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terça-feira, julho 01, 2025

Sonetos - Francesco Petrarca – Trad. Eric Ponty

 18
Quando estou completamente virado e do
rosto da minha bondade irradia fulgor, 
e a luz ainda continua no meu sentido.
que me queima e consome parte por parte.

Eu, que receio que o meu peito se parta, e
vejo próximo o fim do meu fogo, ando quase 
um cego que, mesmo sem luz, não sabe
para onde vai e, no entanto, parte.

Assim, fujo do mal que me mata, mas não
tão depressa desse desejo, pois ele não
costuma deixar-me andar sozinho.

silenciosa eu vou, porque o meu lamento
morto faria chorar as pessoas e eu quero
Que as minhas lamúrias se derramem sós.

19
Haverá uma raça de animais tão galante
que até do próprio sol se defende;
E outra, por outro lado, que ofende tanto;
Fulgor que o espera o véu escuro da noite;

E há outra, que o desejo não assusta, para
gozar o ardor, espera e, porque brilha, 
prova a sua outra virtude, a que inflama.
E é aqui que o Amor me mantém!

Que não suporto pensar nela o seu ardor ardente, 
nem num lugar sombrio, nem ocaso,
numa hora em que já é escasso.

Antes que, com um gesto doentio e lacrimoso, 
o meu destino de olhar para ela se apodere de mim;
sei bem que estou atrás daquela que me queima.

20
Talvez envergonhado por ainda me calar,
meu bem, para mim a tua beleza em rima,
recuo ao tempo em que a vi em tal auge 
que jamais encontrará igual.

Mas não julgo que seja um fardo para
o meu tamanho, nem um trabalho que
o meu ficheiro possa polir; com que 
a inteligência, que a sua força estima, 

Congelar sem quase nenhuma rima
para esculpir. Abri os meus lábios 
para cantar mil vezes sem que a minha voz.

Mil vezes comecei a rezar em mil versos;
mais pena, acúmen e mão, assim que foi feito,
foram derrotados na primeira ronda.

21
Mil vezes me ofereci, meu inimigo,
para alcançar a paz desse olhar, para ti
o coração, mas não gostas de olhar
para uma coisa tão humilde, para ti.

E se algo, porventura, outro de si anseia,
sente uma esperança fraca e iludida;
que, por desdenhar tudo o que vos
desagrada, já não pode ser como antes.

Se eu o expulsasse hoje de mim, e em ti não
houvesse alívio para o seu exílio, eu não saberia
nem apenas ser, nem andar se outro o chama;

e assim se perderia o curso natural,
que isso seria uma falta grave para ambos, e
tanto mais para ti, quanto mais te ama.

Francesco Petrarca – Trad. Eric Ponty

 ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

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