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segunda-feira, maio 21, 2018

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE POESIA MÚSICA, ARTES PLÁSTICAS - JOÂO DA PENHA


POR QUE se há escolhido a poesia de Eric Ponty com um propósito demonstrar-nos à particular da Poesia em nossa época? POR QUE não Drummond ou Manuel Bandeira, por que não Gonzaga (o Poeta Inconfidente) ou Gullar, por que não Shakespeare ou Camões, cujos últimos não podemos deixar de citar dois sonetos? 

XIII

Se fores tu e tu eu! Porém, aí, amor,
Só tu serás teu contudo convivas;
Despontes a abandonar esta ilusão.
Chegas noutro tuas atrações finas.

Assim conseguirás que não se finde,
Está na beleza detenhas, posto
Que quando o doce rebento te traslade
Serás de novo tu, ao faças mortal.

Tão digna residência não carece,
Que um mal tutor a deixando deixada,
A expensas de inverno e suas correntes.

E do frio eterno morte traz vácuo.
Não esbanjas, pois, amor, meu ao dar-lhe
Ao teu filho o que tu tiveste: um pai.

Shakespeare
 Amor é fogo que arde sem se ver.

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

 É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

 É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

 Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor

Camões


Pode ser. Contudo, só é escolhido àquele que se matem a meta. Porém é possível deduzir da obra dum único poeta, a interior em geral da poesia? O que é em geral, é dizer, o que vale para muitos, só podemos alcançá-lo por meio duma meditação comparativa.



A isto é imperativo um esclarecimento de um maior número possível da variedade de poesias e de géneros poéticos. A poesia de Eric Ponty é só uma dentre muitas. De nenhuma maneira suficiente nela só como um único modelo para a consignação da profundeza da poesia contemporânea. Por isso nosso propósito já está fracassado desde o princípio, se entendemos por «interior da poesia» o que se contradiz no opinião geral e que vale além disso para toda poesia. Porém este universal que vale além disso para todo particular é sempre apático, daquele «cerne» que nunca pode ser capital.



Agora entretanto, buscamos precisamente o capital da essência que nos força a resolver-se se nela o correto para tomarmos sério a poesia e como ela se concebe; se juntos obtivermos os supostos a mantende-nos no domínio da Poesia e como ela se dá.


Só que poetizar sobre o poeta não é o sinal dum princípio de narcisismo atrapalhado e a vez desta confissão duma carência de plenitude do mundo? Poetizar sobre o poeta não é nenhum abuso desconcertante, algo duradouro, um extremo?

Eric Ponty não se foi escolhido porque sua obra, como dentre outras, realize o eficaz geral da poesia, senão porque unicamente porque está encarregada com a consignação poética de poetizar a própria profundeza da poesia. Éric Ponty é a nós neste sentido admirável Poeta de Poetas. Por isto está neste ponto crucial como nos atesta em:

Á LÌVIA

De celeste, quietamente ressoantes
Tomamos tal calma que se simula tão plena
De areia está ancestral de nós mesmos,
Sala habitada do destino;
Entorno das verdes campos arejadas
À nuvem nos advém da jovialidade
E brilhando tão distantes,
Globais de maduríssimos lembranças
Cálices coroados doiro,
Harmonicamente ordenados, sendo admirável fila,
Ao dali alado aqui e ali ascendendo sobre
O chão alacado, ficam às mesas imóveis.
Pois vindo tão distante quanto o azul do céu
Até aqui, agora no final desta tarde,
Se há trazido achegos hospedeiros.

Segundo o linguista Noam Chomsky «Tomemos nossa própria história, a história da conquista do hemisfério ocidental (…) Os trabalhos antropológicos atuais indicam que o número de nativos no hemisfério ocidental pode ter sido acerca de 100 milhões (…) Tomemos só, por exemplo o norte de Rio Grande onde habitavam uns 10 o 12 milhões de índios americanos (…) Muitos deles foram inteiramente erradicados ou vieram a ser exterminados, outros sucumbiram a enfermidade trazidas pelos europeus. Sendo um genocídio massivo (…) », fazendo dos Estados Unidos um caso à parte.

