Meu Amor, que vieste para o meu teto
Mais elevado do que muitas coisas
Para me dizer em silêncio, com poses
De deusa: EU SOU TUA.
Neste lugar alto onde sou rei
De metamorfoses pensativas
Gostaria que todas as portas se fechassem
Pensá-las de acordo com a tua emoção.
Sozinho agora, estico os ouvidos
Aos teus passos que trazem a tua maravilha
E todos os bens dos nossos amores.
No meu coração, que bate com ternura,
A hora de ouro que me deste
Ainda ressoa, ressoará para sempre.
Ó belo Sol, todo manchado de tédio,
Tu me fazes mal, no céu azul suave,
E não um canto, mas um gemido
Vem à minha alma, onde o meu amor me faz mal.
O teu ouro terno ilumina um campo
Em que a minha mente pinta uma falsa alegria,
Onde livremente, neste belo tempo de seda,
Eu seguiria os passos da minha companheira.
Caminharíamos vivamente, lentamente,
Conversando alegremente e, às vezes, em silêncio,
Com os olhos misturados e menos voz
E mais coração e consentimento.
Ó Belo Sol, todo manchado de tédio,
Sinto dor na alma onde o meu amor me faz mal.
Tanto pior, meu amor, não são flores
Não são rosas, nem crisântemos crespos,
São versos que sonham que tu me amas,
Versos sem mais, tolos como lágrimas.
Que pena, meu amor, não são flores, nem
mesmo
Diamantes claros nem pedras coloridas
Para esfriarem no teu calor suave;
São versos que semeio sob os teus passos.
Roubo-os a este tédio lancinante
Tédio de ti que sempre, à noite,
Onde quer que eu esteja e com o rosto alegre,
Perfura o meu ser e o transforma em
arrepios.
Ah, que eles, tão rapidamente feitos,
Fugir para o teu coração ao saírem da minha cabeça.
À PETRÁRQUO
Rosa Suprema, Orgulho do meu inverno,
Ó a mais bela desgraça da minha história,
Tu fazes, ó flor, que dentro da minha glória,
O amor me corrói e eu vivo desse verme.
Doce de beijar, deliciosa de beber,
A tua boca vale mais do que os meus versos mais doces
E os olhares dos teus belos olhos diversos
Dizem-me mais do que toda a minha memória.
Tu me fazes mal com toda a tua beleza
E as ternas crueldades do teu corpo
Quando estou sozinho, vindo-se pintar vivamente
E na noite me torturam enquanto durmo
É amar-te sem deixar de me lamentar,
Suave Tu, LAURE do meu tormento.
NARCISSA
NARCISSO mulher, apaixonada por si mesma,
O teu querido reflexo devolve-te com ternura
O olhar verde que diriges ao teu espelho
O teu grande desejo de ser bela para ti.
Mas eu estou aqui a contemplar-te,
Palavra,
Ó dupla bela e duas vezes encantadora,
Vejo a boca e o ombro acariciados
Desde a nuca onde dorme algo que não sei o que é.
Por mais que vocês se amem,
Juntar-se e, com duas mãos,
O preto nos cílios, o carmim nos lábios;
Cada Narciso é mais meu do que vosso,
Pois com um beijo que não queima duas
Eu faço de ti a única que eu quero.
«EM AÇÃO»
Os nus bem unidos, as suas fontes melhor
do que unidas,
O amor em força, com oito membros a remar,
Empurra os corpos para o deslumbramento
Do alto cume às duas pontas divinas.
Nos flancos, nas costas, nos seios, as
mãos impressas
O ser com o ser ajustam-se fortemente
Para a obra intensa e o ímpeto árido
Dos choques dançados pelos seus abraços furiosos.
A alma comum, a cada choque terno,
Sente o deleite elevar rocha sobre rocha
Os graus vivos que visam o cume:
A sua pressa abala uma vida em perigo
E a carne derrama um lamento unânime
Que paira e morre na fé suprema...
Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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