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quinta-feira, janeiro 16, 2020

A tumba vozerio mares marmor campos - Eric Ponty


A semente da paz anunciasse,
trazendo-nos à luz que se vanglória,
passividade caça dos senões,
desocupados prados vagar quadros.

A luzidia manhã encanta-se árvore,
sozinha tece-se alba flores selva,
que ela não há dos pássaros voam.

Os desencantos são tais nos chegam,
densas cortinas anjos estampados,
vozerio coros choros tão pranteados.

Dessa saúde de olhos divindades,
é densa escuma, traz águas pascidas:
Ó meus virgens parques dos lamentos.

II

São vergar hinos março chegam prados,
são sob a borda cantam pelos parques,
mas, esses quem os são vestidos homens,
bela ideia que expostas pelos adros.

Rumor cinturas pobres das criaturas,
imóvel tempo sol maravilhas,
rumor profundos olhos dos caminhos,
libertando da sorte pensamento.

Quando da flama céu expõe primeva
refletir-se da hercúlea primavera,
dos desencantos ondas do poente.

Ah, mais são das quimeras que se vertem,
é mágoa justo éter pasce aos céus
embranquecidas rés das nuvens ágrafas.
  Eric Ponty



domingo, janeiro 05, 2020

Esboço da sua sombra - eric ponty


Quem você é: à noite, saia esboçar

do seu quarto, onde você sabe tudo;

até a última casa antes do distante:

quem você é.

Com seus olhos, expressam cansaço

mal se libertam do limiar desgastado,

você ergue muito devagar uma árvore negra

e assente contra o céu: esbelto, sozinho.

Foi você fez o mundo. E é enorme

e como uma palavra que amadurece em silêncio.



E como sua vontade apreende seu significado,

ternamente seus olhos o soltam ...

eric ponty

terça-feira, novembro 12, 2019

Les fleurs du mal, de Charles Baudelaire - Antonio Carlos Secchin

O desafio de traduzir na íntegra Les fleurs du mal, de Charles Baudelaire,  já foi enfrentado, no Brasil, por alguns  poetas. O pioneiro Jamil Almansur Haddad  teve sua tradução publicada em 1958. Seguiram-no Ivan Junqueira (1985) e, este ano, em lançamentos quase simultâneos, Júlio Castañon Guimarães e Eric Ponty, que é também poeta, autor de Visões de um filho do fim do século, livro  em que reverencia  grandes mestres da poesia  do final  do século  XIX  e do século   XX.  Na  condição de profundo conhecedor da arte do verso, Eric  oferece-nos  em sua As flores do mal   soluções bastante  originais, mantendo-se fiel à metrificação preponderantemente dodecassílaba de Baudelaire, sem se  ater, todavia, ao emprego sistemático da rima do texto francês.  É um privilégio para os leitores brasileiros  poder agora dispor de  quatro  tão diversas  traduções dessa obra-prima da poesia ocidental.
 
Antonio Carlos Secchin

quarta-feira, agosto 07, 2019

Burlesca=

Sábado será a estreia de "Burlesca", para trompa solo no concerto do Prelúdio 21. Escrevi para o trompista e amigo de longa data Sávio Faber a partir de uma imagem e uma poesia de outro amigo, o Eric Ponty. A poesia está publicada no livro "Menino retirante vai ao circo de Brodowski" em que o Eric escreve sobre quadros do grande Portinari. É uma peça de caráter circense, baseado na poesia/quadro "Palhacinhos na Gangorra". O concerto será no CCJF, Centro Cultural Justiça Federal, às 15:00, com entrada franca e terá obras dos amigos do Prelúdio 21: Caio Senna, José Orlando Alves, Marcos Vieira Lucas, Neder Nassaro e Pauxy Gentil-Nunes.

sábado, julho 20, 2019

A morte não terá nenhum domínio - dylan thomas


A morte não terá nenhum domínio.
Os homens nus hão de ser um só
Com o homem no vento e a lua poente;
Quando ossos caiam asseados e os ossos limpos se espalhem,
Terão estrelas no calcanhar e o pé;
Ao que ficarem loucos serão judiciosos,
Ao se fundarem no mar de novo nasceram,
Aos percam os amantes, não se invadiram do amor;
E a morte não terá seu domínio.

A morte não terá nenhum domínio.
Dos que perpetram do tempo os fez
Embaixo dédalos mar não hão padecer dentre os ventos,
Retorcidas angústias quando nervos cederem,
Atados qual as rodas não serão dilaceradas;
As fés de suas mãos, hão partisse em dois,
E farão traspassar-lhes os maus unicornes;
Desfigurados todos dentões, não estalaram.
E a morte não terá seu domínio.

