demonstrar outras realidades que submersas de real.
para que a alma nasça no movimento de cada cotidiano.
II
O inusitado se fez de real, onde uma mulher se fez papa,
perguntaram-se mais ignorantes da história das imagens,
folhearam as páginas amarelas dos mais apócrifos livros,
as notas de roda pé que giram sobre si mesmas ao léu,
na busca deste fato, que sem duvida só pode ser irreal.
Houve, porém uma papisa na confusa história do poder,
esta mulher de face tão esquisita e tão marginal fendida
que é melhor nada dizer, ignorá-la, como uma bizarrice,
articulada nas linhas das entranhas do poder aracnídeo
de onde nascer e morrer eram apenas meros entalhes;
qual tosco designo que se dissimula neste aberto livro?
III
Quantas cabeças rolaram sobre soberana ordem,
quantos inimigos se rederam aos encantos da tez,
de seu cedro quantos impérios foram fundados
quantas manhãs deixaram de surgir na aurora,
porque indisposta não acordou algaravia da relva.
Mesmo soberana porque se sempre soube rainha,
não se acovardou diante dos desígnios implacáveis,
fez alianças com o outro, para ser um só império,
com o brasão mostraste qual genealogia acerta
que se fez mover e se reunir vozes num só coro
nas árduas ruas vazias de sombras e de luzes.
Soberana aponte qual é esta verdadeira aliança
qual a vereda que conduzirá ao castelo urdido
com quantas curvas linhas se fazem a história
de quem entra e quem sai desta tosca parábola.
IV
De lado mostra o teu perfil imperial e majestoso
barba branca fundida pelos vários outonos idos
cujos fios foram tecidos nas manhãs primaveris
que se impunham pelas terras largas do império.
Do centro teve comando exércitos bravios largos,
diplomatas, burgos, cavaleiros e belas donzelas,
que o reverenciaram nas linhas largas da história
em cujas lendas ainda ressoam latas ao ouvido.
De quais céus terá passado o voou do pássaro,
adornado de ouro, faz a efígie de teu emblema,
o azul céu que lhe orna a tua vestimenta real
senhor da mais fina hierarquia divina de Deus.
V
Entre dois pilares de Hermes e de Salomão
dá benção entre as coisas vivas e ocultas
com a mão direita e na esquerda segura
apoiando-se bastão encimado por cruz tripla
para que se ressoe a voz de Deus nos seres.
O que teria sido se não tivesse havido pecado,
Eva e Adão sido expulsos do paradiso longínquo
quantas guerras não teriam sido semeadas e os
homens perdidos as vozes em agudo desvão.
À sua frente ajoelham-se dois ministros pios,
em suas consciências ressoam mensagens
de outras terras, de outros burgos distantes,
estes dois ministros pios, serão um dia santos,
mas um já se fez talvez distante do batismo.
VI
Homem entre o Vício e a Virtude são próprios
da natureza que um dia foi corrompida por Eva
no jardim jamais sonhado e admirado do Paradiso
pois entre dois opostos, está dialética mais viva,
se será mesmo homem ou mais tosca decadência
de ter-se sonhado um dia, filho legitimo de Icaro.
Não está só homem entre o Vício e a Virtude
perto do alto, há um gênio alado ameaça o vício
para que não entre ignorante na relva soturna,
com um dardo. Há também aqui nestas efígies
Bibah e Malkuth.que se contemplam com gestos
com quais Sábias disposições estes se entreolham,
também nesta união quantas tentações perigosas.
VII
Fausto e majestoso surge pela avenida o carro,
em pompa tocam os clarins pela paisagem nua,
perfumam com a acácia e os ramos lhe saúdam,
este conquistador coroado que nos traz um cetro,
o veiculo de tal destino cúbica forma e um dossel.
Por que os dois cavalos que conduzem o desfile,
divergem por qual rude vereda irão se emprenhar,
para trazer a gloria aos ocos caminhos em vão,
o veiculo é constituído de quatro colunas reais,
trunfo, vitória da Justiça e do Juízo este conduz,
ou pode ser um ato de mera brutalidade, fraqueza
que já roda em suas rodas e no oco do galope?
VIII
Presença de tão majestosa soberana o silêncio,
o apoio de que existem ordens entre as coisas,
que o vil se torna punido, e o indefeso justiçado,
sobre esta coroa advindo do deus sol do cosmo,
do trono onde sentada está decide sobre tudo,
da coluna direita, pode haver o bem emanado,
da coluna esquerda, o mal que foi sussurrado,
nesta roda que se faz, o bem e o mal existir.
Presença de tão majestosa soberana o silêncio,
segurando na mão direita, uma espada do poder,
mão esquerda, balança onde pesa hoje e ontem.
onde o equilíbrio e justiça se encontram num ser.
IX
O homem o que tenta iluminar de tão oculto,
de onde esta escuridão grifou a liberdade viva,
que é preciso que ilumine este caminho lato,
onde a alma se perde nos mais toscos ais,
em alianças pervertidas, em sonhos de desvão?
Velho barbado de tez alva, envolto em um manto,
que parece puído pelas idas horas mais soturnas,
com a cabeça coberta por um capuz de egrégias
noites que a luz tangia a parafina de vela amarela,
traz na mão direita, uma lanterna, de oculta arte,
enquanto se apóia no firme báculo da prudência.
X
Roda e roda no caminho que se cria na vereda,
rodando nas calhas d´água do fluido moinho,
tudo o que sob, um dia poderá também descer,
onde o que importa que haja este frágil revolver,
neste circulo que sabe girar as almas e as dores.
