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domingo, abril 08, 2018

O Cão e o Frasco - Charles Baudelaire - TRAD. ERIC PONTY



Meu soberbo cão, meu bom cão, meu valioso e tão pouco cão maltes, venha aqui e aspire este admirável perfume adquirido a partir dos melhores perfumes feitos nesta cidade.

E meu cachorro francês apontou a sua cauda, em sinal, de assumo, entre estas pobres criaturas que gostam de brincar ou sorrir, e abordados, enfiam o seu nariz molhado com curiosidade em um frasco aberto e então, de repente feito numa chicotada num susto, late a mim feito uma maldição.

"Ah, tu miserável cão, se eu tinha oferecido por um engano de dejeções, tu terias inalado odor com prazer e talvez até mesmo o comido.

A este respeito, indigno cúmplice de minha vida triste, se assemelham ao público, para quem nunca se deve oferecer os aromas delicados que só lhes distancias, mas em vez de lhes dar apenas dejeções, seletos com cuidado.



CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY


Livre Rare Book

Bonjour,

Livre Rare Book vous invite à venir visiter le Salon International du Livre Rare & et de l'Objet d'art au Grand Palais, à Paris, du 13 au 15 avril prochain (vernissage le 12 à partir de 17h).

Nous vous accueillerons au stand E6 pour découvrir ensemble toutes les fonctions de l'application "Livre Rare Book", outil aujourd'hui indispensable des Bibliophiles!

A télécharger sur Google Play ou App Store.

Vous pouvez imprimer une invitation pour deux personnes ici : pour le Vernissage (12 avril) ou pour le reste du salon (13 au 15 avril).


Dans le cadre du changement de réglementation européenne sur la gestion des données personnelles, si vous souhaitez continuer à recevoir nos informations par e-mail à propos des nouveautés sur Livre Rare Book, des invitations pour des Salons, etc, merci de le confirmer ci-dessous.
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Au plaisir de vous rencontrer sur le salon!
L'equipe LRB
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Agradeço o convite,
mas não posso comparecer.
 
Eric Tirado Viegas

terça-feira, abril 03, 2018

Vespers, Op.37- . Svete tikhyi – Rachmaninov - TRAD.ERIC PONTY

LITURGIA DA IGREJA ORTODOXA RUSSA

TODA À NOITE VIGILIA

Venham, Vamos Adorá-lo!
Amém!

Ô Venham! Vamos Adorar Nosso Deus,
Nosso Rei. Ó Ele Chegará.

Vamos adorá-lo cairemos
Diante da Sua Presença Cristo,
Nosso Rei e Nosso Deus.

Ô Ele Chegará, Vamos adorá-lo 
Cairemos em Vossa Presença do Próprio Cristo,
Nosso Rei e Nosso Deus. Ô Ele chegará,
Vamos adorá-lo e cair em Vossa Presença!




Ó Jesus Cristo,
Tu Sóis Gentil em Vossa Luz Santa Glória Imortal,
Celestial, Santo e Abençoado Pai!

Cá chegamos Em Vossa Visão do Sol
Nos contemplaremos em Vossa Luz Noturna,

Cantaremos Louvores ao Deus.
Pai, Filho e Espírito Santo.

Tu Sóis Digno em todas Nossas Ocasiões
De Vós Seres Louvado
Por todas Vozes Santas.

Ó Filho, de Nosso Senhor Deus,
Sóis Doador de Nossa Vida,
Portanto Vós Sóis O Mundo
Lhes daremos em Vossa Glória.

Vespers -  Bogoroditse Devo



Ô Virgem, Mãe de Deus,
Exultemos, Maria,
Cheia é de Vossa Graça,
Ô Senhor está contigo.

Bendita és tu entre às Mulheres,
Bendito sejas o fruto do Teu Ventre,
Porque deste à luz ao Salvador
Das Nossas Almas.

Vespers, Op.37-  Voskres iz groba


Ao Ergueste da Tua Tumba,
Rebentai todos laços do Inferno,
Destruíste à Sentença da Morte!

Ô Senhor, Libertai Todos os Homens
Das armadilhas do Nosso Inimigo.

Apareceste aos teus apóstolos,
Enviaste-os ao Pregar.

Por meio deles dás Paz à terra habitada,
Ô tu que És rico em Vossa Misericórdia!


Vespers, Op.37- Vzbrannoy voevode


À Ti, Ô Mãe de Deus, Nossa Líder Em Nossa Batalha,
Defensora, Nós, Somos Teus servos,
Libertados da calamidade,
Oferecemos Hinos de vitória e Ação de Graças.

Por Liberta-nos de Todo O Perigo,
Pois Seu Poder és Invencível,
Nós que possamos cantá-la a ti:
Alegrai-vos! Noiva sem esposo!

TRAD.ERIC PONTY

segunda-feira, abril 02, 2018

EM MEMÒRIA DA EFÌGIE DE LUIZ DE CAMÔES - ERIC PONTY

Á toda alma cativa é nobre alma,
Ante cuja visão chegam palavras,
Á que sobre isto semelhe escrever,
Saudo-lhe em Nome do Amor, este Dono.
Dante Alighieri

I

Ao ser meiga bela qual um lied lenha,
Fênix mares, flores, cristalinas,
Tiveste lhe erguido fugaz efigie.
Haver sombra reger avesso fresco.

Ao mar molhaste gruídos pés estresidos
Em forma recém ereta desta sombra,
És de agora este fogo masculino,
Que só há duma flama sol mar duelam.

Havendo nada raie senão à tarde!
Amor destruir buganvília intacta.
És bonita, exata de ideável lume,

Ao deixares tua fronte impôs tua mágoa
És alcance novo bronze tinir sino,
Ao cruzares tua estátua do véu eterno.

II

Ao querermos procriem estas criaturas,
E que esta flor encanto feneça,
Senão teu canto, despois da fartura,
És memória ser estirpe de herdeira.

Mas tu, seduziu o olhar tão radiante,
Este fulgor avivas volver ardor,
Na escassez converte dons abundantes,
És hostil contigo e cruel teu existir.

E serás tu, ao Mundo agora flama ornou,
Ao ser primavera mensagem vera,
No caule enterra semente e contento.

Se gastou ser avara, ô, torpe mágoa,
Piedade do Mundo, não engoliu à maça,
Ergueste Paradiso à fruta rara.

III

Num sol da tarde um raio cruzou à nuvem,
És sendo mulher charmosa, de entranhas,
Desdenhará o cultivo fisionomia?
Ô quem tão insensatez ti porá fim.

Ao fazer-se Amor és mesma sepultura?
Tu seres mãe dum fiel Espelho,
Revives teu agrado de prima hera;
Assim, à idade, serás mal videira.

Pesares tua aflição, doirada era,
Entretanto, se não quis de ti memória,
Morro solteiro e padeço tua efígie.

Aos olhares teu espelho rosto admirado,
Sendo tempo de que outra mesma repita,
Nem Mundo basta nem mãe ser bendita.

IV


Indagas porque trago raiva no peito,
Sobre colo duma cabeça indômita,
É sou desentende da raça invisível,
Devolvo ao Deus das minhas mágoas céu.

Sim sou daqueles que vingam rebanho,
Havendo marcado à minha fronte óssea,
Embaixo da palidez riscou raio Sol,
De mim tenho às vezes rubor implacável.

Último profeta sem uma trombeta,
Que dos confins dum riacho gritava,
Pesares tua aflição, findar da época.

Seis vezes nas águas duma ilusão,
E cuidando das vestes escarnecidas,
Por seres mãe Sol dum fiel Espelho!


 ÉRIC PONTY

Miguel de Cervantes Saavedra TRAD. ERIC PONTY

II

Aqui o valor da espanhola terra;
Aqui à flor da francesa gente;
Aqui quem concordou o diferente,
De oliva coroa àquela guerra;
Aqui, baixo espaço, olha se encerra.

Nossa à luz luzeiro Ocidente,
Aqui fez cravada à excelente,
Pé nosso bem todo desterra.

Olhas quem é mundo e pujança,
Quão, da mais alegre vida,
Morte levar sempre à vitória!

Também vê à bem-aventurança,
Gozar nosso reino esclarecido,
No eterno reino da glória.

III

Quando desaba à guerra
Livre nosso hispânico chão,
Com um repentino voo,
A melhor flor que há da terra
Sendo transplantado céu.

E, ao cortá-lo de seu ramo,
O mortífero acidente
Foi tão oculto à gente,
Como o que não vê à chama
Até que queimar se sentiu!
Miguel de Cervantes Saavedra
TRAD. ERIC PONTY

MALLARMÉ - ERIC ROHMER




O Poeta é semelhante príncipe das nuvens

domingo, abril 01, 2018

SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ - TRAD. ERIC PONTY


De que nunca suficientemente alardeava, harmónica Fénix do indiano Parnaso, à freira Juana Inés de la Cruz, religiosa professa do convento de São Jerónimo.

Que importa no pastor sacro, que à chama
De teu obrar negar queira desta vitória,
Se, quando mais apaga tanta glória,
Mesmo luz às recordações da chama;

Se em cada marmo mundana clama
De seus brasões indelével história,
Por que sirva de letra à tua memória
O que de pedra ao templo de tua fama?

Que da sagrada cifra, que venera,
O discurso nas pedras, comedido,
E na duração eterna persevera,

Isenta e livre deste escuro olvido,
Alardear-te porás, culto do ribeiro,
Que só lhe constróis deste sentido.

[A don Carlos de Sigüenza y Góngora.]

Doce, canoro cisne mexicano,
Cuja voz deste estige lago se houvera,
Segunda vez a Eurídice te dera,
Segundo deste delfim te fora humano;

Há quem se o troiano muro, era tebano,
Ao ser em doces cláusulas devera,
Nem deste grego incêndio consumira,
Nem se prostrara alexandrina mão:

Sacro munem de minha voz ofendo,
Nem ao pulsar divino plectro de ouro,
Agreste Avena concordar pretendo;

Pois pôr não profanar tanto decoro,
Meu entendimento admira o que entendo,
Em minha fé reverência do que ignoro.
SOR JUANA INÉS DE LA CRUZ
TRAD. ERIC PONTY

sábado, março 31, 2018

ODE AO JAZMIN - Poèmes à Jean Voilier - PAUL VALÈRY - TRAD. ERIC PONTY


São seixos cravados no meu peito em teus olhos,
Sendo quais gentis riscos incertos olhares,
Trespassadas chamas vivas de meu anoitecer absorto,
Ô Compleição imanente, ô tu estás em todas partes.

Tu que estás cingida pela doçura do riacho,
Que ao viver sem ti um dia me íleo de ferro,
Que me enevoa teu peso sendo meu suspiro ejeta
Que ao findar-se no século cabal do inferno…

É, mas, em teu contorno feito de mim quanto existia me irritava,
E tua obra mesma em mim é igual dum sonho importuno,
Se ao haver em ti, há em Ti, ave unida,
Que se fez dócil em minha alma no teu sigiloso aroma.

E ao respirá-la em teu espírito na moradia mais terna,
Onde as savanas castas, são floridos unos, junto às chamas,
Na potência amorosa que em teus membros anelados
Sendo contigo amada um só sorriso de refúgio em minha súplica.

Devora, pois, o caminho, retornarmos ao vácuo da delícia,
Meus passos me suprimem aos preciosos degraus
Que me carregam ao umbral de teu sedoso caliz
Minha sede por ti achares em teus certos olhares.

Exausta está minha espera amores por andares fingindo-o;
E ao bebê-los e fechá-los quero, e ao ver-te como estes se abriram.
Calmos outra vez quando ao excesso esperado de nos unir-nos
Isto é que nos permitirá sorrir em teu latejo.
PAUL VALÈRY
TRAD. ERIC PONTY

sexta-feira, março 30, 2018

LIMERICKS – EDWARD LEAR – TRAD. ERIC PONTY



Um senhor se sentava junto ao mar
Calmo no alto dum Pilar;
Porém, se havia mui frios,
Renunciando-se aos brios,
Mandava brindar no seu lugar.
 EDWARD LEAR
TRAD. ERIC PONTY

LIMERICKS – EDWARD LEAR - TRAD. ERIC PONTY


Uma Senhora vivia em Navarra
Viveu toda existência na jarra;
Ao fazer-se sem cor
Se pintava a toda hora na flor
À serena Senhora de Navarra.

EDWARD LEAR
TRAD. ERIC PONTY




quinta-feira, março 29, 2018

Gorecki - Symphony No. 3 "CANÇOES DOLOROSAS " - Lento e Largo – TERCEIRO MOVIMENTO



Soprano: Isabel Bayrakdaraian, Sinfonietta Cracovia, conduzida por John Axelrod. IMAGENS DIRETAS DO “HOLOCAUSTO - Memorial DE Auschwitz"

Na sinfonia, concluída em 1976, a simplicidade do material musical combina com à expressão apaixonada ao criar uma atmosfera profundamente espiritual - uma peça particularmente querida por Górecki.

À música folclórica e religiosa de natureza profundamente sagrada, estritamente ligadas à fé católica, e especialmente ao culto da Virgem Maria, que é invulgarmente forte na Polónia. 

Górecki, inspirado pela mesma figura de Nossa Senhora das Dores, decidiu escrever uma sinfonia em grande escala.

O texto usado por Gorecki no terceiro movimento está escrito numa das paredes em Auschwitz, sendo que foi escrito por uma menina morta pela GESTAPO de 18 anos exterminada em Auschwitz por intercessão da Virgem Maria, apresentamos uma pseud. Tradução o texto deixado pela menina de 18 anos.

Ô Mãe,
Mãe, não choreis,
Ô Rainha do Paraíso,
Nós protejamos.

Ô Mãe,
Rainha do Paraíso,
Nós protejamos.

Ô Virgem Maria,
Cheia de Graça!



https://www.senat.gov.pl/aktualnosci/art,10422,list-marszalka-senatu-do-polonii-i-polakow-za-granica-w-zwiazku-z-ustawa-o-ipn.htm

domingo, março 25, 2018

AS METAMORFOSIS DO VAMPIRO - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

Ao Mestre Jamil Almansur Haddad
Esta mulher que havia ofertado de seu corpo
E com um movimento serpente cercou fogo,
Se pois então acariciava seio preso espartilho,
Boca fresca descia com almiscaro sabor:

— Tenho lábio tão húmido, e conhecendo à arte,
Que faz perder consciência sobre um leito macio.
Aplaco todos cantos entre peitos poderosos,
E aos velhos faço rir com sorriso dos meninos.

á quem me vê sem véus e nua, eu sou placebo
Da lua e do sol, do céu que são destas estrelas!
Assim é, besta amigo, sou destra voluptuosidades
Quando homem cai entre meus braços tão insubmissos.

E quando do mordisco abandonar fruto meus peitos,
Sou tímida e libertina, tão frágil e ardente,
Que sobre estes colchões que tremem de emoção,
Até os arcanjos débeis condenariam em mim!

Quando me seciono até à medula destes ossos,
E se languidamente me contorno até ela
À ofertar-lhe dum beijo de amor, que só eu vi
Um coro com dois seios viscosos e cheios de pus!

Ante tanto horror lacrei os meus olhares,
E quando os abri de novo à luz crua desta tarde,
Ao meu lado, no lugar portentoso manequim,
Se pareciam saciados de sangue, mesclou de libor.

Se tremia inarticulado despojo do esqueleto,
Que desaba ouvir lamentos qual se fazem a veleta
Ou o rótulo folgado do qual partem suas asas,
Balançando pelo vento às noites invernosas.
Charles Baudelaire
Trad. Eric Ponty

XXV* A Mgr LE CARDINAL DE RICHELIEU (1627) - MALLERBE - TRAD. ERIC PONTY

Baque trouxe pavor não tem mais razão pique,
Grã alma vossa grã lavra sem folga dedique,
Pois sóis vós conselho à França está a governar,
Tudo disto fez cruz aura fizestes cura.

Talvez faz renovar antiga idade d´Éson,
E tal qual este príncipe em Vossa mão afronta,
Ao vencer rigor gênio vossa dita der conta
E melhorar vossa tez verde da estação d´Éson.

O Bom sentido meu rei sempre fez predizer,
Que frutos paz dão o império sem possam parar
E porque deste meio Deus forte adora dizer.

Mas é vidente Vossa hoje ao que deste Segundo,
Nem se ele prometer passar-vós deveis esperar,
Se não lhes prometer nós conquistar este mundo.
  CARDINAL DE RICHELIEU
TRAD. ERIC PONTY











sábado, março 24, 2018

Michelangiolo Buonarroti - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

3

Tão grato e felizes, teu feroz mal,
Ostentam e vencem foi concebido,
Ou laço, ao peito vou banhar frequente,
Contra minha vontade, só quão ti vale.

Danoso suprimir desta fecha
Ao signo do meu cerne não foi mais junto
Ou saber golpear vingança si mesmo
Do que belo olhar, fiar todos mortais.

Quantos laços até quanta das redes
Vagando passarinho maligna sorte,
Morando muitos anos morrer infeliz.

Tal de mim, dona, Amor, qual se verás,
Ao se dar-me nesta época cruel morte,
Sem base meu grão tempo do qual vejo.

4

Quanto si goza alegre bem contesta,
Flor que sopra crina doiro guirlanda
Em que dum outro prévio há outro manda
Como se primo vai beijar julgar.

Contenta tudo em torno aquela vesta,
Que se cerra peito põe a se expandas
E que com fios douro se convida
Guanche ajusta sonhar não abandonar.

E, dás, mas mais alegres tira à goza
E de Doirada ponta si fez caráter
Que se pressionar tocar peito ligar.

De sincera cintura que se amarra,
Igual enxuto corrente de sempre
Ou que fazeis coroa dos meus braços?

6

Senhor, vero algum provérbio antigo,
Isto é bem que pode, mas não queres,
Tu dás crédito ao valor tua palavra
E premiado de ver o teu inimigo.

Eu sou e fui teu bom e servo antigo,
Que a ti são dados como raios sol,
E do meu tempo não aumenta esmola
E homens gostam mais que fatigados.

Já espera ascender esta tua altura,
Gosto peso potente desta espada
Agitar necessária não voz eco.

Mas céu certa virtude se despreza,
Localiza do mundo, dá outro vá,
Ao prender fruto da árvore tão seca.

10

Se fez elmos dos cálices e espadas,
E do sangue de Cristo dá gamelo,
Cruz de espinhos sejam lance à roda,
E pureza de Cristo paciência cair.

Mas não chegou mais nesta província,
Que nem André o sangue está estrela
Depois que Roma vendendo a sua pele
E eis cada bem fechado nesta estrada.

Se haveria querer perder Tesauro,
Por isto que obra minha de partida,
Podendo que nem manto Medusa em Mauro.

Mas se do alto céu pobreza estimada
Qual fiada nosso estado grão restauro
Se outro signo se apagou há outra vida?


23

Eu que fui já muitos anos mil voltas
Ferido e morto não ganho exausto
De ti minha culpa, do início branco
Repreendê-lo à tua promessa tola.  

Quantas vezes ligada e quantas soltas,
Ao triste membro, sim incita lado,
Apenas posso retornar meio anco,
Banhando peito muitas das lágrimas.

De ti dolorido Amor, com triste voz,
Se soltar teu poder, necessidade,
Se pegou arco cruel, tirou-lhe voto?

O Lenho se incinera serra angústia,
Dentro dum correndo é grão vergonha,
Perdeu firme cada destreza gesto.

34

A vida do meu amor não é imo meu,
Que do amor que ti amo sem coração,
Onde coisa é mortal, plena de erros,
Ser não posso, nem lhe pensei mau.

