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quinta-feira, maio 17, 2018

O AZUL - STÉPHANE MALLARMÉ - TRAD. ERIC PONTY

É de perpétuo azul a serena ironia,
Capaz, bela indolente qual de suas flores;
O Poeta débil maldiz é obstinação,
O Bizarro dum deserto estéreis das Dores.

Olhos densos; fugidio sente-me resguardo,
Intenso qual dum remorso fel da amargura
Minha alma oca. Evadir-me? Noite grotesca,
Sujeitar, trapo, aflita supraversão?

À bruma, singra! Cinza em versos dum monótono
Com extensos duns halos de bruma dos céus
Que afogar pantanal de lívido tão quedo
Ao abranger amplo teto em sua soturnidade!

Tu, despontar do lago em Létes e apanhar
Que dimane dum vaso em descoradas rosa,
Caro tédio, ao tapar duma mão nunca cansa,
Grande buraco azuis que fazem duramente
                                                           das aves.

Ainda! Que são sossego as tristes chaminés,
E fumegam da fuligem da errante prisão,
Apagar dos horrores de seus negros rastos,
O sol é moribundo térreo dos horizontes!

- Céu mortal – teus versos, eu cruzo! Vive,
Elipse culpa atroz irreal ô matéria,
É este mártir que aragem partilha a areia
Ou gado feliz de homens está na camada.

Pois quero, já, enfim minha mente vazia,
Qual frasco sombras pés Gisant junto muro,
Não são as artes do adorno soluçante ideia,
Lúgubre oscito do verso em finado negrume.

Em vão do azul do triunfo, eu entendo que canta,
Toam sinos. É minha alma, ele faz voz mais,
É nosso perpetrar medo com vitória má,
E do metal vivente sorte no azul ângelus!

À vaga par da bruma, antiga e atravessada,
Da nativa agonia coisa qual gládio esquivo,
Ou fugir da revolta inútil e perversa?
Estou assombrando. Azul. Azul. Azul. Azul.  

STÉPHANE MALLARMÉ
TRAD. ERIC PONTY

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