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sexta-feira, novembro 08, 2024

O velho relógio da escada - Longfellow - Trad Eric Ponty

 Em algum lugar arredio da via do burgo,
fica o antigo assento campal. Em átrio velho,
altas árvores de choupo projetam sombras;
posto no saguão, um antigo relógio diz a todos,
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours!

No meio da escada, ele está de pé, apontando
brandindo com mãos do arco roble cheio,
qual monge que, sob manto, se cruza e suspira,
infeliz, com voz triste para todos passantes,
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours

Durante o dia, sua voz é baixa e leve; mas
discreta da noite, distinta qual a queda
de um passo ido, ela ecoa ao longo da trilha oca,
ao longo do teto, ao longo do chão,
e parece dizer em cada porta do quarto, -
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours!

Em dias de dor e de alegria,em dias féretro
 em dias de ato de nascer,em todos revesess
Do tempo mutável, sereno ele jazeu,
qual Deus, tudo visse,repete calmo essas
palavras de entusiasmo que ecoam recinto.
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours!

Naquela mansão soia estar o Hospitaleiro;
Seus grandes fogos na chaminé rugiam;
O estrangeiro se banqueteava em sua mesa;
Mas, qual o ossada no banquete,
Aquele relógio de ultimato nunca parou,
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours

Lá, grupos de guris alegres brincavam,
Lá, jovens e donzelas previam; Ó horas preciosas!
Qual um avarento conta seu ouro,
 Aquelas horas o antigo relógio contava, -
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours

Todos estão dispersos e fugiram,
Alguns estão casados, outros estão mortos;
E quando eu pergunto, com dores de cabeça,
 "Ah! quando todos se acharão mais?"
Qual nos dias, já se foram, o antigo relógio responde,
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours

Nunca aqui, para sempre lá, Onde toda união,
dor e cuidado,E a morte e o tempo obscurecer-se,-
Para sempre lá, mas nunca aqui!O relojoeiro
da Eternidade que diz isso incessantemente, -
- Toujours, jamais! –
 Jamais, toujours

  Longfellow - Trad Eric Ponty


 

sábado, novembro 02, 2024

As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Sou qual o rei de um país chuvoso,
Rico, mas sem poder, jovem, mas ancião,
Que, desprezando os arcos de seus tutores,
Está entediado com cães tais com outros animais
Nada pode animá-lo, nem a caça nem os falcões,
Nem seu povo morrendo em frente à sacada.
A balada grotesca do bobo favorito
Não mais distrai a fronte desse cruel paciente;
Sua cama, adornada com flores, torna-se túmulo,
E as damas de companhia, para quem todo príncipe é belo,
Não conseguem mais encontrar um banheiro imodesto
Para tirar um rato desse jovem esqueleto
O cientista que o fabrica de ouro nunca foi capaz de
De seu ser extirpar o elemento corrompido,
E naqueles banhos de sangue desde romanos vieram até nós,
E que os poderosos recordam em sua velhice
Ele não poderia aquecer esse cadáver atordoado
Onde, em vez de sangue, corre a água verde do Letes.

quinta-feira, outubro 31, 2024

A musa doente - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty


P/ Julio Castanon

Minha musa miserável, o que a manhã traz?
Visões oníricas assombram olhares, e eu as percebo,
Refletidos nas sombras de sua pele,
Loucura e horror, frio e taciturno.


Será que elas - súcubos verdes e diabinhos rosados
Derramaram sobre você medo e amor  com as urnas?
Será que o pesadelo, com garra orgulhosa e indisciplinada
O afundou em algum Minturno fabuloso?


Desejaria que seu peito respirasse o aroma da saúde,
Sua mente tenha grandes pensamentos o dia inteiro,
Que seu sangue cristão fluísse em ondas que varressem


Com sons variados de sílabas antigas,
Onde reina, por sua vez, o pai de todas as canções,
Apolo, e o senhor da colheita, o grande Pan.


 

As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

 A natureza é um templo onde os pilares vivos
às vezes deixam escapar palavras confusas;
O homem passa por florestas de símbolos
Que o observam com olhos familiares.

