Clássicos seguem vivos quando ganham novos olhares.
Publicada em 1857, a obra poética As Flores do Mal, do escritor francês Charles Baudelaire, chega agora em nova tradução para o português, realizada pelo querido escritor são-joanense Eric Ponty.
O livro é um convite à reflexão sobre a beleza e a feiura, o vício e a decadência, o tédio, a cidade, a memória e o desejo, temas que continuam nos convocando à reflexão no século XXI.
Você é nosso(a) convidado(a). Traga também seus amigos e amantes da poesia.
PARA O LEITOR
Estupidez, ilusão, egoísmo e da luxúria,
atormentam corpos e possuem nossas mentes,
e nós sustentamos nosso remorso afável,
da mesma forma um mendigo alimenta piolhos.
Nossos pecados são teimosos, pesar é fraco;
queremos que nossos escrúpulos valha a pena.
nos arrastamos ledo de volta ao lameiro:
algumas fúcsias baratas lavarão as manchas!
Satã Trismegisto é sutilmente marcante
nossas almas possessas em leito perverso
até que o precioso metal nossa vontade
seja extraído por esse alquimista astuto:
Mão do Diabo aponta todos movimentos -
odiávamos se tornam coisas que nós amamos;
dia após dia, caímos em sombras fétidas sem
nos determos em nossa descida ao inferno.
Como pobre perdulário que chupa e morde
o seio murcho de uma puta bem temperada,
nós nos abordamos alegrias clandestinas
e apertamos laranja mais velha força ainda.
Contorcendo em nossos miolos milhão de vermes,
um demônio que demos faz sua festa lá,
quando respiramos, Lethe em nossos pulmões
escorre suspirando em seu curso secreto.
Se o estupro e o incêndio criminal, veneno e faca
ainda não coseram seus desenhos ridículos
no tecido banal desses nossos destinos,
é porque nossas almas não têm iniciativa!
Mas aqui, entre os escorpiões e os cães de caça,
os chacais, frades e abutres, cobras e os lobos,
monstros que uivam, rosnam, guincham e rastejam,
em todo zoológico esquálido de vícios,
são ainda mais feios e sujos dos demais,
embora seja o menos aloucado em todos;
essa besta teria prazer em minar a terra
e engolir toda essa criação em um bocejo;
Eu falo do tédio que, com lágrimas prontas
sonha com asfixia enquanto fuma seu cachimbo.
Leitor, tu conheces bem monstro suscetível,
- Leitor hipócrita, - Pseudônimo, - meu gêmeo!
Estupidez, ilusão, egoísmo e da luxúria,
atormentam corpos e possuem nossas mentes,
e nós sustentamos nosso remorso afável,
da mesma forma um mendigo alimenta piolhos.
Nossos pecados são teimosos, pesar é fraco;
queremos que nossos escrúpulos valha a pena.
nos arrastamos ledo de volta ao lameiro:
algumas fúcsias baratas lavarão as manchas!
Satã Trismegisto é sutilmente marcante
nossas almas possessas em leito perverso
até que o precioso metal nossa vontade
seja extraído por esse alquimista astuto:
Mão do Diabo aponta todos movimentos -
odiávamos se tornam coisas que nós amamos;
dia após dia, caímos em sombras fétidas sem
nos determos em nossa descida ao inferno.
Como pobre perdulário que chupa e morde
o seio murcho de uma puta bem temperada,
nós nos abordamos alegrias clandestinas
e apertamos laranja mais velha força ainda.
Contorcendo em nossos miolos milhão de vermes,
um demônio que demos faz sua festa lá,
quando respiramos, Lethe em nossos pulmões
escorre suspirando em seu curso secreto.
Se o estupro e o incêndio criminal, veneno e faca
ainda não coseram seus desenhos ridículos
no tecido banal desses nossos destinos,
é porque nossas almas não têm iniciativa!
Mas aqui, entre os escorpiões e os cães de caça,
os chacais, frades e abutres, cobras e os lobos,
monstros que uivam, rosnam, guincham e rastejam,
em todo zoológico esquálido de vícios,
são ainda mais feios e sujos dos demais,
embora seja o menos aloucado em todos;
essa besta teria prazer em minar a terra
e engolir toda essa criação em um bocejo;
Eu falo do tédio que, com lágrimas prontas
sonha com asfixia enquanto fuma seu cachimbo.
Leitor, tu conheces bem monstro suscetível,
- Leitor hipócrita, - Pseudônimo, - meu gêmeo!
Albatroz - Charles Baudelaire – Trad. Eric Ponty
Muitas vezes, pra passar tempo, a equipagem
Pega aquelas imensas aves frota, albatrozes,
Corréus de viagem ociosos planadores que
Seguem navio pelas profundezas amargas.
Assim que eles colocam esses reis aéreos
Sobre convés, quando, canhotos e vexados,
Albatrozes baixam sua grande asa alva,
Para se arrastarem ao lado remos pesados.
Viajante alado, como é canhoto e fraco!
Antes esplêndido, agora cômico e feio!
Um aratu enfia um cachimbo em seu bico,
Outro coxeia zombar do seu voo impedido.
O poeta é como esse príncipe dessas nuvens,
busca a tempestade e despreza arco arqueiro;
Exilado a terra, em meio bando chistoso,
Com asas gigantes que não deixam marchar.
UMA TRANSEUNTE Charles Baudelaire – Trad. Eric Ponty
Em meio a dum rugido ensurdecedor eco,
Magra, e, alta, pronta em preto da cabeça aos pés,
Ela passou por mim, envolta em majestosa
Mão de joias erguendo a bainha de tua saia.
Com ares de dama, tão graciosa e imponente.
Eu tremia qual tolo, bebendo àqueles olhos
Tempestuosos céus cinzentos e furiosos
Alegria mortal, de doçura cheia em riscos.
Relâmpago - escureceu! Escapando de mim,
Beleza que oferecia vida em veloz olhar -
A vida não é mais vista, antes da Eternidade?
Em outro lugar... longe demais! tarde demais! Jamais,
por acaso... Pois tu me ignoraste - ou fingiu -...
Quem podia ter atacado amor, bem sabias!
Correspondências – Charles Baudelaire – Trad. Eric Ponty
Pilar do templo da natureza está vivo
e às vezes imprimem mensagens desconcertantes;
florestas de símbolo entre nós e o santuário
notam nossa passagem com olhos afeitos.
Ecos longa data, confundir em outro lugar
em um uníssono profundo de sombrio
tão ilimitado quanto a escuridão e o dia,
sons, os aromas e as cores se correspondem.
Há odores suculentos como carne jovem,
doces como flautas verdes como qualquer grama,
enquanto outros, ricos, corruptos e magistrais.
possuem o poder de tais coisas infinitas
tal incenso, o âmbar, benjamim e almíscar,
para altear o êxtase dos sentidos da mente.
Faróis – Charles Baudelaire – Trad. Eric Ponty
Rubens jardim da Preguiça, a fonte de Lethe,
coxim de carne onde nenhum sonho é de amor
mas onde a vida fervilha e surge infinita
como o vento no céu, o mar dentro do mar;
Leonardo um espelho sombrio em tuas distâncias
onde anjos encantadores com misterioso
sorriso gentil aparecem sob a sombra
de pinheiros e geleiras que cercam reino;
Rembrandt hospital perdões ecoando com suspiros,
adornado por um enorme crucifixo,
onde orações chorosas surgem do excremento
e um súbito raio de sol de inverno cai;
Michelangelo terra de ninguém onde Hércules
se torna um Cristo, onde poderosos fantasmas
erguem-se de seus túmulos e na penumbra
rasgam suas mortalhas estendendo as mãos;
Puget arrojo fauno e fúria de um lutador de prêmios,
com icterícia e medo, grande peito orgulho
de poder encontrar a beleza em seus crimes.
Imperador melancólico dos condenados;
Watteau festas onde muitos peitos famosos
tremulam mariposas quando mudam chamas,
pois são lustres desta clareira encantada
lançam uma loucura sobre o minueto;
Goya letargo repleto de coisa insondáveis,
bruxas assando fetos em uma panela,
crônicas espelho servida em moças nuas
que alisam meias para seduzir Demônio;
Delacroix anjos maus assombram lago sangue
tostado pela sombra verde dos abetos,
onde, sob um céu abatido, gritos trombeta
qual uma fanfarra de Weber se desvanece...
Essas blasfêmias, esses êxtases, esses gritos,
Gemidos, maldições, lágrimas e Te Deums,
Fúcsias ecoam por vastos mil labirintos -
um ópio sagrado para os peitos mortais!
Há mil sentinelas que transmitem dessa ordem,
um grito repetido por mil mensageiros;
caçadores gritam, perdidos no imo brenha;
qual o farol se acende em mil cidadelas!
Essa, Senhor, é dessa melhor evidência,
podemos oferecer de nossa dignidade,
esse soluço que incha de idade em idade
e falecer na margem de Sua eternidade!
coxim de carne onde nenhum sonho é de amor
mas onde a vida fervilha e surge infinita
como o vento no céu, o mar dentro do mar;
Leonardo um espelho sombrio em tuas distâncias
onde anjos encantadores com misterioso
sorriso gentil aparecem sob a sombra
de pinheiros e geleiras que cercam reino;
Rembrandt hospital perdões ecoando com suspiros,
adornado por um enorme crucifixo,
onde orações chorosas surgem do excremento
e um súbito raio de sol de inverno cai;
Michelangelo terra de ninguém onde Hércules
se torna um Cristo, onde poderosos fantasmas
erguem-se de seus túmulos e na penumbra
rasgam suas mortalhas estendendo as mãos;
Puget arrojo fauno e fúria de um lutador de prêmios,
com icterícia e medo, grande peito orgulho
de poder encontrar a beleza em seus crimes.
