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segunda-feira, abril 09, 2018

AO TOQUE DA ORAÇÃO - MIGUEL DE UNAMUNO - TRAD. ERIC PONTY

E Campainhas do passado que não passa,
Lhe dais língua de bronze, peregrino,
Que uma vida descanso aqui, em minha casa,
Os ouço me chamais; de meu caminho.

Retorno à vista ao céu donde incendeia,
Destas nuvens o sol ali adivinho,
O que antes de ser fui, quando minha massa
Era parte deste ígneo torvelino.

Ao findar-se oração nada fez sombra,
Ao seu irmão de aliado, os receios,
E com à luz morrem, morre o cego brio.

Desta cega batalha e na alfombra,
De Deus se abrem as flores destes céus,
De que caem à esperança qual rocio.

MIGUEL DE UNAMUNO
TRAD. ERIC PONTY



SONETO - MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA - TRAD. ERIC PONTY

Pois vens que não me hão dado algum soneto
Que se ilustre este livro de abertura,
Vim há vós, pluma, meu mal podado,
E fazer-lhe, algo careça de discreto.

Se é haveis se escuse o temerário aperto,
De andar convosco de outra encruzilhada,
Mendigando alambazas, desculpada,
Fatiga e impertinente, eu os prometo.

Todo soneto e rima ali se achega,
E adorna-os de umbrais sejam dos bons,
Ao que adulação sejam ruim casta.

E dai-me há vós que desta viagem tenha
Do sal com um pãozinho pelo menos,
Lhes marcando por vendível, bastou.

MIGUEL DE CERVANTES SAAVEDRA
TRAD. ERIC PONTY


SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ - TRAD. ERIC PONTY


Do que nunca suficientemente alardeava, harmónica Fénix do indiano Parnaso, A madre Juana Inés de la Cruz, religiosa professa do convento de São Jerónimo.


Que importa no pastor sacro, que à chama
De teu obrar negar queira desta vitória,
Se, quando mais apaga tanta glória,
Mesma luz às recordações da chama.

E se de cada marmo mundana clama
De seus brasões indelével história,
Por que sirva de letra a tua memória
O que de pedra ao templo de tua fama?

Que da sagrada cifra, que venera,
O discurso nas pedras, comedido,
E na duração eterna persevera.

Isenta-lhe livre do escuro olvido,
Alardear-te porás, do culto ribeiro,
Que só ti lhe constróis este sentido.


SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ
TRAD. ERIC PONTY

SOBRE À PAZ - John Keats - TRAD. ERIC PONTY

Ô Paz! Com tua presença bendizes moradas,
Da Ilha rodeada de guerra, apaziguando
No plácido semblante nossa última angústia,
Fazendo que sorria este triple reinado?

Convocar tua presença júbilo, e convoco
Aos doces irmãos que te esperam; completa
Meu gozo: que não fale prima esperança,
Que seja tua favorita à ninfa dos montes.

À liberdade de Europa proclama destino,
Inglaterra. Ô Europa! Não olhem tiranos
Deves cobiçar-te teu anterior estado.

Das cadeias rubras, gritas tua liberdade;
Das normas teus reis, sujeita influente.
Passado horror invadirás tua sina!

N: Keats celebra à Paz de Paris de 1814

John Keats
TRAD. ERIC PONTY



I - SONETO - W, SHAKESPEARE - TRAD. ERIC PONTY

Queremos se procriem às formosas criaturas,
E que jamais à rosa da beleza padeça,
Sim já macieira, despois madures,
De tua memória sejas tua estirpe irmã.

Mas tu, cativa por teus olhos radiantes,
Este fulgor avivas volve ardor essência,
Na escassez converteu teus dons abundantes,
Hostil consigo mesmo e cruel tua existência.

Pois tu, do Mundo agora flamante ornamento,
E desta primavera herança mais acesa,
Em teu capulho enterras semente e contento.