Amor nem repartir d´alma de Deus,
Me fez santo Olhar tua luz esplendor,
Nem pode vê-lo naquilo padeças,
De ti por nosso mal, meu grão desejo.

Como do fogo do caldo, elas dividem,
Não posso belo eterno minha estima,
Que exalta, onde ela vem, mas semelha.

Por dentro meu olhar tudo é paraíso,
Por retornar onde alma fez Primeva
Recorro-me ardendo sob teus cílios.

17

Cruel, amargo, desapieda imo
Vestido de doçura de amor pleno
Tua fé ao tempo nasce, e dura menos
Ao doce vernal não feliz todas flores.

Movendo-se tempo repartir-se horas,
Ao viver de nosso péssimo veneno;
Como foice e não sejas como feno
. . . . . . . . . . . . . . 8

A fé sendo curta e graça é não dura,
Mas de par seco par que se consume,
Como pecado querer deste meu dano.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
Sempre fazendo nós fará todos anos.

42

Fala-me da graça, Amor, se olhos tem
Chegando ao vê-la beleza que aspiro
Se eu olhar dentro quando me miro
Vejo esculpido o rosto que fiz desta.

Tu hás de saber que tu vens com ela
Tirando minha paz onde eu me provoco
Nem quero pequeno um mínimo suspiro,
Nem os meus ardentes fogos pedidos.

A beleza que tu vês é bem daquela,
Mas cresces melhor que um local sal,
Se por que olhos mortais d´alma que corre.

Ali se faz divina honesta e bela
Qual igual duma tal coisa imortal
Neste não aquele olhos teus percorre.

43

Razão comigo lamentou-se dor,
Parte que espero amando está feliz,
Com forte exemplo com veras palavras
Esta minha vergonha fez lembrar.

E como nem reportar ao vivo sol,
Outra que Morte? E não como feliz,
Mas de pouca vantagem careceu,
Não bastou outro apoio jaz vitorioso.

Eu me conheço dano e vero intendo,
Doutra banda refúgio doutro imo
Isto me acidenta onde mais rendo.

No meio das duas mortes, meu Senhor:
Nesta não vou nesta não compreendo
Coisa suspensa corpo alma padece.

46

Meu bruto martelo às duras rochas,
Formando dum aspecto isto ou àquilo,
Do ministro guia vislumbra-se na tela
Prendendo ao modo, vais com outro passo.

Mas que divino no céu abriga êxtase,
Outrem e se mais andar fez belo,
E se nenhum martelo sem martelo,
Pode fazer qual vivo cada outra fase.

E porquê golpe de valor é mais pleno,
Quando alçou mais erguida forja
Soprar este meu céu girando voo.

Onde meu não finito serás menor,
For não lhe dás à fábrica divina
Ajudas fazer, mundo serás só.
Michelangiolo Buonarroti
 TRAD. ERIC PONTY



Michelangiolo Buonarroti - Série de SONETOS


Hieronymus Bosch - Homenagem


sexta-feira, março 23, 2018

CANTO XXXIV - DANTE Alighieri - TRAD. ERIC PONTY

«Vexilla regis prodeunt do Abismo
Havendo nós, mais adiante olhar,
Disse-lhe o mestre— e os verás ti mesmo. »

Como — se espessa treva se respira,
Ou se em nosso hemisfério já anoitece—
Distante se vê um mulino então girava,

Ver distantes uma torre me parece;
O vento me encha atrás, e abrigo peço
Ao meu guia, porque outro não oferece.

Já estávamos — com medo canto e medo—
Onde surgem as sombras abnegadas
Qual canudo que no vidro se há metido.

Umas fazem e estão doutras paradas;
Possuem a testa o bem os pés adiante,
Os pés em os rostos, estão arqueados.

De quando tanto nós passamos adiante
Que meu mestre teve bem mostrar-me
Ao que teve uma vez belo semblante,

Se deteve ante mim, me fez parar-me,
E disse: «Olha e me Dite; é o momento,
De que tua alma tem de valor se arme».

Qual me fica de friagem sem alento,
Não perguntes, leitor, nem eu o escrevo
Nem o pode expressar nenhum acento.

No que me morria nem sequer vivia:
Ao pensar por ti, si é que é engenhoso,
Qual fui para ambas coisas negativo.

O César do Império era doloroso
Deste médio corpo acima se mostrava;
E mais me comparava eu há colosso,

Que um gigante seus braços comparavam:
Calcula como o todo ser deveria,
Que com tamanha parte concordava.

Se foi belo qual feio se observava,
E contra seu fazedor alçou o seja,
Sem dúvida é quem todo luto cria.

E ali minha mente ficou perplexa,
Se, pois, tinha três caras nesta testa.
Uma adiante, e esta era vermelha;

Aos outros dois unirem-se com esta
E por cima de uma e outra paleta,
E se juntaram-se na mesma cresta:

A destra era entre branca e amarela;
O sinistro, da tinta que declara
O que do Nilo se tostou da orelha.

