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sábado, agosto 09, 2025

TO MADEMOISELLE - CHARLES PERRAULT - TRAD.ERIC PONTY

Mademoiselle: Não parecerá estranho que uma criança se tenha divertido a compor os contos desta coleção, mas será surpreendente que tenha tido a audácia de lhes apresentar. No entanto, Mademoiselle, apesar da enorme discrepância entre a simplicidade das histórias e o brilhantismo da sua mente, se os contos forem devidamente examinados, verá que não sou tão culpado quanto poderia parecer. As lições morais que todos eles contêm são assaz sensatas e serão envoltas com mais ou menos facilidade, dependendo da perspicácia dos meus leitores; além disso, visto que não há maior sinal de capacidade mental do que a destreza de elevar-se às maiores alturas e descer às questões cotidianas, ninguém se surpreenderá que uma grande princesa, que por natureza e educação se familiarizou com as ideias mais altivas, condescenda em divertir-se com bagatelas como estas. Sei que os contos retratam a vida nas famílias mais humildes, onde o louvável desejo de adaptar uma instrução precoce aos jovens levou à criação de histórias que, carentes de razão, são, portanto, adequadas para crianças, uma vez que nelas a razão ainda falta; mas para quem poderia ser mais apropriado estudar o modo de vida do povo do que para aqueles que estão destinados a liderá-lo? Heróis, incluindo heróis entre os seus próprios antepassados, foram impelidos, pelo desejo de conhecer essas coisas, a entrar em cabanas e casebres para ver com os seus próprios olhos os detalhes da vida que ali se levava, parecendo-lhes que esse conhecimento era indispensável para que a sua educação fosse completar. Seja como for, senhorita...

 Apesar não se possa crer em contos de fadas,
A quem mais poderia eu recorrer?
Para provar que o que nos dizem pode ser fato?
Pois ninguém jamais poderia ter arquitetado,
Desde que as fadas deram os seus presentes há tanto tempo,
Que qualquer um deles possa conceder
Tantos dons, tantos talentos também,
Como a Natureza lhe concedeu.


Fico, Mademoiselle, com o mais profundo respeito, o muito fiel e humilde servo de Vossa Alteza Real,

P. DARMANCOUR

CHARLES PERRAULT -  TRAD.ERIC PONTY

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     ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

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