Que se róis sendo avaro, ô, torpe usuário.
Apieda-te Mundo, não engulhas codicioso
Levando-se à tumba o fruto mais precioso.
W. SHAKESPEARE
TRAD. ERIC PONTY

(IV) - PETRARCA - TRAD. ERIC PONTY

Em que tua arte infinita e providência
Demostrou no teu admirável magistério,
Que, com este, criou outro hemisfério
E a Jovi, mais que a Marte, deu clemência.

Vindo ao mundo alumbrando com tua ciência
Á verdade que no livro era mistério,
Mudou de Pedro e João o ministério
E, pela rede, lhes deu o céu deu herança.

Ao nascer, não lhe rogou à Roma ao dar-lhe,
Sim à Judeia: que, mais que todo estado,
Exaltar a humildade lhe comprazia;

E hoje, duma aldeia rica, um sol há dado,
Que a Natura e ao sitio faz alegrar-se
Onde mulher tão bela hei visto um dia.


PETRARCA
TRAD. ERIC PONTY



SALMO II - Miguel Unamuno - TRAD.ERIC PONTY

Marcos, IX 16-24
Soberba é a fé, ímpia, àquela não traz dúvida,
A que nos encadeia à Deus em nossa ideia.
«Deus te fala por minha boca», dizem, ímpios,
E sentem em seu peito:
«Pela boca de Deus te digo! »
Não te ama, ô Verdade, quem nunca dúvida,
Quem pensa possuir-te, porque és infinito
E conosco é a Verdade, não pertences,
Sóis, Verdade, à Morte;
Padece a pobre mente ao receber-te.
És à Morte formosa,
És a eterna Morte,
O descanso final, do santo repouso;
Em ti o pensar se adormece
Buscando à verdade já é pensamento,
E ele não é si não a busca; se ao fim o encontra,
Se para adorme. A vida é dúvida,
E a fé sem a dúvida é só morte.
E és a morte o sustento da vida,
E da fé da dúvida.
Contudo viva, Senhor, na dúvida dar-me,
Fé pura quando padecer; a vida dar-me na vida
Na morte, há morte, dar-me,
Senhor, à morte com a vida.
Tu és o que és, se eu te conhecerei
Deixaria de ser quem sou agora,
E em ti me fundiria,
Sendo Deus como Tu,
Verdade suprema.
Dai-me viver em vida,
Dai-me morrer na morte,
Dai-me na fé duvidar,
Entanto viva, dai-me a pura fé logo que morra.
Distante de meu ímpio pensamento
De ter tua verdade aqui na vida,
Pois só és teu quem o confessa
Senhor não te conhecer
Distante de mim, Senhor,
O pensamento de enterrar-te na ideia,
A impiedade de querer com raciocínios demostrar tua existência.
Eu te sento, Senhor, não te conheço,
Teu Espírito me envolve,
Se não estou contigo
Se és à luz do conhecimento
Como hei de conhecer-te. Inconcebível,
Se me conheço contigo
Sendo à luz do conhecimento,
É luz que nós observamos
És invisível,
Creio, Senhor, em ti, sem conhecer-te.
Observa que de meu espírito os filhos,
Dum espírito mudo vivem os presos,
Libertá-los Senhor que caem entorno
No fogo e na água:
Liberte-os que crerei
Crendo confio em ti, Senhor, ajuda-me
Na minha desconfiança.
Miguel Unamuno
TRAD. ERIC PONTY

O Poeta pede ao seu amor que lhe escreva - Federico Garcia Lorca - TRAD. ERIC PONTY

Amor minhas entranhas, Vida e Morte,
Em vão espero por tua palavra escrita
E pensar, com a nata que se murcha,
Se vivo sem mim não quero perder-te.

O ar é imortal, e a pedra é inerte
Nem conhece à sombra nem por si evita.
Coração interior não necessita
O Mel gelado que à tua lua verteu.

Mas eu te sofro, rasgo minhas veias,
E Tigre e Pomba, sobre à tua cintura
Num duelo de mordiscar e açucenas.

Cheias, pois, são palavras minha loucura
Deixando ser minha serena noite
D´alma que é sendo sempre tão escura.


Federico Garcia Lorca
TRAD. ERIC PONTY

domingo, abril 08, 2018

O Cão e o Frasco - Charles Baudelaire - TRAD. ERIC PONTY



Meu soberbo cão, meu bom cão, meu valioso e tão pouco cão maltes, venha aqui e aspire este admirável perfume adquirido a partir dos melhores perfumes feitos nesta cidade.

E meu cachorro francês apontou a sua cauda, em sinal, de assumo, entre estas pobres criaturas que gostam de brincar ou sorrir, e abordados, enfiam o seu nariz molhado com curiosidade em um frasco aberto e então, de repente feito numa chicotada num susto, late a mim feito uma maldição.

"Ah, tu miserável cão, se eu tinha oferecido por um engano de dejeções, tu terias inalado odor com prazer e talvez até mesmo o comido.

A este respeito, indigno cúmplice de minha vida triste, se assemelham ao público, para quem nunca se deve oferecer os aromas delicados que só lhes distancias, mas em vez de lhes dar apenas dejeções, seletos com cuidado.



CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY


Livre Rare Book

Bonjour,

Livre Rare Book vous invite à venir visiter le Salon International du Livre Rare & et de l'Objet d'art au Grand Palais, à Paris, du 13 au 15 avril prochain (vernissage le 12 à partir de 17h).

Nous vous accueillerons au stand E6 pour découvrir ensemble toutes les fonctions de l'application "Livre Rare Book", outil aujourd'hui indispensable des Bibliophiles!

A télécharger sur Google Play ou App Store.

Vous pouvez imprimer une invitation pour deux personnes ici : pour le Vernissage (12 avril) ou pour le reste du salon (13 au 15 avril).


Dans le cadre du changement de réglementation européenne sur la gestion des données personnelles, si vous souhaitez continuer à recevoir nos informations par e-mail à propos des nouveautés sur Livre Rare Book, des invitations pour des Salons, etc, merci de le confirmer ci-dessous.
Fréquence d'envoi : environ 3 à 4 e-mails par an.

Je souhaite recevoir les informations de Livre Rare Book (Nouveautés, invitations, etc)

Je ne souhaite pas recevoir les informations de Livre Rare Book

Au plaisir de vous rencontrer sur le salon!
L'equipe LRB
Contacter Livre Rare Book

Agradeço o convite,
mas não posso comparecer.
 
Eric Tirado Viegas

terça-feira, abril 03, 2018

Vespers, Op.37- . Svete tikhyi – Rachmaninov - TRAD.ERIC PONTY

LITURGIA DA IGREJA ORTODOXA RUSSA

TODA À NOITE VIGILIA

Venham, Vamos Adorá-lo!
Amém!

Ô Venham! Vamos Adorar Nosso Deus,
Nosso Rei. Ó Ele Chegará.

Vamos adorá-lo cairemos
Diante da Sua Presença Cristo,
Nosso Rei e Nosso Deus.

Ô Ele Chegará, Vamos adorá-lo 
Cairemos em Vossa Presença do Próprio Cristo,
Nosso Rei e Nosso Deus. Ô Ele chegará,
Vamos adorá-lo e cair em Vossa Presença!




Ó Jesus Cristo,
Tu Sóis Gentil em Vossa Luz Santa Glória Imortal,
Celestial, Santo e Abençoado Pai!

Cá chegamos Em Vossa Visão do Sol
Nos contemplaremos em Vossa Luz Noturna,

Cantaremos Louvores ao Deus.
Pai, Filho e Espírito Santo.

Tu Sóis Digno em todas Nossas Ocasiões
De Vós Seres Louvado
Por todas Vozes Santas.

Ó Filho, de Nosso Senhor Deus,
Sóis Doador de Nossa Vida,
Portanto Vós Sóis O Mundo
Lhes daremos em Vossa Glória.

Vespers -  Bogoroditse Devo



Ô Virgem, Mãe de Deus,
Exultemos, Maria,
Cheia é de Vossa Graça,
Ô Senhor está contigo.

Bendita és tu entre às Mulheres,
Bendito sejas o fruto do Teu Ventre,
Porque deste à luz ao Salvador
Das Nossas Almas.