Falemos contudo agora de alguma coisa de música talvez jazz. Nas análises verbais duma partitura musical poderá, até certo ponto, dilucidar sua estrutura formal, seus elementos técnicos e sua instrumentação. Porém ali onde não é o reino da musicologia no sentido estrito, ali onde não agrava a uma «metalinguagem» passa a ser um parasita da música —«chave», «tom», «síncope»—, falar da música, oral o escrita, é um compromisso muito ambíguo como nos advém Adorno em sua Moda em Tempo de Jazz, talvez um ensaio superado por gênios formado nos clássicos, mas voltados ao jazz como nos comprova nesta composição: RITUAL de Keith Jarrett, compositor afro descendente e interpretado pelo pianista e maestro Dennis Russell Davies de descendência caucasiana.


Uma narração, uma crítica duma execução musical se empata menos do mundo sonoro real que do executante o da recepção por este público. É um recorte feito por analogia. Apenas podemos dizer nada que pertença à sustância desta composição. Uns quantos destemidos, Boecio, Rousseau, Nietzsche, Proust e Adorno entre eles, hão tratado de traduzir em palavras o tema da música e seus significados. Ocasionalmente hão deparado «contrapontos» metafóricos, modos de sugerir, simulacros de grosso efeito evocador sem dúvida, há nestes casos em que esses virtuosismos semióticos possuem mais sedução, «escapam desta questão» no sentido estrito da expressão. Válido apesar disso e, não passam de derivações.

E nisto convocando a supor que o que é inesgotavelmente significativo podendo também carecer de sentido mais explícito. Significado da harmonia está exatamente quando está sendo adimplida em sua desempenho e sua audição (há quem «escuta» uma composição quando se põe ler no silêncio sua “partitura” (o Texto), contudo, estes são pessoas quais privilegiados, uns dois ou quatro) tal como nesta tradução esmerada e primordial de Ponty:

Há uma passante
A rua ensurdecedora uivava ao redor de mim.
Magra, delgada, luto rigor, com dor majestosa,
Uma mulher passou, fazer com sua mão fastuosa

Se alçaram, oscilaram dobrado festão Amim;

Tão Ágil e nobre, perna alva de estátua.
Eu, crispado excêntrico qual, bebia chão
Sua olhar, céu pálido onde brota a furação,
À doçura que fascina e o prazer que mata.

Um raio… aceita, à noite!  Fugaz graça ao fundo,
Cujo olhar me há feito de pronto renascer,
Não volverei já a verte até a além-mundo?

Outra parte, mui longe de aqui! Mui tarde! Jamais!
Pois ignoro aonde vai, e não sabes onde vou,
Ah Tu, a quem eu tivera amado, Ah tu, sabias!

Porém que é o quem está ganhando, interiorizando, ao que se está respondendo? Que é o que nos põe em todos estes movimentos? Aqui chegamos a uma dualidade de «sentido» e de «significado» que a epistemologia, a hermenêutica filosófica e às investigações psicológicas terão sido quase inábeis de dilucidar.


Qualquer que seja à solução, à pergunta sobre origem de obra de arte se converte em pergunta sobre a essência da arte. Porém como nós devemos deixar aberta a questão de se a arte é como é geral, tratemos de reencontrar a sua essência da arte onde à arte indubitavelmente impera em sua realidade. Arte está em si na prória obra de arte, pois ela processe a própria existência. É intransferível às gerações duma formação cultural como bem prova esta bela composição de Duparc  L'Invitation au Voyage:



Minha delicada Irmã,
Pensa no alvorecer
Em que embraveçamos, num passeio,
Adorar a valer, amar e fenecer
No país que é a tua ideia!
Os sóis róscidos.

Desses céus nubilosos
A mim conservam a graça
Místico e atroz
Dessa visão infiel
Cintilando através do lamento.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e languidez.

Os movediços afáveis,
Pelas estações idas,
Enfeitariam o clima;
As mais raras fina flores
Embaralhando odores
A um âmbar líquido e ambiente,

Lares inauditos, Cristais infindos,
Toda uma pompa leste,
Tudo aí à alma
Pensaria em tranquilidade
Sua doce língua natal.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e languidez.

