Sou qual o rei de um país chuvoso,
Rico, mas sem poder, jovem, mas ancião,
Que, desprezando os arcos de seus tutores,
Está entediado com cães tais com outros animais
Nada pode animá-lo, nem a caça nem os falcões,
Nem seu povo morrendo em frente à sacada.
A balada grotesca do bobo favorito
Não mais distrai a fronte desse cruel paciente;
Sua cama, adornada com flores, torna-se túmulo,
E as damas de companhia, para quem todo príncipe é belo,
Não conseguem mais encontrar um banheiro imodesto
Para tirar um rato desse jovem esqueleto
O cientista que o fabrica de ouro nunca foi capaz de
De seu ser extirpar o elemento corrompido,
E naqueles banhos de sangue desde romanos vieram até nós,
E que os poderosos recordam em sua velhice
Ele não poderia aquecer esse cadáver atordoado
Onde, em vez de sangue, corre a água verde do Letes.
Albatroz@companhia
CANONE INTERNACIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA PELO POETA ERIC PONTY
Pesquisar este blog
sábado, novembro 02, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
quinta-feira, outubro 31, 2024
A musa doente - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
P/ Julio Castanon
Minha musa miserável, o que a manhã traz?
Visões oníricas assombram olhares, e eu as percebo,
Refletidos nas sombras de sua pele,
Loucura e horror, frio e taciturno.
Será que elas - súcubos verdes e diabinhos rosados
Derramaram sobre você medo e amor com as urnas?
Será que o pesadelo, com garra orgulhosa e indisciplinada
O afundou em algum Minturno fabuloso?
Desejaria que seu peito respirasse o aroma da saúde,
Sua mente tenha grandes pensamentos o dia inteiro,
Que seu sangue cristão fluísse em ondas que varressem
Com sons variados de sílabas antigas,
Onde reina, por sua vez, o pai de todas as canções,
Apolo, e o senhor da colheita, o grande Pan.
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A natureza é um templo onde os pilares vivos
às vezes deixam escapar palavras confusas;
O homem passa por florestas de símbolos
Que o observam com olhos familiares.
Como longos ecos que se fundem de longe!
Em uma unidade profunda e escura,
Vasta como a noite e como a luz,
Perfumes, cores e sons respondem uns aos outros.
Há aromas tão frescos quanto a carne de uma criança,
Suaves como oboés, verdes como prados,
- E outros, corruptos, ricos e triunfantes,
Com a expansão de coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Cantando os transportes da mente e dos sentidos.
terça-feira, outubro 29, 2024
Ao Leitor Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
Ao Leitor
P/Jardel Dias Cavalcanti
A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.
Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.
Sobre a almofada do mal, Demo, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.
O Demo segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.
Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.
Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.
Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.
Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,
Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;
Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.
- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!
domingo, outubro 27, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A FONTE DE SANGUE
Às vezes, vejo uma enorme onda de sangue
Alastrar sobre minha pele em uma cheia brusca
E sinto uma ferida. Mas não há ferida.
Apenas um som longo, baixo e aprazado de morte.
Toda a natural tingida de carmesim viva com meu sangue.
Todas as criaturas vivas o estão corroendo este alento,
Paris inteira se decompôs em um campo de luta.
Um mar rubro e morto, nem uma pedra do piso sem mancha!
Em muitas taças de vinho apressado eu me encorajei
Para acalmar o pavor que minava meu cérebro,
Mas cada taça intensificava a dor.
Busquei o olvido no amor, mas o amor é
Uma cama de pregos avaro por sangue,
Que drenava meu coração a cada prostituta que passava.
IRMÃS DA MISERICÓRDIA
Deboche e morte - par ajustado! -
Seus beijos lascivos não carecem de afirmação;
Esses flancos gastos, ainda virgens, se não puros,
Trabalharam muito, mas nunca deram à luz.
Avesso a famílias, o poeta – pobre
Provedor - caído ao lado de uma lareira sem coração;
Cada cama de bordel se torna uma pira fúnebre
Onde a auto reprovação nunca encontrou um lugar.
