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sábado, agosto 30, 2025

Poemas Belgas - Trad. Eric Ponty

Esse é o fim do amor casto, esse sol quente
Que se vai sempre nas profundezas da memória
A triste lembrança, numa mancha negra,
Para aqueles olham por uma era fantasma corado.

Melhor do que tu, fane insensível e zombeteiro,
Irônico sol extinto que me cegou,
Minha pálida amante cá fulgura meus olhos cansados,
E sua alma tem pra mim doçura duma luz noturna.

Exatamente o que um convalescente precisa,
Pois seu amor é como a lâmpada, deslizando
Por meio de tua palidez de alabastro, um raio bruno;

O mesmo acontece comigo, quando sonho,
Teu rosto branco emerge das sombras,
Sob a luz de teus cílios, o fogo de teu olhar!...

GEORGES RODENBACH.

TRILHAS DE MAIO


Ao pé dos troncos nodosos dos carvalhos antigos
A sombra dorme, embaçando as passagens
Onde o sol de maio lança um brilho vivo.

O amor desperta, irrita os pombos-torcazes
E persegue os tentilhões que riem nos galhos
Onde o aroma perturbado das roseiras se chega.

As virgens da sempre-viçosa vestiram vestidos alvos
E sob os velhos carvalhos saem, grupos barbudos,
Para coroar testas puras com ramos de pervinca.

Entre os cantos de pássaros amorosos,
sussurrando as palavras do jovem Éves,
Eles perdem teus passos nas passagens ocas.

Nos imos das passagens consumidas, canta o ardor da seiva.

FRÉDÉRIC BATAILLE.

  Scapin

Scapin está arrebatado tão-só pelo ar e pela luz.
Počte à maneira do sutil Arlequim.
Ele belisca galante um casaquin nas sombras
Sabendo o preço de uma rosa trêmière.

Fez do céu azul teu burgo, tua casa de campo:
Uma estrela é uma tocha pra esse feliz malandro
Que não tem outro aviso a não ser jazer um patife,
Orgulhoso e sempre em tua primeira verve.

Ele consegue dormir quando sente sono:
Ele nunca sonha, exceto com a luz do sol,
De garrafas bem cheias e garotas alegres.

Scapin, acima de tudo, aos nossos olhos, torna bom,
É tua boca faminta e teu nariz vivo,
Uma mistura distraída de palhaço e salteador.

ALFRED POUTHIER.

 Bem, sim, é isso mesmo! Não o aceito muito bem,
Mas já vi o aceitável para suportar a ternura;
Pois teu olhar, perfurando minha carne com destreza,
Chegou ao meu peito qual um peido de pântano.

Sim, estou louca enlevada e vou lhe dizer por quê;
Estou enfeitiçada por essa trança loira
Que, qual serpente dourada, me enviou tua carícia:
Quando o vi um dia em teu terno azul!...

E, desde então, sempre estive sob tua janela,
E quero conhecer teu peito e teu corpo,
E estendo meus braços quando me deito na cama à noite!

Porque, sem tê-lo seduzido ainda, posso lhe adivinhar,
Assim tal qual se pode adivinhar - sem ver - o cheiro fino
Que jaze nas dobras nevadas de teu lenço!...

Trad. Eric Ponty

 

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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