Viaja sobre os caminhos
Adormecer junto às docas
Barquinhos de caráter vagabundo;
É para receber
Teu menor deleite
Que eles vêm do fim do orbe.

- Os sanguíneos ocidentes
Regam as vertentes,
Os canis, toda a urbe,
E em seu douro os tece;
O mundo entorpece
Na tépida luz que o envolve.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e languidez.

Á tanto, devemos completar o curso deste círculo. Não é este um expediente ou uma deficiência. Os mais firmes sabem andar por esse caminho, e ficar nele sendo uma festa do pensamento, supõem de que o pensamento seja um oficio. Não só é um círculo ao passo principal da obra de arte, e o deste que exista obra, senão cada passo aprisionado que tentamos circundar neste círculo não passa dum Mito de Sísifo de Camus, ou seja, o estado cíclico da história.




Ao se encontrar à essência da arte que realmente está na obra, busquemos então na própria obra real e nos interrogaremos que é como sendo um imago do real.



As obras de arte são conhecidas por todo mundo. As obras de arquitetura e escultura se encontram nas praças públicas, ou nas igrejas e nas casas. Nessas coleções e exposições se depositam obras de arte das mais diferentes épocas e povos.

Se percebemos em sua intacta realidade, sem prejudicar, se demostrando que às obras são tão naturalmente existentes como todas coisas existentes. Um quadro exposto na parede é como um fúsil de caça ou guarda-chuva.

Uma pintura, por exemplo, de Oscar Arararipe que em seu quadro “Inocente a fumaça da Maria fumaça.” que representa uma locomotiva de conduzia de campesinos, afro decentes até o Imperador Dom Pedro II e seus decentes, e, serviu a transportar “indesejados” trazendo-nos uma vaga exposição de outra transfiguração da realidade.


Porém quiçá nos chocasse esta maneira tão tosca e superficial de percebermos o que seja à obra. Tal representação da obra pode há ter-lhe conservada ou cunhada do museu. Devemos, pois, tomar a obra de arte como daqueles que a experimentam e dela usufruem. A madeira na obra talhada. O colorido está no quadro como em Oscar Arararipe. À voz na obra falada ou escrita. O som permanece a música. O cozimento está tão para mutação na obra de arte que deveríamos dizer o seu contrário: Uma vez que à arquitetura está na pedra está intransponível. A pedra está para arquitetura como São Pedro para Vaticano. Como nos adverte Sartre: A existência precede a essência. Uma coisa inertemente o outro. Isto não se ressoa na arte.

Nestas obras destes Poetas se hão realizado a interior da poesia tão ricamente ou algo mais que à criação que Eric Ponty, tão talento prematuro foi brusco interrompido por outras vertentes, que se demonstraram numa falácia mineira como nos comprova o nascimento do novo milênio. ERIC PONTY nós lançando num novo dilema.



João da Penha, jornalista e professor aposentado, colaborou em publicações culturais como Encontros com a Civilização Brasileira, Cult e Tempo Brasileiro. Autor, dentre outros livros, de O que é existencialismo (Brasiliense, 2011, 17. ed.) e Períodos Filosóficos (Ática 2000, 4. ed.), traduziu para revistas e jornais poemas dos russos Sierguêi Iessiênin e Alieksandr Blok, e contos de José Maria Argüedas, Júlio Cortázar e Gabriel García Márquez, publicados em Os primeiros contos de dez mestres da narrativa latino-americana (Paz e Terra, 1978). Como ler Wittgenstein. São Paulo: Paulus, 2013. 


quinta-feira, maio 17, 2018

ANUNCIAÇÃO - ERIC PONTY


Meus doidos olhos, enquanto olharam,
Vossa figura cheia alto valor cor,
Elas de vós, minha dama, me acusaram
Onde vosso feroz corte tem Amor.

É sim perder momento lhe mostraram,
Como de vós me fizéreis servidor;
Com quais haveis dor me perpetraram,
Vendo no coração claro do temor.

Me carregaram ponto, imperativos,
Há um lugar donde estava mui gente,
Todos de Amor queixando-se mui forte.

Elas ao verme, e muito compassivos,
Disseram: *Dela fazendo-se servente,
Esperar já não podes senão Morte.
I

Um toste se ergueu.  Ressonância ingênua!
Jesus põe cantar! Sino esbelto na orelha!
Manhã emudeceu. Mas cá total silêncio
Surgiu princípio, então sinal, balança.

Ateus do silêncio se arrancam clareza,
Selva permitida ruídos e guardiões;
Sendo manifestação nem à astúcia
Nem tremor amansavam deste modo!

Senão ouvido. Rugir, berros, berreiros,
Diminuíram suas almas. Onde não existia
Senão à igreja tão-só onde acolher som,

Um refúgio de desejo escuríssimo,
Com um umbral de temerosos sinais;
Tu é criaste um templo olvido memória.

II

Uma freira quase surgiu no Carmo,
E desta só aventura cânticos do terço,
Brilhar gentil primaverais rezas céus,
Se transformando em leito no ouvido.

Ao adormecer em mim. E tudo era sonho,
Os arcanjos que me admiravam, destas
Sensíveis toques dos prados já sentidos
E cada novo assombro que me epifania.

Adormecido mundo. Ô Deus rapsódia,
Me limitaste a que nesta homília
Medida despertar? Olhas, pões rezar.

Sua sorte onde está? Dirás, deste tema
Antes de que teu canto se consuma?
E onde ouvi de mim…? Uma freira quase.

III

Possível se a um Deus. Mas, diz-me, será,
Poderá ser-lhe homem aflição dirá?
Seu ânimo discrepe. Cruz veredas espírito,
Não poderás o templo de Jesus ser içado.

Cantar como tu ensinas não é união,
Nem desejo de algo possa ser conseguido.
Canto é existência. Há um deus mui fácil.
Porém nós quando existimos? Quando cai.

Até nosso ser terra e as estrelas?
Não tão só porque amas foste tão jovem,
Nem há uma qualquer voz irrompeu à boca.

Se olvidar cânticos. Cantos ressoarem.
O Cântico é a verdade outro alento, alma,
Um sopro em torno verbo. Advento Deus.

ERIC PONTY

AS VISÔES INDIANAS DE PONTY - IVO BARROSO


Cânticos  Aos Meninos e Elefantes

O AZUL - STÉPHANE MALLARMÉ - TRAD. ERIC PONTY

É de perpétuo azul a serena ironia,
Capaz, bela indolente qual de suas flores;
O Poeta débil maldiz é obstinação,
O Bizarro dum deserto estéreis das Dores.

Olhos densos; fugidio sente-me resguardo,
Intenso qual dum remorso fel da amargura
Minha alma oca. Evadir-me? Noite grotesca,
Sujeitar, trapo, aflita supraversão?

À bruma, singra! Cinza em versos dum monótono
Com extensos duns halos de bruma dos céus
Que afogar pantanal de lívido tão quedo
Ao abranger amplo teto em sua soturnidade!

Tu, despontar do lago em Létes e apanhar
Que dimane dum vaso em descoradas rosa,
Caro tédio, ao tapar duma mão nunca cansa,
Grande buraco azuis que fazem duramente
                                                           das aves.

Ainda! Que são sossego as tristes chaminés,
E fumegam da fuligem da errante prisão,
Apagar dos horrores de seus negros rastos,
O sol é moribundo térreo dos horizontes!

- Céu mortal – teus versos, eu cruzo! Vive,
Elipse culpa atroz irreal ô matéria,
É este mártir que aragem partilha a areia
Ou gado feliz de homens está na camada.

Pois quero, já, enfim minha mente vazia,
Qual frasco sombras pés Gisant junto muro,
Não são as artes do adorno soluçante ideia,
Lúgubre oscito do verso em finado negrume.

Em vão do azul do triunfo, eu entendo que canta,
Toam sinos. É minha alma, ele faz voz mais,
É nosso perpetrar medo com vitória má,
E do metal vivente sorte no azul ângelus!

À vaga par da bruma, antiga e atravessada,
Da nativa agonia coisa qual gládio esquivo,
Ou fugir da revolta inútil e perversa?
Estou assombrando. Azul. Azul. Azul. Azul.  

STÉPHANE MALLARMÉ
TRAD. ERIC PONTY

La Belle Dame Sans Merci - REVISED VERSION - J. KEATS. TRAD. ERIC PONTY

I
Ah, o que poderia nos chatear-se,
Humilde, só e palme-te brando;
O junco é resguardado lago, 
Nenhum pássaro jamais entoará aqui.

II
Ah, o que poderia te chatear-se,
humilde, tão vexado e tão alquebrado?
O celeiro do esquilo está apinhado
E a colheita está arranjada.

III
Eu vejo um lírio nesta testa,
Qual uma angústia úmida e febril;
E na sua intrujice uma rosa
Se esvaindo mais veloz porque também murchou.

IV
Conheci uma Dama das campinas,
Inteiramente bonita,
Era uma criança de fada;
Seu cabelo era tão longo,
Seu pé era tão leve e olhares eram ferinos.

V
Eu a assentei no meu corcel de braço de mar,
E nada mais se viu o dia inteiro;
Para que lados se inclinaria e cantaria
Esta sua música qual duma fada.

VI
Eu fiz uma guirlanda a sua cabeça
E pulseiras também e zona perfumada;
Ela olhou em mim quão ela amava
E fez uma doce lamentação.

VII
Encontrou-me nas raízes de sabor doce,
E no mel silvestre e no orvalho maná,
E com certeza da lamúria intrigante, ela articulou:
Eu te amo certo.

VIII
Ela me levou a sua gruta de Elfin,
E lá ela contemplou e ansiou fundo,
E lá eu fechei seus olhos tristes e ferinos -
Então beijei entorpeci.

IX
E lá nós dormimos no musgo,
E lá eu sonhei, ai, ai, ai, ai!
Sendo último sonho que previ
No lado mais frio da colina.

X
Eu vi reis pálidos e príncipes também
Guerreiros lívidos, pálidos qual à morte,
Eram todos eles;
Quem choraste - ”Le belle Dame dans Merci
A ti na servidão!

XI
Eu vi em seus lábios esfomeados na penumbra
Com apavorante ameaça aberta,
E eu acordei e me deparei aqui
Neste lado frio desta colina.

XII
É por isso quando eu me perco por aqui
Só e pálido quedo,
Embora o junco jaza ausente do lago,
E nenhum pássaro jamais entoará aqui.

 J. KEATS
 TRAD. ERIC PONTY

quarta-feira, maio 16, 2018

Guillaume Apollinaire - O BESTIÁRIO OU O CORTEJO DE ORFEU - TRAD. ERIC PONTY

TRADUÇÂO INTREGAL

ORFEU
 Abismar-se a alento claro e briosas linhas:
É a voz que foi ouvida pela luz
E que nos disse Hermes Trimegistro no Pimandro.

Admirez le pouvoir insigne Et la noblesse de la ligne:
Elle est la voix que la lumière fit entendre
Et dont parle Hermès Trismégiste en son Pimandre.
A Tartaruga

O Feitiço Trácia, O delírio!
Meus dedos são fé de aproximar-se na lira.
Em quais os animais passam pelos Sons
Minha tartaruga, minhas canções.

Du Thrace magique, ô délire !
Mes doigts sûrs font sonner la lyre.
Les animaux passent aux sons
De ma tortue, de mes chansons.
  O Cavalo
Meus sonhos formais rígidos vão andar contigo,
Meu destino é uma carruagem douro irá conferir esta formosura
Quem das rédeas a segurarem firme ao frenesi,
Meus versos, são paradigmas de toda poesia.

Mes durs rêves formels sauront te chevaucher,
Mon destin au char d’or sera ton beau cocher
Qui pour rênes tiendra tendus à frénésie,
Mes vers, les parangons de toute poésie.
Os cabelos da cabra
Os cabelos desta cabra e até mesmo
Daqueles que tomaram douro à Jasão
Tantos problemas, são preço inculto
É do cabelo do qual eu estou amando.

Les poils de cette chèvre et même
Ceux d’or pour qui prit tant de peine Jason,
ne valent rien au prix
Des cheveux dont je suis épris. 
                                 A serpente
E o que às criaturas têm sido pacientes desta brutalidade!
Eva Eurídice Cleópatra;
Eu talvez saiba três ou quatro.

Tu t’acharnes sur la beauté.
Et quelles femmes ont été Victimes de ta cruauté !
Ève, Euridice, Cléopâtre ;
J’en connais encor trois ou quatre.
O Gato
Eu quero em minha casa:
Uma mulher em cuja razão,
Um gato dentre os livros,
Amigos como em qualquer época do ano
Sem o qual eu não possa viver.

Je souhaite dans ma maison :
Une femme ayant sa raison,
Un chat passant parmi les livres,
Des amis en toute saison
Sans lesquels je ne peux pas vivre.

                  O leão
O leão, imagem miserável
Reis Chus miseravelmente,
Agora tu nasces na gaiola
Em Hamburgo, quais alemães.

Ô lion, malheureuse image
Des rois chus lamentablement,
Tu ne nais maintenant qu’en cage
À Hambourg, chez les Allemands.
  A Lebre
Não seja tímido e nem lascivo
Como é a lebre e a tua amante.
Mas isso ainda faz sua mente
Lebre ao aprontar quer arrojar.

Ne soit pas lascif et peureux
Comme le lièvre et l’amoureux.
Mais que toujours ton cerveau
soit La hase pleine qui conçoit. 
O Coelho

Eu conheço outro enganador
Que qualquer vida que eu tomaria.
O labirinto está dentre tomilho
Os vales do país da ternura.

Je connais un autre connin
Que tout vivant je voudrais prendre.
Sa garenne est parmi le thym
Des vallons du pays de Tendre. 
O dromedário

Dom Pedro, de Alfaroubeira
Correu o mundo e assombrado.
Ele fez o que eu faria
Se eu tivesse quatro camelos,
Com seus quatro dromedários. 

Avec ses quatre dromadaires
Don Pedro d’Alfaroubeira
Courut le monde et l’admira.
Il fit ce que je voudrais faire
Si j’avais quatre dromadaires.

O Rato




Belos dias, ratinhos do temporal,
Tu te preocupas pouco a pouco minha vida.
Deus! Vou fazer vinte e oito anos,
E mal experiência em minha inveja.

Belles journées, souris du temps,
Vous rongez peu à peu ma vie.
Dieu ! Je vais avoir vingt-huit ans,
Et mal vécus, à mon envie. 
O Elefante
Como um elefante em seu marfim
Eu beijo um bem precioso.
Morte roxa!  .... Eu comprarei à minha glória
Ao preço dos motos melodiosos.

Comme un éléphant son ivoire,
J’ai en bouche un bien précieux.
Pourpre mort !.. J’achète ma gloire
Au prix des mots mélodieux. 

Orfeu
Comparecendo a esta infecta tropas
De mil pés, de cem olhos:
Rotíferos, ácaros, insetos
E micróbios mais magníficos
As sete maravilhas do mundo
E do palácio de Rosamundo!

Regardez cette troupe infecte
Aux mille pattes, au cent yeux :
Rotifères, cirons, insectes
Et microbes plus merveilleux
Que les sept merveilles du monde
Et le palais de Rosemonde! 

                                      A Lagarta


Os afazeres levam à riqueza.
Os Poetas pobres, pois que trabalhem!
A labuta da lagarta sem
Cessar se transforma em uma rica borboleta.

Le travail mène à la richesse.
Pauvres poètes, travaillons !
La chenille en peinant sans
Cesse Devient le riche papillon. 

Guillaume Apollinaire 
TRAD. ERIC PONTY 

segunda-feira, maio 14, 2018

F.Mompou - A Falsa Morte - Paul Valéry - TRAD. ERIC PONTY


Humilde, suave, sobre à cova seduzida,
Sobre o monumento insensível,
Que das sombras, desamparadas,
De amor desprezado
Decompõe sua forma abatida,
Suporto, sofro em ti,
Caiu em ti e me lastimar.

Porém apenas pendido, sobre baixa cova,
Cuja latitude hirta me atrai
À transformar-me cinzas,
Esta agonia aparente,
Há quem retornarei à vida,
Se tremesse, reabrindo olhar,
Me cintilando e me morde
E me carpe sempre outra vez à Morte
Mais preciosa que à Vida.
 PAUL VALÈRY
TRAD. ERIC PONTY

Debussy - Poemes de Charles Baudelaire - No. 1. Le balcon ( O BALCÃO) - CHARLES BAUDELAIRE

XXXVI

O BALCÂO

Mãe das memórias, és maestra das nossas queridas!
Ô tu, dos meus prazeres todos! única há quem me devo!
Fardas-me de recordar nossa beleza das carícias,
À doçura descansar embrulho destas noites,
Mãe das memórias, és mestra das nossas queridas!

As noites iluminadas com o fulgor do carvão,
E as noites ante balcão, velar vapor rosáceos.
Suave a mim era teu peito! Bom comigo teu coração!
Muitas vezes dizemos coisas impecáveis,
As noites iluminadas com o fulgor do carvão!

Que consanguíneos são os astros nas tíbias veladas!
Profundo o espaço! Intenso vosso coração!
Ao inclinar-me até ti, reina das adoradas,
Me parecia respirar perfume de teu sangue.
Que consanguíneos são os astros nas tíbias veladas!

À noite se adensava igual que uma barreira,
E na escuridão meus olhos prediziam tuas pupilas,
E eu bebia teu alento, ô doçura! ô veneno!
Aos teus pés dormiam em minhas mãos fraternas.
À noite se adensava igual que uma barreira!

A gente à arte de evocar os momentos felizes,
E revivo meu passado enlaçado nas tuas saias.
Pois para que buscar tuas lânguidas belezas
Se não é teu querido corpo em teu suave coração?
A gente à arte de evocar os momentos felizes!

Os juramentos, estes aromas, estes beijos infinitos,
Renasceram dum abismo insondável para nós,
Como ascendem ao céu os astros rejuvenescidos
Ao arranjar levar ao fundo dos mares profundos?
— Ô promessas! ô aromas! Ô beijos infinitos!

CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY

XXVIII A SERPENTE QUE DANÇA - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY


Como me gosto de observar, bela indolente,
De teu corpo sem par,
Da qual duma seda trémula e fluente
Toda ao pé brilhar!

Sobre tua cabeleira tão profunda
Dum aroma picante,
O Mar azul, oloroso e vagabundo,
Efervescente e ondulante.

É qual navio que desperta mui imaturo
Ao vento da aurora,
Vai aparecendo até um céu distante
Minha alma sonhadora.

Teus olhos, gozosos e amargura
ocultam sorriso e choro,
Duas joias frias são, rara mistura
De ferro com doirarão.

Ao verte caminhar, lânguida formosa,
Com graça musical
Dir-se-ia uma serpe cadenciosa
encima dum varal.

Embaixo fardo invisível que te ergueu,
Se fez médio vacilante
Tu cabeça infantil, com à apatia
De um jovem elefante.

E teu corpo se estira e se ladear
Qual frágil navalha
que funde suas varas debaixo do mar
Quanto roaz a orelha.

Como um mar crescido ao desprender
Os glaciares urgentes,
D´água de tua boca, ao acercar-se
Na borda de teus dentes.

Me fazendo beber uma vindima roxa
E a amarga em sua maturidade,
Um fundo céu líquido que molha
Dos astros erguidos meu coração!

 CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY

domingo, maio 13, 2018

LAUDAÇÂO - ERIC PONTY

À Padre Vieira

Pelas noites, sobre os restaurantes, céus,
O ar envolvente é selvagem se faz surdo,
E o duende corruptor vivaz da Primavera,
Governar sobre o grito de Vossa memória.