Tanto a campa quanto o quarto são ricos em blasfêmia,
Como duas irmãs indulgentes, oferecem aos homens
Azos de pecado enviadas pelo céu.
Quanto tempo, Deboche, até que me enterre?
E quanto tempo, adorável Morte, até que me proponha
Enxertar seu solene cipreste na rosa dela.
segunda-feira, outubro 21, 2024
Para o leitor - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.
Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.
Sobre a almofada do mal, mago, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.
O mago segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.
Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.
Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.
Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.
Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,
Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;
Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.
- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!
sábado, outubro 12, 2024
111. Mulheres condenadas - Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty
Como um gado pensativo deitado nas areias,
elas olham para os mares sem fim,
até que os pés se juntam aos pés,
e as mãos se fecham sobre as mãos,
com uma doçura lânguida ou com um frio trêmulo.
Que nossas cortinas fechadas, então, nos afastem
do mundo, E que nossa lassidão nos permita achar descanso!
Eu gostaria de me obliterar em sua garganta
E encontrar o frescor das tumbas em seu peito!
-Desçam, vítimas, oh, lamentável desçam,
Desçam ao longo da passagem para o Inferno eterno!
Mergulhem no abismo onde todos os crimes desonestos,
Essas sombras tolas, correm nos limites do desejo,
Fervilhando para um lado e para o outro
com um grande barulho de trovão
Açoitado por um vento pesado que nunca viu o céu;
Lá você nunca deparará sua paixão satisfeita,
E seu tormento será o filho terrível de seu prazer.
Nunca um raio refrescante brilhará em suas cavernas;
Por meio de rachaduras ao longo da parede,
filtrarão névoas mortais que lançam um brilho
de lanterna de chama pálida e sombria
E entram em seus corpos com perfumes de morte.
A dura esterilidade de todos os seus atos de luxúria
Trará uma sede terrível e enrijecerá sua pele,
E sua concupiscência se tornará um vento furioso
Para quebrar sua carne fraca como uma bandeira velha e desgastada.
Longe do mundo dos vivos, errantes e condenados,
Atravessando os desertos, corram como os lobos;
Tracem seu destino, pobres almas desordenadas,
E fujam do infinito que carregam em si mesmas!
Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty
domingo, setembro 29, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Traduzido por Eric Ponty - IPÊ das Letras - Portugal/Brasil
A obra será comercializada na seguinte rede:
A obra será comercializada no Ponto Literário
Possuem o nosso espírito e cansam a nossa carne.
E como um animal de estimação alimentamos
do nosso remorso domesticado!
Como os mendigos alimentam os seus piolhos.
Os nossos pecados são teimosos, a nossa contrição é frouxa;
Oferecemos generosamente os nossos votos de fé
E voltamos de bom grado ao caminho da imundície,
Pensando que as lágrimas más vão lavar as nossas manchas.
No travesseiro do mal repousa o alquimista
Satanás Três Vezes Grande, que embala a nossa alma cativa,
E todo o metal mais rico da nossa vontade
É vaporizado pelas suas artes herméticas.
Realmente o Diabo puxa todos os nossos cordelinhos!
Nos objetos mais repugnantes encontramos encantos
Cada dia estamos um passo mais longe no Inferno,
Contentes por abarcar o poço fedorento.
Como um pobre libertino vai chupar e beijar
A mama triste e atormentada de uma puta velha,
Roubamos um furtivo prazer enquanto passamos,
Uma laranja murcha que apertamos e apertamos.
Perto, enxameando, como um milhão de vermes que se torcem,
Uma nação infernal revolta-se nos nossos cérebros,
E, quando respiramos, a morte flui para os nossos pulmões,
Uma corrente oculta de gritos afinados e lamentáveis.
Se a matança, ou o fogo posto, o veneno, a violação
Ainda não adornaram os nossos belos desenhos,
A tela banal dos nossos tristes destinos,
É apenas porque o nosso espírito não tem coragem.
