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domingo, julho 21, 2024

Vincent Van Gogh ou a perspectiva do auto-retrato (2000) - Eric Ponty


Prefacio:

A coleção “Vincent Van Gogh ou a perspectiva do auto-retrato” nasceu de minha observação dos quadros de auto-retrato de Vincent Van Gogh e das nuanças de representação que este pintada em seus quadros.

Uma vez que o modelo desses quadros era o mesmo, ou seja, o próprio artista retratado percebi uma serie de nuanças e desenhos do ego ou do eu em cada quadro.

A presente coleção de sete poemas foi escrita um posterior ao outro tendo como base o primeiro poema, sendo que, cada um foi escrito durante um dia num total de uma semana.

Ao conceber esta coleção tive em mente em capturar as nuanças do eu, como este se transforma num mesmo objeto com seus vários significantes e significados e como cada poema é em si um poema inteiro e complexo.

Proponho ao leitor que use o mesmo método de leitura e que leia somente um poema de cada vez em cada dia desta coleção.

Eric Ponty
I

Perspectivo sua imagem
como quem olha um próprio,
mas tão próximo como um irmão, porém
a proximidade de quem se olha
no espelho.
 
Certas imagens transformam-se,
na atenção de quem se vê
ali parado; certo reflexo 
que se esculpiu em miragem.
 
Talvez o que ali se refletiu
foi o próprio ego refletido
desses, que a lua, ilumina,
na superfície da lagoa
e termina quando a nuvem
passa estancando o subterfúgio.
que a luz cobriu.

Imagem no espelho
será quem é, e qual eu
que ali se move como verdade,
e o eu que eu acordei ou eu dormi
posso me perspectivar ali? 

E eu me reflito ali
onde há representação de mim,
onde apenas o reflexo da luz tange
e não há mais nada do meu eu.

Se eu estou aqui,
só pode ser uma representação
ou meu irmão refletido ali
perspectivando minha imagem
que está refletida em mim.

II

Perspectivo a imagem
como quem olha o próprio rosto,
mas tão próximo como um quadro, porém
a proximidade de quem se olha
na posteridade.

Certos quadros transformam-se,
na atenção de quem se vê
ali parado; certo reflexo 
que se esculpiu na imagem ali fossilizada.

Talvez o que ali se representou
foi à própria imagem 
essa, que vemos na passagem, 
na persona iluminada,
na superfície da textura 
e termina quando se posteriza
na superfície de um quadro.
quando da luz o princípio se captou.

Imagem perspectivada no quadro
será a imagem real, e qual eu
que ali se representa enquanto verdade,
e o aquele ali posterizado
pode se perspectivar ali? 

E eu que me aproximo do quadro
onde há representação de alguém,
onde apenas o reflexo da luz tange
e não há mais nada do que uma imagem
saturada em si mesma.

Se eu estou aqui enquanto eu,
só pode ser uma representação
ou uma imagem refletida 
perspectivando minha imagem
que está refletida aqui neste quadro
imagem antimagem, tosca miragem.
III

Perspectivo sua imagem
como quem olha o horizonte,
mas tão próximo como a tarde, porém
a proximidade de quem se olha
na quase noite.
 
Certas imagens transformam-se,
na atenção de quem se vê na noite
ali parado; certo reflexo da sombra 
que a esculpiu em miragem noturna.
 
Talvez a sombra que ali se refletiu
foi o próprio ego refletido
dessas sombras, que a lua, ilumina,
na superfície da lagoa
e termina quando a nuvem
passa estancando o subterfúgio.
que a luz antes iluminara.

Imagem da sombra na noite
será quem é, e qual eu vulto
que ali se move como verdade,
e o eu que eu acordei ou eu dormi
posso me perspectivar ali
naquele grito disforme do negro? 

E eu me reflito ali na sombra
onde não há representação de mim,
onde apenas o reflexo tange no real
e não há mais nada do meu eu
apenas meu reflexo na superfície.

Se eu estou aqui por inteiro,
só pode ser uma representação
aquela sombra ou meu irmão refletido
e perspectivando minha imagem
que está refletida nas sombras.

IV

Perspectivo o presente
como quem olha a própria imagem,
mas tão próxima imagem, porém
a proximidade de quem se olha
na imagem com um reflexo.
 
Certas imagens transformam-se,
na atenção de quem se perspectiva
ali parado; certo reflexo de efígie 
que se esculpe em miragem.
 
Talvez o que ali se fez no presente
foi à própria imagem refletida
dessas efígies, que a lua, representa,
na superfície da lagoa adormecida
e termina quando a nuvem branca
passa estancando o subterfúgio
um branco travesseiro para recostar
os sonhos diuturnos da manha.

Imagem no presente que aqui jaz
Será esta quem é, e qual o eu
que ali se demove como verdade,
e o eu que eu acordei ou eu dormi
posso me perspectivar-me ali? 

E eu me reflito aqui em imagem
onde há representação de mim,
onde apenas o reflexo da luz tange
e não há mais nada do meu eu
neste estado da passagem do presente
erma breve e ausente.

Se eu estou aqui agora como imagem,
só pode ser uma mera representação
deste presente refletido dentro de mim
perspectivando minha imagem
que está refletida em mim neste instante
como miragem neste tosco grito
surgido do instante.

V

Como quem olha um próprio,
mas tão próximo como um irmão, porém
a proximidade de quem se olha
nas certas imagens que se transformam,
na atenção de quem se vê
ali parado;  
que se esculpiu em miragem.
 
Talvez o que ali se refletiu
foi o próprio ego refletido
desses, que a lua, ilumina,
na superfície da lagoa
e termina quando a nuvem
passa estancando o subterfúgio.

Imagem no espelho
será quem é, e qual eu
que ali se move como verdade,
e o eu que eu acordei ou eu dormi.

E eu me reflito ali
onde há representação de mim,
onde apenas o reflexo da luz tange.

Se eu estou aqui,
só pode ser uma representação
ou meu irmão refletido ali
perspectivando minha imagem.
VI

Perspectivo a paisagem do milharal
como quem lembra de algo que se foi,
mas tão doirada como se feita de ouro, porém
é uma paisagem  de quem se olha
num quadro retratado.
 
Certas imagens transformam-se,
antanhas na retina
ali parada; certos corvos solitários
sobrevoam a perspectiva do espectador. 

Talvez o que ali se refletiu
foi um poema de Rimbaud
desses, que a gente lê, e ilumina,
na superfície da consciência em noites
e termina com alguma iluminação
passando para estancar o subterfúgio
que este dia ceifou.

A paisagem ali perspectivada
será qual perspectiva, e qual real
que ali havia de representação como verdade,
e o eu quando eu olho e penso a paisagem 
posso estar perspectivando a mesma imagem? 

E todos nós nos refletimos enquanto eus
onde há representação de nós,
onde apenas o reflexo da luz tange
na perspectiva de quem a retrata.

Se eu estou aqui,
só pode ser uma lembrança da paisagem
uma alegoria ali expressa
perspectivando sombras de uma caverna
que está refletida.
VII

Perspectivo sua imagem Vincent
como quem olha o próprio rosto,
mas tão próximo como um irmão, porém
a proximidade de quem se olha
no quadro.
 
Certos auto-retratos transformam-se,
na atenção de quem se vê num retrato
ali parado; certo reflexo das nuanças
da miragem de um mesmo retrato.
 
Talvez o que ali se retratou
foi o próprio ego refletido do pintor
desses, que se expõe no museu, iluminados,
na superfície da posteridade dos olhares
e termina quando se sabe o valor
passa estancando o subterfúgio da arte.
que a usura que passa a valer.

Imagem do auto-retrato 
será quem é este Vincent, e qual eu
que ali se moveu como uma verdade,
e o eu que acordou ou que dormiu
posso se perspectivar ali? 

E eu (nós) me reflito ali retratado
onde há representação dos eus,
onde apenas o reflexo do olhar toca 
e não há mais nada do que um eu
perspectivado.

Se eu estou aqui como espectador,
só pode ser uma representação
ou meu irmão Vincent refletido ali
perspectivando minha imagem
que está refletida em mim.
ERIC PONTY



ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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