SONETO
(Epígrafe)
Ele viveu ora alegre qual um pássaro,
Ora apaixonado, despreocupado e terno,
Ora sombrio e sonhador qual triste Clitandre.
Um dia, ouviu alguém tocar à sua porta.
Era a Morte! Então ele a pediu para esperar
Até que ele terminasse seu último soneto;
E então, sem se emocionar, ele foi se deitar
No fundo do baú frio onde seu corpo tremia.
Ele era preguiçoso, segundo conta a história,
Deixava a tinta secar demais na escrivaninha.
Ele queria saber tudo, mas não apreciou nada.
E quando chegou o era em que, cansado dessa vida,
Numa noite de inverno, enfim sua alma foi levada,
Ele partiu dizendo: Por que eu vim?
A VICTOR HUGO (NERVAL)
Da sua amizade, mestre, levando esta prova,
Eu mantenho, portanto, sob meu braço o Reno.
— Eu pareço um rio.
E sinto-me crescer com a comparação.
Mas será que o rio sabe, pobre Deus selvagem,
O que lhe dá um nome, uma nascente, uma margem,
E se ele corre para todos, qual é a razão.
Sentado no cume da imensa natureza,
Talvez ele ignore, como a criatura,
De onde vem esse benefício que deve aos Imortais:
Eu sei que de você, doce e santa hábito,
Vem o Entusiasmo, o Amor e o Estudo,
UMA MULHER É O AMOR
Uma mulher é o amor, a glória e a esperança;
Aos filhos que ela orienta, ao homem consolado,
Ela eleva o coração e acalma o sofrimento,
Como um espírito dos céus exilado na terra.
Curvado pelo trabalho ou pelo destino,
O homem se ergue com sua voz e sua face se ilumina;
Sempre impaciente em sua corrida limitada,
Um sorriso o domina e seu coração se suaviza.
Neste século de ferro, a glória é incerta:
É preciso se resignar a esperar por ela por muito tempo.
Mas quem não amaria, em sua graça serena,
A beleza que a dá ou que a faz ganhar?
À SENHORA HENRI HEINE
Tem olhos negros e é tão bela,
Que o poeta vê brilhar em ti a centelha
Que anima a força e que invejamos:
O gênio, por sua vez, incendeia todas as coisas;
Ele lhe devolve sua luz, e tu és a rosa
Que se embeleza sob teus raios.
O PÔR DO SOL
Quando o sol da tarde percorre as Tuileries
E incendeia as janelas do castelo,
Eu sigo pela Grande Allee e seus dois espelhos d'água
Totalmente mergulhado em meus devaneios!
E daí, meus amigos, é uma vista muito formosa
Ver, quando a noite espalha seu véu ao redor,
O pôr do sol, um quadro rico e comovente,
Emoldurado pelo arco da Estrela!
Gérard de Nerval - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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