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terça-feira, julho 22, 2025

SONETOS - Boris Vian - TRAD. ERIC PONTY

 FORA DE QUADRO

Para minha namorada


COMO Sou muito velho, conheço muitas histórias,
E criei para você nada menos que cem.
Oh, certamente não é nem boa nem poderosa
Não exigiu de mim esforços meritórios.

Mas é um pouco louca, um pouco blasfema
Um pouco alegre às vezes, um pouco triste de passagem
Mantém um pouco de forma e se degrada um pouco
Se necessário, mas foi um motivo peremptório.

Não me censure por fazer piada de tudo.
Eu não zombo. Eu tenho prazer acima de tudo
Em dedilhar os cantos escuros de minha pobre musa...

Ela frequente uiva. Ora, eu não entendo nada,
E machuco seus ternos encantos...
Mas não me importo nem um pouco se é isso que ti gosta.

LOTERIA


SE você quiser ter dinheiro na sua frente
Economize muito. É fácil
A loteria lhe empresta um braço dócil
Ela será seu agente da sorte

Compre um bilhete, isso é o mais urgente
Não faça um conselho para escolhê-la
Não diga a si mesmo: "Sou um idiota".
Se sua compra o deixar desamparado.

Sem medo, aguarde o momento do sorteio,
E nunca demonstre sua raiva
Se sua esperança for por água abaixo,

Porque a culpa é sua: você deveria ter tomado cuidado
Para se colocar sob a alta salvaguarda
Do mais benigno Saint Honoré d'Eylau

BZZZ...


DEUS sabia como odiar o suficiente para criar moscas,
Horríveis, aveludadas, com seu corpo perturbador
Inchado com pus amarelado, e em seu voo pairando
Deixando um rastro funéreo e turvo de não sei o quê.

Contradizendo Satanás, que apodrece o que toca
Você voa, você toca o que apodrece, enquanto prova
Todos em massa o olho rosado e escorrendo
De feras cegas por suas bocas gananciosas
E sua asa estridente, com veias de ferro
Levantam em meu pesadelo um inferno nebuloso
De corpos peludos, erguidos da sombra onde tu bates.

Os pregos do longo caixão onde estenderei meu corpo
E que serão queimados na chama imortal
Para me livrar de ti, quando eu estiver morto...

O MEMO

I. TRIVIAL


NASCIDO, gordo e redondo. Rindo qual homem bento
Ele se divertia sozinho em seu berço leve.
Fez como todo mundo mais do que um riacho
Como todo mundo, sua fralda foi trocada.

Ele teve três anos, cabelos longos, depois franjas.
Bem, na maior parte do tempo, ele era um jovem normal.
Normal, que fazia barulho, que empurrava seu arco.
Como outras crianças, ele gostava de laranjas

Açúcar, doces, bolos e frutas,
Ele comia bifes grossos com grande apetite
Também gostava de sopa e legumes.

Ele preferia acariciar a bater. Com frequência
Ele pegou gripe depois de um resfriado.
Todas as manhãs, ele se vestia ao se levantar..

II. INSTITUTO5


Ele cresceu sem mudar muito, mas sua preguiça
fez com que fosse muito célere em acabar sua lição de casa
É uma solução que você pode pensar...
Em matemática, ele demonstrou pouca habilidade.

Por que ele deveria sempre procurar
Cultivar diretamente o ramo do conhecimento
No qual você parece brilhar? Ele disse "adeus"
Às letras, depois tateou a equação traiçoeira.

E se saiu muito bem. Sempre em penúltimo lugar
Ele não se importava, sabendo-se prisioneiro
Da engrenagem escura dos diferenciais.

Ele passou sem problemas no bacharelado de letras
Que ele havia preparado, uma recaída venial
Para piorar a situação, mais tarde, foi convocado.

III. NOVATO6


E chegou o exame para uma grande escola
A enxurrada contida de mil bons cretinos
Em direção a duzentos lugares, surgindo pela manhã
Carregada de tempestades latentes, e o coração enlouquecido...

A imensa janela, panela tumultuada
Onde os cérebros estão cozinhando, nadando em seus destinos
Com as sobrancelhas franzidas, os chamados clandestinos
As saídas, clamando por uma ordem de Rolle

Enfim, o mês de espera inquieta e engano
Que duraria dez anos, mas só durou uma hora
A tão esperada oral, lamentável e solene.

A incompreensão de camaradas sem coragem
A boa vontade dos carrascos barbudos com olhares cruéis
E o dia do triunfo, quando as paredes desmoronarem.

Boris Vian -  TRAD. ERIC PONTY

 

     ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

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