Vespers, Op.37-  Voskres iz groba


Ao Ergueste da Tua Tumba,
Rebentai todos laços do Inferno,
Destruíste à Sentença da Morte!

Ô Senhor, Libertai Todos os Homens
Das armadilhas do Nosso Inimigo.

Apareceste aos teus apóstolos,
Enviaste-os ao Pregar.

Por meio deles dás Paz à terra habitada,
Ô tu que És rico em Vossa Misericórdia!


Vespers, Op.37- Vzbrannoy voevode


À Ti, Ô Mãe de Deus, Nossa Líder Em Nossa Batalha,
Defensora, Nós, Somos Teus servos,
Libertados da calamidade,
Oferecemos Hinos de vitória e Ação de Graças.

Por Liberta-nos de Todo O Perigo,
Pois Seu Poder és Invencível,
Nós que possamos cantá-la a ti:
Alegrai-vos! Noiva sem esposo!

TRAD.ERIC PONTY

segunda-feira, abril 02, 2018

EM MEMÒRIA DA EFÌGIE DE LUIZ DE CAMÔES - ERIC PONTY

Á toda alma cativa é nobre alma,
Ante cuja visão chegam palavras,
Á que sobre isto semelhe escrever,
Saudo-lhe em Nome do Amor, este Dono.
Dante Alighieri

I

Ao ser meiga bela qual um lied lenha,
Fênix mares, flores, cristalinas,
Tiveste lhe erguido fugaz efigie.
Haver sombra reger avesso fresco.

Ao mar molhaste gruídos pés estresidos
Em forma recém ereta desta sombra,
És de agora este fogo masculino,
Que só há duma flama sol mar duelam.

Havendo nada raie senão à tarde!
Amor destruir buganvília intacta.
És bonita, exata de ideável lume,

Ao deixares tua fronte impôs tua mágoa
És alcance novo bronze tinir sino,
Ao cruzares tua estátua do véu eterno.

II

Ao querermos procriem estas criaturas,
E que esta flor encanto feneça,
Senão teu canto, despois da fartura,
És memória ser estirpe de herdeira.

Mas tu, seduziu o olhar tão radiante,
Este fulgor avivas volver ardor,
Na escassez converte dons abundantes,
És hostil contigo e cruel teu existir.

E serás tu, ao Mundo agora flama ornou,
Ao ser primavera mensagem vera,
No caule enterra semente e contento.

Se gastou ser avara, ô, torpe mágoa,
Piedade do Mundo, não engoliu à maça,
Ergueste Paradiso à fruta rara.

III

Num sol da tarde um raio cruzou à nuvem,
És sendo mulher charmosa, de entranhas,
Desdenhará o cultivo fisionomia?
Ô quem tão insensatez ti porá fim.

Ao fazer-se Amor és mesma sepultura?
Tu seres mãe dum fiel Espelho,
Revives teu agrado de prima hera;
Assim, à idade, serás mal videira.

Pesares tua aflição, doirada era,
Entretanto, se não quis de ti memória,
Morro solteiro e padeço tua efígie.

Aos olhares teu espelho rosto admirado,
Sendo tempo de que outra mesma repita,
Nem Mundo basta nem mãe ser bendita.

IV


Indagas porque trago raiva no peito,
Sobre colo duma cabeça indômita,
É sou desentende da raça invisível,
Devolvo ao Deus das minhas mágoas céu.

Sim sou daqueles que vingam rebanho,
Havendo marcado à minha fronte óssea,
Embaixo da palidez riscou raio Sol,
De mim tenho às vezes rubor implacável.

Último profeta sem uma trombeta,
Que dos confins dum riacho gritava,
Pesares tua aflição, findar da época.

Seis vezes nas águas duma ilusão,
E cuidando das vestes escarnecidas,
Por seres mãe Sol dum fiel Espelho!


 ÉRIC PONTY

Miguel de Cervantes Saavedra TRAD. ERIC PONTY

II

Aqui o valor da espanhola terra;
Aqui à flor da francesa gente;
Aqui quem concordou o diferente,
De oliva coroa àquela guerra;
Aqui, baixo espaço, olha se encerra.