Como longos ecos que se fundem de longe!
Em uma unidade profunda e escura,
Vasta como a noite e como a luz,
Perfumes, cores e sons respondem uns aos outros.

Há aromas tão frescos quanto a carne de uma criança,
Suaves como oboés, verdes como prados,
- E outros, corruptos, ricos e triunfantes,

Com a expansão de coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Cantando os transportes da mente e dos sentidos.


 

terça-feira, outubro 29, 2024

Ao Leitor Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

 Ao Leitor

P/Jardel Dias Cavalcanti

A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.


Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.


Sobre a almofada do mal, Demo, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.


O Demo segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.


Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.


Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.


Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.


Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,


Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;


Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.


- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!



domingo, outubro 27, 2024

As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

 A FONTE DE SANGUE

Às vezes, vejo uma enorme onda de sangue
Alastrar sobre minha pele em uma cheia brusca
E sinto uma ferida. Mas não há ferida.
Apenas um som longo, baixo e aprazado de morte.
Toda a natural tingida de carmesim viva com meu sangue.
Todas as criaturas vivas o estão corroendo este alento,
Paris inteira se decompôs em um campo de luta.
Um mar rubro e morto, nem uma pedra do piso sem mancha!
Em muitas taças de vinho apressado eu me encorajei
Para acalmar o pavor que minava meu cérebro,
Mas cada taça intensificava a dor.
Busquei o olvido no amor, mas o amor é
Uma cama de pregos avaro por sangue,
Que drenava meu coração a cada prostituta que passava.

IRMÃS DA MISERICÓRDIA

Deboche e morte - par ajustado! -
Seus beijos lascivos não carecem de afirmação;
Esses flancos gastos, ainda virgens, se não puros,
Trabalharam muito, mas nunca deram à luz.
Avesso a famílias, o poeta – pobre
Provedor - caído ao lado de uma lareira sem coração;
Cada cama de bordel se torna uma pira fúnebre
Onde a auto reprovação nunca encontrou um lugar.
Tanto a campa quanto o quarto são ricos em blasfêmia,
Como duas irmãs indulgentes, oferecem aos homens
Azos de pecado enviadas pelo céu.
Quanto tempo, Deboche, até que me enterre?
E quanto tempo, adorável Morte, até que me proponha
Enxertar seu solene cipreste na rosa dela.

segunda-feira, outubro 21, 2024

Para o leitor - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty


A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.

Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.

Sobre a almofada do mal, mago, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.

O mago segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.

Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.

Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.

Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.

Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,

Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;

Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.

- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!

sábado, outubro 12, 2024

111. Mulheres condenadas - Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty


Como um gado pensativo deitado nas areias,
elas olham para os mares sem fim,
até que os pés se juntam aos pés,
e as mãos se fecham sobre as mãos,
com uma doçura lânguida ou com um frio trêmulo.

Que nossas cortinas fechadas, então, nos afastem
do mundo, E que nossa lassidão nos permita achar descanso!
Eu gostaria de me obliterar em sua garganta
E encontrar o frescor das tumbas em seu peito!

-Desçam, vítimas, oh, lamentável desçam,
Desçam ao longo da passagem para o Inferno eterno!
Mergulhem no abismo onde todos os crimes desonestos,
Essas sombras tolas, correm nos limites do desejo,

Fervilhando para um lado e para o outro
com um grande barulho de trovão
Açoitado por um vento pesado que nunca viu o céu;
Lá você nunca deparará sua paixão satisfeita,
E seu tormento será o filho terrível de seu prazer.

Nunca um raio refrescante brilhará em suas cavernas;
Por meio de rachaduras ao longo da parede,
filtrarão névoas mortais que lançam um brilho
de lanterna de chama pálida e sombria
E entram em seus corpos com perfumes de morte.

A dura esterilidade de todos os seus atos de luxúria
Trará uma sede terrível e enrijecerá sua pele,
E sua concupiscência se tornará um vento furioso
Para quebrar sua carne fraca como uma bandeira velha e desgastada.

Longe do mundo dos vivos, errantes e condenados,
Atravessando os desertos, corram como os lobos;
Tracem seu destino, pobres almas desordenadas,
E fujam do infinito que carregam em si mesmas!

Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty

domingo, setembro 29, 2024

As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Traduzido por Eric Ponty - IPÊ das Letras - Portugal/Brasil


 Comercialização
A obra será comercializada na seguinte rede: 
  
https://www.livrariaipedasletras.com.br/
http://travessa.com.br/
http://martinsfontespaulista.com.br/
https://www.livrariacultura.com.br/
https://www.livrariadavila.com.br/
https://www.disal.com.br/
https://leitura.com.br/
https://www.blooks.com.br/
 
 
 Em São João a comercialização
A obra será comercializada no Ponto Literário
 
https://www.estantevirtual.com.br/livro/as-flores-do-mal-traduzido-por-eric-ponty-EUS-7636-000?fbclid=IwY2xjawF2lLFleHRuA2FlbQIxMQABHX6oJ9wzw4kPyvDnbHMOBE4IWtq4s_HPf4sP2j0pRbReUOCf7drIfWNngQ_aem_dRBV4RX-7J9LharU_PtLdg
 
Ao leitor
 A loucura e o erro, a mesquinhez e o pecado
 Possuem o nosso espírito e cansam a nossa carne.
 E como um animal de estimação alimentamos
do nosso remorso domesticado!

 Como os mendigos alimentam os seus piolhos.
 Os nossos pecados são teimosos, a nossa contrição é frouxa;
 Oferecemos generosamente os nossos votos de fé
 E voltamos de bom grado ao caminho da imundície,

 Pensando que as lágrimas más vão lavar as nossas manchas.
 No travesseiro do mal repousa o alquimista
 Satanás Três Vezes Grande, que embala a nossa alma cativa,
E todo o metal mais rico da nossa vontade

 É vaporizado pelas suas artes herméticas.
 Realmente o Diabo puxa todos os nossos cordelinhos!
 Nos objetos mais repugnantes encontramos encantos
Cada dia estamos um passo mais longe no Inferno,

 Contentes por abarcar o poço fedorento.
 Como um pobre libertino vai chupar e beijar
 A mama triste e atormentada de uma puta velha,
 Roubamos um furtivo prazer enquanto passamos,

 Uma laranja murcha que apertamos e apertamos.
 Perto, enxameando, como um milhão de vermes que se torcem,
Uma nação infernal revolta-se nos nossos cérebros,
 E, quando respiramos, a morte flui para os nossos pulmões,

 Uma corrente oculta de gritos afinados e lamentáveis.
 Se a matança, ou o fogo posto, o veneno, a violação
 Ainda não adornaram os nossos belos desenhos,
 A tela banal dos nossos tristes destinos,

É apenas porque o nosso espírito não tem coragem.
Mas entre os chacais, as panteras, os piolhos,
macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Os monstros que gritam, uivam, rosnam e rastejam,

 na vil coleção dos nossos vícios,
 Há um mais feio, mais perverso, mais sujo!
 Embora ele não faça grandes gestos ou gritos,
 Ele teria prazer em transformar a terra em escombros

 E num bocejo engolir o mundo
Uma só criatura é mais imunda e falsa!
 Embora não faça grandes gestos, nem grandes gritos,
 Ele de bom grado devastaria a terra!

 E num só bocejo engolir todo o mundo;
 Ele é o Ennui! Com os olhos cheios de lágrimas ele sonha
 com andaimes, enquanto sopra o seu cachimbo de água.
 Leitor, tu também conheces este monstro delicado;
-Leitor hipócrita, companheiro, que a mim iguala!

Albatroz

Mui vezes, quando estão afinados, os marujos da equipagem
Apanham albatrozes, as grandes aves dos mares,
Suaves viajantes que acompanham no azul
Navios que deslizam nos mistérios do oceano.

 E quando os marinheiros os têm nas pranchas,
 Feridos e perturbados, estes reis de todos os exteriores
Deixam, com pesar, o seu rasto ao longo dos flancos
 As suas boas asas alvas, envolvendo feito remos inúteis.

Este viajante, como é cómico e fraco!
Outrora belo, como é indecoroso e inepto!
Um marinheiro enfia um cachimbo no bico,
Outro zomba do passo manco do aviador.

