A água sábia se rematou em muretas de vidro,
De onde o mundo lhe parece mais vago e distante;
Ela é morna, e nenhum vento gelado a areja;
Nada mais se reflete nesses espelhos sem reflexo
Onde, sozinha, ela tem a impressão de ser mais vasta
E de se prolongar infinitamente!
Por estar reclusa, ela se purifica, torna-se casta,
E seu destino se uniu ao do vidro,
Para ser assim um único sono salpicado de sonhos!
Água do aquário, noite sombria, claro-escuro,
Onde passa o pensamento em ares breves
Das sombras duma grande árvore sobre uma parede.
Tudo é sonho, tudo é solidão e silêncio
No aquário, puro por ter renunciado,
E mesmo o sol, com seu duro golpe de lança,
Não fere mais seu cristal escuro.
A água agora é toda do jogo dos peixes calmos
Ventilando seu descanso com suas barbatanas silenciosas;
A água agora é toda das plantas pensativas,
Cujo aumento, voluntariamente cativo, se ramifica,
Que, bordando-a como sonhos, são sua vida
Interior, e são seus esquemas mentais.
E, rica assim por estar fechada, a água se escuta
Por meio dos peixes e das ervas verdes;
Ela está fechada ao mundo e possui-se diretamente,
E nenhum vento extingue seu frágil universo.
II
O aquário onde o olhar desce e mergulha
Deixa ver toda a água, não mais no horizonte,
Mas em sua profundidade, seu infinito de sonhos,
Sua vida interior, exposta sob a divisória.
Ah! Mais a mesma, e tão diferente da superfície!
Normalmente, a água vigia, horizontal, ao longe.
Parece dedicada a esse único e sutil cuidado:
ser sensível ao vento leve que passa;
querer ser apenas um teclado para os juncos;
e querer ser apenas uma rede para os pássaros.
Graças às malhas que formam os galhos refletidos;
E não querer ser mais do que um espelho silencioso
Onde as estrelas se ampliam de repente;
E, acima de tudo, não querer, em sua calma ociosa,
Mais do que adornar-se com reflexos, com cores acolhedoras,
Maquiagem diluída do rosto das Ofélias!
Jogos fúteis! Eles são a vida aparente da água,
Uma identidade falsa, uma maquiagem vaga...
Mas no aquário acalma-se a água inconstante
Que se isola entre moiras em halo.
O mistério está à mostra, que mal se suspeitava!
É a alma da água que finalmente se revela aqui:
Formigueiro febril sob o cristal transido;
Zonas onde monstros pegajosos travam guerra;
Vegetação fina, ervas, pérolas, brilhos;
E peixes cautelosos que se movem suavemente;
E cascalho sustentando alguma rosa actínica,
Que não se sabe se é um sexo ou uma joia;
E essas bolhas sem rumo, vindas não se sabe de onde,
Que constavam e bordam a água demasiado uniforme
Como se caísse um colar de prata!
Ah! Tudo o que o aquário sombrio encerra!
Aqui, a água não é toda vida na superfície,
É apenas uma tela dócil que reflete imagens...
Aqui está ela, recolhida, em sua casa de vidro,
Amando apenas o que, dentro dela, verdeja, vagueia
E cria em seu interior um universo melhor!
Assim, minha alma, solitária, e nada a influência!
Ela está, como em vidro, encerrada em silêncio,
Totalmente dedicada ao seu espetáculo interior,
À sua espécie de vida íntima e subaquática,
Onde os sonhos brilham na água prateada.
E o que a Vida lhe faz então? E o que são ainda
Esses reflexos superficiais, cenário efêmero?
GEORGES RODENBАCH - TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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