Ó velha lâmpada, ó velha amiga, à tua luz
Quantos livros li, quantos versos escrevi!
Sob o teu humilde abajur, quantas vezes me viste
Vigiar, quando o sono corava minhas pálpebras!
Lâmpada barriguda e baixa, em cobre amassado,
Como ainda se vês em aparadores antigos,
Você recebeu muitas vezes confidências sérias:
Eu lhe falei das minhas esperanças mais secretas.
Lâmpada, por muito tempo foi minha única amiga;
E, quando eu morava lá em cima, sob o telhado,
Somente as noites caídas ao teu redor eram doces para mim...
E das charretes circulavam pela rua dormida.
Quantas vezes, abordoado na minha mesa de lenho alvo,
Construí existências com o teu pó dourado,
E quantas vezes rimava, para quem sabes, estrofes,
Dobrando minha face pálida em teu círculo trêmulo!
E quando o amanhecer rosado despontava,
Quando o céu azul esverdeado já se matizava,
A aurora brilhava sobre Paris, o transeunte
Ainda te via cintilar tão nesta minha janela.
A idade às vezes te fazias divagar ao léu.
Teu mecanismo era inexplicável frágil.
Era conciso montá-lo, remontá-lo incessante,
E girar tua chave incessantemente entre os dedos.
Mas se abaixava, malvada! E sem que eu atingisse o porquê.
Parecias querer se divertir.
O pavio teimava em carbonizar.
E eu ficava furioso, achando que era um aferro.
Muitas vezes amaldiçoei tua perturbação,
E teu humor, então, parecia-me um enigma.
De repente, fazias um barulho de borborigmo,
Depois se apagava sem motivo, abruptamente.
No dia seguinte, eu precisava entregar a tarefa...
E, cobrindo de insultos e desprezo, eu fui dormir!
Perdoe-me! Agora eu entendi:
Se importava com teu pobre professor.
Não querendo vê-la por tanto tempo oblíquo
Para escrever ou ler, com um dedo na têmpora,
Paravas de queimar... E era assim, boa lâmpada,
Tua maneira de me mandar então dormir.
EDMOND ROSTAND – TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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