 O poeta é feito o príncipe das nuvens
 Que assombra a tempestade e ri do arqueiro;
 Exilado no chão entre as zombarias,
 As suas asas gigantes impedem-no de andar.

Correspondências

A natureza é um templo, onde os vivas colunas  
respiram, por vezes, uma fala confusa;
O homem caminha entre esses bosques de símbolos,
cada um que o consideram como uma coisa semelhante.

Como os longos ecos, sombrios, profundos,
 Ouvidos de longe, misturam-se numa unidade,
 Vasto como a noite, como a claridade do sol,
 Assim os perfumes, as cores, os sons podem corresponder.
 Odores há, frescos como a pele de um bebé,

Suaves como oboés, verdes que nem a erva dos prados.
-Outros corrompidos, ricos, triunfantes, plenos,
 Tendo dimensões infinitamente vastas,
 Incenso, almíscar, âmbar gris, benjamim,
 Cantando o arroubo dos sentidos e da alma.

IDEAL


 
Não serão estas belezas de vinhetas,
 Pobres produtos de um século sem valor,
 Pés em meias botas, dedos em castanholas,
 Que satisfazem o coração ansioso em mim.

 Esse poeta da clorose, Gavarni põe em versos
 Pode manter a tua trupe de rainhas doentias,
 Já que estas rosas pálidas não me deixam ver
 O meu ideal vermelho, a flor dos meus sonhos.

 Preciso de um coração abissal na sua profundidade,
 Uma alma confirmada no crime, Lady Macbeth,
 O sonho de Ésquilo, nascido da tempestade do sul,

 Ou tu, grande Noite, filha de Miguel Ângelo,
 Tranquilamente torcendo-se numa estranha pose
 Os teus apelos feitos das bocas dos Titãs!

Sou feito com o rei de um país chuvoso,
Rico mas sem poder, jovem mas muito velho,
que, desprezando os arcos dos teus tutores,
está amolado com os cães tais com outros animais.
Nada o pode animar, nem a caça nem o falcão,
Nem o teu povo a morrer em frente à varanda.
A balada grotesca do bobo favorito
Já não distrai a fronte deste cruel paciente;
O teu leito florido é decomposto num túmulo,
E os serviçais para quem todo príncipe é belo,
Já não acham uma casa de banho imodesta
Para tirar um instante deste jovem esqueleto.
O alquimista que o desmuda em ouro nunca foi capaz
De extrair o artifício corrompido do teu ser,
E nos banhos de sangue que nos chegaram dos romanos,
e que os poderosos recordam na tua velhice,
Ele não conseguiu aquecer este cadáver atordoado
Onde em vez de sangue vê a água verde do Letes.


quinta-feira, setembro 26, 2024

UM SONETO À MODA DE QUEVEDO - ÉRIC PONTY

 Quantos forjares mais ferros ao fado
 de mi esperança, tantos oprimidos
 arrastareis cantando, e seu ruído
 instrumento a mi voz será acordada.

Jovem mal da inveja perdoado,
da cadeia tarde tão redimido,
de quem é pôr não amável foi vendido,
por falar- te vendido fui adorado.

Que pedra se lhe abuso ao soberano
poder, qualificada há de real zelo,
que o remédio frustrasse aquele espera?

Conduzido alimenta, de um camelo,
 um a outro profeta. nunca em vão
 foi do esperar, para um entre tantas feras.

Éric Ponty

ÉRIC PONTY - POETA- TRADUTOR- LIBRETTISTA

domingo, setembro 22, 2024

Perfumes de Bérgamo - Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty

 Ó aroma perfumado
 Invade os meus sentidos!
 Doce e louco deleite
 Permeia o ar roubado.


 Desejo enfim alegre
 Alegrias há muito olvidadas:
 Ó aroma perfumado
 Intoxica-me de novo.


 A minha melancolia dissipa-se:
 Pela minha janela iridescente
 Volto a ver os campos azuis
 Para lá do horizonte infinito.
 Ó aroma perfumado

Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty

 
POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

sexta-feira, setembro 13, 2024

ária de Sémiramis - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

 À alva, caros raios, minha testa sonha com teu diadema!
Assim que se ergue, ele vê com dum olho que dormes,
Sobre mármore absoluto, o tempo de palidez é pintado,
A hora sobre mim desceu e cresceu até ao ouro.

