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sábado, dezembro 13, 2025

ZEUS - Albert GIRAUD - TRAD. ERIC PONTY

Sob a coroa de um bando de águias imóveis,
Com grandes olhos fechados para um sonho eterno,
Zeus contém em seu seio todos os deuses inúteis 
E sozinho preenche o abismo deslumbrante do céu.

Desde sempre ele dorme seu sono solitário, 
do qual nada no futuro o despertará: 
Ele rola em sua noite os sóis e a terra,
sonhando com tudo o que foi e tudo o que será.

Nosso orgulho enlouquecido durante uma breve hora
Crê agir e se esgota em gestos decepcionantes: 
A ação tão alardeada, ó vertigem! É um sonho
Inspirado por seu sonho em sonhos vivos.

O desejo de criar que corrói nossa alma
É apenas um jogo de seu sonho sem fim,
criou a obra de beleza que sonhamos,
O sonho impassível desse sonhador divino.

Albert GIRAUD - TRAD. ERIC PONTY

   

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

segunda-feira, dezembro 08, 2025

ELEGIAS A CASA DA MINHA MÃE - Marceline Desbordes-Valmore - TRAD. ERIC PONTY

 IN MEMORIAN D. RISOLETA NEVES

 Casa do nascimento, ó ninho, doce recanto do mundo!
Ó primeiro universo, onde nossos passos se voltaram!
Quarto ou céu, cujo coração guarda o mapa-múndi,
no fundo do tempo vejo o teu limiar abandonado.
Partirei cega e sem guia até à tua porta,
para tocar o berço nu que se dignou a alimentar-me.
Se eu ficar velha e fraca, que me levem até lá!
Não pude viver ali quando criança, mas gostaria de morrer ali,
caminhar em nosso pátio onde crescia um pouco de grama,
onde a aves de nossos telhados descia para beber e depois,
para deitar seus filhotes, bicava o humilde feixe,
entre as pedras azuis molhadas pelo grande poço!
Com tua frescura distante, ele ainda lava minha alma,
do presente que me queima, ele apaga a chama,
esse poço largo e dormido com cristal recluso
onde minha mãe banhava seu filho amado.
Quando ela embalava o ar com tua voz sonhadora,
quando ela estava calma, alva e pacífica à noite,
saciando a sede do pobre sentado, como se acredita ver
nos riachos da Bíblia uma lavadeira fresca!
Ela tinha sotaques de amor harmonioso    
que eu bebia com o peito enquanto brincava no pátio.
Céu! De onde vem a voz de uma mãe que canta
para ajudar o sono a descer ao berço?
Deus botou mais graça no sopro de um riacho?
É o Éden reaberto ao seu hino comovedor,
deixando no coxim da criança que dorme,
nascer todos os sóis que lhe ocultam a morte?
E a criança adormecida, sob essa alma velada,
reconhece os sons de uma vida passada?
É um cântico aprendido ao partir do céu,
onde a demitida de um jovem anjo deitou um pouco de mel?
Obrigado, meu Deus! Obrigado por este hino profundo,
ainda chorando em mim entre as risadas do mundo,
enquanto me sento em algum canto sonhador
para ouvir minha mãe, ouvindo meu coração:
esse distante adeus de sua alma à minha alma
sustenta, ao ressoar, minha fraqueza de mulher;
qual ao junco que se inclina com a brisa em teu curso
dizes-te: “Não caia! Eu venho em teu socorro.”
Ela tornou meus joelhos flexíveis à oração.
Aprendi com ela, Senhor, de onde vem a tua luz,
quando divertia meus olhos vendo brilhar os olhos dela,
que só deixavam minha fronte para falar com os céus.
Na hora do trabalho que fluía plena e pura,
eu cria que as mãos dela regiam a natureza,
instruída por Cristo, inclinada à tua voz,
que ela ouvia em oração e com a face prostrada.
Eu realmente cria nisso! E com uma fé tão terna
que me semelhava ouvir Cristo na parede:    
eu via visivelmente que, qual mulher, ela se curvava a Deus,
mas minha mãe, depois dele, ensinava isso em todos os lugares.
O sol ardente de junho que ria no quarto,
a lareira cujos clarões iluminavam dezembro,
os frutos, os trigos em flor, minha noite fresca.

Marceline Desbordes-Valmore - TRAD. ERIC PONTY

 ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

sexta-feira, dezembro 05, 2025

TRISTAN CORBIÈRE – TRADUÇÕES ERIC PONTY

 AOS FILHOS DO SACRIFÍCIO – ISAAC


Uma vez que não é permitido neste país livre,
Que, no entanto, foi a França e ainda pretende sê-lo,
Falar livremente de um homem livre e senhor
De si mesmo, de um cidadão, de um artista, - obedeça,

Então, ao monstro analfabeto e hediondo, spahi,
Que, no entanto, com suas retrocessões, te fez renascer
E, apesar de ti, fez nascer da sua boca costurada
Por três dedos de raki, campos de mortos espantados.