As Duas asas grandes abaixo caras,
Que ao pássaro tamanho convinham,
De tais velas jamais dum barco içara —

Do morcego eram; e se careciam,
De plumas, que dá vez se ateavam
De modo que três ventos produziam

Que da água do Cócito congelavam;
De seis olhos suas lágrimas brotando,
Com sua sangrenta baba se mesclavam.

Com cada boca estava triturando
Há um pecador, como uma agrimavam,
Aos três de igual forma castigando.

Mas só para o de diante nada era
O morder, com a espalda comparado,
Que estava desgarrada toda inteira.

A este a maior pena lhe há tocado:
É Judas Iscariotes, cuja testa,
Está na boca, e se panteia airado;

Haver abaixo estes dois que tem postos,
— Disse-lhe guia—; do rosto denegridor
É o Bruto, que dor não se manifesta;

Casio do terceiro é, alto e fornido,
Mas já à noite chega, e deste instante,
Ao marcharmos, que todo visto há sido.

Eu me abracei ao colo e, vigilante,
O momento escolheu que lhe convinha
E, quando se abriu as asas o bastante,

Ao flanco hirsuto se agarrou meu guia:
De velho em velho descendendo fomos
E dentre destas cerdas da costa já fria.

Quando ao lado da coxa ao fim nos vimos,
Onde se inchava e forma da cadeira,
Cansados e angustiados nos sentimos:

Volver a testa vazia da garra fera
Ao mestre, que lhe vendo se safava
Igual que se ao Inferno se volvera.

Agarre bem —me disse, e ladeava—;
Pela escala abandonar-me espero
Tanto mal», e cansado se mostrava.

Alcançou duma rocha o aguaceiro
Com o cuidado me sentou na ribeira;
Logo levou ao meu lado o pé ligeiro.
 DANTE ALIGHIERI
TRAD. ERIC PONTY

JULIO CORTAZAR - TRAD. ERIC PONTY

A Notícia aos viajantes

Se tudo é coração e renda solta
E nas caras houve à luz do meio dia,
Se numa selva de armas jogam os meninos
E a cada rua se ganhou, esta vida.

Não estás em Assunção nem em Buenos Aires,
Não te equivocou de aeroporto,
Não se chama Santiago o fim de etapa,
Seu nome é outro que Montevideo.

O Vento da liberdade foi teu piloto
E bússola do povo te deu o Norte,
Quantas mãos tendidas esperando-te,
Quantas mulheres, quantos meninos e homens.

Ao fim alçando-se juntos o futuro,
Aos fins transfigurados em se mesmos,
Então na larga noite da infâmia
Se perdeu no desprezo do olvido.

A viste desde o ar, esta é Managua
De pé entre ruinas, bela em seus baldios,
Pobre como as armas dos combatentes,
Rica como o sangue de seus filhos.

Já vês, viajante, esta sua porta aberta,
Todo o país é duma imensa casa.
Não, não te equivocaste de aeroporto:
Entrais não mais, estás na Nicarágua.
Managua, fevereiro de 1980

Discurso do Idiota

Uma noite, creio que em Turim, cunha de Copérnico, o pintor Matta me olha chegar e me saúda, dizendo-me: Ah, aqui está, o idiota!

Me fiquei um tanto acabrunhado, porém a explicação veio em seguida: «Te chamo idiota como o chamavam o príncipe Mishkin, porque a ti te ocorreu como a ele, meter o dedo na chaga com a maior inocência, e está sempre alarmando a gente porque diz as coisas mais inapropriadas em qualquer circunstância, e só alguma sé dão conta de que não eram de nenhuma maneira inapropriadas. Tu, entretanto; não entendes nada do que passa, igual que príncipe de Dostoievski. Talvez aqui tampouco entendo nada, querido Matta.
 JULIO CORTAZAR
TRAD. ERIC PONTY 

quinta-feira, março 22, 2018

VILLANCICO I - ASSUNÇÃO, 1676 - PRIMEIRO NOTURNO - Sor Juana Inés de la Cruz - TRAD. ERIC PONTY


Villancicos que se cantaram na Santa Igreja Metropolitana do México, em Honra de Maria Santíssima Mãe de Deus, em Sua Assunção triunfante, ano de 1676, em que se imprimiram.

PRIMEIRO NOTURNO

VILLANCICO I

VENHAM A VER UMA APOSTA,
Venham, Venham, Venham,
Que fazem por Cristo e Maria
O Céu e a Terra.
Venham, Venham, Venham!

Coplas

O Céu e Terra neste dia
Competem entre os dois:
Ela, porque abaixo de Deus,
E ele, porque subir por Maria.
Cada qual em sua porfia,
Não há maneira de que se acheguem.
Venham, Venham, Venham!

Diz o Céu: —Eu hei de dar
Posada de mais prazer:
Pois Deus veio a padecer,
Maria subiu ao triunfar;
E assim é bom, que teu pesar
Meus foram se me mantenham.
Venham, Venham, Venham!

A Terra me disse: —Receio
Que foi mais bela minha,
Pois o Ventre de Maria,
Sendo muito melhor que o Céu;
E assim é bem que no Céu e só
Por mais ventura me tenham.
Venham, Venham, Venham!

Injustas são as suas querelas,
Pois a coroar te inclinas
Coroar a Cristo com teus Espinhos,
Eu e Maria com Estrelas
(Diz o Céu); e das mais belas
Diz, suas sobrancelhas obtenham.
Venham, Venham, Venham!

A nos terra disser: —Pois mais
O mesmo Cristo estimou,
A Carne que em mim tomou,
Que à Glória que tu me dás;
E assim não esperes jamais
Que meus triunfos se retenham.
Venham, Venham, Venham!

— Ao fim venham nos completar,
Porque entre tanta alegria,
Põe, ao subir, na Paz Maria,
Como seu Filho ao abaixar;
Que na glória tão singular,
É bem todo se convenham.
Venham, Venham, Venham!

VILLANCICO II

ILLA QUAE DOMINUM CAELI
gestasse in utero, digna,
et Verbum divinum est
mirabiliter enixa:
cuius Ubera Puello
lac dedere benedicta,
et vox conciliavit somnum
Davidica dulcior lyra:
Quae subiectum habuit Illum
materna sub disciplina,
Caeli quem trementes horrent
dum fulmina iratus vibrat:
Cui virgineum pedem gaudet
Luna osculari submissa,
quaeque Stellis coronatur
fulgore Solis amicta,
magna stipante caterva
ex Angelorum militia,
victrix in Caelum ascendit,
20 ubi per saecula vivat.
Custodes portarum timent,
ut ingrediatur Maria,
ne cardinibus evulsis,
totum Caelum porta fiat.
Ascendit Caelos, et Caelos
luce vestit peregrina,
atque deliciarum loco
ignotas infert delicias.
Innixa super dilectum
Caelestem Thalamum intrat,
ubi summam potestatem
habet a Deitate Trina.
Ad dexteram Filii sedet,
et ut Caelorum Regina
tota coronatur Gloria,
et Gloriam coronat Ipsa.
Vident Superi ascendentem,
et admirantium ad instar,
ad instar concelebrantium,
alterna quaerunt laetitia:

Estribilho
—¿Quae est Ista? ¿Quae est Ista,
quae de deserto ascendit sicut virga,
Stellis, Sole, Luna pulchior? —Maria!

VILLANCICO III

A SOBERANA DOUTORA


Das Escolas divinas,
De que os anjos todos
Depreendem sabedoria,
Por ser quem a inteligência
Melhor de Deus participa,
Ao ler a suprema subida
Da Cátedra da Teologia.

Por Primaria das ciências
É justo está seja aplaudida,
Quem de todas às criaturas
Se levou à primazia.

Nenhum de Charitate
Estudou com mais fatiga,
E na matéria de gratia
Supôs há um antes de nascida.

Despois da Incarnatione
Pode estudar em si mesma,
Com que nesta Trinitate.
Alcançou maior notícia.
Os soberanos Cursantes
Que as letras exercitam
E da Sagrada Ciência
Os secretos investigam,
Com os Espíritus puros
Que no eterno Solo habitam
(E Inteligências sutis,
Ciência de Deus se apelidam),
Todos se votam iguais.

E com amantes das carícias,
Lhes celebram à vitória
E no triunfo lhes solenizam.

Estribilho
E com alegres vozes de aclamação festiva,
Enchem das raridades do ar de alegrias,
E só se percebem na confusa gritaria:
— Vitória, vitória, vitória, vitória Maria,
Apesar do Inferno e da sua inveja!
— Vitória, vitória, vitória, vitória Maria!
Sor Juana Inés de la Cruz.
TRAD. ERIC PONTY

quarta-feira, março 21, 2018

Linguæ Vasconum Primitiæ - Bernat Etxepare (Fragmentos) - TRAD. ERIC PONTY


É o primeiro livro impresso em euskera que conhecemos. Foi escrito por Bernat Etxepare e publicado no ano 1545. Etxepare era consciente de ser o primeiro escritor nesta língua, dele se sente orgulhoso ao demostrar ao largo da obra, começando por mesmo título.

O texto está composto por uma introdução e quinze poemas/canções. O escreveu em dialeto bajonavarro, tal e como se utilizava entre o povo. Esses quinze poemas se podem classificar em quatro grupos, em função da temática: dos religiosos, dez de amor, um autobiográfico na que exalta a liberdade, e os dos últimos nos exaltando ele euskera. No poema autobiográfico que exalta a liberdade, Bernat Etxepare conta que foi aprisionado em Bearn, por haver sido falsamente acusado de haver traído ao Rei de Navarra.

O Livro não teve uma grande distribuição, e só se conservou um exemplar, este guardado na Biblioteca Nacional de Paris.
Pelo Senhor Bernard de Etxepare
O Reitor de São Miguel, O Velho.

I.- DOUTRINA CRISTÃ

Todo homem neste mundo deveria pensar
Que Deus há formou a cada um de nós,
Há criado em nossa alma a tua própria imagem
E há sido dotado de memória, entendimento e vontade.

