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quinta-feira, março 22, 2018

VILLANCICO I - ASSUNÇÃO, 1676 - PRIMEIRO NOTURNO - Sor Juana Inés de la Cruz - TRAD. ERIC PONTY


Villancicos que se cantaram na Santa Igreja Metropolitana do México, em Honra de Maria Santíssima Mãe de Deus, em Sua Assunção triunfante, ano de 1676, em que se imprimiram.

PRIMEIRO NOTURNO

VILLANCICO I

VENHAM A VER UMA APOSTA,
Venham, Venham, Venham,
Que fazem por Cristo e Maria
O Céu e a Terra.
Venham, Venham, Venham!

Coplas

O Céu e Terra neste dia
Competem entre os dois:
Ela, porque abaixo de Deus,
E ele, porque subir por Maria.
Cada qual em sua porfia,
Não há maneira de que se acheguem.
Venham, Venham, Venham!

Diz o Céu: —Eu hei de dar
Posada de mais prazer:
Pois Deus veio a padecer,
Maria subiu ao triunfar;
E assim é bom, que teu pesar
Meus foram se me mantenham.
Venham, Venham, Venham!

A Terra me disse: —Receio
Que foi mais bela minha,
Pois o Ventre de Maria,
Sendo muito melhor que o Céu;
E assim é bem que no Céu e só
Por mais ventura me tenham.
Venham, Venham, Venham!

Injustas são as suas querelas,
Pois a coroar te inclinas
Coroar a Cristo com teus Espinhos,
Eu e Maria com Estrelas
(Diz o Céu); e das mais belas
Diz, suas sobrancelhas obtenham.
Venham, Venham, Venham!

A nos terra disser: —Pois mais
O mesmo Cristo estimou,
A Carne que em mim tomou,
Que à Glória que tu me dás;
E assim não esperes jamais
Que meus triunfos se retenham.
Venham, Venham, Venham!

— Ao fim venham nos completar,
Porque entre tanta alegria,
Põe, ao subir, na Paz Maria,
Como seu Filho ao abaixar;
Que na glória tão singular,
É bem todo se convenham.
Venham, Venham, Venham!

VILLANCICO II

ILLA QUAE DOMINUM CAELI
gestasse in utero, digna,
et Verbum divinum est
mirabiliter enixa:
cuius Ubera Puello
lac dedere benedicta,
et vox conciliavit somnum
Davidica dulcior lyra:
Quae subiectum habuit Illum
materna sub disciplina,
Caeli quem trementes horrent
dum fulmina iratus vibrat:
Cui virgineum pedem gaudet
Luna osculari submissa,
quaeque Stellis coronatur
fulgore Solis amicta,
magna stipante caterva
ex Angelorum militia,
victrix in Caelum ascendit,
20 ubi per saecula vivat.
Custodes portarum timent,
ut ingrediatur Maria,
ne cardinibus evulsis,
totum Caelum porta fiat.
Ascendit Caelos, et Caelos
luce vestit peregrina,
atque deliciarum loco
ignotas infert delicias.
Innixa super dilectum
Caelestem Thalamum intrat,
ubi summam potestatem
habet a Deitate Trina.
Ad dexteram Filii sedet,
et ut Caelorum Regina
tota coronatur Gloria,
et Gloriam coronat Ipsa.
Vident Superi ascendentem,
et admirantium ad instar,
ad instar concelebrantium,
alterna quaerunt laetitia:

Estribilho
—¿Quae est Ista? ¿Quae est Ista,
quae de deserto ascendit sicut virga,
Stellis, Sole, Luna pulchior? —Maria!

VILLANCICO III

A SOBERANA DOUTORA


Das Escolas divinas,
De que os anjos todos
Depreendem sabedoria,
Por ser quem a inteligência
Melhor de Deus participa,
Ao ler a suprema subida
Da Cátedra da Teologia.

Por Primaria das ciências
É justo está seja aplaudida,
Quem de todas às criaturas
Se levou à primazia.

Nenhum de Charitate
Estudou com mais fatiga,
E na matéria de gratia
Supôs há um antes de nascida.

Despois da Incarnatione
Pode estudar em si mesma,
Com que nesta Trinitate.
Alcançou maior notícia.
Os soberanos Cursantes
Que as letras exercitam
E da Sagrada Ciência
Os secretos investigam,
Com os Espíritus puros
Que no eterno Solo habitam
(E Inteligências sutis,
Ciência de Deus se apelidam),
Todos se votam iguais.

E com amantes das carícias,
Lhes celebram à vitória
E no triunfo lhes solenizam.

Estribilho
E com alegres vozes de aclamação festiva,
Enchem das raridades do ar de alegrias,
E só se percebem na confusa gritaria:
— Vitória, vitória, vitória, vitória Maria,
Apesar do Inferno e da sua inveja!
— Vitória, vitória, vitória, vitória Maria!
Sor Juana Inés de la Cruz.
TRAD. ERIC PONTY

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