem!... eu sinto-o...
A minha boca acolhe-te enfim!
Põe na alma a aproximação do tremor das folhas
e os meus olhos, ainda cheios de folhagem e de dia,
veem-te atrás de mim, toda rosa de amor...

Treme, túmulo de luz! Um sopro te ama, Sauce...
Mas eu não preciso mais sonhar com ombros...,
e a respiração já não é a respiração de um único coração.
Morre o tempo vencido, e o beijo conquistador
Da ausência sem nome da qual um nome me liberta,
em longos goles bebe na sombra esse fogo que nos faz viver!

PAUL VALÉRY - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA- TRADUTOR- LIBRETTISTA

domingo, agosto 11, 2024

ODE AL JAZMÍN - PAUL VALERY - TRAD. ERIC PONTY

Os teus olhos são pedras cravadas no meu peito,
os traços luminosos dos Teus olhares vagos
Queimam de fogo vivo a minha noite pensativa,
Ó Presença imanente, ó Tu em toda a parte.

Tu que estás rodeada de uma costa tão doce
que viver sem ti um dia me transforma em ferro,
que sou moído pelo Teu peso que o meu suspiro expele
e que termina num século no inferno...

Enquanto à minha volta tudo o que vive me irrita
e a própria obra em mim é um sonho importuno,
eu fujo para ti, para ti, como um pássaro que faz o seu ninho,
e a minha alma obedece ao teu cheiro secreto,

e eu respiro em espírito o quarto mais terno,
onde em lençóis puros, com flores, junto ao fogo,
a força do amor que nos teus membros anseia
com o teu sorriso amoroso acolherá a minha súplica.

Devoro a rota, voo em direção ao deleite,
os meus passos removem os preciosos degraus
que levam ao limiar do teu cálice de seda
a minha sede de encontrar os teus verdadeiros olhos.

A minha espera de amor está cansada de os fingir;
beber e fechar eu quero, e vê-los abrir-se
docemente abertos de novo quando
o excesso da felicidade de nos unir
Vamos sorrir do teu estremecimento.

PAUL VALERY - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRESTTISTA

sábado, agosto 10, 2024

SONETO A NARCISA - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

 Para vizinha que me ama com um gato

Brandido pelas tuas mãos, com frescor das flores,
a minha fronte já não sonha mais com outra coroa;
Toda essa lucidez que me envolve do Amor
É envolta em terna sombra na fonte do pranto.

Respirando o calor profundo do teu peito,
tanta alegria flui para o meu coração rendido
que perante o doce fado que o teu olhar me marca
com a glória torna-se para mim uma rara disgra.

Deixo as minhas ambições sábias desvanecerem-se;
o meu certo erário brilhar para mim no lampejo
sedoso do teu do teu olhar rico de luzes vivas!

O que te sentes por mim eu adoro nos teus olhos.
Oh, beija entre as tuas mãos, encerrando a minha tiara
com o rubi de um beijo, a testa que te ama!

 Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
  • ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBETTISTA

segunda-feira, agosto 05, 2024

Análise Crítica - Minhas Flores do Mal- Editora - Ipê Das Letras

 
Prezado Eric,

É com gosto que recebemos e tivemos a oportunidade de avaliar seu projeto “Minhas flores do mal”, na última semana.
O Conselho Editorial da Ipê Das Letras estabelece critérios rigorosos na publicação de seus originais, procurando fazer desta uma análise objetiva. Queremos, independentemente do parecer final, passar ao autor todas as considerações, cientes de que o olho e cérebro humano vão estar sempre sujeitos à subjetividade. Desta forma, a crítica a que procedemos, é feita com o intuito de acrescentar valor e ajudar nesta fase de edição com nossa casa editorial.
Somos um grupo internacional com 15 anos de trabalho no mercado editorial e definimos, ao longo de todos estes anos, os seguintes critérios, que consideramos evidenciar as potencialidades da obra.
Esta análise crítica é puramente informativa e não poderá ser utilizada para outros fins ao longo do processo editorial. O objetivo do parecer é o aprimoramento e visão geral do contexto da obra e para cada ponto foi realizada a respectiva análise (de acordo com o contexto da obra), pelo que encorajamos o diálogo e a oportunidade de conversarmos mais acerca de todo o projeto que temos planeado.

Introdução

A tradução de “Minhas flores do mal” de Charles Baudelaire por Eric Ponty é uma obra de grande importância para o acesso da literatura francófona ao público lusófono. A tradução de poesia, em particular, apresenta desafios únicos, incluindo a preservação da métrica, ritmo, e a essência emocional do texto original.

Fidelidade ao Texto Original

Ponty mostra um esforço consistente em manter a proximidade com o texto original de Baudelaire.
Ele preserva muitas das metáforas e imagens vívidas que são características marcantes da poesia de Baudelaire.

Fluência e Naturalidade da Linguagem

Embora Ponty mantenha uma alta fidelidade ao original, ele também adapta a linguagem de forma que soe natural para leitores de língua portuguesa. Ele evita a literalidade extrema, que poderia resultar em uma tradução rígida e artificial. Em vez disso, Ponty opta por uma abordagem que prioriza a fluidez e a acessibilidade, sem perder a complexidade do texto. Ponty escolhe palavras que, embora não sejam traduções diretas, capturam a essência do sentimento de deslocamento e grandiosidade do poeta comparado ao albatroz.

Preservação do Tom e Estilo

Um dos maiores desafios ao traduzir Baudelaire é preservar o tom sombrio e o estilo decadente que permeiam “Minhas flores do mal”. Ponty demonstra uma sensibilidade notável ao estilo baudelairiano, utilizando uma linguagem que evoca a mesma atmosfera opressiva e melancólica do original.

Conclusão

Eric Ponty consegue realizar uma tradução de “Minhas flores do mal” que respeita a obra original, ao mesmo tempo em que adapta a linguagem para que seja natural e fluida em português. Ele equilibra habilmente a fidelidade ao texto original com a necessidade de manter a fluidez e a acessibilidade, preservando o tom sombrio e decadente que define a poesia de Baudelaire. Esta tradução oferece aos leitores lusófonos uma experiência rica e envolvente, mantendo-se fiel ao espírito da obra original.

- Ipê Das Letras
 

domingo, agosto 04, 2024

Essência de mulher, sendo és profundo - ERIC PONTY


Vira o teu vulto se passo e ele, porém,
teu olhar a seguir meu Culto fica
que me estima de certo não indica
Porque parece que me odeio então!

Se um dia não me vê, ligeiro espanto,
Quando me avista o teu olhar explica;
E, nessa alternativa mortifica,
Minh´ alma, escravizada ao teu encanto.

Às vezes eu também velozmente
Volto ao teu vulto, finjo, indiferente,
Nem pesar que ela viva neste orbe.

Mas, vejo ao revés que ela persegue,
Que o teu olhar ansioso então me segue,
Essência de mulher, sendo és profundo.

ERIC PONTY

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

sábado, agosto 03, 2024

CANCEONEIRO DE PETRARCA - ALGUNS SONETOS TRAD. ERIC PONTY

Aqueles de vós que, nas minhas rimas soltas,
ouvem o som do suspiro que se alimentou
o coração jovem que delirava
quando eu era outro homem do que fui:

Dos vários estilos com que me entristeci
quando me entreguei a vãs esperanças,
se alguém da noção do amor se vangloria,
peço piedade e perdão a senhoria.

Que tenho estado na boca do povo, sinto-o
há muito tempo, e tantas vezes
Muitas vezes sinto-me vexado e confuso;

E que é vergonha, e sentimento louco,
o fruto do meu amor eu sei claramente,
e breve sonho o quanto agrada ao mundo.

Porque uma bela em mim queria vingar-se
e reparar mil ofensas num só dia,
O arco do amor estava escondido
como quem espera a hora de se enfurecer.

No meu seio, onde costuma abrigar-se,
a minha virtude peito e olhos defendia
quando o golpe mortal, onde qualquer dardo
de um dardo se amolgava, se ia encaixar

Mas atordoado na primeira ronda,
senti que faltava tempo e força
Para que na ocasião eu pudesse armar-me,

ou na colina alta e cansada
para evitar a dor que me assaltava,
Da qual hoje me quero e não posso guardar.

Era o dia em que os raios de sol empalideciam
os raios de sol, o seu autor lamentava
quando, encontrando-me desprevenido,
os vossos olhos, senhora, me prenderam.

Em tal momento, os meus não entenderam
defender-se do Amor: que protegido
me julgava; e a minha dor e o meu gemido
começaram em comum tristeza tinham

O Amor encontrou-me completamente desarmado
e aberto ao coração encontrou a passagem
dos meus olhos, da porta chorosa e da nave.

mas, na minha opinião, ele não foi honrado
ferindo-me com uma flecha nesse caso
e a ti, armado, não mostrando o teu arco

Aquele que sua infinita arte e providência
demonstradas no seu admirável magistério,
que, com este, criou o outro hemisfério
e a Jove, mais do que a Marte, deu clemência.

Ele veio ao mundo cintilando com a sua ciência
a verdade que no livro era um mistério
mudou o ministério de Pedro e João
e, pela rede, deu-lhes o céu por herança.

Quando ele nasceu, não agradou a Roma
dar-se a si mesmo, mas à Judeia
que, mais do que qualquer outro Estado,

lhe agradava exaltar a humildade; e hoje,
de uma pequena aldeia, ele deu um raio de sol
Caráter e o lugar onde uma mulher tão bela viu o dia.

A minha ânsia louca é tão mal orientada
para seguir aquela que foge tão resoluta,
e dos laços do Amor leve e solto
voa diante da minha corrida desanimada.

Quanto menos ela me ouve, mais furiosa
Procuro o caminho certo para me revoltar:
Não me serve de nada estimulá-lo ou dar-lhe a volta,
que, por sua natureza, o Amor o torna obstinado.

E quando ele tiver sacudido o bocado,
sou deixado à sua mercê e, apesar de mim mesmo,
para um transe de morte ele me transporta:

Para alcançar o loureiro onde é tirado
Fruto amargo que, ao saboreá-lo,
A chama dos outros aflige e não consola

Penas ociosas, gula e sonolência
do mundo à virtude barram a entrada
e a nossa natureza, que reverencia
nossa natureza, que reverencia o uso;

A luz do céu extingue a sua influência,
Pela qual a nossa vida é informada
e por uma coisa admirável é apontada
de Helicona, que não tem fluência fluvial.

De murta e louro, que saudade há?
Pobre e nu vê a Filosofia
A multidão que cai presa de negócios vis.

Poucos contigo farão o caminho inverso:
Ó espírito gentil, pois tu o empreendeste,
magnânimo, não abandones a tua alta empresa.

Pela primeira vez, os membros terrestres
vestiram um dia aquele que desperta
aquele que nos envia a ti e fá-lo chorar de pena
Vida mortal, mas livre e agradável,

Que tivemos, como toda a besta deseja,
sem medo de encontrar no nosso caminho
Nada que o nosso caminho nos atrapalhasse
Mas do estado miserável em que nos deparamos,

trazidos da nossa antiga vida serena,
Só temos uma consolação, que é morrer:
A vingança da força sofredora dos outros fados.

E, ao levar-nos assim, já nas tuas extremidades,
está ligada por uma cadeia maior de gemidos,
sendo que está sujeita a uma corrente mais longa.

Quando o planeta que conta as horas
se aloja novamente com o Touro
na virtude cai do chifre incandescente
que dá ao mundo uma nova roupagem.

E não apenas ao que se vê um dia,
e montanhas, para florescer consente,
Onde o dia não é mais sentido,
a instalação terrena se apodera e se alegra,

E tal fruto com outros apanhar a história:
Assim, o sol das damas, se me fere
Os raios dos olhos dela empunhando,

cria de amor palavra e pensamento,
Mas se os governa ou esconde quer,
Sempre sem primavera estou a ver-me.

Da esperança nossa gloriosa
e até do grande nome latino,
que não se desviou do caminho certo
Da chuva furiosa e tempestuosa de Jove.

Não cá comédia e casa luxuosa,
mas, em vez disso, um abeto, uma faia, um pinheiro,
entre a relva e o sobreiro vizinho,
que, levantando-o e baixando-o, o verso encobre.

Para o céu fazem subir o intelecto;
E o rouxinol que, nas sombras, docemente
Todas as noites chora em soluços da hora.

De razões de amor enche a mente:
Mas tal bem trunca, e assim torna imperfeita
A vossa pessoa, senhor, quando ausente.

Deixai pelo sol ou pela sombra o vosso véu,
Senhora, eu não vos vejo,
pois vistes em mim o desejo
que afastou todos os outros desejos da minha alma.

