Pesquisar este blog

sábado, julho 26, 2025

Stadt des Flaneurs - Walter Benjamin - Trad. Eric Ponty

Als Loggien werden Räume bezeichnet, die sich – anhand von Bögen oder anderen Konstruktionen – nach außen hin öffnen. Auf diese Weise schaffen sie, gerade im Erdgeschoss, einen Übergangsbereich zwischen Außen- und Innenraum. Loggien finden sich seit der italienischen Renaissance besonders bei repräsentativen Gebäuden

Lojas Como uma mãe que coloca o recém-nascido em seu peito sem acordá-lo, a vida passa muito tempo com a lembrança ainda delicada da infância. Nada fortaleceu a minha mais profundamente do que a vista dos pátios, das lojas escuras, uma das quais, sombreada por toldos no verão, era para mim o berço onde a cidade colocava o novo cidadão. As cariátides que sustentavam a loggia do andar superior pareciam abandonar seu lugar por um instante para cantar uma canção nesse berço, que não continha quase nada do que me esperava mais tarde, mas sim a frase que fez com que o ar dos pátios permanecesse para sempre inebriante para mim. Acredito que um traço desse ar ainda estava presente nos vinhedos de Capri, onde eu abraçava minha amada; e é precisamente esse ar que envolve as imagens e alegorias que dominam meus pensamentos como as cariátides na altura das galerias sobre os pátios do oeste de Berlim. O ritmo do bonde e do bater dos tapetes embalavam-me para dormir. Era o leito onde meus sonhos se formavam. Primeiro os informes, talvez permeados pelo barulho da água ou pelo cheiro do leite; depois os mais elaborados: sonhos de viagem e de chuva; finalmente os mais despertos: sobre a próxima partida de bolinha no zoológico, sobre o passeio de domingo. A primavera trazia os primeiros brotos diante de uma fachada cinzenta; e mais tarde, quando uma copa empoeirada roçava mil vezes por dia a parede da casa, o barulho dos galhos me levava a uma lição para a qual eu ainda não estava preparado. Pois tudo no pátio se tornava um sinal para mim. Quantas mensagens havia na brincadeira das cortinas verdes que eram levantadas, e quantas notícias ruins eu deixava inteligentemente sem abrir no barulho das persianas que batiam ao entardecer. Mas o que mais me impressionava era o local onde ficava a árvore no pátio. Havia um espaço reservado no pavimento, no qual estava embutido um largo anel de ferro. Varas atravessavam-no de tal forma que formavam uma grade diante do solo nu. Não me parecia que fosse em vão estar assim cercado; às vezes, refletia sobre o que se passava na casca negra de onde saía o tronco. Mais tarde, estendi essa investigação às paradas de carruagens. As árvores ali tinham raízes semelhantes, mas estavam também cercadas, e os cocheiros penduravam suas capas na cerca enquanto enchiam de água a bacia que ficava no meio da calçada para os cavalos, removendo os restos de feno e aveia. Esses pontos de espera, cuja tranquilidade raramente era interrompida pela chegada ou partida de carruagens, eram para mim províncias mais remotas do meu pátio.

 Muito se podia perceber em suas varandas: a tentativa de aproveitar o lazer noturno; a esperança de levar a vida familiar para o campo; o esforço de aproveitar o domingo sem deixar nada para trás. Mas, no final, tudo era em vão. O estado desses quartos, um sobre o outro, não ensinava nada além de quantas tarefas árduas cada dia deixava para o seguinte. Varal de roupa estendia-se de uma parede à outra; a palmeira parecia ainda mais desamparada, pois há muito não era mais o continente escuro, mas o salão vizinho que considerava seu lar. Assim queria a lei do lugar, em torno do qual outrora os sonhos dos moradores haviam se desenrolado. Mas antes que caísse no esquecimento, a arte tentou, por vezes, idealizá-lo. Ora uma lâmpada, ora um vaso de bronze, ora um vaso chinês eram roubados para o seu interior. E mesmo que essas antiguidades raramente honrassem o local, o próprio passar do tempo ganhava algo de antigo nessas varandas. O vermelho pompeiano, que tantas vezes se estendia em largas faixas ao longo da parede, era o pano de fundo das horas que se acumulavam nesse isolamento. O tempo envelhecia nessas salas sombreadas que se abriam para os pátios. E era por isso que a manhã, quando eu a encontrava em nossa varanda, já era tão avançada que parecia mais ela mesma do que em qualquer outro lugar. O mesmo acontecia com as outras horas do dia. Nunca conseguia esperá-los aqui; eles sempre já estavam me esperando. Já estavam lá há muito tempo, quase fora de moda, quando finalmente os encontrava. Mais tarde, redescobri os pátios da linha férrea. E quando, nas tardes abafadas de verão, olhava para elas do compartimento, parecia que o verão se tinha encerrado nelas e se tinha separado da paisagem. E os gerânios, que espreitavam com as suas flores vermelhas das suas caixas, combinavam menos com ele do que os colchões vermelhos que tinham sido pendurados nas varandas pela manhã para arejar. As noites que se seguiam a dias assim encontravam-nos – a mim e aos meus colegas – por vezes reunidos à mesa da varanda. Móveis de jardim de ferro, que pareciam trançados ou entrelaçados com junco, serviam de assento. E sobre os cadernos Reclam, a luz a gás parecia incidir de um cálice flamejante em tons de vermelho e verde, no qual a meia zumbia: clube de leitura. O último suspiro de Romeu atravessava o nosso pátio em busca do eco que a cripta de Julieta lhe reservava. Desde que eu era criança, as galerias mudaram menos do que os outros cômodos. Mas não é só por isso que ainda me são tão queridas. É mais pelo conforto que sua habitabilidade oferece àqueles que não conseguem mais encontrar um lugar para morar. É nelas que a moradia do berlinense encontra seu limite. Berlim – o próprio deus da cidade – começa nelas. Ele permanece tão presente ali que nada fugaz se impõe ao seu lado. Sob sua proteção, o lugar e o tempo encontram-se e unem-se. Ambos repousam aqui a seus pés. A criança, porém, que outrora fazia parte do grupo, mantém-se, cercada por ele, em sua galeria, como num mausoléu há muito destinado a ela.
 
Walter Benjamin -  Trad. Eric Ponty
    ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

Nenhum comentário: