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sábado, dezembro 14, 2024
Os Faroés - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
Do vício materno arrastando a mendelismo
E toda a hediondez da fertilidade!
Temos, é verdade, nações corruptas,
Belezas desconhecidas dos povos antigos:
Rostos roídos pelas aftas do coração,
e, por assim dizer, belezas lânguidas;
Mas estas invenções das nossas musas tardias
Nunca evitarão as raças doentes
Prestar uma profunda homenagem à juventude,
- À santa juventude, de ar simples e fronte gentil,
Com olhos claros e límpidos como água corrente,
E que, despreocupada, espalha por tudo
Como o azul do céu, pássaros e flores,
perfumes, as suas canções e o seu doce calor!
Rubens, riacho alheio e jardim ocioso,
Coxim fresca de carne onde o amor não pode estar,
Mas onde a corrente da vida se agita incessante,
como o vento e a água no céu e no mar;
Leonardo sombrio, espelho das profundezas,
O refúgio dos anjos cujo doce sorriso sustenta
O fardo de um mistério na sombra
De pinheiros e glaciares que selam o seu domínio;
Rembrandt, triste hospício de queixas meio ouvidas,
Paredes nuas onde um grande crucifixo pende sozinho,
Onde orações chorosas surgem, exaladas pela sujidade,
perfuradas por um fugaz raio de sol invernal;
E Michelangelo, um desperdício onde figuras
De Cristo e de Hércules se misturam; ali, de pé
Estão poderosos fantasmas que estendem os dedos
E rasgam as suas roupas de sepultura na luz que se desvanece;
A fúria de um boxeador, impudente como um fauno,
“que procura a beleza até na escória humana,
Um coração forte e orgulhoso, preso numa estrutura débil,
Puget, o imperador sombrio de velhos atrasos;
Watteau, este carnaval onde corações famosos
Vagueiam como borboletas num transe brilhante
Cenários frios e vaporosos sob candelabros
Que chovem loucuras brilhantes sobre a dança rodopiante;
Goya, um pesadelo de coisas inauditas -
Um feto cozinhado para as festas de Sabbath das bruxas,
Velhas bruxas nos espelhos, meninas nuas
Puxando as meias apertadas para tentar os demónios;
Delacroix, lago de sangue onde os anjos caídos
Assombram os abetos escuros sob céus sombrios;
Estranhas fanfarras ecoam no bosque sempre verde
E se desvanecem como os suspiros abafados de Weber;
Estas blasfêmias e maldições, estes lamentos
Arrebatamentos e lágrimas, este canto de Te Deum,
São um eco repetido por mil labirintos;
É um ópio divino para os corações mortais!
É um grito repetido por mil sentinelas,
Uma ordem enviada por mil megafones;
É um farol aceso em mil cidadelas,
Um chamado de caçadores perdidos na grande floresta!
Porque é verdadeiramente, Senhor, o melhor testemunho
Que podemos dar da nossa dignidade
Do que esse soluço ardente que rola de idade em idade
E vem morrer no limiar da vossa eternidade!
Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
quarta-feira, dezembro 11, 2024
Análise da obra “As Flores do Mal”, de Charles Baudelaire - Oliver Harden
Análise da obra “As Flores do Mal”, de Charles Baudelaire
1. Introdução: A Obra que Redefiniu a Poesia Moderna
Publicada pela primeira vez em 1857, As Flores do Mal (Les Fleurs du Mal) é a obra-prima de Charles Baudelaire, uma das figuras centrais do simbolismo e precursor da poesia moderna. Composta por 100 poemas na versão original (posteriormente expandida para 126), a coletânea é um marco literário por sua capacidade de combinar o sublime e o grotesco, o espiritual e o mundano, em uma busca incessante por beleza na decadência.
Baudelaire desafiou os limites morais, estéticos e linguísticos de seu tempo, explorando temas como o tédio existencial (spleen), o pecado, a beleza, a morte e a transcendência. A obra, que causou polêmica em seu lançamento e levou à censura de alguns poemas, continua a ser reverenciada por sua profundidade filosófica, seu lirismo e sua inovação estética.
2. Contexto Histórico e Literário
As Flores do Mal surge no contexto da França do século XIX, uma época marcada pelo avanço do capitalismo, pela industrialização e pelas mudanças sociais e culturais. Baudelaire, vivendo em Paris, foi profundamente influenciado pela transformação urbana liderada pelo barão Haussmann e pelo isolamento emocional resultante do ambiente moderno.
Do ponto de vista literário, a obra marca uma ruptura com o romantismo, que ainda dominava a poesia na época. Enquanto os românticos celebravam a natureza e a pureza emocional, Baudelaire mergulhou na experiência urbana, na dualidade humana e na decadência. Sua poesia também antecipou o simbolismo, influenciando autores como Paul Verlaine, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé.
