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domingo, março 25, 2018

AS METAMORFOSIS DO VAMPIRO - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

Ao Mestre Jamil Almansur Haddad
Esta mulher que havia ofertado de seu corpo
E com um movimento serpente cercou fogo,
Se pois então acariciava seio preso espartilho,
Boca fresca descia com almiscaro sabor:

— Tenho lábio tão húmido, e conhecendo à arte,
Que faz perder consciência sobre um leito macio.
Aplaco todos cantos entre peitos poderosos,
E aos velhos faço rir com sorriso dos meninos.

á quem me vê sem véus e nua, eu sou placebo
Da lua e do sol, do céu que são destas estrelas!
Assim é, besta amigo, sou destra voluptuosidades
Quando homem cai entre meus braços tão insubmissos.

E quando do mordisco abandonar fruto meus peitos,
Sou tímida e libertina, tão frágil e ardente,
Que sobre estes colchões que tremem de emoção,
Até os arcanjos débeis condenariam em mim!

Quando me seciono até à medula destes ossos,
E se languidamente me contorno até ela
À ofertar-lhe dum beijo de amor, que só eu vi
Um coro com dois seios viscosos e cheios de pus!

Ante tanto horror lacrei os meus olhares,
E quando os abri de novo à luz crua desta tarde,
Ao meu lado, no lugar portentoso manequim,
Se pareciam saciados de sangue, mesclou de libor.

Se tremia inarticulado despojo do esqueleto,
Que desaba ouvir lamentos qual se fazem a veleta
Ou o rótulo folgado do qual partem suas asas,
Balançando pelo vento às noites invernosas.
Charles Baudelaire
Trad. Eric Ponty

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