Cânticos Aos Meninos e Elefantes
Uma conhecida fábula
indiana, da qual existem várias versões, conta, numa delas, que três cegos se
aproximaram de um elefante para “vê-lo” pelo tato. O primeiro tocou-lhe uma das
orelhas e concluiu que o elefante era um pássaro de enorme envergadura, com
asas destituídas de penas. O segundo, agarrando-lhe uma das presas,
convenceu-se de que o elefante era um peixe de focinho afilado. O terceiro,
abraçando-lhe a perna, imaginou o elefante como uma torre de carne encimada por
descomunal cabeça.
Tudo isto vem a propósito
das formas de “ver”. No caso, temos “visões” fantasiosas de quem não vê, no
sentido mais vulgar da palavra, no caso, um mamífero, uma baleia azul ou mesmo
um elefante de cuja suportam às lembranças do mundo.
Mas as maneiras de ver de
quem vê, dependendo de quem seja esse vedor, podem revelar “visões” ainda mais
mirabolantes que as dos três cegos indianos. E quando quem vê é um Poeta e um
artista plástico, essas visões podem atingir o nível do imaginado.
Eric Ponty viu a visão do
segundo cego indiano, ou melhor, viu várias visões e escreveu sobre o que viu.
Mas sendo Poeta, e um Poeta muito especial, as maneiras de ver de Eric Ponty
têm equivalentes literários semelhantes às visões tácteis dos cegos indianos.
São visões oníricas,
surrealistas, visões diferentes ou para além daquelas que nós, os pobres
mortais, podemos apreciar com os simples olhos da face por meio de um mamífero
que um elefante descomunal, que reconta como o mundo surgiu.
Essas visões deram lugar a
um livro. Um livro também para os jovens? Porque não. Os jovens são capazes de
devaneios semelhantes aos sonhos dos poetas, de imaginações que suplantam as
suposições sensoriais. Mas é também uma fábula imagética a adultos, pela sua
beleza, sua poesia, sua capacidade de nos ajudar a ver algo mais que à
realidade concreta e dimensional dos nossos olhos.
IVO [do
Nascimento] BARROSO nasceu em Ervália-MG
e reside no Rio desde 1945. Formado em Direito e em Línguas e Literaturas
Neolatinas. Foi assistente do Editor das enciclopédias Delta-Larousse, Mirador
e Século XX. Editor-adjunto do Suplemento Literário do JB, da revista Senhor e
de Poesia Sempre (da Biblioteca Nacional). Publicou mais de 30 traduções de
grandes autores. Seus livros de versos, Nau dos Náufragos (1982) e Visitações
de Alcipe (1991), foram ambos editados em Portugal, onde foi editor da revista
Seleções do Reader´s Digest. No Brasil publicou A Caça Virtual e outros poemas
(2001, finalista do prêmio Jabuti de poesia daquele ano), editado pela Record.
Organizou os livros Poesia e Prosa, de Charles Baudelaire (Nova Aguilar, 1995)
e à Margem das Traduções, de Agenor Soares de Moura (Arx Editora, 2003).
Escreveu O Corvo e suas traduções (Nova Aguilar, 2000 – agora em 3ª edição,
2012, pela LeYa-SP) e Poesia Ensinada aos Jovens (Tessitura-BH, 2010).
Nenhum comentário:
Postar um comentário