3. Estrutura e Organização da Obra
As Flores do Mal é dividida em seções que organizam o percurso espiritual, emocional e moral do eu lírico:
1. Spleen e Ideal
Esta seção explora o dualismo central da obra: o spleen, um estado de tédio, melancolia e desespero, e o ideal, uma aspiração por transcendência e beleza. O eu lírico oscila entre esses dois polos, representando a luta incessante entre o desejo de elevação e a queda na banalidade.
2. Quadros Parisienses
Aqui, Baudelaire celebra e critica a vida urbana. Ele observa Paris como um lugar simultaneamente belo e corrupto, explorando a alienação do homem moderno.
3. O Vinho
O vinho é visto como uma fuga da realidade e uma tentativa de transcender o sofrimento, mas sua promessa é ilusória e passageira.
4. Flores do Mal
Esta seção aborda temas tabus, como a sexualidade, a morte e o pecado, expondo a beleza inerente até mesmo no que é considerado repulsivo ou proibido.
5. Revolta
Baudelaire confronta a ideia de Deus e a ordem moral, explorando o niilismo e a recusa em aceitar uma visão convencional da divindade.
6. A Morte
A última seção apresenta a morte como a única possibilidade de escape do spleen e a chance de transcendência, mesmo que incerta.
4. Temas Centrais
4.1. O Spleen e o Ideal
O spleen, termo cunhado por Baudelaire, é um estado de apatia, tédio e angústia existencial. Ele representa a condição moderna de desconexão, exacerbada pela vida urbana e pela alienação do homem. O ideal, por outro lado, é o desejo de atingir o sublime e transcender a banalidade da existência. A tensão entre esses dois polos permeia toda a obra, refletindo a dualidade da experiência humana.
4.2. Beleza na Decadência
Baudelaire desafia as concepções tradicionais de beleza, encontrando-a em lugares inesperados: na corrupção, na degradação e no pecado. Ele argumenta que a beleza não é pura, mas nasce da mistura de elementos contraditórios. O poema “Hino à Beleza” encapsula essa visão ao questionar se a beleza é divina ou demoníaca, celebrando sua capacidade de elevar e destruir.
4.3. A Sexualidade e o Pecado
A sexualidade é apresentada como um meio de prazer e destruição. Baudelaire examina o desejo como uma força ambivalente, que simultaneamente une e degrada. O pecado, por sua vez, é visto não como algo a ser evitado, mas como parte intrínseca da condição humana, um tema central em poemas como “O Albatroz” e “Sed Non Satiata.”
4.4. O Conflito entre o Divino e o Profano
A obra é profundamente marcada pela tensão entre o espiritual e o mundano. Baudelaire frequentemente questiona Deus e expressa sua revolta contra as limitações impostas pela religião. No entanto, ele também busca uma conexão transcendente, seja por meio da arte, do amor ou da morte.
4.5. A Morte e a Transcendência
A morte, em As Flores do Mal, é ao mesmo tempo aterrorizante e libertadora. Ela é a única promessa de escape do sofrimento terreno e do spleen, mas sua transcendência é incerta. Baudelaire a aborda como uma inevitabilidade que encerra todas as buscas humanas.
5. Estilo e Inovação Estética
5.1. O Simbolismo e o Subtexto
Baudelaire foi um dos primeiros a usar símbolos complexos para expressar emoções e ideias abstratas. Suas metáforas e imagens vão além do que é explícito, convidando o leitor a explorar camadas mais profundas de significado.
5.2. Musicalidade e Ritmo
A poesia de Baudelaire é marcada por uma musicalidade única, que combina a métrica clássica com um lirismo inovador. Ele cria um ritmo que reflete o estado emocional de seus poemas, ora calmo, ora frenético.
5.3. A Universalidade do Cotidiano
Baudelaire introduz temas do cotidiano na poesia elevada, como a vida urbana, a modernidade e a experiência sensorial, desafiando os limites da alta literatura.
6. Recepção e Impacto
No momento de sua publicação, As Flores do Mal causou escândalo. Seis poemas foram censurados por sua suposta obscenidade, e Baudelaire foi multado pelas autoridades francesas. Contudo, o impacto da obra foi imenso, influenciando gerações de escritores e artistas.
Baudelaire é amplamente reconhecido como o precursor do simbolismo e um dos fundadores da poesia moderna. Sua influência pode ser vista em autores como T. S. Eliot, Marcel Proust e Paul Verlaine, e suas ideias sobre a arte e a modernidade continuam a moldar o pensamento literário e filosófico.
