Teus olhos estão no coração das pedras incrustadas,
E os traços luminosos de teus olhares vagos
Quebram com fogos vivos a noite dos meus pensamentos,
Ó Presença imanente, Ó por todas as partes,
Tu que envolves toda uma margem tão doce
Que um dia sem é para mim apenas um dia de ferro,
Que me oprime com um peso que meu suspiro repele
E que termina em um século exímio no inferno...
Enquanto tudo o que vive ao meu redor me irrita,
E dentro de mim a própria obra é um sonho importuno,
Para Ti, eu fujo para ti, qual um pássaro se abriga,
E a alma obedece ao Teu perfume secreto,
Respiro em espírito o mais terno dos quartos,
onde, entre lençóis puros, perto das flores, perto do fogo,
o poder do amor que sonha em teus membros
do sorriso que amo acolherá meu desejo.
Eu dissipo a passagem e, voando para o deleite,
Aboli sob meus passos os degraus preciosos
Que levam até o limiar do teu cálice sedoso
Minha sede de reencontrar teus olhos certos.
Minha espera pelo amor está cansada de fingir;
Quero bebê-lo e fechá-lo e vê-lo afetuoso
reabrir-se, quando o abuso da beleza de nos unirmos
nos permite sorrir então ao teu latejo.
PAUL VALÉRY - TRAD. ERIC PONTY
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