Do lado ascendente sobe um animal, que será,
do lado descendente, macaco, ou será a cobra,
que importa se estes sobem e descem na roda,
se acima há a forma de um anjo com a espada,
mas não fique tão feliz como tal pronunciamento
pode ser que diga boa ou má Fortuna na vereda.
XI
Qual rainha coroada tem a força de um homem,
quantos impérios foram construídos pelo desejo
que sussurrarem na manhã o seu augusto nome
na coroa de ouro que lhe adorna a alva cabeça.
Qual rainha coroada tem a força de guerreiro,
faz desaparecer impérios inteiros num só gesto,
faz sucumbir o nome de reis e mesmo imortais,
com calma e sem esforço, e com perseverança,
cerrando as toscas mandíbulas do furioso leão.
XII
Por que carrega dentro consigo a culpa do eu,
quantos homens te argüir-lhe-iam ao suplicio,
quantos condenaram, e quem te atraiçoou aqui,
neste estado tão tosco e horrendo de degredo,
igual a mais tênue e primeva imagem de Pedro.
O homem pendurado em uma espécie de forca,
corda segura-lhe por um pé suspenso no espaço,
de cabeça para baixo qual perspectiva lhe traduz,
mãos estão amarradas nas costas em um triangulo
enquanto as pernas estão na forma de uma cruz,
igual a mais tênue e primeva imagem de Pedro.
XIII
Prado em sombra entregue, ouve-se lamentos,
a paisagem assustada escondeu-se na noite,
nem longe e nem perto permanecer um ser vivo
esqueleto armado de foice ceifa cabeças ocas,
que guerreavam num outro tempo, num ontem.
Sobre as sombras da vastidão da noite no prado,
soa Cavaleiro do Apocalipse,vindo ceifar a vida,
traz consigo a alva caveira a tez pendida ao peso
mas ao fundo, onde se vê, um novo dia surgindo,
atem-se ao verdadeiro significado para o amanhã.
XIV
Os sinos da manhã lhe soam logo às seis horas,
as aves recantam-lhe novos saltérios tecidos,
um anjo com o sinal do Sol na testa se anuncia,
para as coisas que não se conjugam em união.
Da mão direita e da mão esquerda há um vaso,
onde o cristalino liquido percorreu o curso,
numa mudança que sempre se renova no agora
do ir e vir, do passado ao presente no futuro.
XV
O que já se tramou nesta minha primeira linha,
quantos laços tramaram nesta minha passagem,
quanta soberba e traição lhe cabem como eu,
demônio de chifre e asas, com garras de águia,
nesta transformação de anjo em desfiguração.
Sobre um altar, ao qual outros dois demônios,
serão estes os futuros aliados, serão os bufões,
que manda nas encruzilhadas como um pacto,
se na mão esquerda já traz consigo a tocha,
por que estão amarrados por coleira e corda?
XVI
Do alto desta torre quais são as línguas ditas,
quantas estas ruínas reunidas num só lugar,
torre cuja parte superior assemelha-se a coroa,
deste império de desvalidos e orgulho desmedidos
que estes dois homens foram expulsos da casa.
A Casa de Deus de uma torre que é uma coroa,
tombam de ponta-cabeça dois homens ao léu,
expulsos pela irá de Deus num raio de um trovão,
torre desmorona-se em chispas e escombros,
e nada pode ser dito além da letra hebraica Ayin.
XVII
Perdoe-me se olho tua nudez moça,
vejo que despeja água de dois vasos,
nas águas na margem de alvo lago,
esperam que tudo tenham sido lavado.
Vejo que acima, resplandece a estrela,
dizem que é reluzente estrela dos magos,
traz consigo sete pontas para se defender
em volta de ti nascem florestas e plantas,
sob tua mágica influência tudo se perpetra,
em uma delas pousa a borboleta de Psique,
percebo moça que você é uma estrela.
XVIII
Lua brilhando nos céus, orvalho caindo,
na noite que se faz noturna de efígies,
lobo e um cão estão uivando solitários
na tremenda algaravia surda e soturna
aos pés de duas torres de cada lado,
uma vereda se abre pelo oco horizonte
e pode-se perceber as gotas de sangue.
Lua brilhando nos céus, orvalho caindo,
na noite que se faz noturna de efígies,
nas torres altas do descente de Aquitania,
uma lagosta arrasta-se através da água,
em primeiro plano, na direção da Terra.
IX
Na tarde arde a tua luz fulgorosa,
dentro das Minas há feixes doirados,
que são como os raios que lhe fazem
ser pleno, astro Rei, desta via Láctea.
Na frente de um muro, talvez de adobe
duas crianças, onde á iluminas intenso,
na mais plena felicidade terrena,seres.
XX
Aquele que crer em mim ressuscitará,
disse o Senhor meu Deus de Abraão,
um anjo no céu já toca uma trombeta,
para acordar aqueles que ainda dormem,
traz amarrado um estandarte com a cruz.
Aquele que crer em mim ressuscitará,
disse o Senhor meu Deus de Abraão,
e os mortos já se levantam dos túmulos
ressuscitaram ao chamado divino de Deus.
XXI
Dentro de uma guirlanda florida de gloria,
moça nua coberta apenas por leve faixa
há natureza e a sua Divina Presença, e,
em cada mão carrega consigo o bastão.
Nos quatro ângulos da carta os animais,
angélicos do Apocalipse, na parte acima,
Águia e o Homem; um alado e terrestre,
na parte de baixo, há Leão e o Touro.
Dois animais que vencem pela força
nas ruas que se abrem pelas portas,
nas vastidões deste eu pelo mundo.
ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADITOR-LIBRETTISTA
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