7. Conclusão: A Beleza que Floresce no Mal
As Flores do Mal não é apenas uma coletânea de poemas; é um manifesto da condição humana na modernidade. Baudelaire confronta as contradições de seu tempo – e da própria existência – com uma honestidade brutal e uma sensibilidade estética inigualável.
A obra transcende as fronteiras do bem e do mal, do belo e do feio, para afirmar que a verdadeira arte encontra sua força na tensão entre os opostos. Ao fazê-lo, Baudelaire não apenas redefine a poesia, mas também oferece uma visão profundamente original e atemporal da experiência humana.
Ler As Flores do Mal é um convite para contemplar o sublime na decadência, encontrar luz nas sombras e abraçar a dualidade essencial da vida.
Oliver Harden Estudou na instituição de ensino UNICAMP seguidores 13 mil no Facebook
segunda-feira, novembro 25, 2024
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução Éric Ponty.
Resenha
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução Éric Ponty. São Paulo> Break Media Brasil, 2024.
A partir da primeira edição, de 1857, As flores do mal têm sido objeto de uma série de traduções por inúmeras línguas, dentre elas o Português. Optamos, aqui, pela mera citação da existência delas, em vez da apresentação de um panorama histórico, ainda que sintético, dessas traduções (versões) para a língua portuguesa. Todavia cada tradução evoca as edições anteriores, menos no sentido de tê-las como influência ou juízo de valor, antes pela referência ao exercício da nova tradução. Sem negligenciar o aspecto do mito ou fantasma que rondaria sempre toda tradução – “a traição do tradutor”. Ressaltando, assim, a criação, sobretudo quando se refere à poesia, em que se recorre à criatividade (criação) exigida do tradutor.
Éric Ponty é um poeta, com reconhecimento nacional de sua produção poética, bem como de suas traduções, com extensa publicação em ambas as atividades literárias. Constam de seu currículo traduções de Paul Verlaine, Jorge Luís Borges, Rimbaud, Virgínia Woolf, inclusive outro poema de Baudelaire. O que lhe credencia a essa tradução de As flores do mal, numa edição cuidadosa da Editora Ipê das Letras (Portugal/Brasil), corroborando o prazer e o exercício da leitura, especificamente dessa poética de Baudelaire em língua portuguesa.
Ao contrário de outras traduções, nesta se abre mão de uma reiteração do sistema de rima que imporia ao exercício da tradução a semelhança rítmica do sistema original, elegendo-se a fidelidade ao texto original, em vez da mera literalidade, sem comprometer a fluidez da linguagem, proporcionando ao leitor uma experimentação do texto de Baudelaire ao rigor de sua originalidade, porém, na fluidez peculiar da língua portuguesa. Essa opção garante, pois, ao leitor, mais do que um contato, o estado poético de As flores do mal, sobretudo quanto à abordagem poético-filosófica de temas recorrentes, como a morte, a beleza, a emoção mística e o ardor sensual que distinguem esse texto no âmbito das poéticas modernas. Não há um abandono, uma exclusão do rigor rítmico de Baudelaire, há uma ênfase preferencial pelo estado poético na língua portuguesa.
Entretanto, essa opção leva a nível arriscado a compreensão de algumas passagens, deixando o verso, o poema, por vezes, ilegíveis, podendo ter sido resolvido por uma aplicação mais rigorosa, da própria fluidez da língua portuguesa, que a tradução procura privilegiar, por meio, por exemplo, de maior coesão de certos versos, frases, sentenças, da flexão de alguns verbos à linguagem portuguesa, o que não prejudica a opção da tradução, minimizando as dificuldades de compreensão do potencialmente leitor.
A tradução de Éric Ponty, portanto, tem o mérito de procurar um equilíbrio entre a poética original e sua correspondência na língua portuguesa, numa demonstração de que a tradução de poesia pode ser realizada, até porque a propagada intraduzibilidade poética não se constitui numa inviabilidade das traduções que ocorrem em todas as línguas. E, ao mesmo tempo, sofre os efeitos dos riscos dessa persistência pelo equilíbrio, na medida em que esse rigor preferido põe em risco a compreensão por causa da fluidez na língua portuguesa.
Aliás, ressalta Ivan Junqueira que guardados os riscos, o tradutor, ao se contaminar pela linguagem original, contamina a língua para onde traduz, e da literalidade, que comprometeria o estado poético, é possível traduzir, uma vez que toda tradução implica exatamente nessa persistência pelo regate e equivalência (equilíbrio) criado pelo tradutor entre a língua original e a língua para onde se traduz, preservando-se o estado poético do texto original e a sua equivalência na língua traduzida. Ou seja, a tradição é um exercício que se pode entender , a partir de Silviano Santiago, que se faz entre a flexibilidade e o rigor.
