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sábado, janeiro 27, 2018

Júlio Cortázar & John Keats - TRAD. Eric Ponty

(Silencioso, em uma cimeira de Darién).

  («Ao ler por primeira vez Homero de Chapman», v. 14)

Porém, ademais, Keats se já decidiu a se escalar como pessoa as cimeiras que seus versos coroam antes que ele seja. Seus forçados estudos médicos não respondiam a vocação alguma; os arrastram consigo largo tempo (dos anos são longos quando ficam sete de vida) e um dia —estando seguro do que fez— crava sua lanceta em um tronco de árvore, e vai a dizer-lhe a seu tutor que prefere a poesia a farmácia. Nem falar do escândalo que se arma.

Tem vinte uns anos, é 1816. Aprecia a Leigh Hunt, conhece a Shelley, devora livros e caminhos. Celebra, verte as libações, é feliz. Tempo de irmandade, presencia incessante de Tom, de George, de Fanny, dos amigos: Cowden Clarke, Haydon, Hunt, Reynolds. Para ele Hampstead (um Adrogué de Londres) contêm toda a mitologia grega, e em seu céu emprega a alçar-se a sombra dos deuses que John elegerá para sofrimento e resgate: Shakespeare. E assim lhe seguimos agora no teu caminhar. Eh, John, sigamos juntos, Quer?

Júlio Cortázar
Muito tempo hei viajado pôr os mundos do ouro,
e hei visto muitos reinos e impérios admiráveis,
E hei estado em torno de mui ocidentais ilhas
que os bardos protegem como feudos dum Apolo.

Hei ouvido falar às vezes dum vasto território
Regeu na propriedade o taciturno Homero,
mas nunca hei respirado seu ar sereno e tão puro.
Até que hei ouvido a Chapman pensar com mui ardor:

Então me hei sentido como que observa o céu
E vê um novo planeta nascer ante tua vista,
O como amplo Cortés quando com olhos de águia.

Contemplara Pacífico então todos teus homens
Se ansiavam qual atónitos e com incerteza—
Silencioso, na cimeira dum monte de Darién.





 John Keats
TRAD. ERIC PONTY





JUAN DEL ENCINA - Mais vale trocar/Prazer por dores - Trad. Eric Ponty

(Salamanca?, 1468 - León, 1529)
Mais vale trocar
Prazer por dores
Que estar sem amores.
Onde é agradecido
5eus doces ao morrer;
Viver no olvido,
Daquele não é viver;
Melhor é sofrer
Paixão e dores
Que estar sem amores.
É vida perdida.

Viver sem amar
É mais é que vida
Saberia empregar;
Melhor é penar
Sofrendo dores
Que estar sem amores.

A morte é a vitória
Do que vive pretensão,
Que espera haver glória
Quem sofre paixão;
Mais vale pressão
De tais dores
Que estar sem amores.

O que é mais pesado
Mais goza de amor,
Que o muito cuidado
Lhe paga ao temor;
Assim que é melhor
Amar com dores
Que estar sem amores.

Não temendo tormento
Quem ama com fé,
Se seu pensamento
Sem causa não foi;
Havendo por que,
Mais valem dores
Que estar sem amores.

FIM

Amor que não sofre
Não pede prazer,
Pois já lhe condena
Seu pouco querer;
Melhor é perder
Prazer por dores
Que estar sem amores.

TRAD. ERIC PONTY







Cogita-me sem prevenção - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Cogita-me sem prevenção
Amor, astuto e já tirano:
com capa desse cortesão
se me penetrou no coração.

Descuidada da razão
e sem armas destes sentidos,
deram à porta inadvertidos;
E por lograr seus enojos,
enquanto suspendia seus olhos
me atravessei entre aos ouvidos.

Desfraldado entrou tão manhoso;
mas já que adentrou se observou
desse Paládio,  já saiu
daquele disfarce enganoso;
E, com ânimo já tão furioso,
tomando as armas em fogo,
se descobriu sendo astuto Grego
que, as iras brotando e com furores,
matando todos defensores,
passou a toda Sua Alma em fogo.

E procurando suas violências
nela ao preamos ainda mais forte,
deu ao Entendimento de sua morte,
que era Rei dessas potências;
E sem fazer diferencias
deste real a plebeia grei,
fazendo-se de geral lei
aglomeram aos punhais
os seus discursos racionais
porque eram filhos desse Rei.

A Cassandra sua o fizera
buscou, e com modos tiranos,
atou à Razão com as suas mãos,
que era da Alma de princesa.
Nos cárceres sua beleza
dos soldados já atrevidos,
lamentava eram não crentes
desastres que adivinhou,
pois por mais vozes que deu
Não ouvirão os seus sentidos.

Todo o palácio abrasado
se notou, todo destruído;
Deifobo ali malferido,
aqui Paris foi maltratado.
Prende também seu cuidado
Dessa modéstia em Polixena;
No meio de tanta aflição,
De tanta morte e confusão,
Dessa ilícita aflição
só reservada em Elena.

Já a Cidade, que vencia
Indo ao Céu, de tanto arder,
só guardava deste seu ser
os vestígios, em sua ruina.
Todo o amor que extermina;
E com o ardente furor,
só se ouve, dentre o rumor
com que sua crueldade se apoia:
"Aqui faz-se uma Alma já Troia
Sendo Vitoria por Ao Amor!"

TRAD.ERIC PONTY

ANTI AUSÊNCIA - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad.Eric Ponty

Divino dono meu,
se no tempo de partir-me
tem-me meu amante peito
alentos de queijar-se,
ouça minhas penas, olha meus maus.

Atentasse essa dor,
se pode lamentar-se,
E a vista de perder-te
meu coração exale
canto a terra, queixas ao ar.

Apenas teus favores
quiseram coroar-me,
desdenhoso mais que todos,
felizes como nada,
quando os gostos foram os pesares.

Sem dúvida o ser feliz
é da culpa mais grave,
pois minha fortuna adversa
disponha que me pague
com que aos meus olhos em tuas luzes faltem.

Aí, dura lei de ausência!
Quem poderá derrotar-te,
si onde eu não quero
me levas, sem levar-me,
com alma morta, vivo cadáver?

Será de teus favores
só o coração encarcerado
por ser mais um silencio
se quero que os guarde,
custodio indigno, sigilo frágil?

E aposto que me ausento,
por último vale
te prometo rendido
meu amor e fé constante,
sempre querer-te, nunca te esquecer.

TRAD.ERIC PONTY

sexta-feira, janeiro 26, 2018

Soneto I - Garcilaso de La Vega - Trad. Eric Ponty

Quando me paro comtemplar meu espaço,
E ao ver os passos pôr do que hão traído,
Falo, segundo pôr donde andar perdido,
Que o maior mal pudera haver chegado.

Mas quando do caminho isto olvidado,
Há tanto mal que não sei por hei chegado,
Sei que me acabo e mais eu sentido,
Ver acabar comigo do meu cuidado.

Eu acabarei, que me entreguei sem arte,
Há quem saberá perdesse e acabar-se,
Se quiser e há um saberá querê-lo.

Que, pois, minha vontade pode matar-me,
A tua, que não és tanto de minha parte,
Podendo, que farás, porém, fazê-lo.

TRAD.ERIC PONTY





Soneto - Francisco de Quevedo - Trad. Eric Ponty


 Representa-se a concisão do que se vive e qual nada semelha o que se viveu.


Ah dessa vida!… Nada que me responde?
Aqui dos ancestrais de que hei vivido!
A Fortuna meus tempos há morrido,
Horas minha loucura as se esconde.

Que sem poder saber como nem onde!
A saúde e a idade se esvaem na fuga!
E faltando a vida, assiste esse vivido,
E não há calamidade que não me ronde.

Haver se foi; manhã não hei chegado;
Hoje se está vendo sem parar um ponto:
Sou um foi e um será e um será cansado.

Nele hoje e amanhã e haverá, junto
Fraldas e mortalha, e hei me tornado
Presentes sucessões desse defunto.

Trad. Eric Ponty

Amor Inoportuno - Sor Juana Ines De la Cruz - Trad. Eric Ponty

Das duas em que lhe escolher
Tenho, não sei das quais prefira,
Pois vós sentis não querias
E eu sentiria em querer.

Com que si de qualquer lado
Quero inclinar-me, forçoso
ficar nesse um forçado
Que outro fique alterado.

Com que si a qualquer lado
Quero inclinar, sendo forçoso
ficando há um já forçado
Que outro fique descansado.

E não julgo que fará quem
Aprovando sentença tal,
Como que me trate mal
Por tratara-os a vós bem.

Mas por outra parte sinto
Que é também muito rigor
Que o que devo em amor
Pague em aborrecimento.

Há um irracional parece
Este rigor, pois se infere,
Se agonio há quem me quer
Que farei quem aborreço?

E há um irracional semelha
Este rigor, pois se infere,
Si aflijo há quem me queira
Que farei com quem aflijo?

Porém dar um meio justo
Nestas duvidas pretendo,
Pois não querendo, os ofendo,
E querendo eu me desgosto.

E sendo está a sentencia,
Porque não podeis queixar,
Que entre afligir e amar
Se raio a diferencia.

E seja esta a sentença,
Porque não os podeis queixar,
Que entre aborrecer e amar
Se raio a diferencia.

Este o discurso lhe aconselha,
Pois com esta conveniência
Nem eu fico com violência
Nem vós os apartais com queixas.

E que estaremos ínferos
Forçosos com ofereço;
Vos de ver não lhes aborreço,
Eu de saber que não quero.

Só este meio és bastante
A ajustarmos, si os contenta,
Que vos me logreis atenta
Sem eu vós passeis ao amante.

E assim fico em me entender
Esta vez bem com os dois;
Com o agradecer, com vós;
Comigo, com o não querer.

Que ao nada chegasse a dar-se
Neste desejo foi-se cumprido,
Ver que é igual ao partido
Servirá para resignar-se.

