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terça-feira, novembro 18, 2025

PRÓLOGO - GEORGES RODENBACH - TRAD. ERIC PONTY

 À Senhora X.

A você, cujos cabelos alvos como a neve e claros
Emolduram suavemente o rosto indulgente,
- Assim, nas grandes florestas, velho carvalho fica prateado
Com os fios alvos da Virgem no final do verão,

A você, tão a antiga, tão boa, tão única,
Para quem eu abri as cortinas da minha vida,
A você, cuja alma é tão pura quanto suas faixas,
E que eu amo para sempre como se ama uma avó,

A vocês que compreendem, sem terem feito, o mal
E a fatalidade que dorme no fundo das coisas,
E que também sonham diante dos pores do sol rosados
Onde passam soluços no vento aromático,

A vocês, cujo perdão já me é garantido,
Pelo negro que se mistura com a brancura de outrora,
Quero contar-lhes lentamente, em voz baixa,
Toda a felicidade obscura da minha infância feliz.

Infância! Distância de onde vem sua doçura!
Nuance onde a cor se eterniza em tom suave,
Tríptico religioso sombreado por uma pátina
Que bota seu verniz escurecedor sobre fundos dourados.

Juventude! Infância! Atração pelas coisas ofuscar-se!
Estrelas mais claras no lago azul do coração!
Canção de órgão estridente cuja languidez
Expira em sons feridos no distante das ruas.

Quero falar-vos da cidade com frontões negros,
Antiga cidade flamenga onde as paróquias próximas
Quando eu era criança, faziam os seus sinos chorar
Duma despedida daqueles que morriam ao anoitecer!

Quero reconstruir a casa paterna
Antes da ausência, antes da morte, antes dos lutos:
As irmãs, ainda jovens, repousando nas cadeiras de vime
E o jardim em flor e a videira na pérgula.

Quero reviver uma hora à sombra das grandes paredes,
Na antiga escola onde nossas almas plácidas
Se abriam como uma igreja com profundas absides
Com vitrais dourados cheios de rostos puros.

Quero levá-lo de volta a esses anos tranquilos:
Continuei o mesmo depois de muitas dores;
O manto da minha Alma tem todas as suas cores,
Mas meus olhos estão mais cansados que rosas murchas.


Pois em nossos dias de ódio e tempos de lutas,
Eu fui um daqueles que sofrem, isolados por sua languidez,
Sem terem encontrado a Mulher que consola
E enche o coração só de falar baixinho.

Eu fui um desses sonhadores dolorosos e tímidos!
Eles gastaram tudo, sem receber nada em troca,
Mas ninguém soube do seu glorioso mal:
O mal dos corações ingênuos e das almas cândidas.

Não importa! Meu sofrimento é bom! Tenho pena daqueles
Que não têm mais o orgulho de ser melancólicos,
Guardando, como eu, as relíquias devotas,
As relíquias de infância que enchem minhas gavetas.

Sobretudo porque em ti, minha querida antiga amiga, eu me abro
Em um sussurro da minha mente para a sua!
Venha, então; vamos continuar a conversa
No jardim murcho da minha Juventude Alva.

Neste jardim deserto, neste jardim fechado,
Neste jardim florido de lírios, salpicado de velas,
Onde outrora avançavam virgens incomparáveis
Cujos lábios exalavam o perfume do mês de maio.

Mas este parque está à mercê do insulto dos espinhos,
E meus sonhos antigos, no distante e gelado,
Como mármores alvos, estendem seus braços quebrados
E com seus olhos apagados choram nas fileiras.

Pobre parque invadido pelo outono e pela noite,
Que sofre ao evocar seu amanhecer abolido;
Ele está sombrio, está vazio e minha melancolia
O envolve inteiramente como uma cerca preta!

GEORGES RODENBACH - TRAD. ERIC PONTY

     ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA   

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