É claro que, dotado de tantas habilidades, tocando tantos instrumentos, dispondo de toda essa parafernália de recursos e experimentos, a poesia de Eric não é para qualquer um, diria mesmo tratar-se de uma poesia invulgar, para confrades herméticos, uma poesia que será recitada, premiada, e até mesmo editada. O público de Eric ainda está por vir e virá talvez um dia quando o livro já tenha noção de poesia se tornado um vago fruto tal quais os simbolistas. Mas para nós que ainda estamos aqui ela é um butim, uma arca a ser aberta e na qual se pode encontrar de tudo, desde pepitas a duríssimos fragmentos de quartzo. Tal poesia certamente não poderia expressar-se em linguagem comum, habitual, compreensível. Ela parece escrita em outra língua, uma língua que lembra a nossa como o catalão lembra o português, mas que exige do leitor uma reformulação, um trabalho de síntese, quase uma tradução interlingual. Eric não diz, sugere. Não significa, propõe enigmas. Lê-lo é um trabalho de recomposição poética em que o leitor se vê forçado a admitir que existe uma outra linguagem por trás de nosso idioma convencional.
Ivo Barroso (Tradutor da obra Completa de Arthur Rimbaud. Organizador da obra Completa de Charles Baudelaire)
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