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segunda-feira, maio 14, 2018

XXVIII A SERPENTE QUE DANÇA - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY


Como me gosto de observar, bela indolente,
De teu corpo sem par,
Da qual duma seda trémula e fluente
Toda ao pé brilhar!

Sobre tua cabeleira tão profunda
Dum aroma picante,
O Mar azul, oloroso e vagabundo,
Efervescente e ondulante.

É qual navio que desperta mui imaturo
Ao vento da aurora,
Vai aparecendo até um céu distante
Minha alma sonhadora.

Teus olhos, gozosos e amargura
ocultam sorriso e choro,
Duas joias frias são, rara mistura
De ferro com doirarão.

Ao verte caminhar, lânguida formosa,
Com graça musical
Dir-se-ia uma serpe cadenciosa
encima dum varal.

Embaixo fardo invisível que te ergueu,
Se fez médio vacilante
Tu cabeça infantil, com à apatia
De um jovem elefante.

E teu corpo se estira e se ladear
Qual frágil navalha
que funde suas varas debaixo do mar
Quanto roaz a orelha.

Como um mar crescido ao desprender
Os glaciares urgentes,
D´água de tua boca, ao acercar-se
Na borda de teus dentes.

Me fazendo beber uma vindima roxa
E a amarga em sua maturidade,
Um fundo céu líquido que molha
Dos astros erguidos meu coração!

 CHARLES BAUDELAIRE
TRAD. ERIC PONTY

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