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sexta-feira, outubro 24, 2025

SONETOS - ANDRÉ FONTAINAS -TRAD. ERIC PONTY

 O ENCONTRO PROPÍCIO 


Eis a aurora propícia e a manhã divina 
Sorrir para o Solitário da floresta má,
Rumor farpado e aprazado da noite densa abrandar-se, 
O canto claro do sol despertou no céu distante. 

Com o novo aroma fresco da salva e do tomilho 
A sua alma deslumbra-se e a brisa que beija 
O mar azul-celeste ao pé da falésia 
A esperança renasceu, o orgulho do seu destino.

Ele sente renascer em si a glória da Alegria 
E o ardor do seu sonho heroico brilha forte 
Tal qual festa em chamas desta manhã rubra, 

E logo seus olhos avistam no horizonte, muito calmos, 
Ao passo dos seus brutos, e desdobrar as suas palmas, 
Os reis que ele acreditava estarem mortos pisando ao sol.

PRESSENTIMENTO 


Antes que as insuspeitas auroras cheguem até ti, 
Risos cujo brilho virgem se assemelha ao teu riso, 
Alastrar-se a brenha escura, onde apenas salgueiro fulgura, 
Os arrepios do olvido cujas asas não surgiram, 

Derrama, criança, o teu olhar: as flores murcharão 
Oferecer ao céu a tua taça inquieta que treme 
De onde talvez se abra a brecha para dois briosos jazerem juntos 
O perfume letárgico que os embriaga de anos.

Talvez uma noite de cinzas ou os últimos escombros 
Descerão entre véus e sombras pesadas 
Encostar-se, na beira do jardim das suas estradas, 

O sorriso do seu tédio, de onde, cansada e doce, 
Mostras o caminho adormecido sob o musgo     
Àqueles cujo destino esbarrou na rocha das dúvidas.

CONSELHO     

A Pierre Louÿs. 

Gema nos lábios, um sorriso esvoaça com asas 
Translúcida e melancólica é a tua vida; 
Aqui está morrido o fado e um sonho desviado 
No herói que amas e que te inspira. 

Mas não colherás dos teus gestos e delas 
Nem as flores perfumadas que a tua tristeza inveja, 
Nem a delicada emoção de ser uma alma cativa 
Às miragens de jogos fúteis e fiéis.

Os olhos não são um espelho nem o mar. 
Acorde. A chama ondula à tua vertigem, 
Uma lareira sombria em cinzas! Teme o inverno. 

O beijo delirante faísca com prestígio: O que importa? 
chora ociosamente ou pensa no teu sudário, 
A vida sonha perdidamente, jaze sozinha.

I

O que, no terror ermo de seus cabelos dispersos
A criança pálida sonha com mãos floridas
De grinaldas pálidas? - Sonha ela com os prados
De outrora, com suas poças de nenúfares

Cujos dedos floriram os caminhos do acaso
E nesses devaneios a criança pálida sonha
Seus olhos ardem com o brilho das joias
Que enfeitam seus vestidos de ouro e brocado.

Mas ela não vê nada ao seu redor. O quarto
Derrete-se em vapores de especiarias e âmbar,
A janela se abre para o ar quente da noite;

Os desejos pesados, como os fogos mutáveis da opala
Morrem soluçando na névoa da noite
Onde a ingênua criança está nua em seu espelho.

II

Ó brisas e beijos das brisas, para os teus lábios 
Quais palpites em nudezes reais do esplendor 
Gladíolos e lírios, e o aroma torna-se mais apurado 
Verbenas afáveis em arrepios frescos e melosos.

Rubis claros coruscantes chegados por ourives inábeis, 
Ofereceu-se a ti, sedutora, a candura 
Que hastes! E tu ris, criança errante
 Quem nutre em nossos jardins o rebanho das tuas cabras.

Ó pastor, adormeces na relva verde, 
Um tirso ondula ao teu sonho com braços retorcidos 
De entusiasmo ardente por algum amor antigo,

Tu tremes! E eis que há arbustos diante dos teus olhos, 
Nua e com teus cabelos louros cingidos pela mística murta, 
Erguendo-se a Vivente com um olhar radiante.

ANDRÉ FONTAINAS -TRAD. ERIC PONTY

 

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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