https://www.livrariaipedasletras.com/pd-97421c-as-flores-do-mal-eric-ponty.html?ct=2d1499&p=1&s=1
CANONE INTERNACIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA PELO POETA ERIC PONTY
Em algum lugar arredio da via do burgo,
fica o antigo assento campal. Em átrio velho,
altas árvores de choupo projetam sombras;
posto no saguão, um antigo relógio diz a todos,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
No meio da escada, ele está de pé, apontando
brandindo com mãos do arco roble cheio,
qual monge que, sob manto, se cruza e suspira,
infeliz, com voz triste para todos passantes,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Durante o dia, sua voz é baixa e leve; mas
discreta da noite, distinta qual a queda
de um passo ido, ela ecoa ao longo da trilha oca,
ao longo do teto, ao longo do chão,
e parece dizer em cada porta do quarto, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
Em dias de dor e de alegria,em dias féretro
em dias de ato de nascer,em todos revesess
Do tempo mutável, sereno ele jazeu,
qual Deus, tudo visse,repete calmo essas
palavras de entusiasmo que ecoam recinto.
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
Naquela mansão soia estar o Hospitaleiro;
Seus grandes fogos na chaminé rugiam;
O estrangeiro se banqueteava em sua mesa;
Mas, qual o ossada no banquete,
Aquele relógio de ultimato nunca parou,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Lá, grupos de guris alegres brincavam,
Lá, jovens e donzelas previam; Ó horas preciosas!
Qual um avarento conta seu ouro,
Aquelas horas o antigo relógio contava, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Todos estão dispersos e fugiram,
Alguns estão casados, outros estão mortos;
E quando eu pergunto, com dores de cabeça,
"Ah! quando todos se acharão mais?"
Qual nos dias, já se foram, o antigo relógio responde,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Nunca aqui, para sempre lá, Onde toda união,
dor e cuidado,E a morte e o tempo obscurecer-se,-
Para sempre lá, mas nunca aqui!O relojoeiro
da Eternidade que diz isso incessantemente, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Longfellow - Trad Eric Ponty
Sou qual o rei de um país chuvoso,
Rico, mas sem poder, jovem, mas ancião,
Que, desprezando os arcos de seus tutores,
Está entediado com cães tais com outros animais
Nada pode animá-lo, nem a caça nem os falcões,
Nem seu povo morrendo em frente à sacada.
A balada grotesca do bobo favorito
Não mais distrai a fronte desse cruel paciente;
Sua cama, adornada com flores, torna-se túmulo,
E as damas de companhia, para quem todo príncipe é belo,
Não conseguem mais encontrar um banheiro imodesto
Para tirar um rato desse jovem esqueleto
O cientista que o fabrica de ouro nunca foi capaz de
De seu ser extirpar o elemento corrompido,
E naqueles banhos de sangue desde romanos vieram até nós,
E que os poderosos recordam em sua velhice
Ele não poderia aquecer esse cadáver atordoado
Onde, em vez de sangue, corre a água verde do Letes.
P/ Julio Castanon
Minha musa miserável, o que a manhã traz?
Visões oníricas assombram olhares, e eu as percebo,
Refletidos nas sombras de sua pele,
Loucura e horror, frio e taciturno.
Será que elas - súcubos verdes e diabinhos rosados
Derramaram sobre você medo e amor com as urnas?
Será que o pesadelo, com garra orgulhosa e indisciplinada
O afundou em algum Minturno fabuloso?
Desejaria que seu peito respirasse o aroma da saúde,
Sua mente tenha grandes pensamentos o dia inteiro,
Que seu sangue cristão fluísse em ondas que varressem
Com sons variados de sílabas antigas,
Onde reina, por sua vez, o pai de todas as canções,
Apolo, e o senhor da colheita, o grande Pan.
A natureza é um templo onde os pilares vivos
às vezes deixam escapar palavras confusas;
O homem passa por florestas de símbolos
Que o observam com olhos familiares.
Como longos ecos que se fundem de longe!
Em uma unidade profunda e escura,
Vasta como a noite e como a luz,
Perfumes, cores e sons respondem uns aos outros.
Há aromas tão frescos quanto a carne de uma criança,
Suaves como oboés, verdes como prados,
- E outros, corruptos, ricos e triunfantes,
Com a expansão de coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Cantando os transportes da mente e dos sentidos.
Ao Leitor
P/Jardel Dias Cavalcanti
A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.
Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.
Sobre a almofada do mal, Demo, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.
O Demo segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.
Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.
Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.
Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.
Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,
Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;
Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.
- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!