Nenhum amo deseja ter um malcriado
Nem lhe retribuir sem que este lhe sirva.
Deus procede de igual modo com conosco;
Não nos dará a glória, se não praticamos o bem.

Os criados passam a vida servir-nos
E por um módico salário suportam mil moléstias
Deus deveria receber outro tálamo de nós;
Temos servir-lhe há que nos dê Vossa Glória.

Não se que se consegue trigo sem haver semeado,
E comum cada qual aconselha segundo o que distribuiu;
As boas obras obtemperam um esplêndido sucesso,
Porém de seguro que também de agradar teu castigo.

Posto que Deus nos regala ao diário,
Também nós devemos recordar-lhe com gratidão
E pensar que Ele é Nosso Princípio e Fim
E exaltar atentamente Seu Nome dia e noite.
Pela Noite

Recomenda-te a Deus pela noite ao acostar-te
E o careça que te preserve de todo mal;
Quando te despertes, acorda-te ao ponto
De receitar-lhe com devoção algumas preces.

Pela Manhã

Protege-te vá de manhã à igreja, se puderes,
E encomende a Deus na sua santa morada;
Ao entrar medita ante quem estás
E com quem conversas, então estarás ali.

No Cemitério

Ao entrar lembre-se com afeto aos defuntos;
Pensas que então viviam e eram como tu;
Tens que morrer como eles e não sabendo quando.
Peças a Deus lhes outorgue teu Perdão.

Na pia batismal

Quando ires à igreja olha o batistério.
Pensa que é ali onde recebeste a fé,
A Graça de Deus e o Caminho da Salvação.
Teu primeiro reconhecimento seja a ele.

O Sacrário

Admira logo a onde está o Santíssimo
E pensa que Ele é teu Salvador;
Venerai com devoção e peça-lhe a Graça
De receber-lhe dignamente ao final de tua vida.


O Crucifixo

Admira o Crucifixo e lembra-te ao ponto
Que há sido redimido com teu precioso sangue.
Ele assumiu à morte para dar-lhe à vida.
Faça de modo corresponder lhe.

A Santa Maria

Alcança tua vista onde se fala a Boa Senhora.
Nem o mundo inteiro te pode ajudar-lhe o que Ela.
Ela é a mais próxima a Deus na Glória
E possui a mão todas às graças, quando quer.

Ô gloriosa Senhora e doce Mãe!
Em ti se junta toda esperança do pecador.
Também eu, grande pecador, acudo a ti,
A que me ajudes à salvar minha alma.

Os Santos

Renda-lhe também presteza aos santos,
Em especial a aquele a quem professas devoção.
Lembra-te de quem é a festividade naquele dia.
E há quem está dedicada aquela igreja.
Peça-lhe atentamente que te ajudem.

Armas contra Morte

A Morte irrompe quando menos se pensa,
Por ventura, sem dar tempo a confessasse.
O que pratique de verdade estas três rosas
Se salvará, como queira que padeça.

A Primeira Verdade

Bom Salvador! Confesso ser pecador
E tenho muita culpa em haver obrado mal.
Já que te hei ofendido de forma indevida,
Me pesa e me duele de haver obrado contra ti.

Segunda Verdade

Bom Salvador! Proponho-lhe ao presente
Abstende-me da fé pecado toda a vida.
Senhor! Dei-me força e graça, por favor,
A perseverar pela vida neste propósito.

Terceira Verdade

Bom Salvador! Proponho para a Quaresma
Fazer uma boa confissão
E cumprir a penitência imposta pelo confessor.
Senhor! Confirmai. Tua minha vontade.

Se algum não cumprir de Verdade estas coisas,
Sabendo que não pode salvar-se de nenhum modo,
Há quando haja confessado os teus pecados.

Persuada-se dele quem não queira enganar-se.
Nem sacerdote nem o Bispo, nem sequer um Papa
Tem a faculdade de absolver este tal.
Deus admira sempre o coração,
Conhecendo nossa vontade melhor que nós mesmos
E, sem vontade, ante Ele às palavras é oco.

Adenta bem tua casa todos os dias,
Si diligente em todos teus negócios e,
Para que teu trabalho seja tua penitência,
Agradeça à Deus ao findo de cada ação.

Teu trato sejas sempre com gente honesta;
Dos malvados não tirarás nenhum proveito.
Não faças aos demais o que a ti não queiras,
Nem omitas com eles o que para ti quiser.
Àquele que deseje salvar-se que observe este Princípio.


O juízo Universal

Como não pensam-se no Juízo universal,
Vivendo sempre ao prazer do pecado.
Tomemos já precauções a logo não perdemos,
Pois então Nada disporá de Tempo.
Significa grande prudência pensar nele há sério.

Haja! Haja! Todo o Mundo ao Grande juízo!
O Supremo Criador do Céu e da Terra
Virá a julgar com rigor o Mundo.

 Bernat Etxepare
TRAD. ERIC PONTY