Nossa à luz luzeiro Ocidente,
Aqui fez cravada à excelente,
Pé nosso bem todo desterra.

Olhas quem é mundo e pujança,
Quão, da mais alegre vida,
Morte levar sempre à vitória!

Também vê à bem-aventurança,
Gozar nosso reino esclarecido,
No eterno reino da glória.

III

Quando desaba à guerra
Livre nosso hispânico chão,
Com um repentino voo,
A melhor flor que há da terra
Sendo transplantado céu.

E, ao cortá-lo de seu ramo,
O mortífero acidente
Foi tão oculto à gente,
Como o que não vê à chama
Até que queimar se sentiu!
Miguel de Cervantes Saavedra
TRAD. ERIC PONTY

MALLARMÉ - ERIC ROHMER




O Poeta é semelhante príncipe das nuvens

domingo, abril 01, 2018

SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ - TRAD. ERIC PONTY


De que nunca suficientemente alardeava, harmónica Fénix do indiano Parnaso, à freira Juana Inés de la Cruz, religiosa professa do convento de São Jerónimo.

Que importa no pastor sacro, que à chama
De teu obrar negar queira desta vitória,
Se, quando mais apaga tanta glória,
Mesmo luz às recordações da chama;

Se em cada marmo mundana clama
De seus brasões indelével história,
Por que sirva de letra à tua memória
O que de pedra ao templo de tua fama?

Que da sagrada cifra, que venera,
O discurso nas pedras, comedido,
E na duração eterna persevera,

Isenta e livre deste escuro olvido,
Alardear-te porás, culto do ribeiro,
Que só lhe constróis deste sentido.

[A don Carlos de Sigüenza y Góngora.]

Doce, canoro cisne mexicano,
Cuja voz deste estige lago se houvera,
Segunda vez a Eurídice te dera,
Segundo deste delfim te fora humano;

Há quem se o troiano muro, era tebano,
Ao ser em doces cláusulas devera,
Nem deste grego incêndio consumira,
Nem se prostrara alexandrina mão:

Sacro munem de minha voz ofendo,
Nem ao pulsar divino plectro de ouro,
Agreste Avena concordar pretendo;

Pois pôr não profanar tanto decoro,
Meu entendimento admira o que entendo,
Em minha fé reverência do que ignoro.
SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ
TRAD. ERIC PONTY

sábado, março 31, 2018

ODE AO JAZMIN - Poèmes à Jean Voilier - PAUL VALÈRY - TRAD. ERIC PONTY


São seixos cravados no meu peito em teus olhos,
Sendo quais gentis riscos incertos olhares,
Trespassadas chamas vivas de meu anoitecer absorto,
Ô Compleição imanente, ô tu estás em todas partes.

Tu que estás cingida pela doçura do riacho,
Que ao viver sem ti um dia me íleo de ferro,
Que me enevoa teu peso sendo meu suspiro ejeta
Que ao findar-se no século cabal do inferno…

É, mas, em teu contorno feito de mim quanto existia me irritava,
E tua obra mesma em mim é igual dum sonho importuno,
Se ao haver em ti, há em Ti, ave unida,
Que se fez dócil em minha alma no teu sigiloso aroma.

E ao respirá-la em teu espírito na moradia mais terna,
Onde as savanas castas, são floridos unos, junto às chamas,
Na potência amorosa que em teus membros anelados
Sendo contigo amada um só sorriso de refúgio em minha súplica.

Devora, pois, o caminho, retornarmos ao vácuo da delícia,
Meus passos me suprimem aos preciosos degraus
Que me carregam ao umbral de teu sedoso caliz
Minha sede por ti achares em teus certos olhares.

Exausta está minha espera amores por andares fingindo-o;
E ao bebê-los e fechá-los quero, e ao ver-te como estes se abriram.
Calmos outra vez quando ao excesso esperado de nos unir-nos
Isto é que nos permitirá sorrir em teu latejo.
PAUL VALÈRY
TRAD. ERIC PONTY

sexta-feira, março 30, 2018

LIMERICKS – EDWARD LEAR – TRAD. ERIC PONTY



Um senhor se sentava junto ao mar
Calmo no alto dum Pilar;
Porém, se havia mui frios,
Renunciando-se aos brios,
Mandava brindar no seu lugar.
 EDWARD LEAR
TRAD. ERIC PONTY

LIMERICKS – EDWARD LEAR - TRAD. ERIC PONTY


Uma Senhora vivia em Navarra
Viveu toda existência na jarra;
Ao fazer-se sem cor
Se pintava a toda hora na flor
À serena Senhora de Navarra.

EDWARD LEAR
TRAD. ERIC PONTY




quinta-feira, março 29, 2018

Gorecki - Symphony No. 3 "CANÇOES DOLOROSAS " - Lento e Largo – TERCEIRO MOVIMENTO



Soprano: Isabel Bayrakdaraian, Sinfonietta Cracovia, conduzida por John Axelrod. IMAGENS DIRETAS DO “HOLOCAUSTO - Memorial DE Auschwitz"

Na sinfonia, concluída em 1976, a simplicidade do material musical combina com à expressão apaixonada ao criar uma atmosfera profundamente espiritual - uma peça particularmente querida por Górecki.

À música folclórica e religiosa de natureza profundamente sagrada, estritamente ligadas à fé católica, e especialmente ao culto da Virgem Maria, que é invulgarmente forte na Polónia. 

Górecki, inspirado pela mesma figura de Nossa Senhora das Dores, decidiu escrever uma sinfonia em grande escala.

O texto usado por Gorecki no terceiro movimento está escrito numa das paredes em Auschwitz, sendo que foi escrito por uma menina morta pela GESTAPO de 18 anos exterminada em Auschwitz por intercessão da Virgem Maria, apresentamos uma pseud. Tradução o texto deixado pela menina de 18 anos.

Ô Mãe,
Mãe, não choreis,
Ô Rainha do Paraíso,
Nós protejamos.

Ô Mãe,
Rainha do Paraíso,
Nós protejamos.

Ô Virgem Maria,
Cheia de Graça!



https://www.senat.gov.pl/aktualnosci/art,10422,list-marszalka-senatu-do-polonii-i-polakow-za-granica-w-zwiazku-z-ustawa-o-ipn.htm

domingo, março 25, 2018

AS METAMORFOSIS DO VAMPIRO - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

Ao Mestre Jamil Almansur Haddad
Esta mulher que havia ofertado de seu corpo
E com um movimento serpente cercou fogo,
Se pois então acariciava seio preso espartilho,
Boca fresca descia com almiscaro sabor:

— Tenho lábio tão húmido, e conhecendo à arte,
Que faz perder consciência sobre um leito macio.
Aplaco todos cantos entre peitos poderosos,
E aos velhos faço rir com sorriso dos meninos.

á quem me vê sem véus e nua, eu sou placebo
Da lua e do sol, do céu que são destas estrelas!
Assim é, besta amigo, sou destra voluptuosidades
Quando homem cai entre meus braços tão insubmissos.

E quando do mordisco abandonar fruto meus peitos,
Sou tímida e libertina, tão frágil e ardente,
Que sobre estes colchões que tremem de emoção,
Até os arcanjos débeis condenariam em mim!

Quando me seciono até à medula destes ossos,
E se languidamente me contorno até ela
À ofertar-lhe dum beijo de amor, que só eu vi
Um coro com dois seios viscosos e cheios de pus!

Ante tanto horror lacrei os meus olhares,
E quando os abri de novo à luz crua desta tarde,
Ao meu lado, no lugar portentoso manequim,
Se pareciam saciados de sangue, mesclou de libor.

Se tremia inarticulado despojo do esqueleto,
Que desaba ouvir lamentos qual se fazem a veleta
Ou o rótulo folgado do qual partem suas asas,
Balançando pelo vento às noites invernosas.
Charles Baudelaire
Trad. Eric Ponty