... "Exista! ... Sejas a ti mesma afinal! diz a Alvorada, ,
Ó grandeza alma, é tempo de formar um corpo!
Apressar a propuser vós um dia digno de rebentar,
Entre tantos outros fogos, os vossos tesouros imortais!

Já, contra a noite, a trombeta amargar luta,
Com um lábio vivo atacar o ar gelado;
Ouro puro, de volta em volta, rebenta si próprio,
Recordar todo espaço pra os esplendores do ido!

Voltem ao aspecto real! Saiam das vossas sombras,
E como o nadador, nesta plenitude do mar,
Calcanhar todo-poderoso expulsa-o das águas escuras,
Deixem monstros do teu sangue gerarem na sua cama!

Venho do Oriente para agradar os seus caprichos!
E venho para vos oferecer minha mais pura comida;
Que a tua chama se alimente do espaço e do vento!
Venha juntar-se ao brilho do meu presságio"!

- Respondo! Saio desta minha profunda ausência!
O meu coração puxa-me mortos contra quais meu sono,
Estes versos grandes águia rebentam com o poder,
Leva-me para longe! ... Voo até ao sol!


Levo apenas uma rosa e fujo... A bela seta,
Para flanco!... Minha cabeça dá à luz multidão de passos.
Suba, O Semíramis, dona de uma espada,
Que de coração sem amor brota a única honra!

Seu olhar imperial tem sede do grande império,
A quem o seu ceptro duro faz sentir felicidade.
Atreve-te ao abismo!.... Passe última ponte de rosas!
Aproximo-me de si, por perigo! Mais orgulho zangado!

Estas formigas são minhas! Estas urbes são minhas coisas,
Estas passagens são atributos da minha autoridade!
O meu reino é uma vasta pele de uma besta!
Matei então o leão que usava está pele;

Mas ainda do cheiro do fantasma feroz,
Flutuar com morte, e guardar o meu rebanho!
Enfim, ofereço ao sol segredo dos meus encantos!
Nunca tinha dourado num limite tão gracioso!

Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY POETA TRADUTOR LIBRETISTA

terça-feira, agosto 27, 2024

N GRUPO DE COMUNICAÇÃO NOVEMBRO - PORTUGAL

 

 

Bom dia,

parabéns pelo envio dos seus poemas, em forma soneto.
Ora melancólicos, ora passionais, humanistas e filosóficos

Teremos gosto em colaborar nesta edição.

Deve o autor garantir por si ou através de patrocínio, a aquisição de 100 exemplares, numa 1ª edição de 200 exemplares, com o PVP de 15€, com desconto de 30%.
As reedições serão da inteira responsabilidade da editora, mediante acordo do autor.
Os livros à venda no lançamento, desde que não seja no mercado livreiro, serão os adquiridos pelo autor.

Fico ao dispor.
Cumprimentos,

Avelina Ferraz
editora|produtora cultural|promotora cultural da Lusofonia
CEO Founder Grupo de Comunicação Novembro

quinta-feira, agosto 15, 2024

A MENINA DE OTAHEITE - VICTOR Hugo - TRAD. ERIC PONTY

Olvidar? Poderei olvidar o hálito perfumado
Das brisas, suspirando por ti, no meu ouvido;
O estranho despertar de um sonho de morte,
A súbita emoção de te encontrar a chegar?
As nossas cabanas estavam desertas, e longe
Ouvi-te chamar-me durante todo o dia,
Ninguém te tinha visto passar,
Tremendo eu vim. Ai de mim!
Poderei olvidar?

Dantes eu era bela; os meus encantos de donzela
Morreu com a dor que do meu peito caiu.
Ah! viajante cansado! descansa nos meus braços amorosos!
Que não haja pesar nem despedida!
Aqui de tua mãe doce, onde as águas correm,
Aqui da tua pátria sussurramos baixinho;
Aqui, música, louvor e oração
Encheram o ar alegre do verão.
Posso olvidar?