A morte não terá nenhum domínio.
Já gaivotas não gritaram aos ouvidos
Nem romperam ondas sonoras nas praças;
Onde alentou-se uma flor, noutra flor talvez jamais
Ergam à cabeça aos embates da chuva;
Aos que estejam loucos e inteiramente mortos
Em suas cabeças martelarem nas margaritas;
Irromperam ao sol até sol fraqueje,
A morte não terá nenhum domínio.
Eric Ponty

sexta-feira, julho 19, 2019

Não entres docilmente nessa noite quieta - Dylan Thomas

Não entres docilmente nessa noite quieta.
A velhice deveria delirar e arder quando no crepúsculo;
Raiva, raiva, contra a agonia da luz.

Ao que os sábios ao morrer entendam que a treva é justa,
porque suas palavras não relampejaram
não entrem docilmente nessa noite quieta.

Os bons, que atrás a última inquietude chora por esse brilho
com que seus atos frágeis puderam dançar em uma Bahia verde
Raiva, raiva, contra a agonia da luz.

Os loucos que atrapalharam e cantaram ao sol em sua carreira
e aprendem, já mui tarde, que encheram de pena seu caminho
Raiva, raiva, contra a agonia da luz.
não entrem docilmente nessa noite quieta.

Os solenes, próximas a morte, que vem com face deslumbrante
quanto os olhos cegos puderam
alegrar-se e arder como meteoros
Raiva, raiva, contra a agonia da luz.

E tu meu pai, ali, em teu triste apogeu
Maldizer, bendizer, que eu agora imploro
com a veemência de tuas lágrimas.
Raiva, raiva, contra a agonia da luz.

Eric Ponty

quinta-feira, maio 02, 2019

avaliaçao de Jorge Antunes sobre Eric Ponty

Caro Eric:
 
Li os dois libretos e gostei muito.
Arquivos do Éden e "Petrarca" são ótimos.
Dariam belas óperas.
Seu texto é cativante e tem, nas entrelinhas, uma dramaturgia que floresceria com a música apropriada e moderna.
Espero um dia ter a oportunidade de musica-los.
Estou terminando, agora, a ópera "O Espelho", com libreto de Jorge Coli, baseado no conto homônimo de Machado de Assis. É uma encomenda do Theatro São Pedro, de São Paulo, para estreia em julho de 2016.
A questão é esta: compor ópera, com montagem e estreia assegurada e marcada.
Não seria possível compor uma ópera, ser saber se será estreada.
E o problema é atualíssimo.
No caso do libreto do Jorge Coli, tudo funcionou graças ao interesse da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo. O libretista é amigo do Secretário, e seguiu o financiamento.
Enfim, esperemos surgir uma oportunidade parecida, para nosso futuro trabalho conjunto.
Parabéns pelas poesias e pelos libretos.
Abraço,
Jorge Antunes
 
 Olá Eric:
Adorei Yannis Ritsos, em sua tradução.
Parabéns.
Todos os teus textos são ótimos, e carregam o "drama" que poderia dar origem a belas óperas.
Mas o problema é aquele de que te falei há quatro anos: apoio para  encenação.
Viajo no próximo domingo para a Polônia, onde acontecerá a estreia europeia de minha ópera Olga, na Opera Balticka Gdansk.

Começo a trabalhar em nova ópera: Leopoldina (baseada na vida da Imperatriz Leopoldina).
Ganhei o Prêmio Icatu de Artes 2020, com uma residência de um ano em Paris, para escrever essa ópera, que deverá ser estreada em 2022 nas comemorações do Bicentenário da Independência.

Abraço,
Jorge Antunes

sexta-feira, abril 26, 2019

Sobre o tema de Poe - Eric Ponty


Em uma noite pavorosa, inquieto
relei-a um vetusto livro quieto
quando eu cri escutar tão perto
dum estranho ruído, de repente
como si alguém tocasse suavemente
a minha porta: «Visita impertinente
É, ó disse é Sarah nada mais».
II
Ah! me acordo mui bem, era no inverno
e impaciente media o tempo eterno
cansado de buscar além da imago
nos livros a calma bem chora
a dor de minha morta de outrora
que habita com os anjos agora
e será para sempre jamais!
III
Senti ao sedento e rangido e elástico
rosar das cortinas, um fantástico
aterrorizado, como jamais
sentido havia, e quis aquele ruído
explicando, meu espírito oprimido
acalmar por fim: «Um viajador perdido
É, ó disse é Sarah nada mais».
IV
Já sentindo mais calmo: «Cavaleiro
exclamei, a dama, suplicar-lhe quero
os sirva excursar ante atenção
mas minha atenção no estava bem desperta
e foi vossa chamada tão incerta…».
Abriu então de par em par a porta:
Vi somente Trevas nada mais.
V
Observo ao espaço, exploro a treva
E sinto então minha mente povoa
turbava-se de ideias das quais
nenhum outro mortal as tivesse antes
e escuto com ouvidos ansiosos
«De outrora umas vozes sussurrantes
E a me murmurar Sarah nada mais.
VI
Volvo a minha estancia pavor secreto
e a escutar torno pálido e inquieto
e o mais forte golpear inda mais.
«Algo, me digo, toca em minha janela,
compreender quero o sinal arcano
e acalmar esta angustia sobre-humana»:
e a atmosfera e Sarah nada mais!
VII
E a janela abri: revolteando
vi então grande corvo venerando
Como pássaro uma outra idade.
Sem maior ritual entrou em minhas salas
com gesto senhorial e negras asas
e sobre um busto, no dintel, de Palas
posou tão rente e nada mais.
VIII
Admiro à ave negra, sorridente
ante sua grave e sério continente
e lhe princípio a falar demais,
não sim um deixo de intenção irónica:
«Ó corvo, ó veneranda ave anacrónica,
qual é teu nome na região plutónica?».
Disse-me o corvo taciturno: «Jamais».
IX
Neste caso ao par grotesco e raro
Maravilhei-me ao escutar tão claro
tal nome pronunciar-me,Sarah jamais
e devo confessar que senti susto
pois antes nada, creio, tive o gosto
dum corvo ver, apossado sobre um busto
com tal obrar nome: « Sarah Jamais».
X
Qual se houvesse vertido nesse acento
n´alma, silenciou ave e num momento
as plumas moveram já, demais
«outros de mim hão ruído e se me alcança
que ele partirá amanhã sem tardança
como me há abandonado a esperança,
Disse-me o corvo taciturno: « É Sarah Jamais».
XI
Uma resposta ao escutar tão turva
me disse, não sem inquietude secreta:
«É isto Sarah nada mais
quanto aprendi-o dum amo infortunado,
a quem tenaz há perseguido ao fardo
por só estribilho há conservado
esse dizer-me Sarah Jamais Sarah Jamais ».
XII
Rolei meu assento até ficar enfrente
da porta, do busto e tão de vidente
corvo, e então já se põe
reclinado na branda sedaria
exsuemos fantásticos me fundia,
pensando sempre que dizer queria
daquele soar Sarah Jamais jamais, jamais.
XIII
Largo tempo ficará assim em repouso
aquele entranho pássaro ominoso
mirando-o sem cessar, apático
ocupndo o divã de veludo a ver imago Sarah
dois juntos nos sentamos e em meu duelo
pensava que ela, nunca neste solo
o eu pudesse ocuparia mais.
XIV
Então aprecio-me ao aspecto denso
com o aroma de queimado incenso
e de um invisível altar;
e escuto vozes repetir ferventes:
«Olvida a de outrora, bebe o nepenthes,
bebe o olvido em suas letais fontes».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais!
XV
«Profeta, disse, augir de outras idades
que arrojaram negras tempestades
aqui para minha enfermidade,
hospede desta morada de tristeza,
de fosco engenho da noite escura,
bálsamo fará ao fim a minha amargura».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais
XVI
«Profeta, disse, o diabo, infausto corvo
por Deus, por mim, por minha dor acerbo,
por teu poder fatal, faz venal
diga-me si alguma vez a de outra
volverá a ver na eternal aurora
donde feliz com os querubins mora».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais!
XVII
«Que seja tal palavra a porteira,
retornará a plutónica ribeira»,
gritei, «não me aqui volvas mais,
não deixes nem marca, nem uma pluma,
e meu espírito envolto em densa bruma
libra por fim do peso que lhe abruma!».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais
XVIII
E o corvo imóvel, fúnebre e adusto
segue sempre de Palas sobre o busto
embaixo do meu fanal jaze final
Projeta mancha lúgubre na alfombra
e seu olhar de demônio assombra…
Aí! Minha alma enlutada de sua sombra Sarah
se livrará? Libertará jamais! Sarah Jamais!
Eric Ponty