Nilo Silva Lima
domingo, novembro 24, 2024
AS FLORES DO MAL - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY
Correspondências
No templo da natureza, colunas vivas se erguem
E às vezes produzem palavras confusas; o homem vagueia
Pelas clareiras da floresta de símbolos que observam
Seus passos como os de alguém que eles reconhecem.
Como os longos ecos de longe ressoam
E se misturam em uma unidade escura e profunda,
Vasta como a noite e clara como o meio-dia, assim
Perfumes, sons e cores se correspondem.
Alguns perfumes têm o cheiro fresco da pele das crianças,
Suaves como oboés, verdes como os campos na primavera
- E outros são corrompidos, ricos, triunfantes,
Exalando amplamente como todas as coisas infinitas,
Âmbar gris, almíscar, benjamim e incenso,
Que cantam os êxtases da alma e dos sentidos.
A Musa Doente
Pobre musa, infeliz, o que te atenta esta manhã?
Visões nocturnas assombram os teus olhos encovados,
Loucura e horror, frios e taciturnos,
se revezam em tua face; eu os vejo surgir.
A súcuba verde e o duende rosado
Derramou urnas de medo e amor sobre a tua fronte?
Foste mergulhada pela mão brutal do pesadelo
Para te afogares no lodaçal profundo de Minturno?
O meu desejo seria que, com um aroma de saúde,
O teu coração albergasse pensamentos sempre fortes,
O vosso sangue cristão flui com a tensão rítmica
De sílabas antigas e tons variados,
Onde reina Phoebus, o pai de todas as canções,
E, por sua vez, o senhor das colheitas, o grande Pã.
sexta-feira, novembro 15, 2024
https://www.livrariaipedasletras.com/Flores-do-Mal - eric ponty
https://www.livrariaipedasletras.com/pd-97421c-as-flores-do-mal-eric-ponty.html?ct=2d1499&p=1&s=1
Fidelidade ao Texto Original
Ponty mostra um esforço consistente em manter a proximidade com o texto original de Baudelaire. Ele preserva muitas das metáforas e imagens vívidas que são características marcantes da poesia de Baudelaire.
Fluência e Naturalidade da Linguagem
Embora Ponty mantenha uma alta fidelidade ao original, ele também adapta a linguagem de forma que soe natural para leitores de língua portuguesa. Ele evita a literalidade extrema, que poderia resultar em uma tradução rígida e artificial. Em vez disso, Ponty opta por uma abordagem que prioriza a fluidez e a acessibilidade, sem perder a complexidade do texto. Ponty escolhe palavras que, embora não sejam traduções diretas, capturam a essência do sentimento de deslocamento e grandiosidade do poeta comparado ao albatroz.
Preservação do Tom e Estilo
Um dos maiores desafios ao traduzir Baudelaire é preservar o tom sombrio e o estilo decadente que permeiam “Minhas flores do mal”. Ponty demonstra uma sensibilidade notável ao estilo baudelairiano, utilizando uma linguagem que evoca a mesma atmosfera opressiva e melancólica do original.
Conclusão
Eric Ponty consegue realizar uma tradução de “Minhas flores do mal” que respeita a obra original, ao mesmo tempo em que adapta a linguagem para que seja natural e fluida em português. Ele equilibra habilmente a fidelidade ao texto original com a necessidade de manter a fluidez e a acessibilidade, preservando o tom sombrio e decadente que define a poesia de Baudelaire. Esta tradução oferece aos leitores lusófonos uma experiência rica e envolvente, mantendo-se fiel ao espírito da obra original.
terça-feira, novembro 12, 2024
domingo, novembro 10, 2024
sexta-feira, novembro 08, 2024
O velho relógio da escada - Longfellow - Trad Eric Ponty
Em algum lugar arredio da via do burgo,
fica o antigo assento campal. Em átrio velho,
altas árvores de choupo projetam sombras;
posto no saguão, um antigo relógio diz a todos,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
No meio da escada, ele está de pé, apontando
brandindo com mãos do arco roble cheio,
qual monge que, sob manto, se cruza e suspira,
infeliz, com voz triste para todos passantes,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Durante o dia, sua voz é baixa e leve; mas
discreta da noite, distinta qual a queda
de um passo ido, ela ecoa ao longo da trilha oca,
ao longo do teto, ao longo do chão,
e parece dizer em cada porta do quarto, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
Em dias de dor e de alegria,em dias féretro
em dias de ato de nascer,em todos revesess
Do tempo mutável, sereno ele jazeu,
qual Deus, tudo visse,repete calmo essas
palavras de entusiasmo que ecoam recinto.