Uma vez que ele não sobreviveu a essa honra perdida
E, além disso, que sobrevivência poderia ser
Para aquela que permanece França, mas Aparência,
Quando Pátria rima com Morte, diga-lhe bem que invadida.

Seus restos mortais podem repousar na Ática,
nas antigas Cíclades ou na África,
o que nos importa a fé, se é que ela é imperativa?

(Neste século pouco crítico, não há ateu
Que realmente queira converter-se a Yahvé),
Pois por ela também se fenece, quais bezerros.


É sem dúvida afável entre a sombra e a poltrona
Nas profundas estações silenciosas
Falar de arte e literatura. Preciosa
É sem dúvida também a ridícula ociosa
Ó verde donzela, e estudiosa
Crítica nas suas horas para um Monsieur Crevel
Legionário burguês doutor em biologia
Versículos das ciências criador, Bette:
Que se ofereças protegida pela vela.
Na lua branca que mata as Musas
Ridícula musa tão sensual
Bela para quem toda a Filosofia
Dorme em manuais falsa esteta doutora
Ó deusa, Popote filha do tédio
Zombada pelos senhores feios dos ministérios
Os sábios reprodutores de resoluções
Matemáticos sem matemática
E a hidra feia do comércio Biroteau,
Eu mesmo desisti de fazer para vocês
Uma balada, pois vocês me envergonham
Vocês, da minha pobre universidade parasitária
Vermes secos, ratos roedores de livros
Um dia, antes de vomitar, escreverei para vocês
Uma ode cômica ou uma elegia.

E se minha música estiver um pouco sem música,
Acrescente flautas e um tambor,
E também os metais do bom e velho rock.

Norbert-Bertrand Barbe - POÈMES À TRISTAN CORBIÈRE


ÇA?    

Ensaios? - Ora, eu não tentei a fazer soslaio!
Estudo? - Preguiçoso, eu nunca saqueei.
Volume? - Muito encadernado para ser relido...
Cópia? - Infelizmente não, não é remunerado.

Um poema? - Obrigado, mas lavei minha lira.
Um livro? - ... Um livro, mais uma vez, é algo para se ler!
Documentos? - Não, não, graças a Deus, está costurado!
Álbum? - Não é branco e é muito desconexo.

Rimas? - Por onde começar? ... E isso não é bonito.
Uma obra? - Não é polida nem repolida na vida.
Canções? - Eu gostaria muito, ó minha pequena musa! ...
Passatempo? - Achas, então, que isso me diverte?

TRISTAN CORBIÈRE – TRADUÇÕES ERIC PONTY

  

 ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

quarta-feira, dezembro 03, 2025

TRÊS POEMAS - Alexander Block- Trad.Eric Ponty

  P/ÁLVARO CARDOSO GOMES 

 INTRODUÇÃO


Partiste para os campos sem retorno.
Que o teu nome seja santificado!
Mais uma vez, as lanças rubras do pôr do sol
Estenderam suas pontas para mim.

Apenas à sua flauta dourada
Nos dias sombrios, meus lábios se unirão.
Se todas as súplicas ecoaram,
Oprimido, repousarei no campo.

Passarás em porfírio dourado -
Não sou eu quem abrirá os olhos.
Deixe-me respirar neste mundo dormido,
Beijar a passagem irradiado...

Ó, arranque minha alma enferrujada!
Descansem-me com os santos.
Tu, que segura o mar e a terra
Com tua mão fina e imóvel!

Ela se transformou


Terra deserta!
No Oeste, brilhando com o frio,
O sol, qual capacete de cobre de guerreiro,
Com o rosto triste voltado
Para outros horizontes,
Para outros tempos...

E o chapéu - uma nuvem dourada -
Se eleva com penas brancas
Acima da beleza ousada
Das minhas vestes noturnas!

E as asas lamentáveis da lua -
Asas de espantalho de corvo -
Brilham como um capacete solar,
Refletindo o brilho do entardecer...
Refletindo a felicidade...

E cruzes - janelas distantes
E os cumes da floresta dentada -
Tudo respira indolente
E com a branca dimensão
Da primavera.

BOLOTNYE CHERTENYATKI

A. M. Remizov


Eu te afugentei com o chicote
Ao meio-dia, pelo meio dos arbustos,
Para esperarmos aqui juntos
O silêncio do vazio.

Aqui estamos nós, sentados no musgo,
No meio dos pântanos.
O terceiro - o mês lá em cima -
Contorceu a boca.

Eu, como você, filho dos bosques
Meu rosto também está apagado.
Mais silencioso que as águas e 
mais baixo que as ervas
Um diabo empobrecido.