Olvidar? O meu velho e prezado lar tenho de olvidar?
E vaguear e ouvir o meu povo a chorar,
Longe dos bosques onde, quando o sol se põe,
sem medo, mas cansado, para os teus braços eu rastejo;
Longe das flores vivazes e do gemido das palmeiras
Eu não poderia viver. Aqui, deixa-me descansar sozinho!
Vai! Devo seguir-te de perto,
Contigo estou condenado a morrer,
Nunca te olvides.

 VICTOR Hugo - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

GENIUS - ViCTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 (DEDICADO Para CHATEAUBRIAND.)

Ai dele, o filho desta terra de puras tristezas,
que, num mundo conturbado, injusto e cego,
carrega o Génio - tesouro de nascimento celestial,
Dentro de tua alma solitária, consagrada.
Ai dele, porque as dores da inveja são impuras,
feitos os abutres imortais, serão impelidos
Em teu nobre coração, que deve suportar
Que, por cada triunfo, se aflige; e, ainda não perdoado,
Sofrerá a censura de Prometeu, que enlevou o fogo do Céu.

Ainda que o seu destino na terra seja
A dor e a injustiça; quem não suportaria
Com alegre calma, cada agonia oferecida;
Poderia ele assegurar assim o prémio do Génio?
Que sentimento mortal acendeu em sua alma
Sobre a qual nem o tempo nem a morte podem ter controlo,
Que, em prazeres inglórios, se desvia
De um sofrimento cuja recompensa é a Imortalidade?
Não! embora os clamores da multidão invejosa
Que o filho do Génio, por mais que o faça, se erguerá.

Do torrão monótono, suportado por um ânimo orgulhoso
Para além do alcance das inimizades vulgares.
É assim a águia, com os teus pinhões estendidos,
Que, de uma altura, se debruça sobre a tempestade
Que, se a vida não é um sonho, não é um sonho,
Enquanto ele, regozijando-se no teu voo tranquilo,
Mais para cima se eleva sublime na luz eterna do céu.

 ViCTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY - POETA TRADUTOR- LIBRETTISTA

SULTANA FAVORITA - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 ("N'ai-je pas pour toi, belle juive.")
[XII., Oct. 27, 1828.]


Para te agradar, judia, joia!
Eu reduzi o meu harém!
Cada flerte do teu leque
Pressagiar um grito de morte?

Graça para as donzelas ternas
Que têm medo de ouvir o vosso riso,
Pois raramente a alegria ilumina os vossos lábios
Mas o sangue que quereis beber.

Em ciúmes tão zelosos,
Nunca houve mulher pior;
Não teríeis rosas senão as que crescem
Sobre algum cadáver enterrado.

Não estou bem preso?
Por que me irrito se a porta
Repugna a cinquenta garotas
Que em vão ali imploram?

Deixa-os viver para invejar
Minha própria imperatriz do mundo,
A quem todo Istambul como um cão
Deita-se nos chinelos enrolado.

A vós, meus heróis, baixai
Os emblemas com cicatrizes que ninguém intimidou;
Para vós, os seus turbantes estão deprimidos
Que noutros lugares marcham tão orgulhosos;

A ti Bassoura oferece
O seu respeito, e Trebizonde


Os seus tapetes de rico trabalho, e especiarias
E pedras preciosas, de que sois apreciadores.

Para vós os templos de Chipre
Não se atrevem a fechar as portas;
Para vós o poderoso Danúbio envia
O mais belo dos seus mantimentos.

Temei as donzelas gregas,
lírios pálidos das ilhas?
Ou o roedor de areia de olhos ardentes
Das pilhas de massa de Baalbec?

Comparado com o teu, oh, filha
Do Rei Salomão, o grande,
O que são redondos seios de ébano,
"E as sobrancelhas altas da costa de Hélas?

Não estais branqueada nem enegrecida,
Pois a vossa tonalidade de azeitona é clara;
Os vossos lábios são de cereja madura,
Sois reto como uma lança árabe.

Por isso, não lanceis mais raios
Sobre estes nossos pobres escravos.
Por que o vosso fluxo de lágrimas se iguala
Pelas suas chuvas de sangue vital?

Pensem só nos nossos banquetes
Trazidos e servidos por raparigas encantadoras,
Pois belezas os sultões devem adornar
Como os punhais as pérolas.

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

quarta-feira, agosto 14, 2024

MEIA NOITE DA LUA - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

Brilhavam os alegres raios de luar que dançavam sobre a onda;
Na fresca porta da janela, aberta à brisa da noite,
A Sultana inclina-se e deleita-se a ver a maré,
Com o Teu brilho prateado, as ilhotas entorpecidas se movem.

Da Tua mão, ao cair, vibra a guitarra leve.
Ela ouve - o som que ecoa baixo e sem brilho.
Será o bater no Arquipélago
De algum longo remo de galé, de Scio para longe?

São os corvos-marinhos, cujas asas negras, uma a uma,
Cortam a onda azul que sobre se quebrou em pérolas líquidas?
É algum duende que paira com um grito assobiante que lança
Que, de uma velha torre, lança para o fundo uma pedra solta?

Quem é que assim perturba a maré perto do seraglio?
Não são corvos-marinhos escuros que flutuam na ondulação,
"Não é um penacho de pedra, nem remos de barco turco,
Que, com o teu ritmo compassado, se arrasta na água.

São sacos pesados, carregados cada um por escravos escuros sem voz;
E se ousásseis sondar as profundezas dessa maré escura,
algo como uma forma humana se agitaria no teu interior.
O que é que se passa?

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

50 POEMAS ESCOL.HIDOS PELO AUTOR - GALLO BRANCO POR GAIO SOBRINHO

 

GAIO SOBRINHO

terça-feira, agosto 13, 2024

I. Há quatro mil anos que ele estava a cair no abismo - Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

Ainda não foi capaz de agarrar um pico,
nem elevou uma única vez a tua enorme sobrancelha.
Afundou-se na sombra e na névoa, assustado,
Sozinho, e atrás dele, na noite eterna,
As penas das tuas asas caíam mais lentamente.
Foi atingido por um lampejo, sem brilho e em silêncio,
Triste, com a boca aberta e os pés voltados para o céu,
O horror do abismo estampado em teu rosto lívido.
Gritou: "Morte! com os punhos abertos para a sombra vazia.
Mais tarde, esta palavra transformou-se em homem e chamou-se Caim.
Ele estava a cair. De repente, uma pedra bateu-lhe na mão;
Ele abraçou-a, como um homem morto abraça a tua sepultura,
e parou.
Alguém lá de cima gritou-lhe: "Cai!
Os sóis apagar-se-ão à tua volta, maldito!
E a tua voz perdeu-se no imenso horror.
E, pálido, olhou para a eterna aurora.
Os sóis estavam longe, mas ainda brilhavam.
Satanás ergueu a cabeça e disse, levantando o braço:
Esta palavra tornou-se mais tarde a alma de Judas.
Como os deuses de bronze que se erguem sobre as tuas pilastras,
Esperou mil anos, com o olhar fixo nas estrelas.
Os sóis estavam longe, mas continuavam a brilhar.
Depois, um relâmpago ressoou nos céus frios e surdos.
Satanás riu-se e cuspiu para o lado do trovão.
A imensidão, preenchida com a sombra visionária,
tremeu. Essa saliva era depois Barrabás.
Um sopro que passava fazia-o cair mais baixo.

Victor Hugo -Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA
 

segunda-feira, agosto 12, 2024

Dorso de Apolo - Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

Quão, por vezes, por meio ramos ainda não frágeis
Pelos ramos que de uma manhã que já é
primaveril: assim não há nada na tua cabeça
nada que possa impedir o esplendor.

De todos poemas nos chegaria quase fatal;
porque ainda não há uma sombra no teu olhar,
as tuas têmporas são ainda alto frescas pra o louro
e só mais tarde essas sobrancelhas.

No jardim de rosas ergue-se mais alto ainda,
de onde as folhas, únicas, soltas farfalham
vão-se arrastar pra a boca trémula no prado,

que ainda está em silêncio hoje, nunca usou e piscou
e só bebe alguma coisa com o teu sorriso
porque se o teu canto lhe tivesse sido incutido.

Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA