EL DESDICHADO
Eu sou o sombrio, - o viúvo, do inconsolável,
O príncipe da Aquitânia na torre abolida:
Meu único fado morreu, - e alaúde constelado
Carrega o sol negro desta Melancolia.
Na noite do túmulo, tu que me consolaste,
Devolva-me o Pausilippo e o mar da Itália,
A flor que tanto afagava ao meu peito desolado,
E a parreira onde a videira se une à rosa.
Sou Amor ou Febo, Lusignan ou Biron?
Minha fronte ainda está rubra pelo beijo da rainha;
Sonhei na caverna onde a sereia nada...
E eu, duas vezes vencedor, atravessei o Aqueronte:
Modulando alternativo na lira de Orfeu
Os suspiros da santa e os gritos da fada.
Myltho
Penso em ti, Myltho, encantadora divina,
No altivo Pausilippo, brilhando com mil luzes,
Na tua face inundada pelas claridades do Oriente,
Nas uvas pretas misturadas com o ouro da tua trança.
Foi também em tua taça que bebi a embriaguez,
E no lampejo furtivo de teu olhar sorridente,
Quando aos pés de Láco me viam rezando,
Pois a Musa fez de mim um dos filhos da Grécia.
Eu sei por que lá o vulcão se reabriu...
É que ontem o tocaste com um pé ágil,
E de cinzas, de repente, o horizonte se cobriu.
Desde que duque normando extinguiu teus deuses de barro,
Sempre, sob os ramos do louro de Virgílio,
A pálida hortênsia se une à murta verde!
HORUS
O deus Kneph, tremendo, abalava o universo:
Ísis, a mãe, levantou-se então de teu leito,
Fez um gesto de ódio ao teu marido feroz,
E o ardor de outrora brilhou em teus olhos verdes.
“Vês”, diz ela, “Está morrendo, velho perverso,
Todo o frio do mundo passou por tua boca,
Prendam teu pé torto, apaguem teu olho vesgo,
Ele é o deus dos vulcões e o rei dos invernos!
A águia já passou, o novo espírito me chama,
Vesti para ele o manto de Cibele...
É o filho amado de Hermes e Osíris!”
A deusa fugiu em tua concha dourada,
O mar nos devolvia tua imagem adorada,
E os céus brilhavam sob o manto de Íris.
GÉRARD DE NERVAL - TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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