Imperador melancólico dos condenados;
Watteau festas onde muitos peitos famosos
tremulam mariposas quando mudam chamas,
pois são lustres desta clareira encantada
lançam uma loucura sobre o minueto;
Goya letargo repleto de coisa insondáveis,
bruxas assando fetos em uma panela,
crônicas espelho servida em moças nuas
que alisam meias para seduzir Demônio;
Delacroix anjos maus assombram lago sangue
tostado pela sombra verde dos abetos,
onde, sob um céu abatido, gritos trombeta
qual uma fanfarra de Weber se desvanece...
Essas blasfêmias, esses êxtases, esses gritos,
Gemidos, maldições, lágrimas e Te Deums,
Fúcsias ecoam por vastos mil labirintos -
um ópio sagrado para os peitos mortais!
Há mil sentinelas que transmitem dessa ordem,
um grito repetido por mil mensageiros;
caçadores gritam, perdidos no imo brenha;
qual o farol se acende em mil cidadelas!
Essa, Senhor, é dessa melhor evidência,
podemos oferecer de nossa dignidade,
esse soluço que incha de idade em idade
e falecer na margem de Sua eternidade!
XV
DON JUAN NO INFERNO
DON JUAN NO INFERNO
Quando Don Juan desceu ao rio deste submundo
E pagou seu óbolo da Caronte tão profundo
Mendigo sombrio, olhos orgulhosos Antístenes,
Agarrou ao remo com braços fortes vingares.
Vestes abertas exibiam seios pendentes,
Cônjuges contorciam sob o céu negro entes,
E, qual um grande rebanho de sacrifício,
Atrás dele, um longo e baixo clamor de pio.
Sganarelle, sorrindo, exigia seu salário,
Enquanto Don Luis, com dedo frouxo rio
Mostrou todos mortos vagavam pelas praias
Filho sem recato havia caçoado a testa gris.
Tremendo em luto, da casta e magra Elvire,
Perto de seu astuto de esposo e antigo amante,
Cria requerer um sorriso supremo antes,
Brilhar a doçura de seu inicial voto aire.
Com cabeça austero, um grande homem de pedra
Ficou no leme e cortou o negro toró abra;
Mas o herói calmo, debruçado sobre espada,
Observava o rastro e não dignava a ver nada.
E pagou seu óbolo da Caronte tão profundo
Mendigo sombrio, olhos orgulhosos Antístenes,
Agarrou ao remo com braços fortes vingares.
Vestes abertas exibiam seios pendentes,
Cônjuges contorciam sob o céu negro entes,
E, qual um grande rebanho de sacrifício,
Atrás dele, um longo e baixo clamor de pio.
Sganarelle, sorrindo, exigia seu salário,
Enquanto Don Luis, com dedo frouxo rio
Mostrou todos mortos vagavam pelas praias
Filho sem recato havia caçoado a testa gris.
Tremendo em luto, da casta e magra Elvire,
Perto de seu astuto de esposo e antigo amante,
Cria requerer um sorriso supremo antes,
Brilhar a doçura de seu inicial voto aire.
Com cabeça austero, um grande homem de pedra
Ficou no leme e cortou o negro toró abra;
Mas o herói calmo, debruçado sobre espada,
Observava o rastro e não dignava a ver nada.
VIDA ANTERIOR
Durante mui era vivi sob átrios colossais
Que o sol do mar tingia com mil fogos envolvia
E grande pilar, reto e majestoso esguia
Fazia alvitre gruta basalto à noite abissais.
Ondas, rolando imagens dos céus devolvia
Misturas formas solene e alegórica
Acordes poderosos de sua rica música
Cores pôr do sol pensada em meu olho ardia.
Era ali que eu vivia em uma calma volúpia,
Em meio ao azul, às ondas, aos esplendores
E escravo nu embeber de perfume ardia,
Afrescavam minha testa em palmas das mãos,
Cuja única apreensão era aprofundar dores,
Dorido arcano que me fazia ansiar então.
Que o sol do mar tingia com mil fogos envolvia
E grande pilar, reto e majestoso esguia
Fazia alvitre gruta basalto à noite abissais.
Ondas, rolando imagens dos céus devolvia
Misturas formas solene e alegórica
Acordes poderosos de sua rica música
Cores pôr do sol pensada em meu olho ardia.
Era ali que eu vivia em uma calma volúpia,
Em meio ao azul, às ondas, aos esplendores
E escravo nu embeber de perfume ardia,
Afrescavam minha testa em palmas das mãos,
Cuja única apreensão era aprofundar dores,
Dorido arcano que me fazia ansiar então.
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