PARA WLADIMIR SALDANHA
Como tradutor, em 2014 participou da reedição de A cinza do Purgatório, de Otto Maria Carpeaux, pela Editora Danúbio, de Santa Catarina, tendo ficado responsável por verter autores simbolistas de língua francesa. Colabora com a revista francesa Actualité Verlaine mantida pela Association des Amis de Verlaine (Metz, França). Traduziu As Flores do Mal Uma tradução inédita feita pelo poeta Wladimir Saldanha, que revela toda a sofisticação, musicalidade e beleza do francês original. O livreto "Meu coração a descoberto", uma reunião de anotações, aforismos e reflexões de Baudelaire em prosa.
A Léon Varienne.
Esta noite, o velho castelo acorda: o mestre,
Se vestido em tuas melhores roupas encarnadas,
Seu papagaio em punho, encostado na janela
Resmunga alegremente com teus paladinos.
Toda a sua corte balbucia e dança ao teu lado:
Galgos erguem seus olhos humanos pra ele,
E seu anão, para encher teu cofre, em cadência,
Peregrina pelos jardins em tuas mãos.
E nas árvores azuis, parodiando as rainhas
Macacos trepadores que muito pequenos,
Para desabafar enxaquecas irônicas,
Martirizar caudas formam leque dos pavões.
No topo da torre, soam fanfarras alegres
Que irrompem das dobras boas bandeiras rubras,
Cuja rede é torcida em rajadas sedosas
Sob o vento forte que brincar com o sol.
Mestre se ergue de repente e dedos finos,
Apontam para a areia dourada da encosta,
Uma procissão distante de bispos e príncipes
Vindo em direção ao castelo na paz da noite.
Aquela que vê ali, esguia entre as palmeiras,
Orgulhosa qual espada, em tua bainha douro,
E cujos pés calmos os mendigos se beijam,
É Tiphaine, a única filha do velho rei.
Um dia, deixando doce burgo de infância,
Mulheres na roda de fiar, as flores, seu cravo,
Ela partiu, em um sonho, tão desamparada,
Só, com peito inchado por estranho propósito.
Ela voltou, pálida muito de alegria,
Pensativa, conduzir chefia ao burgo pavimentado,
Com o leve capricho de um fio de seda,
O deslumbrante monstro domado por ela:
O tarasque, a fera assustadora e voraz,
abrindo-se entre pêlos iguais a cílios,
Por meio das fendas vivas de armadura negra
Inúmeros olhos de ouro, opala e berilo.
Macacos afáveis soltam os fiéis pavões;
O bobo da corte cai de pé com espanto;
O papagaio do rei voa para longe,
E o mestre, latindo para longos galgos,
Do alto de tua sacada, ele se inclina,
apoiado pelo colorido coro dos valentes,
Ele desmaia de alegria, e em barba alva
Com braços abertos, ele chora alegremente.
O tarasque brilha, se estende e se exibe,
Abismando o chão com reflexos iridescentes,
E com um ar lânguido lambe as mãos de quem
Conduz em uma coleira até o fim de teus beijos.
E entre os ramos, gritos e canções festivas,
Os sinos de prata chovendo campanários,
Tiphaine lentamente nas costas da besta
Que orgulhosa fazendo o sinal da cruz.
Mas a virgem hesita: um fogo fatal
Acende-se forte em teus olhos de outro mundo
Com teu prisma ampliado
Qual câncer azul corroendo tua carne jovem.
E, no céu, sangrando e doente de glória,
Permutando nadadeiras com flâmulas triunfos,
Só os anjos da noite sabem o que é vitória
Na crista das torres choram os olifantes.
Albert Giraud - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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