Mas entre os chacais, as panteras, os piolhos,
macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Os monstros que gritam, uivam, rosnam e rastejam,
na vil coleção dos nossos vícios,
Há um mais feio, mais perverso, mais sujo!
Embora ele não faça grandes gestos ou gritos,
Ele teria prazer em transformar a terra em escombros
E num bocejo engolir o mundo
Uma só criatura é mais imunda e falsa!
Embora não faça grandes gestos, nem grandes gritos,
Ele de bom grado devastaria a terra!
E num só bocejo engolir todo o mundo;
Ele é o Ennui! Com os olhos cheios de lágrimas ele sonha
com andaimes, enquanto sopra o seu cachimbo de água.
Leitor, tu também conheces este monstro delicado;
-Leitor hipócrita, companheiro, que a mim iguala!
Mui vezes, quando estão afinados, os marujos da equipagem
Apanham albatrozes, as grandes aves dos mares,
Suaves viajantes que acompanham no azul
Navios que deslizam nos mistérios do oceano.
E quando os marinheiros os têm nas pranchas,
Feridos e perturbados, estes reis de todos os exteriores
Deixam, com pesar, o seu rasto ao longo dos flancos
As suas boas asas alvas, envolvendo feito remos inúteis.
Este viajante, como é cómico e fraco!
Outrora belo, como é indecoroso e inepto!
Um marinheiro enfia um cachimbo no bico,
Outro zomba do passo manco do aviador.
O poeta é feito o príncipe das nuvens
Que assombra a tempestade e ri do arqueiro;
Exilado no chão entre as zombarias,
As suas asas gigantes impedem-no de andar.
Correspondências
A natureza é um templo, onde os vivas colunas
O homem caminha entre esses bosques de símbolos,
cada um que o consideram como uma coisa semelhante.
Como os longos ecos, sombrios, profundos,
Ouvidos de longe, misturam-se numa unidade,
Vasto como a noite, como a claridade do sol,
Assim os perfumes, as cores, os sons podem corresponder.
Odores há, frescos como a pele de um bebé,
Suaves como oboés, verdes que nem a erva dos prados.
-Outros corrompidos, ricos, triunfantes, plenos,
Tendo dimensões infinitamente vastas,
Incenso, almíscar, âmbar gris, benjamim,
Cantando o arroubo dos sentidos e da alma.
IDEAL
Não serão estas belezas de vinhetas,
Pobres produtos de um século sem valor,
Pés em meias botas, dedos em castanholas,
Que satisfazem o coração ansioso em mim.
Esse poeta da clorose, Gavarni põe em versos
Pode manter a tua trupe de rainhas doentias,
Já que estas rosas pálidas não me deixam ver
O meu ideal vermelho, a flor dos meus sonhos.
Preciso de um coração abissal na sua profundidade,
Uma alma confirmada no crime, Lady Macbeth,
O sonho de Ésquilo, nascido da tempestade do sul,
Ou tu, grande Noite, filha de Miguel Ângelo,
Tranquilamente torcendo-se numa estranha pose
Os teus apelos feitos das bocas dos Titãs!
Sou feito com o rei de um país chuvoso,
Rico mas sem poder, jovem mas muito velho,
que, desprezando os arcos dos teus tutores,
está amolado com os cães tais com outros animais.
Nada o pode animar, nem a caça nem o falcão,
Nem o teu povo a morrer em frente à varanda.
A balada grotesca do bobo favorito
Já não distrai a fronte deste cruel paciente;
O teu leito florido é decomposto num túmulo,
E os serviçais para quem todo príncipe é belo,
Já não acham uma casa de banho imodesta
Para tirar um instante deste jovem esqueleto.
O alquimista que o desmuda em ouro nunca foi capaz
De extrair o artifício corrompido do teu ser,
E nos banhos de sangue que nos chegaram dos romanos,
e que os poderosos recordam na tua velhice,
Ele não conseguiu aquecer este cadáver atordoado
Onde em vez de sangue vê a água verde do Letes.