TRAD.ERIC PONTY

quinta-feira, janeiro 25, 2018

Liberdade - Paul Éluard - Trad. Eric Ponty

Em meus cadernos escolares
Na minha mesa e árvores
Na areia na neve
Eu escrevo o seu nome

Em todas as páginas a ler
Em todas as páginas brancas
papel sangue pedra ou cinzas
Eu escrevo o seu nome

A efígie de ouro
guerreiros com armas
Na coroa dos reis
Eu escrevo o seu nome

Selva e deserto
Dos ninhos sobre a vassoura
No eco da minha infância
Eu escrevo o seu nome

Sobre as maravilhas da noite
No pão branco de dias
Em estações das noivas
Eu escrevo o seu nome

Em meus trapos azuis
No sol antiquado na lagoa
Na lua viva no lago
Eu escrevo o seu nome

 Em campos no horizonte
Nas asas de pássaros
E a fábrica de sombras
Eu escrevo o seu nome

Cada respiração ao Amanhecer
Em navios no mar
Na montanha demente
Eu escrevo o seu nome

Sobre a espuma das nuvens
O suor da tempestade
Na chuva grossa e sem graça
Eu escrevo o seu nome

Em formas de piscar olhar
Em sinos coloridos
Na verdade física
Eu escrevo o seu nome

Em trilhas de vigília
Implantado em estradas
Vidraças transbordantes
Eu escrevo o seu nome

A lâmpada que ilumina
A lâmpada é extinta
Em minhas casas combinadas
Eu escrevo o seu nome

A fruta cortada ao meio
Espelho e meu quarto
Na minha cama de concha vazia
Eu escrevo o seu nome

Em meu cão ganancioso e tenro
Em suas orelhas eretas
Em sua perna desajeitada
Eu escrevo o seu nome

No trampolim de minha porta
Em objetos familiares
O fluxo do fogo abençoado
Eu escrevo o seu nome

Em toda a carne concedida
Na frente dos meus amigos
Em cada mão estendida
Eu escrevo o seu nome

Sobre o vidro surpresas
Nos lábios atentos
Bem acima do silêncio
Eu escrevo o seu nome
Em meus abrigos destruídos
Desabou sobre meus faróis
Nas paredes do meu tédio
Eu escrevo o seu nome

A ausência sem desejo
Na solidão nua
Em marchas da morte
Eu escrevo o seu nome

Sobre a saúde de volta
O risco que desapareceu
Na esperança sem memórias
Eu escrevo o seu nome

E pelo poder de uma palavra
Estou iniciando minha vida
Eu nasci a conhecê-la
Para nomear a si mesma
Liberdade.

TRAD.ERIC PONTY

Manhã - Cem Sonetos de Amor - Pablo Neruda - Trad. Eric Ponty

I Matilde, nome de mármore e vinho

Matilde, nome de mármore e vinho,
do que apareceu desta terra e dura,
palavra cujo crescimento amanhece,
em cujo estio estala à luz dos limões.

Nesse nome correm navios madeireiros,
rodeados enxames fogo azul marinho,
e essas escritas são d´agua dum rio
desemboca em meu cerne calcinado.

Ô nome aberto embaixo uma trepadeira,
com à porta dum túnel desconhecido
comunica com fragrância do mundo!

Ô invada-me com tua boca abrasadora,
indaga-me, quer, teus olhos noturnos,
porém teu nome deixa-me cruzar-te dormida.

II - Amor, quantos caminhos até chegar há um beijo

Amor, quantos caminhos até chegar há um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens só rodeados com à chuva.
Em Taltal não amanhece algo primavera.

Porém tu e eu, amor meu, estarmos juntos,
juntos desde a roupa das raízes,
juntos de outono, d´agua, de cadeiras,
até ser só tu, só eu juntos.

Pensar que custaram tantas pedras que leva ao rio,
a desembocadura d´agua da Boroa,
pensar que separados por trens e nações.

Tu e eu tínhamos que simplesmente amarmos,
com todos confundidos com homens e mulheres,
com à terra que implanta e educam à rosas.  

III - Áspero amor, violeta coroada de espinhos

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
matagal entre tantas paixões irizadas,
lança às dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste à minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de pronto, entre às folhas frias de meu caminho?
Quem ti ensinou os passos que até mim te levaram?
flor, que pedra, que humos mostraram minha morada.

Ao certo é que teme-o à noite pavorosa,
árvore levo todas às copas com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,

Contudo que cruel amor acercava sem trégua
até que lançando-me com espadas e espinhos,
abriu em meu coração um caminho ardente.

V - Não te toque à noite nem ar nem aurora

Não te toque à noite nem ar nem aurora,
só à terra, a virtude dos jacintos,
os ciprestes que crescem ouvindo água pura,
o barro e as resinas de teu país fragrante.

Desde Quinchamali donde fizeram teus olhos
até teus pés criados para mim na Fronteira
eras a greta escura que conheço:
Em tuas cadeiras toco de novo o trigo.

Talvez tu não sabias, araucana
que quando antes de amar-te me olvidei de teus beijos
meu coração ficou recordando tua boca.
e fui como ferido por estas ruas,

até que que compreendi que havia encontrado
amor, meu território de beijos e vulcões.

VI - Nos bosques perdidos, cortei um ramo escuro

Nos bosques perdidos, cortei um ramo escuro,
e os lábios, cedendo, levantei seu sussurro:
era talvez à voz da chuva chorando,
um companhia toca seu coração cortado.

Algo que desde tão distante me parecia
oculto gravemente coberto pela terra,
um grito ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e humildo nervos da folha.

Por ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou dentro minha boca
errante odor trepou por meu critério.

Como se me buscaram de pronto às raízes.
que abandonei, à terra perdida com minha infância,
e me detive ferido pelo aroma errante.  

VII – "Atarás comigo", disse, sim que nada supera

"Atarás comigo", disse, sim que nada supera
donde e como latia meu estado doloroso,
e para mim não havia planta nem barcarola,
nada senão uma ferida  por amor aberta.

Repeti: Vem comigo, como se eu morrera,
e nada via em minha boca à lua que sangrava
nada via aquele sangue que suba ao silêncio.
Oh amor, agora olvidemos à estrela com espinhos!

Por isso quando ouço que tua voz repetia,
"Atarás comigo", foi como se desataras
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado.

que desde sua bodega submergida subiria
e outra vez em minha boca senti sabor de chama,
de sangue e de plantas, de pedra e queimadura.

VIII - Se não fora porque teus olhos têm cor de lua,

Se não fora porque teus olhos têm cor de lua,
de dia com argila, com trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fora porque eres uma semana de âmbar.

Se não fora porque eres o momento amarelo
em que outono sobe pelas enredadeiras
e eres algum pão que lua fragrante
elabore passeando seu polvo pelo céu.

Ô, bem-amada, eu não te amaria!
Em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, árvore da chuva,

e todo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso vê-lo todo:
vejo em tua vida todo vivente.  

IX - O golpe da onda contra pedra indócil

O golpe da onda contra pedra indócil
à claridade estala e estabelece sua rosa
no círculo do mar se reduz a um buquê,
a uma só gota de sal azul que cai.

Oh radiante magnólia desatada pela espuma,
magnética viajadora cuja morte floresce
e eternamente volve a ser e ao não ser nada:
sal, deslumbrante movimento marinho.

Juntos tu e eu, amor meu, selamos o silêncio
então destrói o mar suas constantes estátuas
e derruba suas torres de furor e brancura.

Porque na trama destes tecidos invisíveis,
d´agua desbocada, de incessante areia,
sustentamos a única e acossada ternura. 

X – Suave é bela como se música e madeira

Suave é bela como se música e madeira,
ágata, telas, trigo, durarmos transparentes,
houveram erigido a fugitiva estátua.
Para onda dirige sua contrária frescura.

O mar molha negros pés copiados
a forma recém trabalhada na areia
e és agora seu fogo feminino de rosa
uma bolha que o sol e o mar combatem.

Ai, que nada te toque fado ao sal do frio!
Que nem amor destrua à primavera intacta.
Formosa, reverbero de indelével espuma.

Deixar que tuas cadeiras imponham n´água,
uma medida nova de cisne o de nenúfar
e navegue tua estátua pelo cristal eterno.

XI – Tenho fome de tua boca, de tua voz de teu pelo

Tenho fome de tua boca, de tua voz de teu pelo,
e pelas ruas vou nutrindo-me, calado,
não me sustenta o pão, alva me decompõe,
busco o som líquido de teus pés no dia.

Estou abrindo de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso granjeiro
tenho fome de pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta uva.

Quero comer o raio queimado em sua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de teus semblantes.

e esfomeado venho e vou indagando ao crepúsculo
buscando-te, procurando teu coração carente
como uma pluma de solidão de Quitratúe.

XII - Plena mulher macieira carnal, lua cadente.

Plena mulher macieira carnal, lua cadente,
espesso aroma de algas, lodo e luz manchados,
que escura claridade se abre entre tuas colunas?
Que antiga noite homem toca com seus sentidos?

Aí, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar afogado e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos
e dois corpos por um só mel derrotados.

beijo ao beijo recorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoadinhos,
e o fogo genital transformado em delícia.

corre para delgados caminhos do sangue
até precipitar-te como uma erva noturna,
até ser e não ser senão um raio na sombra.

XIII A luz que de teus pés sobe à tua cabeleira.

A luz que de teus pés sobe à tua cabeleira,
a turgência envolve tua forma delicada,
não é de nácar marinho, nunca de planta fria:
é de pão, de pão amado pelo fogo.

A farinha levantou seu celeiro contigo
cresceu incrementada pela idade venturosa,
quando os cereais multiplicaram seu peito
meu amor, era carvão trabalhando na terra.

Oh, pão tua frente, pão tuas pernas, pão tua boca,
pão devorado e nascente com luz cada manhã,
bem amada, bandeira das padarias,

Uma lição de sangue teu Deus o fogo,
da farinhas aprendeste a ser sagrada,
e do pão o idioma e o aroma. 
XIV Me falta tempo para celebrar teus cabelos

Me falta tempo para celebrar teus cabelos,
um por um devo cortá-los e elogiá-los:
Outros amantes querem viver com certos olhos,
e eu só quero se tua cabeleira.

