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quarta-feira, março 21, 2018

Linguæ Vasconum Primitiæ - Bernat Etxepare (Fragmentos) - TRAD. ERIC PONTY


É o primeiro livro impresso em euskera que conhecemos. Foi escrito por Bernat Etxepare e publicado no ano 1545. Etxepare era consciente de ser o primeiro escritor nesta língua, dele se sente orgulhoso ao demostrar ao largo da obra, começando por mesmo título.

O texto está composto por uma introdução e quinze poemas/canções. O escreveu em dialeto bajonavarro, tal e como se utilizava entre o povo. Esses quinze poemas se podem classificar em quatro grupos, em função da temática: dos religiosos, dez de amor, um autobiográfico na que exalta a liberdade, e os dos últimos nos exaltando ele euskera. No poema autobiográfico que exalta a liberdade, Bernat Etxepare conta que foi aprisionado em Bearn, por haver sido falsamente acusado de haver traído ao Rei de Navarra.

O Livro não teve uma grande distribuição, e só se conservou um exemplar, este guardado na Biblioteca Nacional de Paris.
Pelo Senhor Bernard de Etxepare
O Reitor de São Miguel, O Velho.

I.- DOUTRINA CRISTÃ

Todo homem neste mundo deveria pensar
Que Deus há formou a cada um de nós,
Há criado em nossa alma a tua própria imagem
E há sido dotado de memória, entendimento e vontade.

Nenhum amo deseja ter um malcriado
Nem lhe retribuir sem que este lhe sirva.
Deus procede de igual modo com conosco;
Não nos dará a glória, se não praticamos o bem.

Os criados passam a vida servir-nos
E por um módico salário suportam mil moléstias
Deus deveria receber outro tálamo de nós;
Temos servir-lhe há que nos dê Vossa Glória.

Não se que se consegue trigo sem haver semeado,
E comum cada qual aconselha segundo o que distribuiu;
As boas obras obtemperam um esplêndido sucesso,
Porém de seguro que também de agradar teu castigo.

Posto que Deus nos regala ao diário,
Também nós devemos recordar-lhe com gratidão
E pensar que Ele é Nosso Princípio e Fim
E exaltar atentamente Seu Nome dia e noite.
Pela Noite

Recomenda-te a Deus pela noite ao acostar-te
E o careça que te preserve de todo mal;
Quando te despertes, acorda-te ao ponto
De receitar-lhe com devoção algumas preces.

Pela Manhã

Protege-te vá de manhã à igreja, se puderes,
E encomende a Deus na sua santa morada;
Ao entrar medita ante quem estás
E com quem conversas, então estarás ali.

No Cemitério

Ao entrar lembre-se com afeto aos defuntos;
Pensas que então viviam e eram como tu;
Tens que morrer como eles e não sabendo quando.
Peças a Deus lhes outorgue teu Perdão.

Na pia batismal

Quando ires à igreja olha o batistério.
Pensa que é ali onde recebeste a fé,
A Graça de Deus e o Caminho da Salvação.
Teu primeiro reconhecimento seja a ele.

O Sacrário

Admira logo a onde está o Santíssimo
E pensa que Ele é teu Salvador;
Venerai com devoção e peça-lhe a Graça
De receber-lhe dignamente ao final de tua vida.


O Crucifixo

Admira o Crucifixo e lembra-te ao ponto
Que há sido redimido com teu precioso sangue.
Ele assumiu à morte para dar-lhe à vida.
Faça de modo corresponder lhe.

A Santa Maria

Alcança tua vista onde se fala a Boa Senhora.
Nem o mundo inteiro te pode ajudar-lhe o que Ela.
Ela é a mais próxima a Deus na Glória
E possui a mão todas às graças, quando quer.

Ô gloriosa Senhora e doce Mãe!
Em ti se junta toda esperança do pecador.
Também eu, grande pecador, acudo a ti,
A que me ajudes à salvar minha alma.

Os Santos

Renda-lhe também presteza aos santos,
Em especial a aquele a quem professas devoção.
Lembra-te de quem é a festividade naquele dia.
E há quem está dedicada aquela igreja.
Peça-lhe atentamente que te ajudem.

Armas contra Morte

A Morte irrompe quando menos se pensa,
Por ventura, sem dar tempo a confessasse.
O que pratique de verdade estas três rosas
Se salvará, como queira que padeça.

A Primeira Verdade

Bom Salvador! Confesso ser pecador
E tenho muita culpa em haver obrado mal.
Já que te hei ofendido de forma indevida,
Me pesa e me duele de haver obrado contra ti.

Segunda Verdade

Bom Salvador! Proponho-lhe ao presente
Abstende-me da fé pecado toda a vida.
Senhor! Dei-me força e graça, por favor,
A perseverar pela vida neste propósito.

Terceira Verdade

Bom Salvador! Proponho para a Quaresma
Fazer uma boa confissão
E cumprir a penitência imposta pelo confessor.
Senhor! Confirmai. Tua minha vontade.

Se algum não cumprir de Verdade estas coisas,
Sabendo que não pode salvar-se de nenhum modo,
Há quando haja confessado os teus pecados.

Persuada-se dele quem não queira enganar-se.
Nem sacerdote nem o Bispo, nem sequer um Papa
Tem a faculdade de absolver este tal.
Deus admira sempre o coração,
Conhecendo nossa vontade melhor que nós mesmos
E, sem vontade, ante Ele às palavras é oco.

Adenta bem tua casa todos os dias,
Si diligente em todos teus negócios e,
Para que teu trabalho seja tua penitência,
Agradeça à Deus ao findo de cada ação.

Teu trato sejas sempre com gente honesta;
Dos malvados não tirarás nenhum proveito.
Não faças aos demais o que a ti não queiras,
Nem omitas com eles o que para ti quiser.
Àquele que deseje salvar-se que observe este Princípio.


O juízo Universal

Como não pensam-se no Juízo universal,
Vivendo sempre ao prazer do pecado.
Tomemos já precauções a logo não perdemos,
Pois então Nada disporá de Tempo.
Significa grande prudência pensar nele há sério.

Haja! Haja! Todo o Mundo ao Grande juízo!
O Supremo Criador do Céu e da Terra
Virá a julgar com rigor o Mundo.

 Bernat Etxepare
TRAD. ERIC PONTY

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