Ao longe, sobre o pó das cordilheiras, réus,
Sobre o tédio tal manhãs suburbanas, azuis,
O de cara azul apenas distingue-se na dor,
De ouvir tão longe ressoar a canção do sermão.

Detrás lentos passos de alto nível, meus
Ladeando o guarda-chuva pulcro jaz cálice,
Passeiam cada noite dentre às varandas,
Os graciosos estão entorno, com às damas.

Sobre o lago nós escalamos chilreiam,
E se escutaram murmúrios aos peixes,
No céu, acostumado a tudo, vós prezais,
Deferência faz sem sentido ao risco retina.


Eric Ponty

sexta-feira, maio 11, 2018

Lear, Edward - Limericks - TRAD. ERIC PONTY



Havia uma moça cuja história

Não tinham quem exceder de memória;

Se ela andava em um areal

(Nada sabendo por qual)

E planejava pequeno acordo da história.

Lear, Edward
TRAD. ERIC PONTY

Bilhete Com Amor Vicent Van Gogh - ERIC PONTY

IN MEMORIAN IVAN JUNQUEIRA

Vicent vós me aceites meu cinjo já tão aberto,
Mesmo longe quero comigo quanto pessoal,
Lembro hoje que essa tua visita a mim tão perto,
Como as das horas passassem; não os veros anos.

Agora, nos cinquentos eram poemas seletos,
Que nos colocaste na efígie mui estatura,
Fiquei então Minas já colhendo náufrago amem,
Como dum refém sem ninguém de quem me atura.

Gogh hoje me acolheu pelas mãos celestes,
Mesmo longe quero comigo quanto amigo,
talvez longe lembre de mim qual vero amigo.

Gogh Van já tenho três que cá pessoais, certo,
Lembrar-me que de hoje que visita a mim tão perto,
Fraterno tão Gogh Vicent falta exame perto.


ERIC PONTY

sexta-feira, maio 04, 2018

LENDO LIVROS SAGRADOS - G.I.Gurdjieff :- HINOS SAGRADOS

PAULINO A GESTIDIO, EM SINAL DE DESMERECIDA ADMIRAÇÃO


LENDO LIVROS SAGRADOS
Verdadeiramente é insultar oferecer um fruto da terra e do campo a um pai de família que nada nas delicias do mar. Apesar dele à mando umas aberturas ouro pérolas. das pouquíssimas que me atraem ao entardecer dos ajudantes, ao encontrar motivo de falar em tua amizade e que pareça que um presente chegando unido a lengalenga.

Porém, foi dado que ambas coisas são reprováveis, pelas preces que às perdoem tua amabilidade e efeito, para que não pareça pouco educada à pobreza do obséquio nem odiosa minha vulgaridade.

 «Peque, pois, umas aves criadas numa sarça, em que às que um astuto caçador oculto na espessura da fronte mente e engana com sua idêntica balada então o tropel que se possa confiar sobre viscosa brancura.

 Logo, abrigar-se à magra presa com o trabalho na pequena distribuição de sua mesa, e, brilhante com gordas da primeira fila minguando gradualmente até o cabo da maleta e para que desagrade menos à brancura à amena arrumação da gordura ao satisfazer à primeira vista com duma ave ilustre.


 [1] este bilhete em prosa acompanha o pequeno poema que segue a continuação. Se conserva no manuscrito mais antigo, o Vossianus. Necessita ser datado nos anos anteriores à partida de Paulino de Aquitânia até Espanha no ano 389, dado que está ausente por completo da temática religiosa que tanto ia a preocupar lhe despois desta estância em nosso chão. De Gestidio nada se sabe, ao que à deferência com que o trata Paulino deixando entrever um rico proprietário, como o denomina P. FABRE, S. Paulin de Nole et l’amitié, pág. 155. Por outra parte, o poema nos permite vislumbrar à vida dos Proprietários de Terra da sociedade galo-romana do s. IV (Observar art. de F. J. LOMAS, «Secessus in villam: na alternativa pagã ao ascetismo do Cristiano no O Círculo de Ausônio», Antig. Crist. 7 [1990], págs. 273-286).

Paulino de Nola
TRAD. ERIC PONTY