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quarta-feira, agosto 14, 2024

MEIA NOITE DA LUA - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

Brilhavam os alegres raios de luar que dançavam sobre a onda;
Na fresca porta da janela, aberta à brisa da noite,
A Sultana inclina-se e deleita-se a ver a maré,
Com o Teu brilho prateado, as ilhotas entorpecidas se movem.

Da Tua mão, ao cair, vibra a guitarra leve.
Ela ouve - o som que ecoa baixo e sem brilho.
Será o bater no Arquipélago
De algum longo remo de galé, de Scio para longe?

São os corvos-marinhos, cujas asas negras, uma a uma,
Cortam a onda azul que sobre se quebrou em pérolas líquidas?
É algum duende que paira com um grito assobiante que lança
Que, de uma velha torre, lança para o fundo uma pedra solta?

Quem é que assim perturba a maré perto do seraglio?
Não são corvos-marinhos escuros que flutuam na ondulação,
"Não é um penacho de pedra, nem remos de barco turco,
Que, com o teu ritmo compassado, se arrasta na água.

São sacos pesados, carregados cada um por escravos escuros sem voz;
E se ousásseis sondar as profundezas dessa maré escura,
algo como uma forma humana se agitaria no teu interior.
O que é que se passa?

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

50 POEMAS ESCOL.HIDOS PELO AUTOR - GALLO BRANCO POR GAIO SOBRINHO

 

GAIO SOBRINHO

terça-feira, agosto 13, 2024

I. Há quatro mil anos que ele estava a cair no abismo - Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

Ainda não foi capaz de agarrar um pico,
nem elevou uma única vez a tua enorme sobrancelha.
Afundou-se na sombra e na névoa, assustado,
Sozinho, e atrás dele, na noite eterna,
As penas das tuas asas caíam mais lentamente.
Foi atingido por um lampejo, sem brilho e em silêncio,
Triste, com a boca aberta e os pés voltados para o céu,
O horror do abismo estampado em teu rosto lívido.
Gritou: "Morte! com os punhos abertos para a sombra vazia.
Mais tarde, esta palavra transformou-se em homem e chamou-se Caim.
Ele estava a cair. De repente, uma pedra bateu-lhe na mão;
Ele abraçou-a, como um homem morto abraça a tua sepultura,
e parou.
Alguém lá de cima gritou-lhe: "Cai!
Os sóis apagar-se-ão à tua volta, maldito!
E a tua voz perdeu-se no imenso horror.
E, pálido, olhou para a eterna aurora.
Os sóis estavam longe, mas ainda brilhavam.
Satanás ergueu a cabeça e disse, levantando o braço:
Esta palavra tornou-se mais tarde a alma de Judas.
Como os deuses de bronze que se erguem sobre as tuas pilastras,
Esperou mil anos, com o olhar fixo nas estrelas.
Os sóis estavam longe, mas continuavam a brilhar.
Depois, um relâmpago ressoou nos céus frios e surdos.
Satanás riu-se e cuspiu para o lado do trovão.
A imensidão, preenchida com a sombra visionária,
tremeu. Essa saliva era depois Barrabás.
Um sopro que passava fazia-o cair mais baixo.

Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA
 

segunda-feira, agosto 12, 2024

Dorso de Apolo - Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

Quão, por vezes, por meio ramos ainda não frágeis
Pelos ramos que de uma manhã que já é
primaveril: assim não há nada na tua cabeça
nada que possa impedir o esplendor.

De todos poemas nos chegaria quase fatal;
porque ainda não há uma sombra no teu olhar,
as tuas têmporas são ainda alto frescas pra o louro
e só mais tarde essas sobrancelhas.

No jardim de rosas ergue-se mais alto ainda,
de onde as folhas, únicas, soltas farfalham
vão-se arrastar pra a boca trémula no prado,

que ainda está em silêncio hoje, nunca usou e piscou
e só bebe alguma coisa com o teu sorriso
porque se o teu canto lhe tivesse sido incutido.

Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

PAUL VALÉRY - TRAD. ERIC PONTY

Treme, túmulo de luz... Um sopro te ama, Sauce,,
que faz tremer em ti o sonho dos ombros...
Sorriso?.... ou este suspiro, tão simples e repentino
que exalo por amor a este jardim flutuante.
O meu olhar nas suas flores zomba do mal da espera
passos, voz, mão, todo o ser tão terno então,
que Tu és todo meu que eu sinto transformar,
a quem a hora que morre pode de repente unir-me
e que vem!... eu sinto-o...
A minha boca acolhe-te enfim!
Põe na alma a aproximação do tremor das folhas
e os meus olhos, ainda cheios de folhagem e de dia,
veem-te atrás de mim, toda rosa de amor...

Treme, túmulo de luz! Um sopro te ama, Sauce...
Mas eu não preciso mais sonhar com ombros...,
e a respiração já não é a respiração de um único coração.
Morre o tempo vencido, e o beijo conquistador
Da ausência sem nome da qual um nome me liberta,
em longos goles bebe na sombra esse fogo que nos faz viver!

PAUL VALÉRY - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA- TRADUTOR- LIBRETTISTA

domingo, agosto 11, 2024

ODE AL JAZMÍN - PAUL VALERY - TRAD. ERIC PONTY

Os teus olhos são pedras cravadas no meu peito,
os traços luminosos dos Teus olhares vagos
Queimam de fogo vivo a minha noite pensativa,
Ó Presença imanente, ó Tu em toda a parte.

Tu que estás rodeada de uma costa tão doce
que viver sem ti um dia me transforma em ferro,
que sou moído pelo Teu peso que o meu suspiro expele
e que termina num século no inferno...

Enquanto à minha volta tudo o que vive me irrita
e a própria obra em mim é um sonho importuno,
eu fujo para ti, para ti, como um pássaro que faz o seu ninho,
e a minha alma obedece ao teu cheiro secreto,

e eu respiro em espírito o quarto mais terno,
onde em lençóis puros, com flores, junto ao fogo,
a força do amor que nos teus membros anseia
com o teu sorriso amoroso acolherá a minha súplica.

Devoro a rota, voo em direção ao deleite,
os meus passos removem os preciosos degraus
que levam ao limiar do teu cálice de seda
a minha sede de encontrar os teus verdadeiros olhos.

A minha espera de amor está cansada de os fingir;
beber e fechar eu quero, e vê-los abrir-se
docemente abertos de novo quando
o excesso da felicidade de nos unir
Vamos sorrir do teu estremecimento.

PAUL VALERY - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRESTTISTA

sábado, agosto 10, 2024

SONETO A NARCISA - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

 Para vizinha que me ama com um gato

Brandido pelas tuas mãos, com frescor das flores,
a minha fronte já não sonha mais com outra coroa;
Toda essa lucidez que me envolve do Amor
É envolta em terna sombra na fonte do pranto.

Respirando o calor profundo do teu peito,
tanta alegria flui para o meu coração rendido
que perante o doce fado que o teu olhar me marca
com a glória torna-se para mim uma rara disgra.

Deixo as minhas ambições sábias desvanecerem-se;
o meu certo erário brilhar para mim no lampejo
sedoso do teu do teu olhar rico de luzes vivas!

O que te sentes por mim eu adoro nos teus olhos.
Oh, beija entre as tuas mãos, encerrando a minha tiara
com o rubi de um beijo, a testa que te ama!

 Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
  • ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBETTISTA

segunda-feira, agosto 05, 2024

Análise Crítica - Minhas Flores do Mal- Editora - Ipê Das Letras

 
Prezado Eric,

É com gosto que recebemos e tivemos a oportunidade de avaliar seu projeto “Minhas flores do mal”, na última semana.
O Conselho Editorial da Ipê Das Letras estabelece critérios rigorosos na publicação de seus originais, procurando fazer desta uma análise objetiva. Queremos, independentemente do parecer final, passar ao autor todas as considerações, cientes de que o olho e cérebro humano vão estar sempre sujeitos à subjetividade. Desta forma, a crítica a que procedemos, é feita com o intuito de acrescentar valor e ajudar nesta fase de edição com nossa casa editorial.
Somos um grupo internacional com 15 anos de trabalho no mercado editorial e definimos, ao longo de todos estes anos, os seguintes critérios, que consideramos evidenciar as potencialidades da obra.
Esta análise crítica é puramente informativa e não poderá ser utilizada para outros fins ao longo do processo editorial. O objetivo do parecer é o aprimoramento e visão geral do contexto da obra e para cada ponto foi realizada a respectiva análise (de acordo com o contexto da obra), pelo que encorajamos o diálogo e a oportunidade de conversarmos mais acerca de todo o projeto que temos planeado.

Introdução

A tradução de “Minhas flores do mal” de Charles Baudelaire por Eric Ponty é uma obra de grande importância para o acesso da literatura francófona ao público lusófono. A tradução de poesia, em particular, apresenta desafios únicos, incluindo a preservação da métrica, ritmo, e a essência emocional do texto original.

Fidelidade ao Texto Original

Ponty mostra um esforço consistente em manter a proximidade com o texto original de Baudelaire.
Ele preserva muitas das metáforas e imagens vívidas que são características marcantes da poesia de Baudelaire.

Fluência e Naturalidade da Linguagem

Embora Ponty mantenha uma alta fidelidade ao original, ele também adapta a linguagem de forma que soe natural para leitores de língua portuguesa. Ele evita a literalidade extrema, que poderia resultar em uma tradução rígida e artificial. Em vez disso, Ponty opta por uma abordagem que prioriza a fluidez e a acessibilidade, sem perder a complexidade do texto. Ponty escolhe palavras que, embora não sejam traduções diretas, capturam a essência do sentimento de deslocamento e grandiosidade do poeta comparado ao albatroz.

Preservação do Tom e Estilo

Um dos maiores desafios ao traduzir Baudelaire é preservar o tom sombrio e o estilo decadente que permeiam “Minhas flores do mal”. Ponty demonstra uma sensibilidade notável ao estilo baudelairiano, utilizando uma linguagem que evoca a mesma atmosfera opressiva e melancólica do original.

Conclusão

Eric Ponty consegue realizar uma tradução de “Minhas flores do mal” que respeita a obra original, ao mesmo tempo em que adapta a linguagem para que seja natural e fluida em português. Ele equilibra habilmente a fidelidade ao texto original com a necessidade de manter a fluidez e a acessibilidade, preservando o tom sombrio e decadente que define a poesia de Baudelaire. Esta tradução oferece aos leitores lusófonos uma experiência rica e envolvente, mantendo-se fiel ao espírito da obra original.

- Ipê Das Letras
 

domingo, agosto 04, 2024

Essência de mulher, sendo és profundo - ERIC PONTY


Vira o teu vulto se passo e ele, porém,
teu olhar a seguir meu Culto fica
que me estima de certo não indica
Porque parece que me odeio então!

Se um dia não me vê, ligeiro espanto,
Quando me avista o teu olhar explica;
E, nessa alternativa mortifica,
Minh´ alma, escravizada ao teu encanto.

Às vezes eu também velozmente
Volto ao teu vulto, finjo, indiferente,
Nem pesar que ela viva neste orbe.

Mas, vejo ao revés que ela persegue,
Que o teu olhar ansioso então me segue,
Essência de mulher, sendo és profundo.

ERIC PONTY

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

sábado, agosto 03, 2024

CANCEONEIRO DE PETRARCA - ALGUNS SONETOS TRAD. ERIC PONTY

Aqueles de vós que, nas minhas rimas soltas,
ouvem o som do suspiro que se alimentou
o coração jovem que delirava
quando eu era outro homem do que fui:

Dos vários estilos com que me entristeci
quando me entreguei a vãs esperanças,
se alguém da noção do amor se vangloria,
peço piedade e perdão a senhoria.

Que tenho estado na boca do povo, sinto-o
há muito tempo, e tantas vezes
Muitas vezes sinto-me vexado e confuso;

E que é vergonha, e sentimento louco,
o fruto do meu amor eu sei claramente,
e breve sonho o quanto agrada ao mundo.

Porque uma bela em mim queria vingar-se
e reparar mil ofensas num só dia,
O arco do amor estava escondido
como quem espera a hora de se enfurecer.

No meu seio, onde costuma abrigar-se,
a minha virtude peito e olhos defendia
quando o golpe mortal, onde qualquer dardo
de um dardo se amolgava, se ia encaixar

Mas atordoado na primeira ronda,
senti que faltava tempo e força
Para que na ocasião eu pudesse armar-me,

ou na colina alta e cansada
para evitar a dor que me assaltava,
Da qual hoje me quero e não posso guardar.

Era o dia em que os raios de sol empalideciam
os raios de sol, o seu autor lamentava
quando, encontrando-me desprevenido,
os vossos olhos, senhora, me prenderam.

Em tal momento, os meus não entenderam
defender-se do Amor: que protegido
me julgava; e a minha dor e o meu gemido
começaram em comum tristeza tinham

O Amor encontrou-me completamente desarmado
e aberto ao coração encontrou a passagem
dos meus olhos, da porta chorosa e da nave.

mas, na minha opinião, ele não foi honrado
ferindo-me com uma flecha nesse caso
e a ti, armado, não mostrando o teu arco

Aquele que sua infinita arte e providência
demonstradas no seu admirável magistério,
que, com este, criou o outro hemisfério
e a Jove, mais do que a Marte, deu clemência.

Ele veio ao mundo cintilando com a sua ciência
a verdade que no livro era um mistério
mudou o ministério de Pedro e João
e, pela rede, deu-lhes o céu por herança.

Quando ele nasceu, não agradou a Roma
dar-se a si mesmo, mas à Judeia
que, mais do que qualquer outro Estado,

lhe agradava exaltar a humildade; e hoje,
de uma pequena aldeia, ele deu um raio de sol
Caráter e o lugar onde uma mulher tão bela viu o dia.

A minha ânsia louca é tão mal orientada
para seguir aquela que foge tão resoluta,
e dos laços do Amor leve e solto
voa diante da minha corrida desanimada.

Quanto menos ela me ouve, mais furiosa
Procuro o caminho certo para me revoltar:
Não me serve de nada estimulá-lo ou dar-lhe a volta,
que, por sua natureza, o Amor o torna obstinado.

E quando ele tiver sacudido o bocado,
sou deixado à sua mercê e, apesar de mim mesmo,
para um transe de morte ele me transporta:

Para alcançar o loureiro onde é tirado
Fruto amargo que, ao saboreá-lo,
A chama dos outros aflige e não consola

Penas ociosas, gula e sonolência
do mundo à virtude barram a entrada
e a nossa natureza, que reverencia
nossa natureza, que reverencia o uso;

A luz do céu extingue a sua influência,
Pela qual a nossa vida é informada
e por uma coisa admirável é apontada
de Helicona, que não tem fluência fluvial.

De murta e louro, que saudade há?
Pobre e nu vê a Filosofia
A multidão que cai presa de negócios vis.

Poucos contigo farão o caminho inverso:
Ó espírito gentil, pois tu o empreendeste,
magnânimo, não abandones a tua alta empresa.

Pela primeira vez, os membros terrestres
vestiram um dia aquele que desperta
aquele que nos envia a ti e fá-lo chorar de pena
Vida mortal, mas livre e agradável,

Que tivemos, como toda a besta deseja,
sem medo de encontrar no nosso caminho
Nada que o nosso caminho nos atrapalhasse
Mas do estado miserável em que nos deparamos,

trazidos da nossa antiga vida serena,
Só temos uma consolação, que é morrer:
A vingança da força sofredora dos outros fados.

E, ao levar-nos assim, já nas tuas extremidades,
está ligada por uma cadeia maior de gemidos,
sendo que está sujeita a uma corrente mais longa.

Quando o planeta que conta as horas
se aloja novamente com o Touro
na virtude cai do chifre incandescente
que dá ao mundo uma nova roupagem.

E não apenas ao que se vê um dia,
e montanhas, para florescer consente,
Onde o dia não é mais sentido,
a instalação terrena se apodera e se alegra,

E tal fruto com outros apanhar a história:
Assim, o sol das damas, se me fere
Os raios dos olhos dela empunhando,

cria de amor palavra e pensamento,
Mas se os governa ou esconde quer,
Sempre sem primavera estou a ver-me.

Da esperança nossa gloriosa
e até do grande nome latino,
que não se desviou do caminho certo
Da chuva furiosa e tempestuosa de Jove.

Não cá comédia e casa luxuosa,
mas, em vez disso, um abeto, uma faia, um pinheiro,
entre a relva e o sobreiro vizinho,
que, levantando-o e baixando-o, o verso encobre.

Para o céu fazem subir o intelecto;
E o rouxinol que, nas sombras, docemente
Todas as noites chora em soluços da hora.

De razões de amor enche a mente:
Mas tal bem trunca, e assim torna imperfeita
A vossa pessoa, senhor, quando ausente.

Deixai pelo sol ou pela sombra o vosso véu,
Senhora, eu não vos vejo,
pois vistes em mim o desejo
que afastou todos os outros desejos da minha alma.

Enquanto o meu pensamento elevado estava encoberto
que desejava a morte para a meu pensamento,
vi o teu rosto adornado de ternura;
mas desde que o Amor me tornou evidente,
teus cabelos louros estão cobertos,
e o teu olhar amoroso está absorto.
O que eu mais desejava foi-me tirado:
Assim o véu me trata,
com frio e com calor, e assim me mata
Do teu doce luz que turva o céu.

Se de um duro tormento a minha vida
pode ser salva, e das desilusões,
tanto que eu possa ver em anos posteriores
a luz dos teus olhos apagados,

A crina douro em prata demudada em prata,
para deixar grinaldas e panos vistosos,
e o rosto formoso nas minhas injúrias, se desgasta,
retarda a minha lamentação e intimida-me:

enfim o Amor dar-me-á tal ousadia
que poderei descobrir-te das minhas mágoas
qual foi o ano, a hora e o dia d’águas chuva.

e mesmo que a idade me impeça de te ter,
que ao menos venha à minha angústia
um alívio dos meus suspiros tardios.

Quando, entre os outros, da minha senhora
vem, por vezes, o Amor no seu semblante,
por mais que ela esteja à frente em beleza,
tanto cresce a ânsia que me enamora.

Abençoo o lugar, o tempo e a hora,
quando olhei para tal altura. d’águas chuva,
E digo: "Dá graças, alma amorosa,
por ser tão honrada e merecedora.

Dela vem o pensamento amoroso
que, seguindo-o, te envia ao bem maior,
Tendo em pouco o que os vulgares anseiam;

Dela vem a galanteria ousada
que te leva ao céu, com tal fôlego
Tal que, esperando, já me sinto orgulhoso".

 PETRARCA TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

LIED PARA STAEL VIEGAS - Eric Ponty

 I - STAEL VIEGAS


Se és música, te entristece-o ouvi-la?
Sê o doce é doce e a alegria é alegre,
porque é que amas aquilo com amargura
Ao ter prazer faça-nos desprezíveis?

Sê não estiver satisfeito por ouvi-la,
Casal de notas com notas que somam,
é porque o repreendem com voz suave:
Da partitura não é só pra si.

As cordas, como sabe, estão dispostas,
Pares bem distintos e através notas,
Por enquanto nos cantam um acorde.

Parecem-se com pai, filho e mãe amada,
E tua canção, sem letra e com talento,
Cantam pra si: "Vós, solista, não percas".

Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

Dois Poemas de Walt Whitman - Trad. Eric Ponty

 Canto-me a mim próprio, uma simples


Canto-me a mim próprio, uma simples pessoa separada,
Mas pronuncio a palavra Democrático, a palavra En-Masse.
Da fisiologia da cabeça aos pés eu canto,
Nem só a fisionomia nem só o cérebro é digno da Musa, eu digo que a
A forma completa é muito mais digna,
A fêmea igualmente com o macho eu canto.
Da vida imensa em paixão, pulso e poder,
Alegre, para a ação mais livre formada sob as leis divinas,
O homem moderno que eu canto.

Enquanto eu ponderava em silêncio

Enquanto eu ponderava em silêncio,
Voltando aos meus poemas, considerando, demorando-me,
um fantasma surgiu diante de mim com um aspeto desconfiado,
Terrível em beleza, idade e poder,
O génio dos poetas das terras antigas,
como se os seus olhos me dirigissem como uma chama,
Com o dedo apontando para muitas canções imortais
E voz ameaçadora: "O que cantais?", disse,
Não sabeis que só há um tema para os bardos eternos?
E esse é o tema da Guerra, a fortuna das batalhas,
A formação de soldados perfeitos.
Se assim for, então respondi,
Eu também, altivo Sombra, também canto a guerra, e uma mais longa e maior do que
que qualquer outra,
travada no meu livro com fortuna variável, com fuga, avanço e recuo,
vitória adiada e vacilante,
(Mas acho que é certo, ou tão bom quanto certo, no final,) o campo o
o mundo,
Para a vida e para a morte, para o corpo e para a alma eterna,
Eis que também eu venho, entoando o canto das batalhas,
Eu, acima de tudo, promovo bravos soldados.

Walt Whitman - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR-LIBRETTISTA

RAINER MARIA RILKE - TRAD. ERIC PONTY

Nunca aceitamos a tua cabeça e toda a luz
que amadureceu nos teus lendários olhos. Mas
o teu tronco ainda arde como um candeeiro de rua apagado
em que o teu olhar, aceso há muito tempo,
se mantém firme e brilha. De outro modo, a onda
do peito não te cegaria, nem um sorriso
não poderia percorrer a ligeira torção dos lombos
em direção àquele centro onde a procriação se acendeu.
Senão esta pedra ficaria cortada
e fria sob a gota diáfana dos ombros
e não brilharia como o pelo de um animal selvagem
e não irromperia de todos os seus contornos
como uma estrela: porque não há lugar
que não te veja. Tens de mudar a tua vida.

Li-o da tua palavra,
da história dos gestos
com que as tuas mãos contornam o devir
que se torna, quente e sábio.
Disseste viver em voz alta e morrer em silêncio
e repetiste uma e outra vez: Ser.
Mas antes da primeira morte veio o assassínio.
Então um estalo atravessou os teus círculos maduros
e foi a um santuário
e arrancou as vozes
que tinham acabado de se juntar
para vos dizer,
para te levar
toda a ponte do abismo
E o que eles têm gaguejado desde então
são pedaços do teu antigo nome.

Sou eu, seu ansioso. Não me ouves
com todos os meus sentidos a arderem contra ti?
Os meus sentimentos, que encontraram asas
rodeiam o teu rosto branco.
Não vês a minha alma que está perto de ti
diante de ti num vestido de silêncio?
A minha oração maia não amadurece
no teu olhar como numa árvore?
Se tu és o sonhador, eu sou o teu sonho.
Mas se queres acordar, eu sou a tua vontade
e tornar-me-ei poderoso em toda a minha glória
e serei como uma estrela silenciosa
sobre a maravilhosa cidade do tempo.