No chapéu ridículo
O sino das separações.
Atrás dos ombros - ao longe -
A rede dos arcos do rio...

E nós ficamos sentados, bobos, -
Sem vida, sem força das águas.
As tampas ficam verdes
De trás para frente

O sono contaminado da água,
A ferrugem das ondas... 
Nós somos vestígios olvidados
Da profundidade de alguém...

Alexander Block- Trad.Eric Ponty

  

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

DOIS POEMAS - Maurice Maeterlinck- Trad. Eric Ponty

 P/ÁLVARO CARDOSO GOMES  

ORAÇÃO

ORAÇÃO Dó, meu Deus, compaixão, 
Que já falho no limiar da vontade! 
Pálida está minha alma diante da impotência, 
Diante da impotência branca e da inércia. 

A alma com as ações pela metade, 
A alma, pálida de choro e lamentações, 
Vê diante do inexplorado suas mãos fracas 
E débeis tremer e desanimar. 
E enquanto do coração sobem bolhas de sonho azul-violeta, 
um raio de lua molha suas mãos fracas, 
pálidas como cera, com seu fio prateado, um raio de lua, 
no qual já vive um brilho dos dias murchos dos lírios, 
do qual se ergue a sombra de suas mãos.

II    

Os medos de uma mulher conter-se meu peito:
Com que fiz com estes, minha parte,
Minhas mãos, os lírios da minha alma,
Meus olhos, os céus do meu coração?

Ó Senhor, tenha piedade da minha dor:
Perdi a palma e o anel, ai de mim!
Tenha piedade das minhas orações, meu pobre alívio,
Flores cortadas e frágeis em um vaso.

Tenha dó da infração da minha boca,
E das coisas não feitas, e das palavras não ditas;
Derrame lírios sobre a seca da minha febre,
E rosas sobre os pântanos!
    
Ó Deus! As pombas cujos voos são dourados,
Nos céus lembrados! Tenha piedade também,
Destas vestes que envolvem os meus lombos,
Que sussurram à minha volta, vagamente azuis!

Maurice Maeterlinck- Trad. Eric Ponty

  

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

TÊTE DE FAUNE - ARTHUR RIMBAUD – TRAD. ERIC PONTY

P/ÁLVARO CARDOSO GOMES  

NA folhagem, um verde tesouro salpicado de ouro,
Nessa folhagem incerta e florida
De esplêndidas flores onde o beijo repousa,
Vivo e perfurando a requintada bordaria,

Um fauno espantado mostra seus dois olhos
E morde as flores rubras com seus dentes alvos:
Bronzeada e feral qual um vinho velho,
Seu lábio estoura em risos sob os galhos.

E quando ele foge - qual um esquilo -
Seu riso ainda treme em cada folha,
E vemos assustado por um pintassilgo
O Beijo de Ouro do Bosque, que se recolhe.

ARTHUR RIMBAUD – TRAD. ERIC PONTY

  

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

terça-feira, dezembro 02, 2025

A CIDADE MORTA - STEFAN-GEORGE- TRAD. ERIC PONTY

A ampla baía preenche o novo porto.
Toda a beleza do país é sugada por uma lua
Das paredes brilhantes e ásperas das casas.
Ruas intermináveis com a mesma ganância
A multidão negocia durante o dia e se diverte à noite.
Apenas escárnio e piedade sobem até a mãe
No rochedo acima, com paredes negras
Empobrecida, jaz olvidada pelo tempo.

A fortaleza silenciosa vive, sonha e vê
Igual sua torre se ergue em raios eternos de sol.
O silêncio protege suas imagens sagradas.
E nas ruas gramadas, seus moradores
Os membros florescem pelo meio do tecido gasto.
Ela não sente dor. Ela sabe que o dia está a chegar:
Dos palácios luxuosos
Subindo a montanha, vem um cortejo suplicante:

Uma tristeza desoladora nos assola e nos corrompe
Se não nos ajudarem, definharemos em fartura.
Concedam-nos o ar puro de suas alturas
E fontes límpidas! Deparamos descanso no pátio
E no estábulo e em cada interstício de um portão.
Aqui, valorizem como nunca viram - as pedras
Igual a carga de cem navios preciosos. Fecho
E maduração de toda a extensão do país!

Mas vem uma resposta severa: >Aqui não há dó.
O que era bom para vocês está destruído.
Apenas sete foram salvos, aqueles que vieram outrora
E aos quais nossos filhos sorriam.
A morte os atingirá a todos. Já o seu número é um sacrilégio.
Vão com a falsa pompa que repugna aos nossos meninos!
Vejam como seus pés descalços vejam quais seus pés descalços

STEFAN-GEORGE- TRAD. ERIC PONTY

  

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA