De alguém que perdeu tudo
Eu tinha sido dispensado da guerra,
Certa vez, eu caminhava chorando à noite,
Chorando pelas ruelas.
Porque eu tinha feito xixi nas calças.
E eu só tenho essa única
E ninguém onde ela pudesse encontrar
Poder ou ridicularizem-me.
E eu estava zangado com a minha senhoria.
E vaguei toda a noite,
Por dentro, totalmente preocupado.
E talvez me tivessem levado de manhã
Encontrado morto.
Mas porque a manhã
Toda a amargura seca e todas as lamúrias se apagam –
Bênção matinal
Acordei tão alegre.
Bato nas ancas.
A água atrai. O sabonete sorri.
Estou com sede de ar fresco.
Um lençol bonito faz uma deferência
E parabenizem-me por ter tomado banho.
Dois sapatos pretos em polimento brilhante
Chamem-me «Vossa Graça».
Do fundo da minha alma, sinto
Com as narinas a tremer
Um apetite voraz
Depois do pequeno-almoço e depois da vida.
Nada acontece
Se tivermos de morrer,
A nossa alma se subtrai aos cardeais,
Os amantes vão-se beijar?
Porque a vida prevalece.
Mas se nada acontecer,
A vida não para, mas encolhe.
O que hoje me chega aos ouvidos,
É apenas o que a queixa alega.
E o que vejo com os meus olhos
O silêncio da miséria dói.
Toda a alegria dentro de nós ofuscar-se.
E nada acontece. – E o ponteiro continua a girar.
Tão bom quanto mau
Conheço pessoas: que estão bem,
Mas que também se esforçam para
Viver de forma honesta, tanto no interior como no exterior.
Porque fica-lhes bem
E eles têm uma aparência apresentável
São, ouve-se as suas opiniões
Com prazer. –
Até que se descobre, com espanto,
Que não toleram outras opiniões. –
Assustou um passarinho
Asilado, agachado nos arbustos;
Limpa tristemente, limpa em silêncio
Ainda por muito tempo.
Joachim Ringelnatz - TRAD.Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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