A minha vida não é esta hora íngreme,
em que me vês a correr.
Sou uma árvore no meu fundo,
sou apenas uma das minhas muitas bocas
e a que se fecha mais cedo.
Eu sou o silêncio entre dois sons,
que só se habituam mal um ao outro:
porque o som da morte quer subir
Mas no intervalo escuro
ambos tremem.
E a canção continua bela.

RAINER MARIA RILKE - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY - POETA- TRADUTOR- LIBRETTISTA

quinta-feira, agosto 01, 2024

POESIA SEMPRE - BIBLIOTECA NACIONAL - RJ

 

Caro Eric:

Já havia  sido agraciado com um exemplar da restritíssima tiragem de “Melancolia de uma tarde de domingo”. Na época não consegui nenhuma. Tarde de domingo para responder. Agora, acabo de receber “Livro Sobre Tudo ", continuo sem tempo, mas já não posso deixar em branco. Registro que na leitura de ambos, pude ouvir o badalo embaralhado, em surdina, à balada agônica dos sinos: “de matéria sólida e de mineiro”.
Também reencontrei uma montanhosa melancolia, um grito ressecado pelo tédio desentranhado da garganta da tarde. A música dos versos revela um eco moderno, tradução da tradução da tradução, de um simbolismo exasperado. Sina de Minas? Aceite o meu abraço do
Augusto Massi
                          Retiro minha persona revestida de mim,
                         olho para dentro do que eu sou
                         da imagem do que eu era
                         para a essência do que sou.

                         Margem pura de mim...

                             O que eu escuto são os gritos da tardinha,
                         acumulados sons esmaecidos
                         pela lente que eu focalizo os espaços
                         adentrados...

                         É verão e à tarde já principia a sua canção,
                         seu kyrie domingueiro num piano
                         que se desfaz em notas assonantes.

                         O cenário se há um cenário adentrado
                         é o instante que percorro...

                        Tosca peregrinação do meu tédio,
                        o que eu circundo é um mistério,
                        guardado de divinas coisas
                                                             advindas.

 
                        De repente é o meu suplicio
                        este instante que deliro
                        por incertas estradas embranquecidas
                        pelas auroras de chuva.

                        Na serra há uma fortaleza, e uma promessa
                        que circunda tudo com suas margens
                                                                             pedreiras.

                        Dou o meu grito no espaço que se espaça,
                        leva para longe minha angústia
                        de luminosos raios de lua
                        negras setas de um relógio
                        que marca o tédio e a monotonia.
                        É o meu tédio uma canção passageira
                        que não cai em desuso
                        que não perde sua folhagem ferrugem
                        que se distrai, que se retrai
                        no tosco grito.
                       
                        É o meu tédio uma canção passageira
                        que solta as flâmulas da bandeira
                        deixar cair tombada no espaço
                        que me busco e não me acho.

                        É o meu tédio uma canção passageira
                        acorde de todas as manhãs
                        usuais verbos dos defuntos
                        que a si recitam versos
                        quando tombam no solo seu último delírio.

                        É o meu delírio uma canção passageira
                        que leva e traz notícias alvissareiras?

                        Eu te escuto tédio meu, singelo martírio
                        dissecado e nu de presságios...


ERIC PONTY - POESIA REUNIDA - LEITURA CRITICA - GAIO SOBRINHO

 

GAIO SOBRINHO

sábado, julho 27, 2024

Vinte Sonetos e uma Elegia Tardia - Eric Ponty

A nobre alma que parte de nós aqui,
Ao chamar pra a outra vida muito antecipada
se for estimada lá como deve ser
logo viverá a esfera mais benta do céu.

Se ela jazer entre a terceira grande luz
e Marte, a face cintilante do sol se ofuscar-se
enquanto íntimos dignos, aliados em torno dela, vêm
pra admirar a bondade sem limites com prazer.

Se ela parar de se erguer sob o quarto ninho
cada um dos outros três será menos justo,
pois tua fama gritará que só ela é a melhor.

Ela não viverá a quinta esfera de Marte,
mas se ela voar ainda mais alto, tenho certeza
que ela ofuscará Júpiter e todas os fadários.

II

Quanto mais meu último dia se aborda,
que serve pra reduzir a duração da miséria humana,
mais eu vejo feitos o tempo corre rápido e leve,
minha esperança nele é ilusória e vã.

Digo aos meus pensamentos: "Não temos muito que ir
falando de amor, pois agora o mais pesado,
mais sólido fardo terrestre, quão a neve fresca
está derretendo, o que enfim nos trará descanso:

"pois com esse peso cairá a expectativa esvazia
que nos manteve em êxtase por tantos anos
e todos os nossos risos, choros, raiva e medos;

"então reconheceremos. confessadamente como todos os
mortais estão lutando por um prêmio duvidoso
e ah, quantas vezes suspiramos embalde".

III

Apolo, se o doce desejo perdurar
que ardeu em ti na onda de Tessália,
e se aquelas queridas tranças douradas
não foram olvidados com o passar dos anos.

proteger o ramo ilustre e sagrado
onde fui apanhado que foram os primeiros,
da estação cruel com tua geada lenta
que dura enquanto oculta tua fronte.

Pelo poder de sustento no qual a espera do amor
em meio a tuas eras difíceis cultivou teu ânimo,
agora limpem o ar desse clima difícil;

então veremos um milagre juntos:
nossa dona sentada em uma clareira gramada
criando próprios braços tua própria sombra.

IV

Lento, meço trechos de terra esvazia
com passos vacilantes, só e aflito pelo apurado,
e sempre pronto para voar, fixo meu olhar
onde qualquer nota humana possa marcar a areia.

Não encontro outro disfarce para me esquivar
o reconhecimento franco das pessoas, caso olhem
minha expressão - toda alegria morta, num livro
que conta como estou me ardendo por dentro;

Portanto, acredito que o tipo de vida que levo
 é conhecido pelas planícies e colinas,
rios e bosques, embora oculto para os homens.

No entanto, nunca consigo achar trilhas selvagens 
que possam fazer com que o Amor fique para trás,
e assim nossa conversa eterna continua.

V

Revendo a última estrofe que compus
Pouso entre as mãos abertamente às sombras
E o olhar deixo a lide vagar pra o sol posto
Onde o véu é tapete negro de sombra e luz.

Uma placidez interior em mim ressoa,
Esta tarde esvaindo ao mês de abril
Nestas mansões do espaço, onde alma exposta
O sol, surgindo astro que transluz.

Acaso põe-se ás centenas a acende-las
E cada uma que a luz tinha de olcuto
Brilha ao meio dia, enche-se o véu dos astros.

E fitando-se dispersos infinitos,
Sei que apesar de nunca se ter crido,
Nos céus uma sombra há muitas eras escrita.

VI

Tua ereta rigidez do peito a espada nua
Contorno do ventre e nessa margem macia
Que a cobriu entre os marmoreos pedestais de estátua
E a luz do sol que espiou por meio das cortinas.

Desenhou-se coração dessa flor dessa mulher,
Na quentura do leito, em suave desalinho
Teu corpo se descobre! Ela, só então se ergueu,
Contorno do ventre e nessa margem macia.

Ao sol que a vem flama no leito ela desperta,
Despreocupada e só deixa cair dos linhos,
Da passagem, em decote, os seios em desalinho.

O teu corpo se descobre; então se erguer,
Entrevê-se o esplendor das formas arrogantes,
E à luz do sol que espiou através das cortinas.

VII

Mais tarde em tua lide, um dia, hás de cantar,
Relembrar da memória esta era de agora,
- mas o mundo é uma areira, onde as fontes do mar,
Apagam quase sempre as memórias de outrora.

Hás de em vão ao teu zelo, esse som suplicar,
Sem arrumares nunca o que tua alma arder,
- é que a lide é duma foz a viver sem parar
E a seguir sem retornar esse mundo afora.

Não existe duas vezes! O que flama presente,
Depois ser amanhã duma senha apagada
Que em vão procurarás rever inutilmente.

Está era tudo come. Tudo se consume,
E se um dia, talvez memória teu passado,
Não mais hás de erguer, vais se quer tua sombra.

VIII

Ante o que se deslumbrou do teu culto,
Sou surgindo de atônita vã pressa,
Revejo que uma auréola dessa graça,
Dissolver em lugar de treva em que oculto.

Estas em cada verso do meu vulto,
Sombras na minha lânguida pobreza,
Vou disperso por toda natureza,
Paira o deslumbramento do teu culto.

É tua vida finda a própria vida,
Já trazendo em mim tua alma florecida,
Mas, num mistério surdo  me faz sombra.

Tu és, às minhas mãos, vagas, vultos,
Feito um sonhar que nunca se sonhasse
Ou feito a sombra vã de um outro vulto.

IX

Sob o pálio de um véu formoso de caminhantes,
A galera passar de tirias cenas tesas,
Avaçando a dentro arfando esqueletos,
Cheia de um resplendor de areias coruscantes.

Sob um dossel de luto, entre espirais ebriantes,
De incenso a escultural primeva das primevas,
Cisma seios de prata, rosa correntezas,
Deixam sombra em jardins de folhas trepidantes.

Cantando harpas doiro às mãos de ancilas belas,
Branda passagem véu enfuna a purpuras dos vultos
E à tona de água alveja uma espumosa margem.

E a náiade do espirito ao rever frota ingente,
Trespassada, ri, erguendo unicamente,
Contra as tranças  de serpe a graça de um sorriso.

X

Vira a face se eu passo; e se contudo
Teu olhar perseguir meu vulto estica,
Que me estima, por certo não indica,
Porque sugere que me odeia tudo.

Frasco em taça recipientes licores,
Ambrosias de capitosos de vinhos,
Embriagadores sendo inspiração,
Cantado, decantado exaltam relevos.

Às vezes, eu também, velozmente,
Retorna a face, finjo, indiferente,
Nem pensar que ela existe segue.

Mas, vejo, de revés, que ela exista seguem
Que o teu olhar inquieto me persegue
Cabeça de mulher, quanto é profunda!

XI

Sentamo-nos a sós à beira luar. Os prantos
Padecemos sombras que a lua vai devorando
Trepidavam o céu e o oceano escuro em pranto
Trepavam-nos os pés de alvissimas escumas.

Várias conchas de pôr ele arrastava, em dramas,
Pela rabeira arminho e de alvoradas plumas;
Mui – frações de aurora iam-se acendendo em
Algúns pedaços do véu, iam na areira escura.

Enquanto, ela, padece, o olhar pousava em nada,
Na alva cor solar nas conchas, no veludo
Na arcada do celeste cheias de negros céus.

Via-lhe o luar veste, a espuma nos seus raios,
E fica vá admirando a concha dos olhares,
Que existem enclausurada dois breves véus.

XII

Se eu resistir a essas agonias amargas
por tempo regular, Senhora, então minha vida durará
até que eu veja o esplendor de teus olhos
ofuscar-se pelo avanço de teus últimos anos,

Teus cabelos ficaram prateados e cá são ouro puro
e teus vestidos verdes e guirlandas foram deixados de lado,
teu rosto alvejado, que agora mantém minha dor sem ser dita
enquanto o recato faz com que minhas queixas sejam adiadas,

então, enfim, o Amor me fará ter coragem de tentar
contar como tem sido - o sofrimento desses longos anos
que um a um os anos, dias e horas trazendo na alma.

Se o tempo atalhar meus doces desejos até lá,
podes pelo menos ajudar minha dor quando
buscou algum conforto em um suspiro tardio.

XIII

Só podes me ofertar o silente e a amargura,
Meu pobre amor de ti espera a indiferença.
Absolve meu amor; perdoa-me a doidice,
Quem tem feito que tenho, coração, não pensa.

Há muito pela lide eu andava à busca,
De alguém que viesse encher à luz minha descrença,
Foi então quem te vi, julguei que ventura
Pudesse ainda achar nesta jornada densa.

E foi assim que um dia eu fui transcendental,
Esperei no amor; e talvez por punição
Fizeste-me arder – mas não te quero um mal.

Deus pôs-me um coração com certeza enganado;
E é por isso talvez que ainda faça há poesia,
Advertindo sonhador do século ainda vindouro.

XIV

Tu tens do arquipélago os fios de lariço,
a carne trabalhada pelos séculos do tempo,
veias que apreciaram o mar de madeira,
sangue verde ruindo do céu pra a memória.

Ninguém pegará meu coração perdido
entre tantas raízes, no frescor amargo
do sol multiplicado pela fúria da água,
ali vive a sombra que não viaja comigo.

É por isso que tu saíste de igual duma ilha
povoada e laureada por cruzes e matas
e eu senti o cheiro dos bosques errantes.

Achei o mel escuro que aceitei no Lenheiro,
e toquei em teus quadris nas pétalas sombrias
que surgiram comigo e ergueram minha alma.

XV

A luz que se monta de teus pés até teus cabelos,
a eretismo que envolve tua forma meiga,
não é de madrepérola Lenheira, nem de prata apagada:
tu és de pão, de pão amado pelo fogo em brasa.

A farinha ergueste teu celeiro consigo 
e cresceu mais com a idade ditosa,
quando os cereais dobraram teu peito
meu amor era carvão ralando na terra.

Oh, pão em tua testa, pão em tuas pernas,
pão que eu devoro e que nasceu com luz,
tu és amada, estandarte desses Lenheiros.

Uma lição de sangue que o ardor lhe deu,
da farinha tu aprende-se a ser sagrado,
e do pão a linguagem e o aroma de trigo.

XVI

O doiro e as pérolas, as flores alvas e as encarnadas
que o inverno deve empanar e depois enfadar
se demudaram em espinhos afiados e empeçonhados pra mim;
Sinto tuas perfurações em meu peito feito de esperanças.

Isso, por si só, encurtará meus dias tristes,
pois uma tristeza tão profunda perdura por muito tempo;
mas culpo ainda mais esse teu copo assassino
que tu causas te com teu olhar amoroso.

Isso fez com que parecessem apenas um som oco
quando ele defendia meu caso, por isso ficou quieto,
pois tu mesma era o único fim de teu desejo.

Esse vidro foi fundido nos imos do inferno
e mergulhado no esquecimento eterno
onde nasceu o início de minha morte entre o orbe.

XVII

O amor trouxe tua cauda de dores,
teu longo raio estático de espinhos,
e fechamos nossos olhos porque nada,
porque nenhuma ferida nos separará.

Não é culpa de teus olhos esse choro:
tuas mãos não alastraram esta espada:
teus pés não buscaram estar passagem:
o mel melancólico entrou em teu coração.

Quando o amor, feito uma onda enorme
nos bateu contra a pedra dura de mármores 
nos amassou com um único grão de trigo.

Sendo que a dor caiu em outro rosto doce
e assim, à luz da estação aberta de inverno,
a primavera ferida foi consagrada pôr tuas mãos.


XVIII

A filha de Prospero já havia olhado para baixo
nove vezes para procurar em tua alta sacada
por aquela que uma vez o fez suspirar em vão
e que agora faz outra pessoa suspirar pôr ela.

Quando, cansada de buscar por aquele,
sem saber se ela se abrigava longe ou perto,
ela se mostrou a nós como alguém perturbado
com a dor de perder o que lhe é mais caro.

E foi embora em tua tristeza, sozinha,
não conseguiu ver o rosto que lhe rendia elogios,
se eu sobreviver, preencherá mil poemas;

e ela própria parecia estar mudada pela tristeza:
olhos estavam cheios de lamúrias quando chegou em casa;
e assim o céu jazeu como estava no firmamento.

IXI

Tu atravessa as montanhas com a brisa
ou a corrente repentina que desce da Neblina 
ou então teu cabelo latejante confirma a hora,
os altos ornamentos do sol na mata do Lenheiro.

Ele vai e vem compensando teu voo reto e louro
como se estivesse deslizando de um fio invisível
a elegância da dança, a sede de tua cintura de flama,
as fortificações do exército: a água que elas retêm.

O óleo e o laranja são teu arco-íris,
ele busca como um avião na grama,
com o rumor de um pico ele voa, ofuscar-se.

enquanto tu emerge do Lenheiro, nua,
e retorna ao mundo cheio de sal e sol,
estátua reverberante e espada da areia.

XX

Se eu cresse que poderia me libertar
do peso do amor com minha morte,
com minhas próprias mãos teria assente na terra
a desta altura, este corpo odioso e teu peso;

mas como temo que isso seria ir
apenas de choros em lamentos, de duelo em duelo,
deste lado da passagem que ainda está impedida
Eu fico metade, unicamente, e metade atravesso.

Sonhos furiosos, rios de amarga certeza,
decisões mais difíceis do que os sonhos de um martelo
fluíram para a xícara dupla dos amantes,

Porque a vida nos atinge uma cólera ou um rio
e abre um túnel sangrento por meio do quais olhos 
de uma imensa família de dores se abrem.

ELEGIA TARDIA

Tua memória emergir do refrão em que vivo.
O rio Lenheiro teu lamento obstinado ao luar.

Desamparado feito as docas ao alvorecer.
É o ensejo de afastar-se, oh descuidado!

Em meu coração estão aleitando cercos dos lenheiros
Oh sempre tina de destroços, toca feroz de náufragos.

Em ti se reuniram lutas e assomos dos séculos idos.
De ti, as aves de canto içaram tuas plumagens.

Tu engoliste tudo, num alcance dos séculos idos.
feito o luar, o tempo. Tudo que em ti era um naufrágio!

Era então a hora alegre da agressão e do beijo.
Dessas horas do estupor que ustão num fanal.

A brasa de um piloto, a fúria de um nadador marinho de azul,
a camoeca turva do amor, tudo em ti eras então naufrágio!

Na infância enevoada de minha alma, alada e ferida.
Descobridor confuso, tudo em ti eras então naufrágio!

Ficaste cega pela dor, agarrou-se ao desejo,
Sendo foi derrocada pela dor, tudo em ti imergiu!

Empurrei para trás a parede dessa sombra,
Afastei-me ainda mais do desejo e desse ato então.

Porque um copo, abrigavas uma ternura infinita,
e o olvido infinito ti esmagou feito um copo  de azul.

Era a sede e a fome, e foi-se o fruto azul,
Foi o luto e as ruínas, sendo tu o milagre.

Meu despojamento foi em ti o mais terrível,
o mais tumultuoso e ébrio, o mais tenso e tenaz.

Cemitério de beijos, ainda há fogo em teus túmulos,
até os cachos se queimam bicados pelas aves.

ERIC PONTY
ERIC PONTY - POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

sexta-feira, julho 26, 2024

S.O.S


Moema não aguento mais esse pau de arara,

Não me deixe aqui com minhas amargura

Junte-se a mim!




 

quarta-feira, julho 24, 2024

EPILOGUE. - Lord Byron - Trad. Eric Ponty

1

Há algo em uma bunda estúpida,
E algo em um burro pesado;
Mas nunca, desde que fui à escola
Ouvi ou vi um boboca tão maldito
Como William Wordsworth é, de uma vez por todas.

2
E agora eu vi um tolo tão grande
Como William Wordsworth é pela primeira vez;
Eu realmente gostaria que Peter Bell
E aquele que o escreveu estivessem no inferno,
Por escrever bobagens sem sentido.

3
Ele viu a "luz em noventa e oito".
Doce bebê de um ano e vinte!
E então ele a dá à nação
E se considera um dos pares de Shakespeare!

4
Ele dá à luz a obra perfeita!
Será que Wordsworth, se eu puder aconselhar,
Contentá-lo com os elogios que recebeu
De Sir George Beaumont, Baronete,
E com teu lugar no Imposto de Renda!
Lord Byron - Trad. Eric Ponty
1819.
First published, Philadelphia Record, December 28, 1891.
ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR-LIBRETTISTA

FAREWELL PETITION TO R. C. H., ESQ.- LORD BYRON - Trad. Eric Ponty

Ó tu, enganado por filhos vulgares de homens
Cam Hobhouse! mas por palavras de Ben Bizantino!
Títulos sagrados gêmeos, que ajustados parecem
Para enfeitar a frente de teu volume, e dourar tua parte traseira,
Já que agora tu se dedicas ao trabalho
E deixa toda a Grécia para Fletcher e para mim,
Oh, ouça minha única musa contar nossas tristezas,
Uma canção para mim e para Fletcher também –
Primeiro para o castelo daquele homem de infortúnios
Envie a carta que devo anexar,
E quando tua solitária Penélope disser
Por que, onde e por que meu William fica?
Não se poupe a mover teu dó ou tua altivez
Por tudo o que o herói sofreu ou desafiou;
A dureza da galinha e a falta de cerveja
A colina pedregosa e o vale palustre
O Garlick cozinha a vapor, o que enrica meio de tuas comidas,
Os vermes sobranceiros e a ameaça de coceira,
Aquela cama sempre quebrada, sem conserto!
O chapéu velho demais, o casaco frio demais para usar,
A fome, que, repelida da porta de Sally demais, 
Persegue Tua metade resmungona de costa a costa,
Sejam esses os temas para saudar tua fiel costela
Que Tua caneta seja suave, que tua língua seja ágil
Cumprido esse dever, deixe-me, por tua vez, exigir
Algum cargo amigável em minha terra natal,
Mas que eu pondere bem, antes de pedir,
E lhe faça jurar pela tediosa tarefa.
Primeiro a Miscelânea! - para a cidade de Southwell
Por carruagem para a Sra. Pigot,
Para que prosperem nos caminhos de Sale,
E Longman sorria e os críticos parem de reclamar.
Viva Matthews! Lave Teus pés reverentes,
E, em meu nome, saudai o homem do Método.
Diga a ele, meu guia, filósofo e amigo,
Que não pode me amar, e que não vai se consertar,
Diga-lhe que não é em vão que tentarei
Percorrer e traçar nossa “velha passagem horaciano"
E ser (com prosa, suprir minha falta de rimas)
O que homens melhores foram em tempos melhores.
Aqui vou parar, pois por que aprazar
Minhas notas, e irritar um cantor com canção?
Oh, tu com a caneta perpétua em teu punho!
Apelidado, por Teus pecados, de Miscelânia,
que agradou às ordens do impressor
Para os Srs. Longman, Hurst e Rees e Orme.
Vá - Vá embora para Paternoster Row,
Teus patronos acenam com um duodécimo!
(O melhor formato para cartas de uma terra afastada,
Cabe no bolso e não cansa a mão).
Então vá, e mais uma vez comece o alegre trabalho
Com histórias e grãos de sentido,
Oh, que as mães se compungir-se e os pais perdoem!
E os filhos escrevinhadores se tornem dóceis e vivam!
Constantinople, June 7th, 1810.
First published, Murray’s Magazine, 1887, vol. i. pp. 290, 291.

LORD BYRON - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY - POETA -TRADUTOR - LIBRETTISTA