Na Itália te batizaram Medusa
por a encrespada e alta luz de tua cabeleira.
Eu te chamo enredada minha emaranhada:
meu coração conhece as portas de teu pelo.

Quando tu te extravias em teus próprios cabelos,
não me olvide, acordar-te que te amo,
não me deixes perdido ir sem tua cabeleira.

por o mundo sombrio de todos caminhos,
que só tem sombras, transitórias dores,
até que o sol sobe a torre de teu pelo.

TRAD.ERIC PONTY

quarta-feira, janeiro 24, 2018

Dois Poemas de Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

As Varandas
Mãe das memórias, da amante desses amantes,
Ó tu todos meus gozos, minhas dívidas de amor!
Atrele à mente o toque gentil nossa carícia,
A doçura desse cerne, o encantador céu arriba,
Mãe de memórias, da amante desses amantes!

Noites fulguram pelo ardor desse carvão,
E na varanda, a rosa que trazem sublimes;
Doce teu peito a mim, quão amável é a tua alma!
Mui vezes nós dizíamos de coisas tão duráveis,
Noites fulguram pelo ardor desse carvão,

Quão lindos são sóis! Quentes teus feixes noturnos!
Infinito é o sítio! Cerne, quão forte e bom!
Se curvar teu mando, ó amado, ó, minha rainha,
Pensei que poderia respirar odor teu sangue.
Lindos são sóis! Quente teus feixes noturnos!

Então, nós seríamos reclusos noite espeçaste,
Sombra meus olhos predisseram teus olhos fundos,
E eu tomaria a respiração, veneno, deleite!
Minhas mãos fraternas, teus pés iam dormir,
Quando seríamos reclusos noite espeçaste.

Tenho a arte de chamar os tempos felizes,
Ver mais advindo lá curva dentro teus joelhos.
Onde devo buscar graça, langue e sublime,
Se não jaz teu cerne asseado, corpo em teu caso.
Eu tenho a arte de chamar os tempos felizes!

Esses votos, perfumes doces, beijos infinitos,
Será abrolharam golfo não podemos soar,
Grau sóis recém-nascidos levam voos celestiais
Tendo sido abluída oceanos, rica e profunda?
-Os votos! Doce perfume! Os beijos infinitos!

LXXVII – SPLEEN

Eu até poderia ser rei das terras chuvosas -
Ricos e jovens, mas inúteis e ancestrais,
Quem desapoia a trupe protetores teus pés
E vadiar com teus mastins e outras bestas.

Nada poderia animá-lo apostas ou falcoaria-
Nem mesmo temas fenecendo em tua porta.
Os jograis cômicos do Buffon do tribunal
Não divertiria esta cruel maldade.

Tua cama régia não passaria duma tumba,
E as cortesãs, dotam qualquer príncipe,
Já não tem palhaças ou usam roupas
Obter riso a partir deste jovem uno ossos.

O alquimista que o fez ouro não pode
Avisar que tua alma se extirpe a falha;
Nem naqueles banhos sangue romanos trouxeram
Versaria a força juvenil do corpo dum velho.

A ciência estudiosa traz à vida dum morto
Com a água podre de Leté em tuas veias.

TRAD. ERIC PONTY









terça-feira, janeiro 23, 2018

TRÊS Poemas - Charles Baudelaire - Trad. Eric Viegas

Epigrafe para um livro condenado

Leitor gentil, ser – como só tu o conheces
Homem de saberes não foram corrompidos,
deixe de lado esse humor brusco, razinza, arcaico 
tão orgástico quanto abjeto que tu escondes mim.

Ao menos tu tenhas correto da escola Satã
(Satã dum pedagogo!), os poemas serão gregos
a ti, então tu me farás idiota mais aloucado.

Se, no entanto, teu olho apático pode mergulhar.
Nos abismos em cada página, continue lendo,
Meu amigo: tu vais aprenderes amar-me ainda.

Buscando alma, corréu sofredor em busca, mesmo
Aqui, teu próprio Paraíso, tenha pena de mim,
Se não, Inferno como tu, eu retornarei a vê-lo.

Ao Leitor

A tolice, o erro, o pecado, a sovinice, 
Empatando nossos espíritos e corpos, 
Que nos alimentam nossos amáveis remorsos, 
Como pedintes nutrem seus parasitas. 

Pecados são teimosos arrependimentos, 
Nós fazer pagar muita nossa confissão 
Nossas voltas contentes lodosos caminhos
Crentes vis choros lavar todas nossas nódoas.

Sobre orelha do mal do Satã Trismegisto, 
Que iluda longamente nossa alma encantada, 
E o rico metal tinir de nossa vontade 
É tudo vaporiza por sábio tão químico. 

Este diabo que tem filhos que nos agitam! 
Aos objetos repugnantes que nós acharmos 
Cada dia versa inferno nossos decaídos passos 
São horrores defeitos das trevas que fedem. 

Como um escárnio pobre sexual comido, 
A teta martirizada antiga meretriz, 
Nossas fugas passagens prazeres clandestinos 
Nos incitarmos bem fortes qual velha laranja. 

Abraçando formigar como milhão vermes, 
Em nosso cérebro bródio um povo demónios, 
Quando nós respiramos Morte em nossos pulmões, 
desça ao rio invisível com as surdas queixas. 

Se fereza, veneno, punhal, incêndio, 
Não fazem passar borda de agradáveis desenhos, 
Nas telas banais dos lastimáveis destinos, 
Nossa alma, hélas não está passar suficiente ousada. 

Mas entre meio dos chacais, panteras, os linces, 
Macacos, escorpiões, abutres, as serpentes, 
Monstros estridentes urrar, rosnar, rastejantes 
Em mendicidades infames de nossos vícios. 

Não sendo mais feio, mais perverso, mais imundo, 
Ainda ele nem empurre grão gestos nem grão gritos, 
Não tenha de boa vontade da terra um caco 
E em bocejo tão tíbio engolindo o mundo. 

Este é tédio! _ Olhar carrega choro involuntário, 
Sonha cadafalso fumegante assovio cachimbo 
Tu conheces leitor, este mostro delicado 
_. Hipócrita leitor – meu semelhante – meu irmão! 


Convite à viagem

Meu filho, minha irmã,
Pense do arrebatamento
Para ir lá a viver juntos!
Para amar no lazer,
Amor e morte
Na terra que é quão a ti!

Os sóis aquosos
Desses céus nublados
Para a minha alma encantada
Tão misteriosa
De teus olhos astutos,
Faiscando por meio de tuas lágrimas.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Reluzentes móveis,
Polido pelos anos,
Ornamento nosso quarto;
As flores mais raras
Misturando teus odores
O ligeiro aroma de âmbar,
Os tetos ricos,
Os espelhos profundos,
O esplendor oriental,
Todos falam lá
Na alma secreta
Sua língua índia doce.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

Veja nos canais
Dormir estes vasos
Cujo humor é errante;
Esta é satisfazer
Seu menor desejo
Eles vêm dos confins do mundo.
- Os sóis de adaptação
Vestir os campos,
Os canais, a urbe finda,
Com jacinto, de ouro;
O mundo adormece
Em uma luz quente.
Lá, tudo é ordem e beleza,
Luxo, calma e volúpia.

TRAD.ERIC VIEGAS


segunda-feira, janeiro 22, 2018

Quatro Sonetos de Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Há uma passante    

A rua ensurdecedora à volta do meu uivo,
Longa fina em grande mortal dor majestosa
Uma mulher passa de uma mão faustosa
Erguendo, balançando festão e debrum.

Ágil e com nobreza sua perna de estátua,
Meu eu bebe crispado como um extravagante
Em seu olhar, céu lívido onde brota furação.
A dor que te fascina e o prazer te mata.

Um clarão.... Pois à noite! -   fugitiva beleza
Onde olhar me faz súbito renascer
Nem te verei eu mais que uma eternidade?

Alhures longe aqui! Bem tarde! Jamais será!
Porque ignoro onde vais, tu não sabes onde vou
Ô tu que possuis amada. Ô tu que sabes!

Beleza 

Eu sou bela ô mortais! Como um sonho duma pedra,
Meu seio onde cada está a magoar volta em volta
E fez para inspirar o poeta um amor
Eternal e mudo que assim que à matéria.

Me sento no azul como esfinge incompreendida,
Eu uno-me coração negro na alvura dos cisnes,
Eu odeio movimento que desloca das linhas
E jamais eu nem choro e jamais eu nem sorrio.

Poetas em frente de minhas grandes atitudes,
Que empresto aos mais vaidosos monumentos,
Calcinar seus dias em austeros estudos.

Tenho para fascinar estes dóceis amantes,
Puros espelhos fazem todas coisas mais belas
Meus olhos, meus largos olhos claros eternos.


Ideal

Nós nem seremos nunca estes belos vigores,
Produtos avaria nado de um século vadio,
Estes pés borzeguim os dedos castanholas
Que sabem satisfazer um coração como meu.

Eu deixo Gavarni, poeta destas cloroses,
Seus rebanhos chilreiam belos hospitais,
Pois que eu nem encontro entre pálidas rosas
Uma flor que se assemelha ao meu rubro ideal.

Esta que faz do coração um profundo abismo,
Estais vós Lady Macbeth alma intenso crime,
Sonho de Esquilo florindo ao clima dos suões.

Ou tu grande noite, filha de Miguel Ângelo,
Retorcerem pacíficos em um pôr bizarro
Teus dons formam as bocas dos titãs!  


A vida Anterior

Por longo tempo eu vivia sob vastos pórticos
Que os sóis dos oceanos acesos com mil cores,
Os pilares quais, altos, retos e majestosos,
Fê-los, à noite, como grutas basálticas.

As ondas que embalaram a imagem do céu
Misturam, de maneira solene e mística,
Onipotentes acordes ricos consensos
Cores do pôr-do-sol refletem meus olhos.

