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quarta-feira, julho 23, 2025

2 Poemas - Maurice Maeterlinck - TRAD. ERIC PONTY

CASA QUENTE

Oh, estufa no meio da floresta!
E suas portas sempre fechadas!
E tudo o que há sob sua cúpula!
E em minha alma, por essas suas analogias!


A piedade de uma princesa faminta!
O desânimo de um marinheiro no deserto,
Música para metais sob as janelas de um doente grave.
Vá para os cantos onde é mais quente!


Como uma camponesa prostrada no dia da colheita;
Postilhões entram no pátio do hospício;
Passando ao longe, um caçador de alces virou médico.
Faça uma inspeção à luz da lua!


(Oh, nada está em seu devido lugar!)
Como uma bruxa louca, acusada perante os juízes,
Um navio de guerra em plena navegação, no canal,
Pássaros noturnos em lírios brancos,
Um toque de campainha ao meio-dia,


(Lá embaixo, sob aqueles sineiros de vidro!)
No prado, um lugar de parada para os doentes
Um sopro de éter em um dia ensolarado.
Meu Deus, meu Deus, quando teremos chuva?
E a neve e o vento na estufa! 

 

Oh, esses pobres olhares cansados!
Os teus e os meus!
E os que não existem mais e os que estão por vir!
E aqueles que nunca chegam e mesmo assim existem!
Olhares que semelham visitar as pessoas pobres no domingo;
Olhares como doentes sem teto;
Olhares como cordeiros em um prado coberto de linho;
E todos esses olhares bizarros!
Olhares sob cuja cúpula assistimos à executar de uma virgem
a portas fechadas,
E aqueles que nos fazem pensar em tristezas ignotas,
De camponeses nas janelas das fábricas,
De um jardineiro que se torna tecelão,
De uma tarde de verão em um muteu de cera,
Dos pensamentos de uma rainha que olha para um paciente doente no jardim,
De um cheiro de cânfora na floresta,
De trancar uma princesa em uma torre, em um dia de festa,
De navegar uma semana inteira em um canal estagnado.
Tenha piedade daqueles que se ousam com passos hesitantes
Como convalescentes na época da colheita!
Tenham pena daqueles que parecem crianças perdidas
na hora das refeições!
Tenham piedade dos olhares do homem ferido para teu cirurgião,
Como tendas na tempestade!
Tende piedade dos olhares da virgem tentada!
(Oh! Correntes de leite vazaram para as sombras!
E os cisnes morreram em águas infestadas de serpentes!)
E piedade dos olhares da virgem que cede!
Princesas abandonadas em pântanos sem saída;
E aqueles olhos nos quais navios brilhantemente iluminados em plena navegação
recuam na tempestade!
E a piedade de todos esses olhares
que sofrem por não estarem em outro lugar!
E tanto sofrimento quase indistinto
mas tão variado!
E por olhares que ninguém jamais entenderá!
Poesia
E esses pobres olhares quase sem palavras!
E aqueles pobres olhares sussurrantes!
E aqueles pobres olhares abafados!
Com alguns deles, pensaste que está em um castelo transformado em hospital!
E outros parecem tendas, lírios do campo de batalha,
no gramado limpo do convento!
E outras parecem os feridos tratados em uma estufa!
E outras parecem Irmãs da Misericórdia em um transatlântico sem pacientes doentes!
Oh! Ter visto todos esses olhares!
Ter aceitado todos esses olhares!
E, ao encontrá-los, ter estafado os meus próprios!
E, de agora em diante, nunca mais poder fechar meus olhos!

 Maurice Maeterlinck -  TRAD. ERIC PONTY

 

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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