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours!
Naquela mansão soia estar o Hospitaleiro;
Seus grandes fogos na chaminé rugiam;
O estrangeiro se banqueteava em sua mesa;
Mas, qual o ossada no banquete,
Aquele relógio de ultimato nunca parou,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Lá, grupos de guris alegres brincavam,
Lá, jovens e donzelas previam; Ó horas preciosas!
Qual um avarento conta seu ouro,
Aquelas horas o antigo relógio contava, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Todos estão dispersos e fugiram,
Alguns estão casados, outros estão mortos;
E quando eu pergunto, com dores de cabeça,
"Ah! quando todos se acharão mais?"
Qual nos dias, já se foram, o antigo relógio responde,
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Nunca aqui, para sempre lá, Onde toda união,
dor e cuidado,E a morte e o tempo obscurecer-se,-
Para sempre lá, mas nunca aqui!O relojoeiro
da Eternidade que diz isso incessantemente, -
- Toujours, jamais! –
Jamais, toujours
Longfellow - Trad Eric Ponty
sábado, novembro 02, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
Sou qual o rei de um país chuvoso,
Rico, mas sem poder, jovem, mas ancião,
Que, desprezando os arcos de seus tutores,
Está entediado com cães tais com outros animais
Nada pode animá-lo, nem a caça nem os falcões,
Nem seu povo morrendo em frente à sacada.
A balada grotesca do bobo favorito
Não mais distrai a fronte desse cruel paciente;
Sua cama, adornada com flores, torna-se túmulo,
E as damas de companhia, para quem todo príncipe é belo,
Não conseguem mais encontrar um banheiro imodesto
Para tirar um rato desse jovem esqueleto
O cientista que o fabrica de ouro nunca foi capaz de
De seu ser extirpar o elemento corrompido,
E naqueles banhos de sangue desde romanos vieram até nós,
E que os poderosos recordam em sua velhice
Ele não poderia aquecer esse cadáver atordoado
Onde, em vez de sangue, corre a água verde do Letes.
quinta-feira, outubro 31, 2024
A musa doente - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
P/ Julio Castanon
Minha musa miserável, o que a manhã traz?
Visões oníricas assombram olhares, e eu as percebo,
Refletidos nas sombras de sua pele,
Loucura e horror, frio e taciturno.
Será que elas - súcubos verdes e diabinhos rosados
Derramaram sobre você medo e amor com as urnas?
Será que o pesadelo, com garra orgulhosa e indisciplinada
O afundou em algum Minturno fabuloso?
Desejaria que seu peito respirasse o aroma da saúde,
Sua mente tenha grandes pensamentos o dia inteiro,
Que seu sangue cristão fluísse em ondas que varressem
Com sons variados de sílabas antigas,
Onde reina, por sua vez, o pai de todas as canções,
Apolo, e o senhor da colheita, o grande Pan.
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A natureza é um templo onde os pilares vivos
às vezes deixam escapar palavras confusas;
O homem passa por florestas de símbolos
Que o observam com olhos familiares.
Como longos ecos que se fundem de longe!
Em uma unidade profunda e escura,
Vasta como a noite e como a luz,
Perfumes, cores e sons respondem uns aos outros.
Há aromas tão frescos quanto a carne de uma criança,
Suaves como oboés, verdes como prados,
- E outros, corruptos, ricos e triunfantes,
Com a expansão de coisas infinitas,
Como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
Cantando os transportes da mente e dos sentidos.
terça-feira, outubro 29, 2024
Ao Leitor Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
Ao Leitor
P/Jardel Dias Cavalcanti
A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.
Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.
Sobre a almofada do mal, Demo, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.
O Demo segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.
Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.
Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.
Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.
Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,
Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;
Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.
- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!
domingo, outubro 27, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A FONTE DE SANGUE
Às vezes, vejo uma enorme onda de sangue
Alastrar sobre minha pele em uma cheia brusca
E sinto uma ferida. Mas não há ferida.
Apenas um som longo, baixo e aprazado de morte.
Toda a natural tingida de carmesim viva com meu sangue.
Todas as criaturas vivas o estão corroendo este alento,
Paris inteira se decompôs em um campo de luta.
Um mar rubro e morto, nem uma pedra do piso sem mancha!
Em muitas taças de vinho apressado eu me encorajei
Para acalmar o pavor que minava meu cérebro,
Mas cada taça intensificava a dor.
Busquei o olvido no amor, mas o amor é
Uma cama de pregos avaro por sangue,
Que drenava meu coração a cada prostituta que passava.
IRMÃS DA MISERICÓRDIA
Deboche e morte - par ajustado! -
Seus beijos lascivos não carecem de afirmação;
Esses flancos gastos, ainda virgens, se não puros,
Trabalharam muito, mas nunca deram à luz.
Avesso a famílias, o poeta – pobre
Provedor - caído ao lado de uma lareira sem coração;
Cada cama de bordel se torna uma pira fúnebre
Onde a auto reprovação nunca encontrou um lugar.
Tanto a campa quanto o quarto são ricos em blasfêmia,
Como duas irmãs indulgentes, oferecem aos homens
Azos de pecado enviadas pelo céu.
Quanto tempo, Deboche, até que me enterre?
E quanto tempo, adorável Morte, até que me proponha
Enxertar seu solene cipreste na rosa dela.
segunda-feira, outubro 21, 2024
Para o leitor - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
A Loucura, do erro, pecado, a avareza
Ocupam nossas mentes e afligem nosso ser,
Nós devoramos nosso aprazível remorso
Quão mendigos se nutrem teu piolho clareza.
Nossas culpas são aferradas, pesar é covarde;
Mandamos um alto preço às nossas confissões,
E regressamos alegres ao caminho do lodo,
Crer choros lavam todos nossos laivos arde.
Sobre a almofada do mal, mago, trismegistro,
Incessante acalma nossas mentes seduzidas,
E o metal nobre nutre das nossas vontades
É total vaporado por este sábio alquimista.
O mago segurando as cordas que nos movem!
Em coisas abjetas, desvendamos encantos;
Todos dias descemos um passo Inferno prantos,
Sem horror, através da depressão que fedem.
Quão rodo sem bronze com beijos e mordidas
Torturas ao peito de uma velha prostituta,
Nós roubamos quão calhamos prazer secreto
Apertamos muito dura quão laranja seca.
Junto, abundando, quão um milhão destas larvas,
Legião de Demos farrear nosso cérebro travas,
Quando respiramos, Morte, aquele rio invisível,
Desce nossos pulmões prantos envoltos crível.
Se estupro, o veneno, as adagas, do incêndio
Ainda não bordado cartuns amenos compêndio.
A tela banal de nossas vidas lamentáveis,
É porque almas não têm ousadia aceitáveis.
Mas entre os chacais, panteras, as cadelas,
Macacos, escorpiões, urubus, ofídios, delas
Gritos, uivam, rosnando, rastejam quais monstros,
Na bagunça imunda de nossos vícios adentro,
Há mais feio, mais perverso, que é mais sujo!
Ainda não faças bons gestos nem grão gritos,
Ele faria livre desta terra um caos cujo
Em um bocejo, engula ser do mundo ritos;
Ele é tédio! - Seu olho lacrimejar quais prantos,
Sonhar com as forcas fumar sua guita d’água.
Tu o conheces leitor, purgado monstro mantos.
- Leitor hipócrita, - meu comparte, - meu irmão!
sábado, outubro 12, 2024
111. Mulheres condenadas - Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty
Como um gado pensativo deitado nas areias,
elas olham para os mares sem fim,
até que os pés se juntam aos pés,
e as mãos se fecham sobre as mãos,
com uma doçura lânguida ou com um frio trêmulo.
Que nossas cortinas fechadas, então, nos afastem
do mundo, E que nossa lassidão nos permita achar descanso!
Eu gostaria de me obliterar em sua garganta
E encontrar o frescor das tumbas em seu peito!
-Desçam, vítimas, oh, lamentável desçam,
Desçam ao longo da passagem para o Inferno eterno!
Mergulhem no abismo onde todos os crimes desonestos,
Essas sombras tolas, correm nos limites do desejo,
Fervilhando para um lado e para o outro
com um grande barulho de trovão
Açoitado por um vento pesado que nunca viu o céu;
Lá você nunca deparará sua paixão satisfeita,
E seu tormento será o filho terrível de seu prazer.
Nunca um raio refrescante brilhará em suas cavernas;
Por meio de rachaduras ao longo da parede,
filtrarão névoas mortais que lançam um brilho
de lanterna de chama pálida e sombria
E entram em seus corpos com perfumes de morte.
A dura esterilidade de todos os seus atos de luxúria
Trará uma sede terrível e enrijecerá sua pele,
E sua concupiscência se tornará um vento furioso
Para quebrar sua carne fraca como uma bandeira velha e desgastada.
Longe do mundo dos vivos, errantes e condenados,
Atravessando os desertos, corram como os lobos;
Tracem seu destino, pobres almas desordenadas,
E fujam do infinito que carregam em si mesmas!
Charles Baudelaire - Trad. Eric Pomty
domingo, setembro 29, 2024
As Flores do Mal - Charles Baudelaire - Traduzido por Eric Ponty - IPÊ das Letras - Portugal/Brasil
A obra será comercializada na seguinte rede:
A obra será comercializada no Ponto Literário
Possuem o nosso espírito e cansam a nossa carne.
E como um animal de estimação alimentamos
do nosso remorso domesticado!
Como os mendigos alimentam os seus piolhos.
Os nossos pecados são teimosos, a nossa contrição é frouxa;
Oferecemos generosamente os nossos votos de fé
E voltamos de bom grado ao caminho da imundície,
Pensando que as lágrimas más vão lavar as nossas manchas.
No travesseiro do mal repousa o alquimista
Satanás Três Vezes Grande, que embala a nossa alma cativa,
E todo o metal mais rico da nossa vontade
É vaporizado pelas suas artes herméticas.
Realmente o Diabo puxa todos os nossos cordelinhos!
Nos objetos mais repugnantes encontramos encantos
Cada dia estamos um passo mais longe no Inferno,
Contentes por abarcar o poço fedorento.
Como um pobre libertino vai chupar e beijar
A mama triste e atormentada de uma puta velha,
Roubamos um furtivo prazer enquanto passamos,
Uma laranja murcha que apertamos e apertamos.
Perto, enxameando, como um milhão de vermes que se torcem,
Uma nação infernal revolta-se nos nossos cérebros,
E, quando respiramos, a morte flui para os nossos pulmões,
Uma corrente oculta de gritos afinados e lamentáveis.
Se a matança, ou o fogo posto, o veneno, a violação
Ainda não adornaram os nossos belos desenhos,
A tela banal dos nossos tristes destinos,
É apenas porque o nosso espírito não tem coragem.
Mas entre os chacais, as panteras, os piolhos,
macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Os monstros que gritam, uivam, rosnam e rastejam,
na vil coleção dos nossos vícios,
Há um mais feio, mais perverso, mais sujo!
Embora ele não faça grandes gestos ou gritos,
Ele teria prazer em transformar a terra em escombros
E num bocejo engolir o mundo
Uma só criatura é mais imunda e falsa!
Embora não faça grandes gestos, nem grandes gritos,
Ele de bom grado devastaria a terra!
E num só bocejo engolir todo o mundo;
Ele é o Ennui! Com os olhos cheios de lágrimas ele sonha
com andaimes, enquanto sopra o seu cachimbo de água.
Leitor, tu também conheces este monstro delicado;
-Leitor hipócrita, companheiro, que a mim iguala!
Mui vezes, quando estão afinados, os marujos da equipagem
Apanham albatrozes, as grandes aves dos mares,
Suaves viajantes que acompanham no azul
Navios que deslizam nos mistérios do oceano.
E quando os marinheiros os têm nas pranchas,
Feridos e perturbados, estes reis de todos os exteriores
Deixam, com pesar, o seu rasto ao longo dos flancos
As suas boas asas alvas, envolvendo feito remos inúteis.
Este viajante, como é cómico e fraco!
Outrora belo, como é indecoroso e inepto!
Um marinheiro enfia um cachimbo no bico,
Outro zomba do passo manco do aviador.
O poeta é feito o príncipe das nuvens
Que assombra a tempestade e ri do arqueiro;
Exilado no chão entre as zombarias,
As suas asas gigantes impedem-no de andar.
Correspondências
A natureza é um templo, onde os vivas colunas
O homem caminha entre esses bosques de símbolos,
cada um que o consideram como uma coisa semelhante.
Como os longos ecos, sombrios, profundos,
Ouvidos de longe, misturam-se numa unidade,
Vasto como a noite, como a claridade do sol,
Assim os perfumes, as cores, os sons podem corresponder.
Odores há, frescos como a pele de um bebé,
Suaves como oboés, verdes que nem a erva dos prados.
-Outros corrompidos, ricos, triunfantes, plenos,
Tendo dimensões infinitamente vastas,
Incenso, almíscar, âmbar gris, benjamim,
Cantando o arroubo dos sentidos e da alma.
IDEAL
Não serão estas belezas de vinhetas,
Pobres produtos de um século sem valor,
Pés em meias botas, dedos em castanholas,
Que satisfazem o coração ansioso em mim.
Esse poeta da clorose, Gavarni põe em versos
Pode manter a tua trupe de rainhas doentias,
Já que estas rosas pálidas não me deixam ver
O meu ideal vermelho, a flor dos meus sonhos.
Preciso de um coração abissal na sua profundidade,
Uma alma confirmada no crime, Lady Macbeth,
O sonho de Ésquilo, nascido da tempestade do sul,
Ou tu, grande Noite, filha de Miguel Ângelo,
Tranquilamente torcendo-se numa estranha pose
Os teus apelos feitos das bocas dos Titãs!
Sou feito com o rei de um país chuvoso,
Rico mas sem poder, jovem mas muito velho,
que, desprezando os arcos dos teus tutores,
está amolado com os cães tais com outros animais.
Nada o pode animar, nem a caça nem o falcão,
Nem o teu povo a morrer em frente à varanda.
A balada grotesca do bobo favorito
Já não distrai a fronte deste cruel paciente;
O teu leito florido é decomposto num túmulo,
E os serviçais para quem todo príncipe é belo,
Já não acham uma casa de banho imodesta
Para tirar um instante deste jovem esqueleto.
O alquimista que o desmuda em ouro nunca foi capaz
De extrair o artifício corrompido do teu ser,
E nos banhos de sangue que nos chegaram dos romanos,
e que os poderosos recordam na tua velhice,
Ele não conseguiu aquecer este cadáver atordoado
Onde em vez de sangue vê a água verde do Letes.
quinta-feira, setembro 26, 2024
UM SONETO À MODA DE QUEVEDO - ÉRIC PONTY
Quantos forjares mais ferros ao fado
de mi esperança, tantos oprimidos
arrastareis cantando, e seu ruído
instrumento a mi voz será acordada.
Jovem mal da inveja perdoado,
da cadeia tarde tão redimido,
de quem é pôr não amável foi vendido,
por falar- te vendido fui adorado.
Que pedra se lhe abuso ao soberano
poder, qualificada há de real zelo,
que o remédio frustrasse aquele espera?
Conduzido alimenta, de um camelo,
um a outro profeta. nunca em vão
foi do esperar, para um entre tantas feras.
Éric Ponty
domingo, setembro 22, 2024
Perfumes de Bérgamo - Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty
Ó aroma perfumado
Invade os meus sentidos!
Doce e louco deleite
Permeia o ar roubado.
Desejo enfim alegre
Alegrias há muito olvidadas:
Ó aroma perfumado
Intoxica-me de novo.
A minha melancolia dissipa-se:
Pela minha janela iridescente
Volto a ver os campos azuis
Para lá do horizonte infinito.
Ó aroma perfumado
Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty
sexta-feira, setembro 13, 2024
ária de Sémiramis - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
À alva, caros raios, minha testa sonha com teu diadema!
Assim que se ergue, ele vê com dum olho que dormes,
Sobre mármore absoluto, o tempo de palidez é pintado,
A hora sobre mim desceu e cresceu até ao ouro.
... "Exista! ... Sejas a ti mesma afinal! diz a Alvorada, ,
Ó grandeza alma, é tempo de formar um corpo!
Apressar a propuser vós um dia digno de rebentar,
Entre tantos outros fogos, os vossos tesouros imortais!
Já, contra a noite, a trombeta amargar luta,
Com um lábio vivo atacar o ar gelado;
Ouro puro, de volta em volta, rebenta si próprio,
Recordar todo espaço pra os esplendores do ido!
Voltem ao aspecto real! Saiam das vossas sombras,
E como o nadador, nesta plenitude do mar,
Calcanhar todo-poderoso expulsa-o das águas escuras,
Deixem monstros do teu sangue gerarem na sua cama!
Venho do Oriente para agradar os seus caprichos!
E venho para vos oferecer minha mais pura comida;
Que a tua chama se alimente do espaço e do vento!
Venha juntar-se ao brilho do meu presságio"!
- Respondo! Saio desta minha profunda ausência!
O meu coração puxa-me mortos contra quais meu sono,
Estes versos grandes águia rebentam com o poder,
Leva-me para longe! ... Voo até ao sol!
Levo apenas uma rosa e fujo... A bela seta,
Para flanco!... Minha cabeça dá à luz multidão de passos.
Suba, O Semíramis, dona de uma espada,
Que de coração sem amor brota a única honra!
Seu olhar imperial tem sede do grande império,
A quem o seu ceptro duro faz sentir felicidade.
Atreve-te ao abismo!.... Passe última ponte de rosas!
Aproximo-me de si, por perigo! Mais orgulho zangado!
Estas formigas são minhas! Estas urbes são minhas coisas,
Estas passagens são atributos da minha autoridade!
O meu reino é uma vasta pele de uma besta!
Matei então o leão que usava está pele;
Mas ainda do cheiro do fantasma feroz,
Flutuar com morte, e guardar o meu rebanho!
Enfim, ofereço ao sol segredo dos meus encantos!
Nunca tinha dourado num limite tão gracioso!
Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA TRADUTOR LIBRETISTA