P/ÁLVARO CARDOSO GOMES
ORAÇÃO
ORAÇÃO Dó, meu Deus, compaixão,
Que já falho no limiar da vontade!
Pálida está minha alma diante da impotência,
Diante da impotência branca e da inércia.
A alma com as ações pela metade,
A alma, pálida de choro e lamentações,
Vê diante do inexplorado suas mãos fracas
E débeis tremer e desanimar.
E enquanto do coração sobem bolhas de sonho azul-violeta,
um raio de lua molha suas mãos fracas,
pálidas como cera, com seu fio prateado, um raio de lua,
no qual já vive um brilho dos dias murchos dos lírios,
do qual se ergue a sombra de suas mãos.
II
Os medos de uma mulher conter-se meu peito:
Com que fiz com estes, minha parte,
Minhas mãos, os lírios da minha alma,
Meus olhos, os céus do meu coração?
Ó Senhor, tenha piedade da minha dor:
Perdi a palma e o anel, ai de mim!
Tenha piedade das minhas orações, meu pobre alívio,
Flores cortadas e frágeis em um vaso.
Tenha dó da infração da minha boca,
E das coisas não feitas, e das palavras não ditas;
Derrame lírios sobre a seca da minha febre,
E rosas sobre os pântanos!
Ó Deus! As pombas cujos voos são dourados,
Nos céus lembrados! Tenha piedade também,
Destas vestes que envolvem os meus lombos,
Que sussurram à minha volta, vagamente azuis!
Maurice Maeterlinck- Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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