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sábado, março 24, 2018

Michelangiolo Buonarroti - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

3

Tão grato e felizes, teu feroz mal,
Ostentam e vencem foi concebido,
Ou laço, ao peito vou banhar frequente,
Contra minha vontade, só quão ti vale.

Danoso suprimir desta fecha
Ao signo do meu cerne não foi mais junto
Ou saber golpear vingança si mesmo
Do que belo olhar, fiar todos mortais.

Quantos laços até quanta das redes
Vagando passarinho maligna sorte,
Morando muitos anos morrer infeliz.

Tal de mim, dona, Amor, qual se verás,
Ao se dar-me nesta época cruel morte,
Sem base meu grão tempo do qual vejo.

4

Quanto si goza alegre bem contesta,
Flor que sopra crina doiro guirlanda
Em que dum outro prévio há outro manda
Como se primo vai beijar julgar.

Contenta tudo em torno aquela vesta,
Que se cerra peito põe a se expandas
E que com fios douro se convida
Guanche ajusta sonhar não abandonar.

E, dás, mas mais alegres tira à goza
E de Doirada ponta si fez caráter
Que se pressionar tocar peito ligar.

De sincera cintura que se amarra,
Igual enxuto corrente de sempre
Ou que fazeis coroa dos meus braços?

6

Senhor, vero algum provérbio antigo,
Isto é bem que pode, mas não queres,
Tu dás crédito ao valor tua palavra
E premiado de ver o teu inimigo.

Eu sou e fui teu bom e servo antigo,
Que a ti são dados como raios sol,
E do meu tempo não aumenta esmola
E homens gostam mais que fatigados.

Já espera ascender esta tua altura,
Gosto peso potente desta espada
Agitar necessária não voz eco.

Mas céu certa virtude se despreza,
Localiza do mundo, dá outro vá,
Ao prender fruto da árvore tão seca.

10

Se fez elmos dos cálices e espadas,
E do sangue de Cristo dá gamelo,
Cruz de espinhos sejam lance à roda,
E pureza de Cristo paciência cair.

Mas não chegou mais nesta província,
Que nem André o sangue está estrela
Depois que Roma vendendo a sua pele
E eis cada bem fechado nesta estrada.

Se haveria querer perder Tesauro,
Por isto que obra minha de partida,
Podendo que nem manto Medusa em Mauro.

Mas se do alto céu pobreza estimada
Qual fiada nosso estado grão restauro
Se outro signo se apagou há outra vida?


23

Eu que fui já muitos anos mil voltas
Ferido e morto não ganho exausto
De ti minha culpa, do início branco
Repreendê-lo à tua promessa tola.  

Quantas vezes ligada e quantas soltas,
Ao triste membro, sim incita lado,
Apenas posso retornar meio anco,
Banhando peito muitas das lágrimas.

De ti dolorido Amor, com triste voz,
Se soltar teu poder, necessidade,
Se pegou arco cruel, tirou-lhe voto?

O Lenho se incinera serra angústia,
Dentro dum correndo é grão vergonha,
Perdeu firme cada destreza gesto.

34

A vida do meu amor não é imo meu,
Que do amor que ti amo sem coração,
Onde coisa é mortal, plena de erros,
Ser não posso, nem lhe pensei mau.

Amor nem repartir d´alma de Deus,
Me fez santo Olhar tua luz esplendor,
Nem pode vê-lo naquilo padeças,
De ti por nosso mal, meu grão desejo.

Como do fogo do caldo, elas dividem,
Não posso belo eterno minha estima,
Que exalta, onde ela vem, mas semelha.

Por dentro meu olhar tudo é paraíso,
Por retornar onde alma fez Primeva
Recorro-me ardendo sob teus cílios.

17

Cruel, amargo, desapieda imo
Vestido de doçura de amor pleno
Tua fé ao tempo nasce, e dura menos
Ao doce vernal não feliz todas flores.

Movendo-se tempo repartir-se horas,
Ao viver de nosso péssimo veneno;
Como foice e não sejas como feno
. . . . . . . . . . . . . . 8

A fé sendo curta e graça é não dura,
Mas de par seco par que se consume,
Como pecado querer deste meu dano.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
Sempre fazendo nós fará todos anos.

42

Fala-me da graça, Amor, se olhos tem
Chegando ao vê-la beleza que aspiro
Se eu olhar dentro quando me miro
Vejo esculpido o rosto que fiz desta.

Tu hás de saber que tu vens com ela
Tirando minha paz onde eu me provoco
Nem quero pequeno um mínimo suspiro,
Nem os meus ardentes fogos pedidos.

A beleza que tu vês é bem daquela,
Mas cresces melhor que um local sal,
Se por que olhos mortais d´alma que corre.

Ali se faz divina honesta e bela
Qual igual duma tal coisa imortal
Neste não aquele olhos teus percorre.

43

Razão comigo lamentou-se dor,
Parte que espero amando está feliz,
Com forte exemplo com veras palavras
Esta minha vergonha fez lembrar.

E como nem reportar ao vivo sol,
Outra que Morte? E não como feliz,
Mas de pouca vantagem careceu,
Não bastou outro apoio jaz vitorioso.

Eu me conheço dano e vero intendo,
Doutra banda refúgio doutro imo
Isto me acidenta onde mais rendo.

No meio das duas mortes, meu Senhor:
Nesta não vou nesta não compreendo
Coisa suspensa corpo alma padece.

46

Meu bruto martelo às duras rochas,
Formando dum aspecto isto ou àquilo,
Do ministro guia vislumbra-se na tela
Prendendo ao modo, vais com outro passo.

Mas que divino no céu abriga êxtase,
Outrem e se mais andar fez belo,
E se nenhum martelo sem martelo,
Pode fazer qual vivo cada outra fase.

E porquê golpe de valor é mais pleno,
Quando alçou mais erguida forja
Soprar este meu céu girando voo.

Onde meu não finito serás menor,
For não lhe dás à fábrica divina
Ajudas fazer, mundo serás só.
Michelangiolo Buonarroti
 TRAD. ERIC PONTY



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