Enquanto o meu pensamento elevado estava encoberto
que desejava a morte para a meu pensamento,
vi o teu rosto adornado de ternura;
mas desde que o Amor me tornou evidente,
teus cabelos louros estão cobertos,
e o teu olhar amoroso está absorto.
O que eu mais desejava foi-me tirado:
Assim o véu me trata,
com frio e com calor, e assim me mata
Do teu doce luz que turva o céu.

Se de um duro tormento a minha vida
pode ser salva, e das desilusões,
tanto que eu possa ver em anos posteriores
a luz dos teus olhos apagados,

A crina douro em prata demudada em prata,
para deixar grinaldas e panos vistosos,
e o rosto formoso nas minhas injúrias, se desgasta,
retarda a minha lamentação e intimida-me:

enfim o Amor dar-me-á tal ousadia
que poderei descobrir-te das minhas mágoas
qual foi o ano, a hora e o dia d’águas chuva.

e mesmo que a idade me impeça de te ter,
que ao menos venha à minha angústia
um alívio dos meus suspiros tardios.

Quando, entre os outros, da minha senhora
vem, por vezes, o Amor no seu semblante,
por mais que ela esteja à frente em beleza,
tanto cresce a ânsia que me enamora.

Abençoo o lugar, o tempo e a hora,
quando olhei para tal altura. d’águas chuva,
E digo: "Dá graças, alma amorosa,
por ser tão honrada e merecedora.

Dela vem o pensamento amoroso
que, seguindo-o, te envia ao bem maior,
Tendo em pouco o que os vulgares anseiam;

Dela vem a galanteria ousada
que te leva ao céu, com tal fôlego
Tal que, esperando, já me sinto orgulhoso".

 PETRARCA TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

LIED PARA STAEL VIEGAS - Eric Ponty

 I - STAEL VIEGAS


Se és música, te entristece-o ouvi-la?
Sê o doce é doce e a alegria é alegre,
porque é que amas aquilo com amargura
Ao ter prazer faça-nos desprezíveis?

Sê não estiver satisfeito por ouvi-la,
Casal de notas com notas que somam,
é porque o repreendem com voz suave:
Da partitura não é só pra si.

As cordas, como sabe, estão dispostas,
Pares bem distintos e através notas,
Por enquanto nos cantam um acorde.

Parecem-se com pai, filho e mãe amada,
E tua canção, sem letra e com talento,
Cantam pra si: "Vós, solista, não percas".

Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

Dois Poemas de Walt Whitman - Trad. Eric Ponty

 Canto-me a mim próprio, uma simples


Canto-me a mim próprio, uma simples pessoa separada,
Mas pronuncio a palavra Democrático, a palavra En-Masse.
Da fisiologia da cabeça aos pés eu canto,
Nem só a fisionomia nem só o cérebro é digno da Musa, eu digo que a
A forma completa é muito mais digna,
A fêmea igualmente com o macho eu canto.
Da vida imensa em paixão, pulso e poder,
Alegre, para a ação mais livre formada sob as leis divinas,
O homem moderno que eu canto.

Enquanto eu ponderava em silêncio

Enquanto eu ponderava em silêncio,
Voltando aos meus poemas, considerando, demorando-me,
um fantasma surgiu diante de mim com um aspeto desconfiado,
Terrível em beleza, idade e poder,
O génio dos poetas das terras antigas,
como se os seus olhos me dirigissem como uma chama,
Com o dedo apontando para muitas canções imortais
E voz ameaçadora: "O que cantais?", disse,
Não sabeis que só há um tema para os bardos eternos?
E esse é o tema da Guerra, a fortuna das batalhas,
A formação de soldados perfeitos.
Se assim for, então respondi,
Eu também, altivo Sombra, também canto a guerra, e uma mais longa e maior do que
que qualquer outra,
travada no meu livro com fortuna variável, com fuga, avanço e recuo,
vitória adiada e vacilante,
(Mas acho que é certo, ou tão bom quanto certo, no final,) o campo o
o mundo,
Para a vida e para a morte, para o corpo e para a alma eterna,
Eis que também eu venho, entoando o canto das batalhas,
Eu, acima de tudo, promovo bravos soldados.

Walt Whitman - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR-LIBRETTISTA