O homem, em teu curso ardente, a atingiu e execrou,
Mas você caiu mais! E agora, infeliz!
O sopro de Platão e o corpo de Afrodite
Foram-se para sempre para os belos céus de hélas!
Dorme, ó vítima branca, em nossa alma mais profunda,
Em teu manto virgem e cingido de lotos;
Dorme! A impura fealdade é a rainha do mundo,
E além dos mares, onde abundam as sombras espessas,
Os deuses são pó e a terra é muda;
Nada falará em teu céu deserto.
Dorme, mas, vivo nele, canta ao coração do poeta
O melodioso hino da santa Beleza!
Só ela sobrevive, imutável, eterna.
A morte pode dispersar o universo trêmulo,
Mas a beleza brilha, e tudo renasce nela,
E os mundos ainda rolam sob teus pés brancos!
No declínio da grandeza que domina a Terra,
Quando os cultos divinos, sob os séculos curvados,
Retomam o caminho ermo do olvido,
Observam teus altares estrondosos ruírem;
Quando a folha errante do carvalho de hélas
Das cortes desertas apaga o caminho,
E além dos mares, onde a sombra espessa abunda,
Em direção a um jovem sol o espírito humano flutua;
Sempre deuses vencidos abraçando a fortuna,
Um grande coração os defende do destino injusto:
A aurora de novos dias o machuca e incomoda,
Ele segue no horizonte a estrela de teus ancestrais.
Para um destino melhor, que nasça outro século
E de um mundo exausto parta sem remorso:
Fiel ao sonho feliz onde teu frescor floresceu,
Ele ouve a poeira dos mortos se agitar.
Sábios e heróis se erguem cheios de vida!
Os poetas em coro murmuram teus belos nomes;
E o Olimpo ideal, convocado pela canção sagrada
Sobre o marfim assenta-se o branco Partenon.
Ó virgem, que com um manto piedoso
Cobriu a augusta tumba onde dormiam teus deuses,
De tua adoração eclipsou a harmoniosa sacerdotisa,
Casto e último raio destacado de teus céus!
Eu te amo e te saúdo, ó virgem magnânima!
Quando a tempestade sacudiu o mundo paterno,
Voss seguiste esse sublime Édipo até o exílio.
E o envolveu em amor eterno.
De pé, em tua palidez, sob os pórticos sagrados
Que os povos ingratos abdicaram,
Pitonisa presa aos tripés proféticos,
Os imortais traídos palpitavam em teu peito.
Vós os viste passar pelo céu ardente!
Com noção e amor, eles ainda o banharam;
E a Terra ouviu, encantada com teu sonho,
A abelha ática cantando entre teus lábios dourados.
Como um jovem lótus crescendo sob o olhar dos sábios,
Flor de tua eloquência e equidade,
Vós fizestes, na noite menos escura dos tempos antigos,
Teu gênio brilhou em tua beleza!
O grave ensinamento da virtude eterna
Deitado de teus lábios nos cernes dos corações orixás;
E os galileus que sonhavam com tuas asas
Esqueceram teu deus morto por teus amados deuses.
Mas o século levou embora essas almas rebeldes
Cujos frágeis laços as prendiam a teus passos;
E vós os viste fugir para as terras prometidas;
Mas vós, que sabia de tudo, não os seguiu!
Que acuidade teve para vós esse delírio, ó virgem?
Vós não possuídas o ideal que buscava?
Vá! Nesses corações irresolutos teus olhos souberam ler,
E os deuses benevolentes nada esconderam de ti.
Ó sábia criança, tão pura entre tuas irmãs mortais!
Ó nobre fronte, imaculada entre as sagradas testas!
Que alma poderia ter cantado com lábios mais belos,
E arder mais claro em olhos inspirados?
Sem jamais tocar em teu manto imaculado,
As manchas do século acataram tuas mãos:
Vós caminhas te com os olhos voltados para a vida estrelada,
Ignorando os males e crimes humanos.
Leconte de Lisle - TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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