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sexta-feira, junho 20, 2025

Novellen - ROBERT MUSIL - TRAD. ERIC PONTY

Über 2 Novellen «Vereinigungen»
von Robert Musil und über Kritik 

O método geralmente praticado pelos críticos consiste em agrupar as obras em torno de seu autor, autores em torno de alguma tendência contemporânea. Ele se origina da historiografia. E hoje dá pouco mais do que uma satisfação insubstancial em conexões pseudo causais.


Uma maneira melhor de olhar para a literatura não seria analisar tudo de acordo com o modelo de análise de literatura.


Não resumir tudo em termos do que já existe, mas sim a melhor maneira de ver a literatura não seria analisar tudo de acordo com a singularidade - aquela em que o autor não se repete dez vezes, o tempo não mil vezes - para espalhá-los lado a lado, da forma mais sistemática possível. Obteríamos como borda a curva limite de nosso sentimento e pensamento, a linha de conexão dos pontos finais de todos os caminhos, onde eles se interrompem diante do que ainda não percorridos. Várias ordens de classificação se deslocariam e, no geral, ao que me parece, obteríamos a única abordagem cuja sistemática é o instrumento de uma vontade de seguir em frente.

 

R. Profil eines Programms 

[1912]

 Lema: ... A alma é uma complicação de sentimento e razão. Qual, é uma questão da psicologia. Mas ninguém deve se enganar achando que, nessa combinação, o elemento de crescimento está na razão. Os discursos sobre riqueza, amplitude, profundidade, grandeza, amabilidade, humanidade dos sentimentos são enganosos; preste atenção às relações primitivas das quais essas metáforas ainda são extraídas. É a razão que traz esses matizes de um quarto de grau para cima nos sentimentos. Experiências emocionais fortes são geralmente impessoais. Quem realmente já odiou outra pessoa a ponto de apenas um acaso decidir sua morte, quem já passou pela catástrofe do medo, quem já amou uma mulher até a última gota, quem já espancou outra pessoa até sangrar, quem já passou a vida com os músculos trêmulos atrás de outra pessoa, sabe disso. A linguagem chama isso de “perder a cabeça”. A experiência emocional é, em si mesma, de baixa qualidade; só quem a vive é que lhe confere qualidade. Mas a nuance não é mais do que tornar uma experiência aparentemente simples num meio entre duas ou várias outras. A nuance é o sentimento de toda a sua proximidade intelectual e emocional e as vias de ligação. O sentimento do moribundo... não se distingue, por nenhum outro meio, do de um suicida insignificante; a última melancolia em torno da decisão. A grandeza de dois amores não pode ser medida uma contra a outra. O estoque de sentimentos é limitado ao longo de toda a história. O mesmo se repete sempre; algumas perversidades faltam ou são acrescentadas, e quando estão lá, são assimiladas em um instante, isso é tudo. Nossa época é agitada e bem-sucedida. Bélica e brutal como poucas, engenhosa de maneira inédita, repleta de sobreviventes, ela atropela o indivíduo, suga-o, anabaptistas, protestantes sentimentais, poetas românticos são encarcerados com pastores liberais de esquerda, dançarinas de Beethoven e curandeiros em pequenas comunidades agradavelmente ridículas. – Ninguém pode negar que cada pequena reviravolta desse enorme corpo temporal já seria uma epopeia. – Mas acusar alguém de ignorar esse material é uma enorme parcialidade. Ela é generalizada. O poeta de nosso tempo ainda é esperado. Ainda são os esteticistas do lazer que assombram por aí. Temos de ter claro: estamos a falar de uma arte que tem a massa como objeto ou de uma arte que tem a massa como objetivo? Como sempre, trata-se de um conjunto de belas acusações, mas apenas um conjunto, e todo esse discurso sobre arte “saudável”, “forte”, “masculina” – a que é que isso leva? Uma arte para indivíduos como massa ou uma massa como indivíduo? E a resposta é que toda a história mundial conhece apenas dois tipos de efeitos artísticos. O que é sensível e reflexivo, que em um teatro torna solitários centenas de pessoas comovidas pela mesma coisa, que não faz com que se ame um livro, mas que faz com que se releia páginas e páginas em momentos diferentes, e o que é decorativo, exagerado, patético, que leva uma sala de pessoas que de outra forma seriam indiferentes ou repugnantes a uma dança dervixe de aplausos e, através de um livro, gera uma epidemia de entusiasmo seguida por um clima sombrio no ano seguinte. Os efeitos desse segundo tipo são sugestivos; um certo valor médio da obra é um pré-requisito, assim como na vida as pessoas de grande influência pessoal não podem ser muito inteligentes. (Intelectual e artístico, conteúdo e meio, espírito e magia) (E os livros que são bem recebidos e mal recebidos? Ou o primeiro não é verdadeiro ou eles contêm características secundárias que permitem que os “mal recebidos” se entusiasmem). E há uma coisa a ser observada: livros de grande vivacidade, ações de livros são substitutos ou são reflexões ocultas. Ser Deus e escrever uma teodiceia são duas coisas que não podem ser comparadas, e pode-se preferir a segunda. (Mas quem pode escrever uma teodiceia renuncia à primeira.) Mas por que se escreve arte? Para repetir coisas? Isso já foi válido, mas não somos rapsodos. Por que não nos ocupamos com o princípio da relatividade física, com os paradoxos lógico matemáticos de Couturat, com...? Porque há coisas que não podem ser resolvidas cientificamente, que também não podem ser capturadas pelos estímulos ambíguos do ensaio, porque é o destino amar essas coisas, o destino do poeta. Sentimentos e pensamentos são impessoais e não artísticos, a forma como se entrelaçam é a personalidade e é a arte. O pensamento do artista não é determinado, se por determinação entendemos o julgamento com a pretensão da verdade. Pois em seu campo não existe verdade. Fala-se demais sobre a verdade psicológica e nem mesmo isso sobre a ética. Explorar as possibilidades das almas! Não é o programa da arte, mas é o programa de uma arte – e é preciso saber onde se quer estar. Esta arte pode abordar qualquer objeto; a epopeia, o vício, a virtude – ela se caracteriza pela forma como o faz – sem entusiasmo, questionadora, reflexiva, construindo a partir de elementos até então estranhos. Ela não é a única arte. O conceito de “arte clássica” não foi eliminado por Goethe, Goethe é: algumas tentativas nesse sentido. O termo arte naturalista não está enterrado como um cão, é a tentativa ainda não feita do ponto de fixação itinerante, da falta de uniformidade no disperso; o termo arte patética exigirá o estudo dos efeitos patológicos do público – campos de trabalho imensos se abrem aqui e exigem apenas uma coisa: que se faça tudo de novo, que se rompa com todas as exigências tradicionais, que se examine o corpo sempre estranho do objeto e, dependendo da capacidade de compreensão, se arranque um pedaço dele. Toda a ousadia espiritual está hoje nas ciências exatas. Não aprenderemos com Goethe, Hebbel, Hölderlin, mas com Mach, Lorentz, Einstein, Minkowski, Couturat, Rüssel, Peano... E no programa desta arte, o programa de uma obra de arte individual pode ser este: ousadia matemática, dissolver almas em elementos, permutação ilimitada desses elementos, tudo está interligado e pode ser construído a partir disso. A construção, porém, não prova: isso é o que existe, mas está relacionado com isso. Também na representação, trata-se apenas de uma sequência. A psicologia supostamente é um pensamento ético mais livre – dir-se-á que é uma arte imoral e, no entanto, só ela é moral. Vamos aceitar isso por um tempo. A necessidade de um ser supremo e o masoquismo não são sem relação fatual; frigidez e sensualidade absoluta e impessoal, sensualidade absoluta e o intimidante, rosnador, potencialmente masculino, mas em primeiro lugar desumano – frigidez e desumanidade não são sem relação. São relações de significado, não apenas psicológicas. Existem três tipos: o causal científico, o individual psicológico, onde se deixa que algo aconteça em um caso específico, sem compromisso, sempre coberto pela singularidade do caso, e o terceiro, onde não se mostra o acontecimento, mas os significados em si e onde, por uma questão de brevidade, não se mostra em um caso específico, mas no abstrato geral. Nestes dois últimos casos, a novela e o romance se separam; pacificamente, tecnicamente. O segundo é a metodologia da novela. É certo que a novela não pode ser um romance truncado. Caso contrário, vagueia-se no plano da carne e os significados ficam distantes no horizonte, aqui no plano dos significados, em cujo horizonte apenas uma névoa fina e distante dessa carne estranha se acumula. Se fizéssemos de cada parágrafo uma cena, tudo seria tão compreensível. Mas é preciso sempre explicar? Talvez. Mas ninguém pode culpar alguém por não fazê-lo uma vez. Isso é arte profana. Torna-se arte unidimensional, não cúbica. Um caso é menos aceitável do que o outro; eu quero escolher nele a névoa e a bruma, “pessoas que se manifestaram”. Não se pode provar isso, só se pode apontar. – Trata-se, em outras palavras, de “motivação vinculativa”. Uma arte que surge do repulsa pelo que sempre foi praticado, que é uma moralidade estética que não se pode apreciar e também não se pode desculpar em casos individuais. Pode-se fazer a prova, examinar cada parágrafo, cada frase, reinventá-los em cenas, serão boas cenas, examinar o conteúdo do pensamento, ele estará abaixo do limite, abaixo do que ele quer estar e não poderá ser expresso de forma abstrata. Ou será que realmente não se compreende? Em vez de microscopia, vê-se nebulosidade, confunde-se ousadia com ambiguidade? Uma expectativa que se pode suportar. E imaginamos com otimismo o destino de um livro assim na Alemanha. Amor que quer ultrapassar limites e autodestruição É uma arte perigosa, ela ignora o que está mais próximo, e também o todo em detrimento das partes. Começo: coloque-se no seguinte estado de espírito:

  ROBERT MUSIL - TRAD. ERIC PONTY

  

ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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