Foi lá que eu vivi em uma calma voluptuosa,
Em um esplendor, entre do azul e o mar,
Fui atendido por escravas, nuas, perfumadas,

Quem abanou minha fronte com tuas palmas
E cuja única tarefa era de entender
Doloroso segredo me fez afundar!

TRAD.ERIC PONTY

3 Sonetos de Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Albatroz

Às Vezes para distrair os homens equipagem,
Prendem do albatroz vastos pássaros mares,
Que segue indolente companheiro de viagem,
Um navio escorregadio sobre abismos amargos.

A pena ele tem depositado sobre as tábuas,
Que estes reis do azul sem jeito vergonhoso
Deixando lamentável suas grandes asas brancas
Como remo puxado nas suas costelas.

Passageiro alado como ele está sem jeito débil
Ele há pouco era belo está cômico e feio
E um irritado bico com uma torrada goela
Outro mimo coxear revogar seu voo.

O Poeta é semelhante príncipe das nuvens,
Que se assombra tempestade e se ri arqueiro,
Acha-se exilado sobre chão meio toque 
Suas asas gigantes impedem de andar.
Elevação

Em cima dos charcos, em cima dos vales,
Das montanhas, dos bosques das nuvens, dos mares,
Por além o sol, por além por estas etéreas  
Por além dos confins das esferas das estrelas.

Meu espírito tu te moves por agilidade,
Como um bom nadador se pasmar nas ondas
Tu sulcas alegremente imensidão profunda
Com duma indizível e má volúpia.

Esvoaçam tua longa distância de miasmas mórbidos
Vão te purificar neste ar superior
Bosques como um puro e divino licor
O fogo claro enchendo os espaços límpidos.

Atrás deste tédio e das vastas mágoas
Que carregam seu peso existência brumosa
Alegre este pode de uma asa vigorosa
Caem versam campos luminosos serenos.

Este onde pensa como as cotovias
Versam céus manhãs pegado livre caminho -
Plana sobre a vida e compreende sem esforço
Linguagem das flores e das coisas surdas.
                                                          
Correspondência 

Natureza é um templo onde viventes pilares
Deixam às vezes sair de confusas palavras,
Homem passa defeitos das florestas símbolos
Que se observou com seus olhares familiares.

Como longos ecos de longe se confundem
E uma tenebrosa e uma profunda unidade,
Vasta como à noite e como claridade,
Os perfumes, as cores e sons correspondem.

Está em perfumes frescos como claras crianças,
Doce como oboés verdes como pradarias -
E de outros que se corrompem ricos triunfos.

Possuem a expansão das coisas infinitas,
Como âmbar, almíscar, beijoim, incensos,
Que cantam transportes da alma dos sentidos.
TRAD.ERIC PONTY





A Viagem - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Á Maxime   Du Camp
 I
Há uma criança que gosta de mapas e gravuras
O universo é o tamanho de seu imenso apetite.
Ah! Como vasto é o mundo à luz de uma lâmpada!
Nos olhos da memória, quão o mundo é pequeno!

Numa manhã, partimos, nossas mentes acesas,
Nossas almas cheias de rancor gostos amargos,
E nós vamos seguindo o ritmo desta onda,
Acalmar nosso infinito sobre o finito dos mares:

Alguns, alegres fugir de uma pátria avara;
Outros, horror do local de nascer; dum pouco,
Astrólogos se afogaram olhos de uma mulher,
Algumas tirânicas Circe com cheiros graves.

Não ser transtornado em bestas, ficam ébrias
Com espaço, com luz e com céus ardentes;
O gelo que os mordeu, os sóis que os bronzeiam,
Devagar, apagando a mágoa dos beijos.

Mas certos viajantes são apenas aqueles que saem
Apenas a sair; corações claros, como balões,
Eles nunca se afastam de sua fatalidade
E sem saber por que eles sempre dizem: "Vamos!"

Aqueles cujos desejos têm um feitio das nuvens,
Quem, quão novo novato, sonhar com canhão,
Sonhar com grande lasciva, mudança e estranha,
De quem nome que a mente humana nunca ajuizou.

II
Horror! Nós imitamos o topo e a bola,
Seu limite e sua valsa; mesmo em nosso sono
A curiosidade nos atormenta, nos rola,
Como dum anjo cruel que atingir os sóis.

Destino singular onde o escopo se move,
Não pode ser nenhum lugar em qualquer sítio!
Ao qual o homem, cuja espera nunca se cansa,
Está obrando como um louco a achar o resto!

Nossa alma é um mestre de três que busca a Icaria;
Uma voz ressoa sobre a ponte: "Tenha um olho atendo!"
De uma voz alta, ardente e selvagem, chorar:
"Amor ... glória ... sorte!" -Censura! É um bando!

Toda pequena ilha distinta pelo homem de guarda
O Eldorado que prometeu pelo Destino;
Imaginação prepara-se a sua orgia
Acha, mas um recife à luz do amanhecer.

O pobre amante de terras imaginárias!
Ele deve ser posto em ferros, jogado no mar,
Esse alcatrão ébrio, inventor das Américas,
De quem a miragem torna abismo mais amargo?

Assim, vagabundo velho vago pela lama
Sonhos com o nariz no ar de Édens intensos;
Seu olho encantado descobre uma Cápua
Onde quer que uma vela ilumine uma cabana.

III
Viajantes magníficos! Que histórias esplêndidas
Nós lemos nos seus olhos tão profundos quanto os mares!
Mostre-nos sua arca de suas ricas lembranças,
Essas joias admiráveis, feitas de éter e estrelas.

Desejamos viajar sem vapor e sem velas!
A alegrar de nosso tédio de nossas prisões,
Faça suas noções, condita em horizontes,
Passe por nossas mentes tesas como telas.
                                      Diga-nos o que tu viste.
IV
"Nós vimos estrelas
E ondas; também vimos resíduos areentos;
E, apesar de muitos choques e imprevistos
Desastres, muitas vezes nos afligimos, como estamos aqui.

A glória da luz solar sobre o mar tão púrpura,
A glória das cidades contra o pôr-do-sol,
Acama em nossos cernes um gosto preocupante
Mergulhar em um céu de cores sedutoras.

As urbes mais ricas, as melhores paisagens,
Nunca continham a misteriosa atração
Daqueles que modem a chance das nuvens
E o desejo sempre nos tornou dos mais ávidos!

- O prazer fortalecer de nosso desejo.
Desejo, árvore velha estercada por prazer,
Enquanto sua casca cresceu e endurece,
Seus ramos se esforçam a se aproximar do sol!

Tu Sempre crescerás, a árvore alta mais resistente
Do que o cipreste? - No entanto, temos cuidado
Reuniu alguns esboços a o seu álbum ganancioso,
Irmãos que acham amável tudo surge de longe!

Nós fomos tortos a os divos elefantinos;
Com Tronos repletos de joias que são luminosas;
Palácios opostos tanto esplendor igual
Fariam seus banqueiros sonharem com ruína;

E fantasias que intoxicam os olhos;
Mulheres cujos dentes e unhas são tingidos
E argutos bufos quem serpente acaricia ".

V
E então, e então, o que mais?

VI
"Ó mentes infantis!
Para não olvidar o mais importante,
Vimos em todos os lugares, sem buscá-lo,
Do pé ao topo duma escada fatal,
O espetáculo árduo do pecado imortal:

Mulher, escrava base, altiva e estúpida,
Adorando-se sem risos ou sem desgosto;
Homem, um tirano ganancioso, amargo,
Escravo dum escravo, uma calha no esgoto;

O carrasco que sente alegria e o mártir que solta,
O festival que sabores e perfumes de sangue;
O veneno do poder que torna o déspota fraco,
E as pessoas que amam o seu chicote brutal;

De várias religiões iguais às nossas quais,
Todos subindo ao céu; na tua Santidade
Quão um diletante se lavra em uma cama de pena,
Caçando carnal nas crinas e nas unhas;

Prantando a humanidade, ébria com o teu gênio,
E louco agora quão era nos tempos antigos,
Chorando a Deus em sua luta de morte furiosa:
"Ó meu amigo, ó, meu senhor, que sejas condenado!"

Os amantes menos tolos e bons da Loucura,
Fugindo do grão rebanho que Destino dobrou,
Refugiados nessa imensidão que desse ópio!
- Esse é o aviso imutável de todo o mundo ".

VII
Amarga é a notícia que ganha de viajar!
O mundo, monótono e pequeno, de hoje,
Ontem, amanhã, sempre, nos mostra a nossa efígie:
Um oásis de horror num deserto deste tédio!

Deve um sair? Jazer? Se tu podes ficares, jaza;
Deixe, se tu deves. Um corre, outro se esconde
Para escapar do hostil um cauto e um fatal,
Tempo! Há, hélas! Aqueles vagam sem descanso.

Como dum judeu errante e como dos apóstolos,
A quem nada é regular, nem instrutor nem navio,
Para fugir desta reforma infame; e outros
Quem sabe quão matá-lo sem deixar seus berços.

Quando afinal está com o pé na espinha
Podemos esperar e gritar: Nos Guiar!
Assim como em outras vezes ir-se à China,
Olhos fixos no mar aberto, velos ao vento.

Devemos embarcar no mar destas trevas
Com cerne contente de um jovem viajante.
Tu ouves aquelas palavras atraentes e tristes
Cantando: "Venha assim! Tu que desejas comer!

O Lotus perfumado! É aqui que tu reúnes
Os frutos divinos aos quais seu cerne tem fome;
Venha ficar ébrio com a estranha doçura
Nesta tarde eterna? "

Pelo sotaque familiar, julgamos o espectro;
Nossos Piliades estendem os braços a nós.
"A renovar teu peito, mergulhe no tua Electra!"
Gritar cujos joelhos nos beijamos outros dias.

VIII
Morte, velho capitão, é hora! Aportar vamos!
Este país nos cansa, ó Morte! Vamos nos arrumar!
Embora o mar e o céu sejam negros como tinta,
Nossos cernes que tu julgas estão cheios de luz!

