A LOUS DELATTRE.
Eu vejo, em um jardim frio
Cujos finos ramos negros
Sob botões rosas e azuis,
Dores de uma primavera ilusória,
Em um grande jardim sério
Onde, junto aos caramanchões cansados,
Choram misteriosos jorros de água
Qual o sangue de fontes feridas,
Ao som de rebecas doentias
E frágeis flautas dulcíssimas,
Uma procissão de crianças atrasadas
Passeando com suas graças doentias.
Eles se misturam em um carnaval
De as estações e de todas as fantasias:
Uns a pé, outros a cavalo,
Ou em carruagens póstumas.
Crianças doentes e curvadas
Sob capacetes e rondaches,
Menores que seus escudos
E mais leves que suas plumas!
Roitelets com gestos altivos,
Marquises mínimas e travessas,
Usando seus punhos infantis,
Em vez de periquitos, águias.
Mais do que um Carlos Magno unido,
Que se envergonha em seu robe,
Dá sua risada aguda
No bilboquê com o globo.
Um papa com olhos de quem não quer saber
Lança uma bolha com ar infantil
No nariz de um Triboulet sério
Cujo gorro tilinta nos azuis dos céus.
Juízes liliputianos,
Com perucas severas,
Em antigos Digestos
Folheando prímulas.
E sob seu gorro de linho,
Na mão, por meio dos quinconces,
Nossa Senhora do Trianon
Conduz uma manada de lobos e onças.
E assim eles seguem, silenciosos,
Ao longo das fontes feridas,
E os misteriosos rebecs
Sussurram seus pensamentos vagos.
Eles são muito jovens e muito vaidosos,
Encanto infantil, graça senil!
Ao mesmo tempo tristes e alegres,
Têm dez anos de idade, talvez mil.
É assim que eles são, pequenos abades,
Pequenas rainhas, pequenos príncipes,
E suas testas protuberantes
Martirizam seus colarinhos finos demais.
Seus grandes olhos, seus olhos estrangeiros,
Onde o ouro da noite palpita e afunda,
Banham-se com raios enganosos
Sua carne de lírios florescendo na sombra.
Sua alegria, qual um bando de pássaros,
Sangra e se engasga em seu riso,
E eu acho que vejo nos imos da água
Figuras dançantes de cera.
Projetos de meu cérebro cansado,
Desejos de sete léguas,
Caprichos de um sol gelado,
Tulipas negras, rosas azuis,
Então você nasceu, pequeno demais
Neste belo jardim de mentiras.
Filhos de meus orgulhosos apetites,
Fantoches de meus sonhos!
ALBERT GIRAUD.- -TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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