A NOSTALGIA DE APOLÔNIO
Príncipe no exílio, expulso da terra do fulgor,
Maldito pelo fado a encarnar-me incessante,
O brilho nas mentes resistentes à beleza
Como um desejo vivo de graça e nobreza.
Foi Dante, lambido pelo fogo oculto,
Shakespeare, vasto peito cheio em peito arruaça,
E Beethoven, soprando em tua trompa de bronze;
Entre as laranjeiras de Roma, foi Goethe.
Foi Schiller e depois Henri Heine, o arqueiro;
Foi Victor Hugo em pé sobre tua rocha,
E recitei teus versos ao ritmo de minhas asas.
Mas teu gênio sombrio é para mim elevado humano
Temo o possuído que serei amanhã
E ainda sinto nostalgias da Grécia materna.
OS DOIS AMIGOS
No brilho da luz dourada que se espalha,
nesta manhã, pela graça da primavera,
Entre os jatos de água viva e os galhos flutuantes,
Nós apreciamos neste banco a doçura de estar no mundo.
A claridade divina lentamente, qual uma onda,
Em um silêncio dourado chove dos céus cintilantes
E derrama em ondas rubras em nossos peitos incertos
O riso interior de uma profunda embriaguez.
O Deus resplandecente a quem nós oferecemos
Com seu dedo radiante traça em nossas duas faces
Dando então o sinal da Lira com faíscas;
E nossas almas gêmeas, repletas de sol,
Sentem vibrar em si com um tremor idêntico
dos poemas futuros e os novos amores.
A filha do adivinho Tirésias, Daphne,
Longe do Deus cuja oração ela rejeitou,
No salgueiral sombreado, na hora habitual,
Despindo-se para o banho, corpo predestinado.
Ela ri, sem pensar no amante rejeitado;
Mas mal molha um pé no rio
E Apolo, todo dourado, dá um salto de luz
E queima sua pele com um beijo enlouquecer!
Ela foge; ele voa; ele a alcança, por fim cansada,
Quando ele vê de repente a ninfa que ele abraça
Transformada em louro em seus braços verdes!
— É por isso que, agora, no fundo de sua alma,
O cantor mais nobre ama o louro verde
E a Glória às vezes tem um capricho de mulher!
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