Vazar teu veneno a que possas nos refrescar!
Fogo arder cabeças feroz, ânsia afundar
Funduras do abismo, Céu ou Averno, isso importa?
Para os imos do Ignoto a achar algo novo! "


TRAD.ERIC PONTY










Palma - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

À Jeannue.


De Tua graça tão temível
Vela à pena resplendor,
Um anjo sobre uma mesa
O pão suave, o leite plano;
Ele me faz da sobrancelha
Este signo feito d’uma prece
Que dizer lhe à minha visão:
-Calma, calma, resta-nos calma!
Conheces peso d’uma palma
Portanto tua profusão!

Tanto ela se dobrar em preces
À abundância desses bens,
Tua figura está se cumprir,
Teus frutos graves dos laços.
Admiro como ela vibra,
Qual lenta fibra confeita
Que se divide o momento,
Desaparta sem arcano
Atirasse da terra
E os pesos desse firmamento!

A bela arbitra móvel
Entre sombra e entre sol,
Simulando d’uma sibila
A sensatez desse o sonho.
Redor d’um mesmo sítio
Ampla palma que nem se fustiga
Convocados nem adeus…
Que ela está nobre, em brancura
que ela está terna! Pacifica
Que está digna de esperar
À solitária mão de deus!

Ouro suave ela murmura
toca ao simples dedo de ar,
E d’uma sedosa armadura
altera alma do deserto.
Uma voz imperecível
Que ela faz vento de areia
Que rega de seus grãos,
À si-mesma engajar d’oráculo,
E se acariciar do milagre
Que se canta as tristezas.

No entanto que ela se ignora
Entre a areia e o céu,
Cada dia até é luminosa
ainda composta pouco de mel.
Doçura está dividida
Para a divina da dureza
Nem conta passar os dias,
Mas bem que lhe dissimula
em um néctar onde se acumula
Todo aroma desses amores.

Ás vezes se desespera,
Se de adorável rigor
apesar choros não opera
Tuas sombras de languidez,
N’acusa advir ser avara
Um Sangue que se prepara
Tanto doiro d’autoridade:
Pela energia solene
Uma esperança eternal
Monta à tua maturidade!

Estes dias pintam vazios
Perdidos ao universo
Onde raízes avidas
Trabalhando desertos.
A substância cabeluda
Nas penumbras eleita
Nem dita para jamais
até entranhas do mundo,
De perseguiu água profunda
Solicita que cumpre.

Paciência, paciência,
Paciência nesse azul!
Cada átomo silêncio
Chance dum fruto amaduro!
Será uma feliz surpresa:
Uma pomba, a brisa,
estremecer mais suave,
Uma mulher se apoia,
Indo tombar esta chuva
Onde comoveu joelhos!

Que um povo presente derrube,
Palma! …. Irresistível!
No pó que ela se vibrar
Sobre os frutos do firmamento!
Tu não passas perdida horas
Si ligeira tu habitas
Após belos abandonos;
Igual a ela que pensa
E de que alma se gastou
Se incrementar teus dons!

TRAD. ERIC PONTY





O ESBOÇO DUMA SERPENTE - PAUL VÁLERY - Trad. Eric Ponty

Para Henri Ghéon.


Entre a árvore, as brisas rochosas
A Víbora de que eu me visto;
Um sorriso, dentes que nasço
Se ilumina com os apetites,
O jardim é risco e vagueia,
E meu triângulo de esmeralda
Puxa a língua no duplo fio...

Besta que sou, mas a besta aguda,
Qual veneno que embora vil
Deixar sábia cicuta longe!
Sendo cortês é esta era a porto!
Tremam, mortais! Estou tão duro
Quando a mim nunca é bastante,
Eu bocejo ao dissolver o maio!

Esplendor azul que este aguça
Este visco é me disfarça
Simplicidade de animais;
Venham a mim, raça tão tonta!
 Estou em pé e desembaraçada,
Semelhante à tua necessidade!

Sol, sol!... A sua culpa radiante!
Que em ti mascara a morte, o sol,
Sob o azul e o ouro duma tenda
Onde as flores tomam seu Conselho;
Por delícias impenetráveis,
Mais orgulhoso dos meus cúmplices
Minhas armadilhas mais altas,
Tu tens coração de saber
Que universo é apenas defeito
Nesta pureza do não-ser!

Grande sol, que toca desperto
De estar, no fogo, acompanhado.
Tu quem me enceraste dum sono
Engana pintado campanhas,
Provocador fantasmas felizes
Que devolveu súbito aos olhos
A presença sombria da alma,
Sempre mentindo há de quem gosta
Tu derramas sobre esse absoluto
Rei das sombras fazer da chama!

Verse a mim o bruto calor,
Vivente parece gelado
Fantasias qualquer infortúnio
Segundo natura se entrelaça...
Esse lugar encantador carne
Coro junta a mim é muito caro!
Minha fúria, aqui, está madura;
Eu aconselho se recolher,
Eu escuto-me em meus círculos,
Minhas meditações sussurros...

Ó vaidade! Causa primaria!
Aquele que reina nos céus,
Duma uma voz feita de luz
Abriu-se o universo espaçoso.
Como é seu puro espetáculo 
Deus ele mesmo rompe obstáculo 
De tua eternidade perfeita;
Ele era quem um dissipava
Em consequência, teu princípio,
Nas estrelas, que são unidade.
Céu, teu erro! O Tempo tua ruína!
Abismo animal escancara!...

Quando ao cair nessa origem
Cintila teu lugar desse nada
Mas, prima palavra verbo, em mim!...
Dos astros são mais soberbos
Que falou o doido do criador,
Eu sou!... Eu serei!... Eu ilumino
O teu declínio é tão divino
Todos fogos do sedutor!

Objeto radiante minha raiva,
Vós amais perdidamente
Vós haveis quem tevês a Hinom
Dar ao Império a deste amante,
Olhar nessa minha escuridão!
Antes desta tua imagem fúnebre.
Orgulho sombra do meu espelho,
Sóis profundos em teu desconforto
Vosso sofrer sobre à tua argila
Foi um suspiro desse desespero!

Em vão, vós só tendes, o lodo,
De Seixos de fáceis dessas crianças
Que de vossos atos tão triunfantes
Todo dia vós a fenda Louvor!
Enquanto pedra, enquanto sofre
A Mestra serpe sibilou-os,
As lindas crianças vós criastes!
Olá! Disse-lhes, aos recém vindos!
Vós soeis todos homens são nus,
Ó parvos brancos e parvas bestas! 

Tua semelhança me excretou,
Vossos troncos feitos, vós odiais!
Como eu odeio o nome que cria
Tantos prodígios que imperfeitos!
Eu sou está que se modifica,
Eu retoco coração se fia,
Um dedo prende e misterioso!...
Nós mudaremos macias obras
E dessas evasivas serpes
Nós destes répteis furiosos!

Minha imemorável inteligência 
A Chave das almas tão humanas
Um instrumento de vingança
Que foi reunida minhas mãos!
E tua paternidade tão veladas,
Aos que em tua câmara de estrela,
Não ascende ao libor incenso,
Não obstante excesso dos meus charmes
A mimar distantes dos alarmes
Mover propósitos todo-poderosos!

Eu vou, só, eu deslizo, imersões,
Eu esvaeço em dum coração puro!
Nunca foi tão difícil teu seio
Que eu não introduzi num sonho!
Quem tu sois, sou eu vós apontar
Esta complacência que aponta
Em tua alma quando ela me amar?
Estou no fundo teu favor
Este inimitável sabor
Que tu não encontras em ti mesmo!

Eva outrora eu a lhe surpreendi,
Entre teus primos pensamentos.
Lábio entreabre sem seus espíritos
Que nasceu — rosas acalantadas.
Esta perfeição que me engana
Teu vasto flanco doiro andado
Nem temendo o sol nem esse homem;
Todos ofertam teu oculto ar
Alma mesmo estúpida e quão
Proibida no umbral dessa carne.

A massa dessa beatitude,
Tu és bela, do justo preço
De toda solicitude
Dos bons e dos maus espíritos!
Teus lábios seda ocupados
Bastante por teus suspiros!
A mais pura olhará o pior,
Mais duros são mais feridos...
Justo a mim vós me alcançais
Que se revelam nos vampiros!
Sim! Meu posto da folhagem
Réptil aos êxtases de pássaro,

No entanto, que meu balbuciar
Teceu-se de astúcia tua à rede
Bebi-te, ó luxuosos dos surdos!
De calma clara, charmes, densos,
Eu que durmo tão furtivamente,
O olho teu ouro ardente de lã,
Tua nuca enigmática é tão plana
Segredos de todos movimentos!

Eu estava presente quão odor,
Quão o aroma duma ideia
Que não possa ser aclarar.
A insidiosa da profundeza!
E eu inquietava na tua candura,
Ó carne suavemente decidida,
Sem que eu tenha intimidado
A cambalear no esplendor!
Pronto, eu dou, eu me aposto,
Já que tua nuance se varia!

(A soberba simplicidade 
Dimensão do imenso respeito!
Transparência do respeito,
Tolice, orgulho, felicidade,
Guardar bem a bela cidade!
Deixá-los criar casualidades,
A está mais rara dessas artes,
Dá ao imo mais puro solenidade;
Este é mais forte, este é meu fim,
A mim o meio teu de meu fim!)

Ouro, uma deslumbrante Baba.
Matéria de sistemas ligeiros
Onde ocioso libor da Eva suave
Atraindo em vagos dos perigos!
Que tua uma carga desta seda
Álamo do pé desta presa
Acostumados só costelas!...
Sim da gaze do ponto sutil,
Nem fio invisível seguro,
Mais da trama do meu estilo!

Doirada, língua! Que doirando
Mais doces ditas vós aceitais!
Alusões, fábulas, fineses,
De mil silêncios cinzelados,
Uso de tudo que vem se dana:
Nada te acaricia nem lhe induz
Há se perder em meus propósitos,
Dóceis a estes pedintes se rendem
Nas profundezas pélvis azuis
Os Riachos céus que se descendem!

Ô que prosa não semelhante,
Que espírito não passou à concha
No labirinto que se cochila
Que desta maravilhosa orelha!
Aí, pensei, nada havia perdido.
Tudo aproveitado teu imo suspenso!
Seus Triunfos! São minhas palavras,
Da Alma obsessiva do tesouro
Como uma abelha, uma Corolla
Nem paga mais orelha doiro!

"Nada, sopro eu, na minha certeza.
Como a palavra divina, Eva!
Uma ciência de viva esvaindo
Grandiosidade fruta madura
Não escute esse ser velho e puro
Que amaldiçoou a mordida breve
Se tua boca tinha um sonho
Esta sede sonha esta energia
Esta delícia metade futura,
Este Além derretido de Eva! »

Ela solveu minhas pequenas letras
Que edificava uma obra estranha;
Olhos às vezes perdidos de anjo
A regressar às minhas mãos
Mais astuto dos animais;
Que zomba de ser tão duro
Ó pérfidos grossos do mal,
Nesta que é uma voz dessa verdura.
-Mas seria a Eva, mas, não será
Que em teus ramos vou ouvi-la!

"Alma, disse eu, doce estadia.
De todo êxtase do proibido,
Sentido teu sinuoso amor
Eu tenho o pai foi-me furtado?
Tenho isso, essa essência do céu,
Mais doce que o mel da colmeia
Delicadamente ordenei...
Pegue esta fruta.... Erga teu braço!
Para colher o que desejais 
Esta bela mão te foi dada! »

Qual silêncio batido cílio!
Mas dor dos seus seios sombrios
Que morda árvore da tua sombra!
O outro brilhava como pistilo!
-Assovia, assovia! Me cante! 
E eu senti fremir nesse número,
Todo meu longo açoite sutil,
Todas estas dobras que me estorvam:
As voltas depois deste berilo
Minha cresta um justo perigo!

Gênio! Ó longa impaciência!
Finais dos tempos que são vindos
Que não verso duma nova ciência
Irá jorrar desses pés nus!
Marmo aspira, dos arcos dourados!
Essas bases loiras sombras âmbar
Tremer na borda do movimento!
Ele vacila, dessa grande urna
Que vais vazar do consentimento
Do aparente do ser taciturno!

Prazer de tuas oferendas cede,
Caro corpo, não ceda iscas!
Que tua sede de Metamorfoses
Entorno da árvore desta morte 
Engrena uma cadeia de pausas!
Chega sem entrar! Forma de passos
Vagos como pesadas rosas...
Dança corpo caro.... Nem penso passo!
Aqui às delícias são das causas
Suficientes das aulas das coisas!...

Ó loucamente, me ofereci
Esta dos inférteis de desfrutes:
Ver longa pureza faz fresca
Que estremece desobediência!...
Já que liberta de tua essência
Da Sabedoria e de ilusões.
Toda árvore do conhecimento
Desfreado destas Visões,
Agita teu grande corpo mergulha
No sol e sugando-lhe o sonho!

Cedro, grande cedro, alma céu,
Irresistível cedro dessas árvores,
Na escassez destes teus mármores,
Para seus sucos deliciosos,
Vós cresceis tais labirintos
A obscuridade abrace siga
Perdida tua safira de eterno
Do amanhecer. Doce perda,
Aroma ou zefir, pomba predestinada,

Ô cantor, secreto bebedor
Das mais profundas das pedrinhas
Berço do réptil sonhador
Que se lançou de Eva em sonhos
Grande ser agitou-se ao saber,
Sempre, minhas apures visões
Crescendo ao chamar-nos copa,
Tu ouro pura promessa braços
De Duros, de ramos são fumeados.

Outra parte, ecoa verso abismo
Tu pouco repetes o infinito
Que é feito do teu aumento
E a tumba justo esse é teu ninho
De sentir todo o conhecimento!
Mas este velho amador do fracasso,
Em teu douro de ocioso sóis que és,
Em tua ramagem só retorce;
Olhos estremecem seu tesouro.
Que buscam dos frutos da morte,
Do Desespero e desta desordem!

Bela serpe do berço azul,
Assobia, com delicadeza,
Oferece-se a glória de Deus
O triunfo dessa minha tristeza...
Ela me bastou em mim seu ar,
Imensa espera frutos amargos
Presos os filhos desse lodo
-Está sede se dá tão grande.
Até ser exalta o estranho
Toda Onipotência desse nada!

TRAD. ERIC PONTY


A Pítia - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

A Pítia exalta-se da flama,
Duras ventas desse incenso
arfante, livres gritos! D alma
arrepiante dos flancos ruídos!
Pálida profunda mordida,
desta maça que é tão pendida
Ponto que estiver putrefata
ao olhar lutuoso da ausência,
viver árduo perfumador
do fumo tecido furor!

Fendas presas, sombras dementes,
donde domam diabo primo,
dentre perfume tormento
Prodiga d´alma vaga,
trança trança colossal,
Deter meio da sala,
diz doido brando ruído,
mover-se em negros ânimos
ódio divos, preso espasmos,
dando-se findo dos futuros!

Essa aflição foz frias
fisgados dedos crispados,
vocifera entre às mentiras
vibra estrangulada serpe:
Ah! Roída! Maus padeci!
Toda alguma casta é golfo!
Alias! Por acesas almas,
perdi meu próprio enigma!
Uma argúcia adultera
cumpre corpo comprimir!

Vá Atroz! Mestra porca derrogue,
corra, corra, ô briosa enzima,
Falso vácuo tão grosseiro,
faz puro ventre desse amado!
Fazer-se finda cena horrível!
É todo meu corpo arco obsceno
perceber romper desta seta,
quão esta prisioneira da infâmia,
implacavelmente ao céu d’alma
do meu peito pequeno tem!

Que me fala, à minha paz mesma?
Qual eco responde-me: Homens!
Que me ilumina? Que blasfema?
Feitos certos versos que escumam,
cacos armados minha língua,
compostos brandir desta arenga,
brisando babar dos cabelos,
mastigadas redes desordem,
dum buque desse vento mordido
repreendendo-se às confissões?

ô Deus! Não sei deste crime,
tenha-me dolente vivencia!
Mas, se me prendeu por sua vítima,
do culto dum corpo vencido,
dos estranhos monstros matados,
são monstro e a besta renunciada,
doado colar, ao chefe eleito,
quais crinas tocadas nos templos,
Quão dessas lívidas lâmpadas,
acesos mármores noturnos.

Então para esse vagabundo,
morte errante lua enluarada
d água do mar surpreendida onda,
compelindo eternos ápices!
São humanos, feitos de estátuas,
geladas fontes, almas mortas,
ao gélido deste meu céu,
premiadas palavras pessoais,
das árduas pessoas dos divos,
silente tolice e do orgulho!

Eh!... Disso que se fez de víbora,
em toda tua fonte de frissons,
assombrar a carne assustada,
na pluralidade séquitos!...
Levar-se duma luta insensata,
retornando então pensamento,
para falsa joia retornada;
ô memória, feita da magia,
que não trazida desta energia,
dos outros arcanos dos cumes!

Meu caro corpo... Forma optada,
a esse viço que não é seu,
Afrodite que afronta à alma,
Intacta noite oferta ao cume,
transtornar-se dos indizíveis,
da lama duma ilha sensível,
doce martírio, minha sorte,
qual aliança de nossas vidas.

Diante dádiva das escumas,
tem-se feito corpo da morte,
do meu ombro, dos meus ardis,
desta fonte da negridão,
que jamais se passam desse ardil,
derretidos mesma doçura!
Erguendo-se à minha narina,
mãos cheias dos peitos viventes,
dos meus braços, belas torrentes,
meu abismo ébria vastidão
profunda, trazida dos ventos!

Aí! Ô rosas de toda lira,
contidas da transformação!
Noite do meu triste delírio,
semelhante à constelação!
Ô templo mudo dessa caverna,
ou deste furação dos sonhos,
ou até mesmo do céu fez belo!
É preciso gemer, há se alçar,
Já não sei qual êxtase abrange,
deste meu cabelo fragmenta!
Tenha-me perito estigma,
parecido ao meu pobre peito:
são quão dos dormidos aromas,
São lã macia quão rebanho;
tenha-me por vivo amuleto,
tocada esta garganta toada,
embaixo ornatos viperinos,
tonto, livre, dos empecilhos
possuir ou murmurar pneuma
honrados laços soterrados.

Do que me perpetra, condena,
puros, laços ritos odiosos?
Sombra presa à ossada burro
servida presa à colmeia deuses!
Mais uma virgem consagrada,
da concha nova perolada,
de que nem fez à divindade,
foi sacrificada ao silente,
desta mais intima violência,
qual foi feita virgindade!

Porque poderosa criadora,
da autora mistério animal,
composta coisa da raiz,
semear surpresas do mal!
Não são dádivas que me deram,
tão cridas quando brisas das cordas,
sendo como saltos uns mais belos,
íntegros golpes dados dorso,
quais, não foi prendido à força,
quão deste soar duma tumba!

Dos clementes, destes oráculos,
destas maravilhosas mãos,
dando caricias dos milagres,
presos presentes subumanos!
São em vão suas declarações
dos frágeis pontos destes únicos,
comoverem-se do esplendor!
D água calma esta transparência,
toda é uma tempestade mãe
duma obscura profundidade!

Vá! Á divina luminosidade
não pare esse terrível dum raio,
não advenha dessa nossa deidade,
como um sonho cruel e claro!
Arriba! Não vais nos instruir!...
Não!... A solidão vem lembrar,
Nesta brecha imensa do ar,
desalenta lívida lágrima
da arquitetura da ruptura,
compor-nos dos puros desertos!

Não siga-nos a mãos unânimes,
compor de minha fronte revolta,
de algumas das supremas faíscas!
Que sorte siga lhes em seu exemplo!
Ao passar, futuros irmãos,
a estes seus rostos contrários
de uma punida teta lívida
não se percebeu dela marca
dessa mesma essência deforma,
das ilhas dos belos olvidos.

Negras testemunhas da luz,
não buscamos mais... Clamo olhos!
Ô lágrimas fontes primevas,
tão profundas dos seus céus!
toar mais amarga demanda!...
Mas deste aprendiz deste maior
da escuridão qual deva unir!...
Presa nossa raça espantada,
A distância tão desesperada
deixar-nos tempo de morrer!

Ouça, minha alma ouça-me das flores!
Quais cavernas feitas daqui?
Então é isso meu sangue? Jovem?
Rumorosas d ondas tão gratas?
Meu oculto soneto são auroras!
Tristes bronzes, tempos sonoros,
de que irão soarem-se o futuro!
Do baque, coice, de uma rocha,
diminuírem-se hora mais breve...
minhas duas castas irão unir!

Ô formidável altitude,
quebrantados destes degraus,
Tenho rumo da árvore vida
à morte demonstra-nos rastros!
Ao longo deste meu mais gélido
dedo sutil desta fiandeira
em tecer-lhe deste cruel rastro!
Destes soluços sobem crise
até de minha nuca ou brisa
quiçá dum crime faz prazer!

Ah! Brisa dessas portas viventes!
Faça-nos rachar vãos vedados
grosso rebanho dos terrores,
das cerdas destas pronuncias!
Emergir-nos destas baias fúnebres
Destes víveres mais tétricos
das fabulosas quantidades!
Saltos, dos sonhos mais saciados,
ô  Horda espinhosa da revolta
chegando queimar douro, Lã!

*
Tal qual ainda mais torturado
delírio, grande dos fragores,
dá profetiza que provocada
pelos ares douro mais rubro;
Mas enfim o céu se declara!
Tua orelha pontífice hilário
Peripécia aos versos futuros:
Uma atenção santa se observa,
porque deu voz jovem e cândida
partiu destes corpos impuros.

*
Honra dos Homens, Santa Língua,
Discurso profético ornado,
Belas cadeias comprometidas
Do deus desta carne tão impura,
Clareada generosidade.
Aqui está voz da sabedoria
Soar-nos esta augusta voz!
Quem saberá quando esta soa,
Para Ser a voz mais pessoal
Tanto das ondas e do cedro!



TRAD.ERIC PONTY







Fragmentos do Narciso - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

  I

Cur aliquid vidi ?

Que tu brilhas enfim, termo puro de meu corso!
Se tarde, qual d’um cervo, foge versos da fonte
Nem cessa ela nem tomba ao meio dos teus juncos,
Minha sede me chega mata a borda mesma d´águas.
Mas, a matar-me sede deste amor curioso,
Eu nem perturbo passar na onda misteriosa:
Ninfas! Se vós m’amais, faltam sempre dormir!
A menor ama ao ar vós fazeis todo latejo;
Mesmo, em tua escassez, nas sombras escapadas,
Si a folha apaixonada ocorrendo as ninfas,
Se bastam à rompe um universo adormecido...
Vosso sonho importaria ao meu encantamento,
Temor até ao estremecer d’uma pluma que sacode!
Guardam meu detidamente rosto por sonhar
Que uma ausência divina está só a conceber!
Sonhos das ninfas, céu, nem alta minha visão!

Sonham, sonham de mim!... São vós, belas fontes,
Minha graça, minha dor, serão coisas incertas.
Eu me busquei em vão este que tenho de mais caro,
Sua ternura confusa assombrasse minha carne,
Meus tristes olhares, inábeis meus charmes,
Onde d’outros que mim-mesmo. Fazendo-lhes lágrimas...
Vós abrandais, será, uma fronte que foi chorada,
Vossas calmas, vós sempre folhagens e das flores,
E de incorruptíveis alturas acossar,
Ô Ninfas!... Mais dóceis pedintes seduzir
Que me haveis versos vós d’invencíveis caminhos,
Soprais formosa imagem desordens humanas!
Felizes vós corpos fundos, água flutua e fundas!
Eu estou só!... Se o Deus dos ecos e as ondas
E se tantos suspiros permitem que lhe seja!
Só!... Mais coro este que se aproxima de si mesmo
Quando ele beira a bordo que bendita tua folhagem...
D´alturas, ar ia cessar a pura pilhagem;
Vozes das fontes mudam, me fala da tarde;
Ampla calma m’escuta, eu escuto esperança.
Eu atendo erva noturna cresce nas sombras santas,
E a lua pérfida elevando teus espelhos
Até em os secretos da fonte apagados...
Até em os secretos que eu temo de saber,
Até em seu recuo de amor de si mesmo,
Nada nem acaso escapa silêncio da tarde...
Noite chegou sobre minha carne lhes soprar amor.
Tua voz fresca à minhas vozes tremem conceder;
À pena, na brisa, ela parece mentir,
Tanto o estremecimento de teu templo tácito
Conspira ao espaço silêncio d’um tal lugar.
Ô doçura sobreviver à força do dia,
Quando ela se retira enfim rosa d’amor.

Todavia um pouco ardente, e fatiga, mas cheio,
Tantos erários ternamente acobertar
Por de tais lembranças que elas incendeiam seus mortos,
Sendo elas as fontes felizes rodeiam-se em ouro,
Depois se abris, fundem, perdem suas vindimas,
E se apagam em um sangue em que a tarde se altera.
Perdida si mesma ofertar se calma lugar!
A ama, até perecer, se deita por um Deus
Que ele pleito à onda, onda deserta, e digna
Sobre teu lustre, lisa destruição d’um cisne ...
À esta onda jamais não bebeu os teus rebanhos!
D’outros, aqui perdido, achar o descanso,
Nas sombras terrenas, clara tumba se abriu...
Mais se n’estes passos à calma, hélas! Que eu descubro!

Quando opaca delica ou dormir nesta luz,
Ceder meu corpo horror das folhagens abertas,
Então, vencedor sombra, ô meu corpo tirânico,
Repulsivos aos bosques lhes engrossa pânico,
Teus lamentos prontos de eternais noites!
Por inquieto Narciso, ele não está aqui entediado!
Todo me chama e me enlaça à clara luminosidade
Que meu aposto das águas a paz vertiginosa!
eu deploro teu resplendor fatal e puro,
Se debilmente de mim, esta fonte já cercada,
Onde pisquei meus olhos em mortal azul,
Os olhos mesmos e noites que lhe ama assombram!
Fortemente, profundamente, sonhos me veem,
Como eles se enxergam de uma outra vida,
Digam, me sigam eu passo este que vós crereis,
Vossos corpos de vossos feitos-ele inveja?
Altas, sombras espíritos, este labor do antigo
Que se fazem no amor que dia; fazem na mesma hora
Nem busquem passar vós, nem irem espantar aos céus
Os males dos seres que são uma maravilha:
Encontrais na fonte dum corpo delicioso...
Beneficiador vossos olhos perfeitos pressa,
Do monstro de amor feito vós por um cativo;
Errantes redes vossos largos cílios sedosos
São galhardos brilhos vós retende distraídos;
Mas nem vós acariciais passar mutação d’império.
Este cristal esta são corretas estancias;
Os esforçais mesmos de amor se esforçais
Nem sabeis da onda extrai que ela não se expira…

PIOR.
     Pior? …
           Qualquer repete pior…. Ô mosqueiros!
Ecos longínquos veloz a prenunciar teu oráculo!
De teu riso encantado, a rocha brisa meu imo,
E o silêncio, por milagre,
Cessai!... Fala, renascer, sobre a face d´água…
Pior?...
 Pior destino!... Vossos ditos, juncos,
Que devolve aos ventos minha queixa vagabunda!
Antro, que me pronuncia meu amor mais profundo,
Vós sois vãs vossas sombras voz que se mata…
Vós me murmurais, bosque!... Ô rumor murmuro
Dilacerante, e dócil ao sopro sem figuras,
Vôs, porém, leves agitam, bocejam augúrio…
Todo se mistura de mim, brutas divindades!

Meus secretos ares sonetos divulgados,
A rocha ri; árvore chora; por sua voz encantadora,
Eu nem depois até aos céus que eu nem me lamento
Pertencer são forças d’eternais atrações!
Infelizmente! Entre os braços que nascidos florestas,
Um terno clarão d’hora ambígua existe no êxtase…
Ali, d’um resto da tarde, se forma um noivo,
Nu, sobre o lugar pálido ou m’atira água triste,
Delicioso demónio desejoso e gelado!
Ei-lo, meu doce corpo de lua e dessas rosas,
Ô forma obediente às minhas promessas contrárias!
Que elas são belas, de meus braços lhes dons vastos e vãos!
Minhas lentas mãos, ouro adorável cansativo
Chamem cativo que lhes folhas enlaçadas;
Meu coração parido ecos clarão nomes divinos!
Mas tua me boca sendo bela mudez blasfémia!
Ô semelhante! … E, no entanto, mais perfeito que meu mesmo,
Efêmero imortal, se claro diante meus olhos,
Pálidos membros pérola, e estes cabelos sedosos,
Sinto ele que à tristeza amável, sombra lhe ofuscar,
E que a noite já nos divide sós, ô Narciso,
E desliza entre nosso deus o ferro que taça um fruto!
Que tens tu?

 Minha queixa está funesta? …
                                           O ruído
Do sopro que eu escrevo aos teus lábios, meu dobro,
Sobre a límpida lâmina feita correr turvo! …
Tu tremes!... Mas estas palavras eu expiro ao joelho
Nem são, no entanto que uma alma hesitante entre nós,
Entre frontes se puro e minha pesada memória...
Estou perto de te que eu posso te absolver,
Ô rosto!... Minha sede está num escravo nu...
Até estes tempos encantadores eu me sou ignoto,
E eu nem sabia passar meu caro e me juntar!
Mas te ver, caro escravo, obedeço ao seu menor
Das sombras em meu imo se fulgente ao pesar,
Vejo sobre minha fronte tempestade e os fogos d’um segredo,
Ver, ô maravilha, ver! Minha boca matizada
Trair... pintar sobre minha onda uma flor de pensamento,
Quais acontecimentos cintilam em olhares!
Eu lhe encontro um tal tesouro d’impotente e d’orgulho,
Que nula virgem jovem escapada ao sátiro,
Nula! Fugas hábeis, as quedas sem emotivo,
Nula das ninfas, nula amiga, nem m’atrai nulo
Como tu fazes sobre onda, inesgotável. Me!...

II
Fonte, minha fonte, água friamente presente,
Doce águas puras animais, águas nasces complacentes
Que d’águas mesmas tentam seguir ao fundo à morte,
Todo está sonhado por ti, irmã tranquila da Sorte!
À pena em lembrança transformasse um presságio,
Que igual sem cessar em teu fugido rosto,
Enquanto de teu sono os céus te são encantados!
Mas se puro teu sois dos seres teu rumino,
Onda, sobre que os anos passam como as nuvens,
Que coisas, no entanto devendo ser conhecidos,
Astros, rosas, sessões, o corpo e seus amores!
Claro, mas se profundo, uma ninfa sempre
Roçando, e animando de tudo está que aproxima,
Nutrisse qualquer sonhado ao abrigo de sua rocha,
À sombra deste dia que ela pinta debaixo da madeira.
Ela sabe à jamais as coisas d’uma vez ...
Ô presença pensativa, água calma recolhida
Tudo uma sombra tesouro fábulas e de folhas,
Pássaro morto, a fruta madura, lenta abaixa,
E os raros clarões de claras argolas perdidas.
Tu consomes em ti dele perda já solene;
Mas, sobre essa pureza de tua face eternal,
Amor passa e perigo...

Quando às folhagens dispersas
Tremem, começando a fugir, choram de todas partes,
Tu vês da sombra amor se misturar ao teu tormento,
Amante escaldante e duro fingem à branca amante,
Vençam almas... E tu sabes segundo qual suavidade
Sua mão potente passa através espessura
Das tranças que se derramam em sua nuca preciosa,
Se repõem, e se remete forte e tão misterioso;
Ela fala aos ombros e reina sobre a carne.
Então os olhares firmes iguais ao eternal éter,
Nem observa, mas o sangue que doirado suas pálpebras;
Seu encarnado temível obscuridade às luzes
D’um casal aos pés confusos misturam, se mentem.
Elas gemem... A terra apela docilmente
Esses grandes corpos delicados, que lutam boca a boca,
E que, da virgem sabe atrever-se bater a camada,
Compuseram d’amor um monstro que ele se mata ...
Seu sopro nem faz, mas que dum feliz rumor,
Alma crida respirar alma toda que é lhe próxima,
Mas tu sabes melhor que minha, venerável fonte,
Quais frutas formando sempre eras encantado!
Pois, à pena ao coração calmo e tão contentes
D’uma ardente aliança se expirou em uma das delícias,
Desses amantes soltos tu contemplas às malicias,
Tu olhas brotar dos dias de mentiras tecidas,
Nascem mil maus demais ternamente entender!
Logo, minha onda prudente, infiel a si mesma,

Os Tempos levam estes doidos que acreditam são amigos
Repetem aos teus juncos de mais profundos suspiros!
Versos ti, tristes passam prosseguir-lhes lembranças ...
Sobre tuas bordas, confundir sombras de escassez,
Tudo deslumbra d’um céu de beleza lhes ferir
Tanto ele guarda clarão seus dias são mais belos,
Eles chegam bens perdidos acharem teus túmulos ...
« Esse lugar de sombras estanho quietas e nossa! »
« Outro deseja estes ciprestes, se ditam coração d´outros,
« E d’aqui, nós provamos respiração dos mares! »
Hélas! A rosa mesma esta amarga no ar com libor.…
Menos amarguras perfumes das supremas fumaças
Que abandonam ao vento das folhas consumidas!...
Ele respira este vento, caminhando são noções,
Comprimindo aos pés tempos d’um dia de desespero...
Ô marcha lenta, veloz, e igual aos pensamentos
Que conversam volta à volta as cabeças insensatas!
A carícia e a morte hesitante suas mãos tão breves,
Teu coração, acreditas se romper desviar caminhos,
Luta, e retiram a si tua esperança do abraço.
Mas seu espírito perdido corre labirinto
Ou s’ extraviam daquele que maldito o sol!
Sua loucura solitária, não importa do sonho,
Povo e trompa ausência; em tua secreta orelha
Em todo lugar uma voz que não aponta de igual.
Nada nem poder dissipar seus sonhos absolutos;
Sol nem pode nada contra este que não está mais!
Mas se ele arrasta em ouro seus olhos secos e fúnebres,
Ele se percebe em prantos defender suas penumbras
Mais caras à jamais que teus os fogos do dia!
E neste corpo esconde todas marcas de amor
Que porta amargamente alma que usa das horas,
Ardente dum secreto beijo que o deixa furioso...
Mas mim, Narciso amável, eu nem sou curioso
Que minha sozinha essência; do silêncio do vazio
Todos outros não para mim que um coração místico,
Todos outros não estão ausentes diante desta paisagem.
Ô meu bom soberano, caro corpo, não tenho que teu!
Mais belos mortais nem pode custoso que si...
Doce e doirado, este que é um ídolo mais santo,
Todas uma floresta se consuma, se cingi,
E frasco em azul vivente por tanto d’pássaros?
Este-ele veste mais divino favor das águas,
E d’um dia que se matou do mais adorável uso
Retorno aos meus olhos honoráveis de meu rosto?
Nasceu, pois, entre nós que sois a luz única
Da graça e do silêncio uma troca infinita!

Eu vós saudais, jovem de minha alma e da onda,
Caro tesouro d’um espelho que reparto ao mundo!
Minha ternura vem beber, embriagar da visão
Um desejo sobre si mesmo ensaia teu poder!
Ô que teus meus desejos, vós sereis semelhantes!
Mas a fragilidade vossa fez inviolável,
Vós não sereis que luz, adorável da metade
D’um amor demais igual à mortiça amizade!
Hélas! A ninfa mesma separa de nossos charmes!
Depois-eu espero de ti que de veio dos alarmes?
Que ele é doce aos perigos nós decompomos eleger!
Se surpreendam sou mesmo e sou -mesmo nos alcançar,
Nossas mãos se entrelaçam, nossos maus entram-destruir,
Nossos silêncios muito tempo de sonhos se instruírem,
A mesma noite em prantos confundem nossos olhos cerrados,
E nossos braços fecham-se sobre os mesmos soluços
Apertam mesmo coração, d’amor pronto a se derreter...
Quita enfim o silêncio, atrevido enfim me responder,
O Belo e cruel Narciso, inacessível duma jovem,
Todo ornado de meus bens que são que ninfa defende...

III

.... Este corpo puro, está consciente pode seduzir?
De alguma profundidade sonhos-tu de m’instrui,
Habitante de abismo, anfitrião se precioso
D’um céu sombra mundo precipitado dos céus?
Ô fresco ornamento de minha triste tendência
Que um sorriso si próximo, plena confidência,
E que presta ao meu lábio uma sombra de perigo
Até me faz temer um desejo dum estrangeiro!
Que respira vem à onda ofertar esta fria rosa!...
« Eu amo... Eu amo!... » E aqui assim pois pode amar outra coisa
Que sou mesmo?...
               Teu só, ô meu corpo, meu esse caro corpo,
Eu te amo, único objeto que me defende dos mortos.
…………………………………………………………….
Sigo, ti sobre meu lábio, meu, em meu silêncio,
Uma preze ao deus comove de tanto d’amor
Sobre teu pedinte púrpuro ele hirto o dia!...
Fazes, basal feliz, Ô Pai de justas fraudes,
Ditos que dum clarão rosa ou d’esmeraldas
Que sonhos da noite vosso espectro recomeçou,
Puro, e todo igual aos mais puros dos espíritos,
Espera, ao seio dos céus, tu vives esse por favor,
Perto de mim, meu amor, propõe um leito de folhas,
Sair tremulo de flanco da ninfa ao coração frio,
E são deixados meus olhos, sem cessar de ser meu.

Terno tua forma fresca, e está mais clara tua casca...
Ô! Te apanhar enfim!... Pegar este calmo tronco
Mais puro que d’uma mulher não forma de frutos...
Mas, d’uma pedra simples este templo onde eu sou,
Onde ruminarei…. Ruminar teus lábios avaros!...
Ô meu corpo, meu caro corpo, templo arreda
De minha divindade, eu quero apaziguar
Vossa boca... Tão logo, eu quebrarei, beijo,
Este pouco nós defendemos da extrema existência,
Este tremulo, frágil, e devota distância
Entre mim mesmo e onda, meu amor, e os deuses!
Adeus... Sentido-tu tremes mil flutuantes adeuses?
Pronto venha estremecer a desordem dessas sombras!
A árvore cega versa árvore estende seus membros sombras,
E provoca horrivelmente à árvore desaparece...
Minha alma assim se perde em tua própria floresta,
Onde a potência escapa à tuas formas supremas...
Alma aos d´olhos negros, tocando negrume mesmo,
Ela se fez de imensa e nem reencontra nada...
Entre à morte e si, qual olhar este é teu!
Deus! De augusto dia, pálido e terno resto
Siga o dia consumir juntos a sorte funesta;
Ele abisma aos infernos de profundas lembranças!
Hélas! Corpo miserável, está tempos de se unir...
Incline-te.... Beijo-te. Treme de todo teu ser!
Inacessível amor que tu me vens prometido
Passa em um arrepio, brisa Narciso, e foge...

TRAD. ERIC PONTY



domingo, janeiro 21, 2018

Para às flores - PEDRO CALDERÓN DE LA BARCA - Trad. Eric Ponty

Estas que foram pompa e alegria
Despertando ao albor da manhã,
a tarde serão lástima vã
Dormindo aos braços da noite fria.

Este matiz que ao céu desafia,
Iris listada de ouro, neve e grama,
será escarmento da vida humana:
Tanto se empreende ao terminar dum dia!

Eflorescer as rosas madrugaram,
Ao que envelhecer floresceram:
Cunho e sepulcro em botão falaram.

Tais os homens suas fortunas vieram:
Em um dia nasceram e aspiraram;
Que passados séculos horas foram.


TRAD.ERIC PONTY