Pesquisar este blog

sexta-feira, abril 26, 2019

Sobre o tema de Poe - Eric Ponty


Em uma noite pavorosa, inquieto
relei-a um vetusto livro quieto
quando eu cri escutar tão perto
dum estranho ruído, de repente
como si alguém tocasse suavemente
a minha porta: «Visita impertinente
É, ó disse é Sarah nada mais».
II
Ah! me acordo mui bem, era no inverno
e impaciente media o tempo eterno
cansado de buscar além da imago
nos livros a calma bem chora
a dor de minha morta de outrora
que habita com os anjos agora
e será para sempre jamais!
III
Senti ao sedento e rangido e elástico
rosar das cortinas, um fantástico
aterrorizado, como jamais
sentido havia, e quis aquele ruído
explicando, meu espírito oprimido
acalmar por fim: «Um viajador perdido
É, ó disse é Sarah nada mais».
IV
Já sentindo mais calmo: «Cavaleiro
exclamei, a dama, suplicar-lhe quero
os sirva excursar ante atenção
mas minha atenção no estava bem desperta
e foi vossa chamada tão incerta…».
Abriu então de par em par a porta:
Vi somente Trevas nada mais.
V
Observo ao espaço, exploro a treva
E sinto então minha mente povoa
turbava-se de ideias das quais
nenhum outro mortal as tivesse antes
e escuto com ouvidos ansiosos
«De outrora umas vozes sussurrantes
E a me murmurar Sarah nada mais.
VI
Volvo a minha estancia pavor secreto
e a escutar torno pálido e inquieto
e o mais forte golpear inda mais.
«Algo, me digo, toca em minha janela,
compreender quero o sinal arcano
e acalmar esta angustia sobre-humana»:
e a atmosfera e Sarah nada mais!
VII
E a janela abri: revolteando
vi então grande corvo venerando
Como pássaro uma outra idade.
Sem maior ritual entrou em minhas salas
com gesto senhorial e negras asas
e sobre um busto, no dintel, de Palas
posou tão rente e nada mais.
VIII
Admiro à ave negra, sorridente
ante sua grave e sério continente
e lhe princípio a falar demais,
não sim um deixo de intenção irónica:
«Ó corvo, ó veneranda ave anacrónica,
qual é teu nome na região plutónica?».
Disse-me o corvo taciturno: «Jamais».
IX
Neste caso ao par grotesco e raro
Maravilhei-me ao escutar tão claro
tal nome pronunciar-me,Sarah jamais
e devo confessar que senti susto
pois antes nada, creio, tive o gosto
dum corvo ver, apossado sobre um busto
com tal obrar nome: « Sarah Jamais».
X
Qual se houvesse vertido nesse acento
n´alma, silenciou ave e num momento
as plumas moveram já, demais
«outros de mim hão ruído e se me alcança
que ele partirá amanhã sem tardança
como me há abandonado a esperança,
Disse-me o corvo taciturno: « É Sarah Jamais».
XI
Uma resposta ao escutar tão turva
me disse, não sem inquietude secreta:
«É isto Sarah nada mais
quanto aprendi-o dum amo infortunado,
a quem tenaz há perseguido ao fardo
por só estribilho há conservado
esse dizer-me Sarah Jamais Sarah Jamais ».
XII
Rolei meu assento até ficar enfrente
da porta, do busto e tão de vidente
corvo, e então já se põe
reclinado na branda sedaria
exsuemos fantásticos me fundia,
pensando sempre que dizer queria
daquele soar Sarah Jamais jamais, jamais.
XIII
Largo tempo ficará assim em repouso
aquele entranho pássaro ominoso
mirando-o sem cessar, apático
ocupndo o divã de veludo a ver imago Sarah
dois juntos nos sentamos e em meu duelo
pensava que ela, nunca neste solo
o eu pudesse ocuparia mais.
XIV
Então aprecio-me ao aspecto denso
com o aroma de queimado incenso
e de um invisível altar;
e escuto vozes repetir ferventes:
«Olvida a de outrora, bebe o nepenthes,
bebe o olvido em suas letais fontes».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais!
XV
«Profeta, disse, augir de outras idades
que arrojaram negras tempestades
aqui para minha enfermidade,
hospede desta morada de tristeza,
de fosco engenho da noite escura,
bálsamo fará ao fim a minha amargura».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais
XVI
«Profeta, disse, o diabo, infausto corvo
por Deus, por mim, por minha dor acerbo,
por teu poder fatal, faz venal
diga-me si alguma vez a de outra
volverá a ver na eternal aurora
donde feliz com os querubins mora».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais!
XVII
«Que seja tal palavra a porteira,
retornará a plutónica ribeira»,
gritei, «não me aqui volvas mais,
não deixes nem marca, nem uma pluma,
e meu espírito envolto em densa bruma
libra por fim do peso que lhe abruma!».
Disse-me o corvo taciturno: Sarah Jamais
XVIII
E o corvo imóvel, fúnebre e adusto
segue sempre de Palas sobre o busto
embaixo do meu fanal jaze final
Projeta mancha lúgubre na alfombra
e seu olhar de demônio assombra…
Aí! Minha alma enlutada de sua sombra Sarah
se livrará? Libertará jamais! Sarah Jamais!
Eric Ponty

Nenhum comentário: